Investimento, saúde e carne marcam debate da Rádio Brigantia e Jornal Nordeste

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Ter, 01/10/2019 - 12:56


A necessidade de aumentar o investimento na região foi um dos temas defendidos pelos seis cabeças-de-lista pelo distrito dos partidos com representação parlamentar que participaram no debate promovido pela Rádio Brigantia e Jornal Nordeste

Os candidatos do PSD, PS, CDS, Bloco de Esquerda, CDU e PAN concordam que é necessário mais investimento para o distrito, mas cada partido tem propostas diferentes. Jorge Gomes, do PS, destacou que apesar da pressão do litoral sobre o governo ainda foi possível avançar com algumas melhorias e novas infra-estruturas nos últimos quatro anos. “Não vale a pena pensarmos que tudo que está para trás está mal feito e tudo o que foi feito neste governo foi bem feito, mas queremos fazer mais e melhor”, dando como exemplo que “há quatro anos não tínhamos avião, não tínhamos túnel do Marão, para além de outros pequenos investimentos ao nível escolar e tem havido investimentos de acordo com as possibilidades que o país tem”. Sobre os transportes admite que as deslocações na região “ainda são um drama”, por não haver uma rede de transportes públicos, o que considera “fundamental ser tratado”, mas afirma que é mais difícil reactivar a ferrovia depois do seu desmantelamento na região. O candidato refere ainda que “o PS tem propostas para o distrito de Bragança, nomeadamente ao nível da carga fiscal”, mas ressalvou que “não será como o CDS propõe”, referindo que “os partidos que anseiam ser poder têm de ter alguma responsabilidade no que prometem”. O cabeça-de-lista do CDS PP, Nuno Moreira, defendeu medidas específicas para o interior para promover o desenvolvimento da região. “As políticas que são destinadas principalmente ao interior devem centrar-se nas pessoas”, defendeu, recordando que o CDS propõe “o benefício do estatuto fiscal para o interior”, que inclui “uma taxa de IRC de 10% para as empresas”, para “todos os contribuintes o IRS a metade”, que os custos “com gasóleo entrem para as devoluções e para as despesas” e “procurar a majoração de investimentos para as empresas”. Em resposta às acusações de Jorge Gomes, garante que o “partido ambiciona ser poder porque é uma alternativa” e que as propostas, como a do benefício fiscal para o interior “foram muito bem estudadas”, com “consciência e responsabilidade”. Já Adão Silva, do PSD, contestou também uma afirmação do candidato do PS, dizendo que “o avião já estava a funcionar em 2015” e “mesmo o túnel do Marão conclui-se em Dezembro” desse ano, tendo sido inaugurado posteriormente. O deputado criticou o que não se fez na última legislatura, como as estradas de ligação entre “Bragança e Vimioso e Vinhais e a ligação à Puebla de Sanabria”, entre outras obras há muito ambicionadas, como a escola de Vinhais e investimentos na área do regadio, considerando que “estes quatro anos foram verdadeiramente desastrosos no que tem a ver com o investimento do governo no distrito de Bragança”. O representante do Bloco de Esquerda, Pedro Oliveira, disse que o desinvestimento na região é um problema crónico e de várias décadas. “Parece que existe uma tendência para manter a interioridade, para depois virmos todos de quatro em quatro anos ao interior trazer novas medidas e combater a interioridade. Nisso o Bloco de Esquerda não se revê”, assegurou, frisando que o baixo investimento no interior se reflecte “na falta de transportes públicos, no desmantelamento da linha do Tua e na falta de investimento nos serviços de proximidade, como nos hospitais, em que não existem valências”. Uma medida que mostra uma diferenciação negativa do interior em relação ao litoral foi o apoio de passes sociais com valores diminutos para a região. Fátima Bento, da CDU, explicou que o PCP defendeu a medida, mas também fez pressão para que o valor destinado ao interior aumentasse. “Para o interior, o investimento tem de ser superior e nós fizemos uma proposta que implicava esse aumento de investimento para o interior. Porque o problema aqui não é só baixar os custos, mas é o desinvestimento de anos, é a perda de população, a perda da linha férrea, a perda dos transportes públicos, que não se resolveu com esta legislatura”, explicou. Já Paul Summers, o candidato do PAN pelo círculo eleitoral