QUINTANILHA enaltece antepassados

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Ter, 30/08/2005 - 15:18


Na aldeia de Quintanilha, concelho de Bragança, não há nenhuma família que não seja conhecida por uma alcunha. Esta é uma tradição que foi passando de geração em geração que e está, agora, “imortalizada” em livro.

Ermelinda Martins é natural de Quintanilha e decidiu homenagear os antepassados da aldeia, dedicando-lhe algumas quadras. Os versos recordam as personalidades através da associação do nome à alcunha, que, normalmente, estava relacionada com a actividade que cada um praticava ou com determinadas características físicas.
A obra, designada “Poemas à minha Terra”, é composta por 159 quadras inspiradas na riqueza cultural de Quintanilha. O património e as relíquias da aldeia, a padroeira Senhora da Ribeira e os antepassados foram os temas recordados na sequência de quadras criadas pela autora.
Esta obra inédita foi apresentada na passada sexta-feira, tendo como principal objectivo enaltecer a cultura popular e o povo transmontano, principalmente as gentes de Quintanilha.

Tradição valorizada

No dia da apresentação da obra, Ermelinda Martins mostrou-se satisfeita, uma vez que, aos 70 anos, conseguiu concretizar o sonho de escrever um livro sobre a aldeia que a viu nascer. “Sinto-me muito feliz porque valorizei as minhas gentes, a minha terra e a Senhora da Ribeira”, salienta a autora.
Nesta obra podemos encontrar as alcunhas de todas as famílias da aldeia. Contudo, Ermelinda Martins conta que algumas pessoas não ficaram muito contentes com a divulgação da sua “nomeada”.
“Eu pedi autorização a todas as pessoas para escrever as alcunhas. Algumas ficaram contentes, uma vez que ainda hoje são conhecidos por esse nome, mas também houve quem não achasse muita graça, pelo que foram tirados da lista”, lamenta a autora.
Numa aldeia onde todos são conhecidos por “tios”, Ermelinda Martins fez questão de incluir a sua alcunha nas quadras que criou: “Graças a Deus que estou viva/ Mas para ser a primeira/ Ermelinda Antónia Martins/ A minha alcunha é moleira”.
Segundo César Fernandes, sobrinho da escritora e autor do prefácio da obra, esta é uma forma de preservar a riqueza cultural da aldeia e transmiti-la às gerações futuras.
“A maior parte das pessoas tem orgulho nas suas alcunhas. O meu pai só respondia se o tratassem pela alcunha e, como ele, havia mais pessoas aqui na aldeia. Por isso acho que é fundamental que estas memórias passem para os mais novos, para que a tradição não se perca”, concluiu César Fernandes.
A obra de Ermelinda Martinscontou com o apoio da Câmara Municipal de Bragança e da Casa da Cultura de Trás-os-Montes do Porto.