“Envolvo-me muito facilmente com as pessoas, com as suas tradições e quando escrevo é fácil, porque sinto isto”

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Ter, 07/11/2023 - 11:18


O Parque Natural Regional do Vale do Tua e a empresa de Mirandela, Portugal NTN, foram distinguidos no Festival Internacional de Cinema e Turismo, criado em 2008 e que decorreu nas Caldas da Rainha. O Parque ganhou o primeiro prémio na categoria de Cultura e Património, a nível nacional, e a Portugal NTN ganhou o prémio de Melhor Filme Promocional na área de Turismo de Natureza, na competição internacional. O que têm estes vídeos em comum, além de retractarem a região, é que a guionista é a mesma. Ana Fragoso falou ao Jornal Nordeste deste trabalho e de como procura a inspiração

O guião dos dois vídeos vencedores foi escrito por si. Em que se inspirou?

No território, porque é muito fácil escrever sobre esta terra. Eu não sou da Terra Quente, o Parque Natural do Vale do Tua tem uma forte componente da Terra Quente e também do distrito de Vila Real, mas eu trabalho há 10 anos no parque como assessora de imprensa e eu conheço muito bem aqueles cinco concelhos, é muito fácil para mim escrever sobre aqueles concelhos, e conheço muito bem os produtos que o parque tem estruturados para serem promovidos, os percursos pedestres, os miradouros, a certificação Star Light, a certificação Bird Watching, portanto, eu conheço o produto que ali existe, sei o potencial do território. Faço um texto, por norma não é descritivo, porque isto são vídeos promocionais, exigem de tipo de linguagem e o que eu procuro é uma linguagem mais emotiva e que leve as pessoas a imaginar e a sentir o que eu quero dizer. Preparo o guião para conseguir que as palavras tenham correspondência ao nível da imagem e é muito fácil trabalhar em termos de imagem no nosso território. Este trabalho não é feito só por mim, eu faço o primeiro lançamento, organizo as ideias e no caso da Portugal NTN foram os Estúdios Cave que foram para o terreno recolher as imagens, fazer a edição e o trabalho é também muito resultado do mérito deles, de conseguirem captar aquilo que pretendia quando fiz o guião e o texto. Também sou assessora da Portugal NTN, conheço muito bem o trabalho deles, eles têm uma área de abrangência muito maior, mas este vídeo foi centrado em Trás-os-Montes e Douro, porque querem promover os locais onde mais exercem a sua actividade. Também fiz o texto, fiz o guião, a empresa tem um elemento de multimédia, que vai para o terreno, mas há aqui um trabalho de equipa muito grande.

Mais do que trabalhar o território é preciso senti-lo?

É verdade. Se não conhecermos muito bem, se não sentirmos as coisas, não têm profundidade, não conseguimos transmitir a nossa mensagem. Fui jornalista durante muitos anos nesta casa (Rádio Brigantia) e isso deu-me um conhecimento muito grande do território, mas também das pessoas, porque estamos sempre em contacto com as pessoas da nossa terra, sabemos como sentem, como amam a terra. No Parque Natural do Vale do Tua o slogan é “O destino do amor. Quem cá vive ama o Tua, quem cá vem apaixona-se também”. Isto é aplicável a qualquer área de Trás-os-Montes e Douro, porque quem conhece as pessoas sabe o empenho que colocam, quem trabalha no campo o orgulho que tem quando colhe o fruto, o orgulho que temos nas nossas tradições, nos nossos monumentos. Realmente somos muito orgulhosos, amamos aquilo que é nosso. Esta competição que, às vezes, existe entre cidades resulta desta paixão que temos pela nossa terra e a verdade é que muitos de nós não ficaríamos cá se não fosse esta paixão, porque sabemos que é uma terra que tem algumas oportunidades, mas não tantas como às vezes gostaríamos. Eu sou transmontana, sou de Miranda do Douro, vivo em Bragança há imenso tempo, trabalho em todo o território, eu gosto de cá estar, gosto de cá viver e sinto isto como meu. Envolvo-me muito facilmente com as pessoas, com as suas tradições, com as paisagens, com a gastronomia e quando escrevo é fácil, porque sinto efectivamente isto e penso que nos textos que eu faço que as pessoas sentem que há ali um bocadinho da forma como eu observo o território, porque sempre que escrevemos vai um pouco de nós, da avaliação que fazemos das coisas. Ouvimos, muitas vezes, que os poetas precisam da dor, do drama para escreverem aquelas coisas mais profundas. No meu caso é o contrário, preciso da felicidade, preciso da alegria, preciso da cor para conseguir transmitir. Se estiver num estado mais triste não escrevo. Escrevo quando quero partilhar alegria, porque acho que o território e a vida também é um bocadinho isso.

