Mais de 90% dos professores do distrito fizeram greve

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Ter, 24/01/2023 - 11:09


Na passada sexta-feira, praticamente todas as escolas do distrito estiveram fechadas devido à greve dos professores

O protesto fez parte da nova ronda de manifestações dos professores, que começaram a 16 de Janeiro e cada dia é dedicado a cada distrito. A greve foi convocada por uma plataforma composta por oito organizações sindicais. Segundo o representante da plataforma, Carlos Silvestre, a adesão foi entre “90 a 95%” no distrito. "Em Alfândega da Fé a escola vai fechar e não é só pelos professores, mas também pela cantina, em Carrazeda de Ansiães a adesão é de 70%, em Macedo é de 100%, Miranda de 99%, secundária de Mogadouro é de 90%, Vimioso é de 100%, Vinhais é de 100%. Em Bragança está tudo praticamente aos 95%. Na cidade de Bragança, neste momento, não deve estar a haver aula nenhuma. Sabemos que na escola Miguel Torga há dois ou três professores a dar aulas, assim como na escola Paulo Quintela, mas são os professores que estão em avaliações e estão a ser observados", adiantou. Os professores de Bragança em greve concentraram-se na Praça da Sé com cartazes e cânticos de reivindicações. Actualmente, a zona pedagógica da região abrange os concelhos de Bragança, Vila Real, alguns de Viseu e alguns da Guarda. Carlos Silvestre lembrou que há professores na região a fazer em média 200 km por dia, devido à abrangência da zona pedagógica. "Há colegas que vão para Penafiel, Amarante, Paços de Ferreira. Em média os professores fazer 100 a 200 km por dia. É inacreditável que nem isso possa ser deduzido em IRS, como deduzem outras profissões", frisou. Além da precariedade dos salários e das zonas pedagógicas, Carlos Silvestre criticou o sistema de mobilidade por doença e o excesso de alunos nas turmas. "A questão do número de alunos por turma, como é que nós temos 30 alunos por turma, se há tantos professores que eles dizem, onde é que eles estão? Porque é que têm as turmas tão grandes? Se têm muitos professores, dividam os alunos por turmas, para que haja mais qualidade na educação e no ensino", afirmou.

Agrupamentos encerrados

Na escola secundária Emídio Garcia, em Bragança, meia centena de professores também estiveram à porta da escola em protesto, mas não foi o suficiente para encerrar a escola. Já o agrupamento de escolas Abade Baçal nem sequer chegou abrir portas. Teresa Pereira, dirigente sindical dos Professores do Norte, foi uma das docentes que esteve em protesto à porta da escola. “Há professores com muito tempo de serviço e estão a meio da carreira, portanto, não vão chegar ao final. É necessário que nos vão repondo, ainda que faseadamente, o tempo que foi retirado, neste momento ainda estão seis anos e meio por repor aos professores”, sublinhou. Embora o ministro da Educação ter dito que iriam diminuir as zonas pedagógicas, Teresa Pereira entende que a maneira como foi feita a proposta só vai trazer mais constrangimentos. “Irá ser pior, segundo esta proposta, que é fazer o aproveitamento de horas de professores que não tenham horário completo, que terão de ser completados nessas escolas dessa zona, o que implica que à sua custa terá que se deslocar, por exemplo, de Bragança a Vinhais”, explicou. Outro dos professores que esteve em greve foi João Afonso. É docente há 36 anos e esteve na manifestação porque entende que o que está em causa é a “dignidade e o respeito pelas pessoas”. “Não percebo porque há aversão à lista graduada, não consigo entender. Se têm vagas para quadros de zona, disponibilizem as vagas, cria-se uma lista ordenada, e em função dessa lista, os professores vão ocupar essas vagas”, reclamou. O agrupamento de escolas de Miranda do Douro e Vinhais também encerraram. Em Macedo de Cavaleiros, só o jardim-de-infância de Travanca é que esteve aberto. Carlos Moura foi um dos professores de Macedo em protesto. Em relação às propostas do ministro da Educação, entende que estão longe de responder às necessidades da classe. E, por isso, atrair jovens para a profissão é cada vez mais uma preocupação. “Vamos perder algo que é fundamental que são aqueles a quem passar o testemunho. Esse desinvestimento está a trazer-nos problemas e por mais que se invista agora na educação, os próximos anos serão muito graves”, afirmou.

Marcha com 200 pessoas em Mirandela

Em Mirandela, os professores em greve fizeram uma marcha silenciosa até à câmara municipal. Aos docentes juntaram-se os auxiliares da acção educativa, pais e alunos. Eram cerca de 200 pessoas a participar na marcha. Gabriela Lomba, mãe de cinco filhos, foi uma das encarregadas de educação que marcou presença no protesto. “Como tenho alguns filhos que já estão no ensino superior, permite-me fazer um termo de comparação com os que ainda estão no ensino secundário e que realmente esta constante mudança de políticas educativas tem vindo a diminuir a qualidade da escola pública e por isso estou solidária com a luta dos professores”, referiu. À medida que iam acontecendo os protestos, o ministro da Educação reuniu com os vários sindicatos para uma nova ronda de negociações, mas não chegaram a acordo, o que significa que os protestos não vão ficar por aqui.

Jornalista: 
Ângela Pais