Quase 10 mil pessoas no distrito estão sem médico de família

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Ter, 03/05/2022 - 11:42


Entre este ano e o próximo há 30 profissionais de saúde que vão atingir a idade da reforma, podendo deixar a situação ainda mais preocupante

O número de utentes sem médico de família, no distrito de Bragança, duplicou nos primeiros três meses deste ano. Segundo dados revelados pelo Portal da Transparência, há 9713 pessoas sem um clínico atribuído nos centros de saúde, sendo que em Janeiro de 2022 havia 4684 utentes sem médico de família. Refira-se que, conforme o mesmo portal, em Fevereiro o número diminuiu, sendo que eram 3398 as pessoas sem clínico, mas em Março o número voltou então a subir. Questionada, a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste garante que a população do distrito de Bragança tem uma “resposta assistencial de proximidade, eficiente e de qualidade” e que na sua área de abrangência, com cerca de 133 mil utentes, “a taxa de cobertura de utentes com médico de família situa-se nos cerca de 94%”. Refere ainda que “há a salientar o preenchimento efectivo de 9 vagas colocadas a concurso pelo Ministério da Saúde em Fevereiro de 2022, estando ainda prevista a abertura próxima de dois novos concursos, o comummente designado ‘concurso de mobilidade’ e o concurso para recrutamento de médicos recém-especialistas, o que permite prosseguir esta trajectória de reforço dos médicos especialistas de Medicina Geral e Familiar”. Ainda assim, a ULS do Nordeste não esclareceu quantos médicos da especialidade de medicina geral e familiar se reformaram nos últimos dois anos, quantos destes foram substituídos e quantos estão em falta ou seriam necessários para colmatar as falhas e responder aos utentes sem cobertura. O presidente da câmara de Bragança, Hernâni Dias, já se manifestou, dizendo estar “preocupado”. “Esta questão de não haver médicos de família para a nossa comunidade é, de facto, muito penalizadora. Neste momento, cerca de 20% da população de Bragança está sem médico de família”, esclareceu sobre a “situação inusitada”. Assumindo que “esta é uma daquelas preocupações que está sempre nas prioridarades”, Hernâni Dias explicou que “o município tem vindo a denunciar esta situação com alguma regularidade”. “Não queremos ser chatos nem exaustivos nesta área de denúncia mas sabemos que há debilidades que têm que ser ultrapassadas. Há necessidade de criar condições, que têm a ver com a progressão de carreira, com os equipamentos disponibilizados aos médicos e é necessário ainda que as instalações da ULS do Nordeste sejam ajustadas àquilo que é hoje a realidade dos profissionais de saúde”, afiançou o autarca, que acredita que “se isso não acontecer logicamente não podemos querer captar médicos para o nosso território”. Esta questão foi discutida na última Assembleia Municipal de Bragança, na última sexta-feira. O presidente da câmara considera que os profissionais se continuarão a afastar da região se aqui não existirem as mesmas condições que no resto do país. “Nós estamos a perder a capacidade de ter aqui um bom sistema de saúde a funcionar, que ajude os nossos cidadãos, devido à falta de investimento sistemática, que se tem vindo a verificar ao longo dos últimos anos”, sublinhou Hernâni Dias, que denunciou que durante este ano de 2022 mais 22 médicos de família da ULS do Nordeste vão atingir a idade de reforma e no próximo ano são mais oito. “Pergunto eu, como é que se resolve o problema? Tem que haver solução”, vincou. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, tendo em conta este cenário, já clarificou que “o Governo está a olhar com muita atenção para as áreas de baixa densidade populacional, como para todo o país” e garantiu ainda que se está a fazer um “esforço” no sentido de “reforçar esta área dos recursos humanos”. Vincou ainda que a ideia também passa pela revalorização dos profissionais de saúde, “dando projetos de carreira, quer em grandes hospitais, quer em zonas do interior”.

Jornalista: 
Carina Alves