de Bragança, espera mais investimentos em transportes, em particular “incentivar os transportes à base de energias renováveis, o transporte eléctrico, a nível da rodovia e melhor ainda através da ferrovia”, salientou. Quanto ao facto de não haver ligações ferroviárias no distrito, propõe que isso mude, já que o PAN defende “ligar todas as capitais de distrito pela ferrovia”. “Os autarcas da região têm protestado e, com razão, que o distrito de Bragança tem sido deixado de fora no que diz respeito ao Plano Nacional de Investimentos (PNI)”, acrescentou, afirmando que tem de “pedir responsabilidade” aos deputados eleitos pelo distrito, “que nas últimas legislaturas não conseguiram que houvesse investimento na região”. Perante a questão acerca da possibilidade de tomarem decisões em benefício do interior e que pudessem, eventualmente, prejudicar ambições eleitoralistas do litoral, Nuno Moreira diz que “os problemas do investimento e despovoamento estão identificados” e afirma “que a interioridade, que é vista como uma desvantagem, poderá ser ultrapassada se um conjunto de leis de bases forem revistas”, mas sustenta que “não é preciso entrar em confronto com o litoral”, mas fazer “políticas como deve ser”, “indicar os problemas, como o CDS tem feito”. Aponta como um problema a divisão dos núcleos de unidades territoriais, já que, na opinião do candidato centrista, isso prejudica a região, por exemplo, na altura de apresentar projectos turísticos “que por estarem numa zona de índice populacional menor, não têm a dotação para se ganhar os projectos”. O candidato a deputado do PS apontou a Unidade de Missão para a Valorização do Interior (UMVI) como um exemplo da proposta que o partido tem para o interior. Jorge Gomes admite que das 164 medidas “ainda estão poucas executadas” e que “vai levar algum tempo”, mas valoriza o facto de se ter feito “um levantamento das principais necessidades de investimento para ajudar o interior a que se possa desenvolver”, considerando que a própria existência da UMVI representa uma “lanterna permanentemente acesa, a focar as necessidades” de desenvolvimento no interior. “Se pensarmos que são os lisboetas que vão desenvolver o interior, nunca mais se desenvolve. Ou somos nós, do Nordeste Transmontano, a criar a mola de desenvolvimento, ou não é Lisboa que o vai fazer”, afirmou. Adão Silva defendeu que a abordagem “tem de ser numa lógica colaborativa, de cooperação e demonstrando que há uma enorme desigualdade e injustiça contra interior”. Deu o exemplo da negociação da alteração do PNI no parlamento, que inclui mais projectos para a região, para mostrar que se pode trabalhar na base da uma relação construtiva, de “colaboração com os deputados eleitos pelo distrito, também os de Lisboa, e os autarcas”. Fátima Bento sublinha que “Portugal é só um”, mas defende que “o tratamento diferenciado das regiões” acabaria com “a regionalização e ter o poder político eleito democraticamente” em cada região. “O investimento que é preciso para colmatar todas as deficiências que temos, começa pelo poder político que podemos passar a ter com a regionalização”, defende a candidata da CDU, que reconhece que “esse investimento tem de ser de acordo com as necessidades que temos e que pode haver regiões que não têm as nossas necessidades”. Pedro Oliveira admite que é necessário beneficiar o interior “como se te beneficiado o litoral”. “Defendemos um orçamento de turismo para o distrito, que possa ser gerido de forma autónoma, apostar nos serviços públicos do interior não prejudica o litoral, tal como exigir a redução do preço da energia e do valor do IVA para 6 %, chama- -se justiça social, temos dos maiores parques de barragens”, sustentou o candidato do BE, defendendo a distribuição “dos fundos de forma equitativa para todo o país” e pede “vontade política para um plano ferroviário que implique reactivar e internacionalizar a linha do Tua”. Paul Summers considera que “o interior tem uma oportunidade única e um activo que é fundamental para esta sociedade em transição” no quadro das alterações climáticas. Segundo o representante do PAN, o distrito tem “um potencial incomensurável, o da floresta” e, por isso, defende que no futuro terá de se apostar “no desenvolvimento dos serviços de ecossistema”, que têm de ser pagos de forma directa, “em que o ar e a água devem ser valorizados”.