Sente que tem uma grande responsabilidade neste trabalho, uma vez que estamos num território rico e tem que transpor isso para os vídeos? Sente alguma pressão?

Não sinto pressão, porque quando estou a escrever não estou a pensar nisso. Quando penso nisso é quando o trabalho já está feito e digo ‘bem será que consegui?’, porque nós nunca temos muita certeza daquilo que fazemos e, às vezes, também acontece que os textos que mais gostamos nem sempre são os textos que os outros mais gostam.

E como é que lida com isso?

Eu dei o meu melhor, não posso fazer mais. As coisas não saem sempre bem e quem escreve sabe disso. Não conseguimos todos os dias fazer trabalhos com o mesmo nível de qualidade. Há dias que resulta melhor do que outros. Por exemplo, a Portugal NTN não é a primeira vez que ganha este prémio, o ano passado ganhámos o Melhor Filme Promocional de Empresa de Animação Turística, este ano passámos para um segmento maior, Turismo de Natureza, estamos numa categoria já superior em termos de festival. Também vejo aqui que houve, se calhar, uma melhoria do meu trabalho e de toda a equipa que produziu este vídeo, não podemos pensar muito na responsabilidade em si, porque senão pode-nos limitar.

Sente que estes prémios dão valor a quem está por trás de tudo isso, nomeadamente a si, guionista? Sentem esse mérito?

Sim, nestes dois casos sinto, porque tanto a empresa Portugal NTN como o Parque, parte da comunicação a responsabilidade é minha, eles têm uma confiança que poucas vezes se encontra. Aliás, todos os clientes da minha empresa, que é a Conteúdos Chave, me depositam essa confiança o que facilita muito o meu trabalho. Também na Associação Comercial de Bragança, onde trabalho, tenho essa confiança, e isso, realmente, é meio caminho andado para nós quando temos alguma ideia diferente ou queremos arriscar no tipo de texto que fazemos, seguir em frente, porque sabemos que nos vão apoiar. Se tivermos a trabalhar e tivermos sempre quem nos trave, tentamos uma vez, tentamos duas, à terceira desistimos, fazemos como eles querem e perde-se aí muito talento.

Acha que estes prémios lhe vão abrir portas a novos clientes, a novos desafios?

Espero bem que sim. Não foi com esse intuito que o fiz, então para a Portugal NTN seguramente no último ano fiz mais de 20 filmes, portanto, isto já é quase a metro, porque sempre que realizam projectos de implementação de infra-estruturas quase sempre têm um filme promocional associado. Mas precisamos sempre de novos clientes e, sobretudo, de novos desafios. A área da comunicação tem essa vantagem é que estamos sempre a fazer coisas diferentes e eu tenho clientes muito variados, de áreas muito diferentes, do Aeroclube de Bragança, à Fundação Betânia. Monotonia no meu trabalho não há, mas gostava de trabalhar com outras pessoas, com outras empresas, com outros municípios.

E que desafio estaria disposta a aceitar?

Isso é muito complicado, não tenho pensado nisso, porque já tenho bastante clientes e não tenho tempo para estar a pensar no que faria mais, mas esta área do vídeo é uma área que me apaixona. Não a produção do vídeo em si, mas escrever para eles, a área promocional, a área do turismo é uma área que a mim me apaixona muito. Trabalho bastante na área do turismo porque é a única empresa aqui em Trás-os-Montes que faz press trips, que são viagens em que trazemos ao território jornalistas e bloggers para eles conhecerem as nossas terras e escreverem bem sobre elas e promover noutros destinos. Eu gosto muito de as fazer, sobretudo pelo convívio e porque lhes estou a mostrar também a forma como sinto o território e o melhor que aqui podemos encontrar. Mas a área dos vídeos confesso que me apaixona. Eu nunca sei o que vou escrever até me sentar no computador e estou sempre até com alguma curiosidade para perceber o que sai. À vezes apanho frases aqui, frases ali, algumas expressões dos meus filhos, ou filmes que vejo com eles, algum livro que o mais velho lê e me diz e do nada ou de muito pouco surge-me uma ideia e sento-me no computador, desce a ideia, começo a escrever e é uma sensação muito boa, quando termino e eu gosto, porque há muita coisa que eu escrevo e não gosto e vai para o lixo. Mas se eu gostar, fico muito satisfeita, os outros podem não gostar, mas se eu gostar, é uma sensação fantástica.

Jornalista: 
Ângela Pais