Nova geração de empresários “está mais bem preparada para aproveitar os bons momentos do ciclo económico”

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Ter, 16/05/2023 - 09:47


Bruno Fernandes é economista e, à margem da conferência “A Importância dos Fundos Europeus para Empresas mais Sustentáveis”, uma iniciativa promovida pelo Santander Portugal, que decorreu, na semana passada, no Instituto Politécnico de Bragança, considerou que os Fundos Europeus do PRR estão desenhados para que toda e qualquer empresa a eles possa aceder, não importando, por isso, estarem localizadas em regiões de Interior, em conhecidos territórios de baixa densidade. Admite ainda que, devido à burocracia associada, pedir ajuda para formalizar candidaturas é um investimento que traz retorno. Bons projectos, que sejam aprovados, podem fazer com que determinada empresa dê um salto fundamental para o seu futuro

Considera que os Fundos Europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) estão desenhados para que a tipologia de empresas que há nesta região tenham acesso a esses mesmos fundos? Ou estão destinados a um número restrito de empresas?

O objectivo do PRR é a nível nacional, portanto não descrimina empresas do Interior, do Litoral, ou do Norte, ou do Sul ou do Centro. São fundos que estão disponíveis para todas as empresas.

Aquilo que é necessário é que exista um projecto de candidatura. As empresas têm que se candidatar e, depois, o projecto em si tem que ser considerado elegível. Uma vez que o seja, a empresa há-de aceder aos fundos e receber o financiamento pelas tranches, que hão-de ficar, naquela altura, pré-definidas.

Depois, a partir daqui, é dar andamento à concretização pura e dura do projecto e não tem propriamente a ver com o facto de as empresas serem de Bragança ou do Algarve, ou o que quer que seja. É a nível nacional. Para qualquer empresa, seja ela pequena, média ou grande. Tem apenas que cumprir os critérios que estão definidos, seja para digitalização, transição energética, melhoria de infraestruturas, etc.

 

A ideia que se tem é que aceder a estes fundos é mais fácil para grandes empresas do que para micro, pequenas e médias. Há empresas que têm que pedir acompanhamento…

Isso tem a ver com a própria complexidade. Vamos chamar as coisas pelos nomes: a burocracia que está inerente à candidatura. O que acontece é que as grandes empresas têm capacidade de ter equipas especializadas e que dominam, do ponto de vista fiscal, jurídico e financeiro, o que é que é necessário fazer para conseguir operacionalizar uma candidatura para que seja elegível aos fundos. Muitas vezes esse know how não está nas pequenas e médias empresas porque têm um número restrito de trabalhadores. Podem até ter uma gestão especializada, mas, muitas vezes, como é um conhecimento muito específico, é necessário que existam empresas de consultoria que têm a capacidade e conhecimento para que estas empresas possam aceder a estes fundos com sucesso. Muitas vezes, nem as grandes empresas também não têm o conhecimento necessário para conseguir aceder aos fundos e também recorrem a estes consultores externos.

 

Mas, muitas vezes, as micro, pequenas e médias empresas não têm capacidade financeira para conseguir pedir essa ajuda…

Isso é outra dimensão do problema. É uma dimensão mais económico-financeira. Uma empresa, para ter acesso a um fundo de investimento, tem de ter uma capacidade mínima de investir parte do seu capital. Isto significa que as empresas têm que ser solventes, que têm que ter capitais próprios positivos. Uma empresa com capitais próprios positivos é um requisito obrigatório até para operar normalmente no mercado, existam ou não existam fundos de investimentos. Empresas com capitais próprios negativos significa que a empresa não tem uma boa saúde financeira.

Portanto, não é pelo facto de existirem ou não existirem fundos que as empresas não têm que, contabilisticamente, ter capitais próprios positivos.

É fundamental que as empresas tenham alguma alavanca financeira porque faz parte do jogo. Se não, era um almoço grátis. Neste caso, tem que haver aqui uma espécie de co-responsabilização, por parte das empresas, no momento da decisão e na partilha de risco.

 

Em relação ao PDR 2030, de que forma é que as nossas empresas podem tirar dele o máximo partido?

Se tiverem um bom projecto de investimento e acreditarem que podem ser mais competitivas e produtivas na sua actividade, então, aí, é utilizarem estes fundos, que já estão disponíveis.

Façam a sua candidatura e, se não conseguirem sozinhas, peçam apoio. Porque, no final de tudo, se o projecto conseguir ser concretizado, o valor que vai gerar vai, claramente, superar os custos, sejam eles financeiros, sejam de contexto, que possam, durante o processo, surgir. Depois, sendo aceite, é fazer todo o acompanhamento normal de qualquer projecto.

 

Vale, então, a pena pedir ajuda…

Vale sempre a pena. O investimento é a primeira alavanca da transformação de qualquer empresa. Portanto, só investindo e acreditando é que se vai conseguir mudar alguma coisa. Ficar à espera que as coisas aconteçam nunca leva a bom porto.

Dar o passo que nos obriga a arriscar traz sempre aquela dúvida existencial mas, efectivamente, a realidade tem demonstrado que as empresas que investem na sua transformação industrial e na forma como conseguem diferenciar os seus produtos são as que vingam mais tarde, são as mais resilientes em momentos piores do ciclo económico, mas quando ele está numa fase ascendente são as que conseguem aproveitar melhor a onda de crescimento.

 

Há muitos empresários que nem sequer tentam procurar informação porque pensam, à partida, que tudo isto vai dar muito trabalho?

Penso que não. Esse mindset está a mudar. Um bocadinho à linha daquilo que tem sido a evolução da economia portuguesa, nos últimos anos, e a capacidade de exportação, que mais do que duplicou, eu acho que o caminho está lá. E a nova geração de empresários está mais bem preparada para aproveitar os bons momentos do ciclo económico que poderão, com certeza, acontecer no futuro.

Jornalista: 
Carina Alves