Saúde

Nuno Moreira considera que “a saúde contribuiu para a fixação de pessoas no distrito” e reconhece que os “centros de saúde da região estão bem equipados”, mas aponta o facto de não terem mais funções e assim “evitar que houvesse uma corrida ao hospital para situações de urgência”. O candidato mostrou-se preocupado com casos de equipamentos avariados e com a aproximação da idade da reforma de muitos médicos. Para Jorge Gomes há esperança numa solução para os problemas na área da saúde, avançando que há “investimento a ser feito nos três edifícios hospitalares”. Quanto aos médicos especialistas entende que “é preciso criar alguma atractividade para os médicos virem para aqui”, dando mais-valias para ser médico no interior. Adão Silva diz-se um “defensor abnegado do Serviço Nacional de Saúde” e destaca a qualidade dos cuidados de saúde primários, mas identifica “problemas nos hospitais” que atribui à falta de investimento. Também considera que é possível captar mais médicos, “dando condições aos jovens para que quando terminem a formação universitária possam ter uma vinculação ao distrito enquanto fazem o internato”. O candidato do PSD criticou a limitação em relação aos medicamentos de cancro, a falta de medicamentos nas farmácias e as dívidas de unidades hospitalares aos bombeiros. “Perdemos valências, médicos, perdemos técnicos auxiliares, fechou-se maternidades, máquinas deixaram de funcionar”, afirma Fátima Bento, que defende, por isso, que “toda esta perda implica actualmente a necessidade de um investimento muito superior”. Referiu ainda que o transporte de doentes não urgentes “continua a não prever as situações de carência económica e de doenças crónicas” e destacou a “falta de respostas do serviço público na saúde mental” e a necessidade de melhoria da rede de cuidados continuados. Para Pedro Oliveira, o problema na saúde é nacional e a falta de investimento “é uma consequência do facto de quase 50% do Orçamento do Estado para a saúde ser desviado para os privados”. O BE defende para o distrito “o reforço da rede de cuidados continuados, a reposição de todas as valências nos hospitais” e “a criação das valências de saúde mental e oral” no SNS. Para o cabeça-de-lista do PAN é também necessário um reforço no SNS, mas não apenas no tratamento da doença. “Temos de falar mais na prevenção da doença, porque o investimento actual nessa área da saúde é de apenas 1% e se investirmos bastante na prevenção vamos ter uma poupança depois no tratamento”, sustenta, defendendo também a inclusão de psicólogos e nutricionistas no SNS, bem como as especialidades da saúde mental, oral e oftalmológica.

Agricultura

A discussão sobre agricultura e a agro-pecuária não faltou no debate a seis. Perante a polémica da retirada de carne de vaca das cantinas da Universidade de Coimbra, o cabeça-de-lista do PSD defendeu que a nossa agricultura e produção pecuária é ambientalmente sustentável. “É verdadeiramente uma agricultura de futuro. A tal agricultura que agora se defende, amiga do ambiente, ela está aqui. O que tem que ser feito é uma sedimentação desta agricultura que é de facto equilibrada, através do plano de regadio”, afirmou Adão Silva. Jorge Gomes disse que não vai mudar de hábitos alimentares e destaca o papel que a produção pecuária tem para manter área agrícola produzida e pessoas no território. “No nosso distrito a pecuária que existe é de pequeníssima dimensão, mas tem sido essa pecuária e a pequena agricultura que tem feito a manutenção do nosso distrito”, defendeu. O cabeça-de-lista do CDS disse mesmo que os agricultores são os principais ambientalistas. “Há muitos anos o CDS foi o primeiro partido que escreveu no programa a importância dos agricultores, na sua relação com o meio ambiente e com a sua actividade, contribuíram para a preservação do meio ambiente e para o crescimento da actividade dentro do distrito”, referiu. Fátima Bento da CDU defendeu que cada pessoa deve ter liberdade de tomar as opções e lamentou a diminuição que se verificou na pecuária no distrito. “Se virmos a produção de leite que tínhamos há uns tempos largos, não é a mesma que temos agora. Quantidades de produções agrícolas deixaram de existir, porque muitas directivas da União Europeia vieram dizer para arrancar vinha ou instalar as quotas leiteiras”, disse. Também o Bloco de Esquerda não é a favor de proibir a ingestão de carne e defendeu uma agricultura sustentável. “Aquilo que defendemos é uma política que defenda os pequenos agricultores. Acreditamos que a política agrícola comum que é discutida na Europa não defende os pequenos agricultores, uma vez que os fundos são inacessíveis, há uma burocracia enorme no acesso aos fundos”, acrescentou. Já o candidato do PAN pelo distrito Paul Summers recordou o caso das vacas loucas para condenar a agro-pecuária intensiva e industrial e defendeu que a aposta deve ser concentrada na agricultura biológica e de pequena escala. “O PAN defende também um redireccionamento nas grandes produções da agro- -pecuária para as pequenas explorações, principalmente biológicas”, acrescentou.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro