Produção de castanha está atrasada mas já se prevêem quebras

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Ter, 11/10/2022 - 11:56


Altas temperaturas e pouca humidade levaram a pouco desenvolvimento dos ouriços e só a chuva ajudará a aumentar o tamanho da castanha

Nem os castanheiros conseguiram sair imunes à seca que se atravessa. Este ano a campanha está “muito atrasada” e é ainda uma “incógnita”, mas os agricultores já começam a prever quebras significativas. Carlos Moreira tem cerca de 80 hectares de soutos no Zoio, concelho de Bragança. Por ano, isso traduz-se, em média, em 50 toneladas de castanhas, mas nesta campanha “se tiver metade já era muito bom”. “Há muitos soutos que não vão dar 10% da produção de castanhas. Estou à espera de uma quebra muito grande”, afirmou.

Chover nos próximos dias seria uma ajuda no crescimento da castanha, mas já não resolve nada nos ouriços onde não nasceu o fruto. Carlos Moreira diz que cerca de 50% dos ouriços dos seus castanheiros “não têm castanhas” e, nesse caso, “a água não vai resolver nada”. Há muitos ouriços que já estão “secos” e “bastantes” já estão a cair.
Ainda assim, não acredita que as castanhas atinjam o calibre dos anos anteriores. “Os castanheiros da longal têm os ouriços muito fraquinhos, muito pequenos. Se não chover agora a produção vai ser muito ruim, porque tem poucos e os poucos a castanha vai ser muito pequenina”, referiu.
O produtor admite que a qualidade do terreno também influencia, visto que “os soutos que estão em bons terrenos têm menos quebra e os que estão em terrenos mais fracos a quebra é muito grande”.
A juntar-se à pouca produção estão ainda as doenças do castanheiro, como a tinta e a vespa das galhas do castanheiro. Embora a vespa esteja mais “controlada” este ano, só no espaço de um ano, Carlos Moreira viu morrer mais de 400 castanheiros afectados pela doença da tinta. 
Para evitar o fim da produção, todos os anos planta soutos novos. Anualmente planta cerca de “500 árvores” para aumentar a produção. Ainda assim, admite que não consegue, porque “cada vez morrem mais”. “Eu planto muitos, mas os que planto não chegam para os que morrem”, afirmou. O produtor questionou ainda “morre um castanheiro com 30 ou 40 anos quantos tenho que plantar novos para produzir o que aquele produzia?”
Mas os custos de produção também não ajudam. “A mão-de-obra é mais cara, o gasóleo está muito mais caro, os adubos estão muito mais caros, a castanha é menos e se, ainda por cima, a castanha baixar o preço vai ser complicado”, afirmou.
Devido às elevadas temperaturas, o stresse hídrico dos castanheiros foi “enorme”. A chuva que veio no início de Setembro não foi suficiente, visto que as temperaturas continuam altas e a humidade é reduzida. 
O presidente da Arbórea, Associação Agro-Florestal e Ambiental da Terra Fria Transmontana, admite que “há algumas zonas onde se nota que há ouriços que estão com um desenvolvimento muito reduzido” e “provavelmente não irão vingar”.
E devido à falta de água a campanha está “muito atrasada”. Segundo Abel Pereira, já devia estar a acabar as variedades temporãs e ainda estamos nas variedades híbridas e só no final do mês é que estarão prontas as castanhas das variedades tardias.
Há castanheiros em que a chuva pode já não ser solução. Aqueles onde a folha está já amarelada “podem não recuperar”. 
Além de se esperar pouca castanha, o presidente da Arbórea prevê ainda calibres “mais pequenos” e preços mais baixos. “A castanha hibrida tem calibres mais pequenos e está a cerca de dois euros e nesta altura estaria por volta dos três euros”, disse. 
Pode ainda esperar-se o aparecimento de “bichado”. “O ano passado tivemos um problema de fungos, porque tivemos humidade. Este ano temos o problema contrário, podemos ter bichados e podemos ter castanha rachada, que também é um problema do mercado, porque se a castanha fendilha, toma ali podridões e o mercado não aceita”, disse. 
Será Itália a determinar  o preço da castanha, visto  que é o “maior produtor”  europeu de castanha” e “domina” na transformação do fruto. 
Jornalista: 
Ângela Pais