Resposta aos censos através da internet pode ser desafio para população mais velha

PUB.

Ter, 20/04/2021 - 11:15


Este ano, a resposta ao inquérito dos Censos é dada através da internet

A contagem e caracterização da população e do parque habitacional, que decorre de 10 em 10 anos, pode representar dificuldades para a população mais idosa e com mais dificuldade de utilizar as novas tecnologias de comunicação. A resposta iniciou-se ontem, através do site censos2021.ine.pt. “Cada um deve colocar o código no site e responder às questões”, explica Manuela Marrucho, coordenadora sub-regional da zona Norte, que coordena os concelhos de Bragança e Vinhais. Quando não é possível o preenchimento autonomamente, a alternativa é dirigir-se aos e-balcões, criados em zonas estratégicas, normalmente as juntas de freguesia ou associações. “Vão estar recenseadores e o coordenador a orientar e ajudar a população mais idosa, que não tenha acesso à internet ou com mais dificuldade, na resposta via internet, para que possa facilitar a recolha de informação. Neste caso as pessoas têm de ter o código para poder fazer a submissão do inquérito através do e-balcão”, esclarece. Numa fase final ou caso seja identificada uma dificuldade aquando da entrega do código, o recenseador vai fazer a recolha de informação presencial, para que a informação de todos os habitantes seja inserida no site do Instituto Nacional de Estatística. “Há 10 anos levávamos um papel, fazíamos as questões e referenciávamos nós, agora entregamos um código, para entrarem na plataforma inserirem o código e a password”, explicou Susana Costa, coordenadora dos censos da União de Freguesias da Sé, Santa Maria e Meixedo (UFSSMM), em Bragança Também é possível utilizar o código QR no envelope para preencher através do telemóvel. Nesta união de freguesias o e-balcão já está a funcionar. “A partir de dia 19, facultou o e- -balcão, com duas salas na Sé e outras duas em Santa Maria. No caso de Meixedo [freguesia rural] é mais difícil porque têm uma dificuldade maior na cobertura de internet, mas vamos lá ao terreno ajudar as pessoas que não conseguem fazer, que não têm internet nem ninguém que os ajude a fazer”, afirmou. Para não haver ajuntamentos de pessoas e evitar esperas prolongadas, deve ser feito agendamento.

Identificação de casas e residentes

Em muitos casos, os vizinhos são importantes para identificar as residências ocupadas e as secundárias. “Todos os códigos entregues têm de ser usados para o recenseamento”, explicam. “Quando estão com as portas e as persianas fechadas ficamos na dúvida se estão habitadas ou não, por isso temos de perguntar às pessoas da rua”, conta João Monteiro, um dos 26 recenseadores em Bragança. Tal como os restantes envolvidos no processo, foi testado antes de começar o trabalho de distribuição. Em caso de dúvida, é deixa da a carta com um aviso “para que as pessoas possam dar- -se conta do que se trata”. Depois os recenseadores aguardam que o código seja utilizado e caso não aconteça têm “de voltar para confirmar se são residências habituais”, explica, já que os recenseadores conseguem ver na aplicação quem responde ao inquérito. Depois de explicar que a visita servia para entregar a carta com os códigos dos Censos 2021, João pergunta se têm internet em casa e se alguém os pode ajudar com as respostas. Isabel Garcia, que mora no bairro dos Formarigos em Bragança, tem 87 anos e apesar de não saber mexer na internet diz que a filha a vai ajudar. “Se não fosse ela, tinha de pedir a alguém porque eu não podia”, afirma. Delfim Santos responde que o filho o pode ajudar. Não se recorda como fez há 10 anos. Mas “se isto é para contar a população que há, eu também tenho de ser contado”, afirma. Liliana Fernandes de 16 anos recebeu a semana passada o envelope com o código do agregado familiar. Em relação aos últimos censos, há 10 anos, não se recorda do processo, mas agora vai ser ela a preencher os dados. “Não sei o que é, os meus pais não sabem trabalhar com a internet, vou ter de ajudar”, afirma. “Agora é pela internet?”, pergunta Ana Fernandes Ala, que diz que não sabe como preencher. Perante a resposta afirmativa referiu que o filho tem internet e vai ajudá-la. João tinha mais de 600 casas para visitar, o que fez numa semana e meia. Em alguns bairros os recenseadores encontram algumas dificuldades. “Quando o nível de educação é mais baixo, as pessoas ficam um pouco assustadas, porque não sabem do que se trata e é mais difícil sensibilizá-las, mas no geral não tenho tido grandes problemas”, conta. Só uma pessoa recusou inicialmente os códigos. “Um senhor dizia que não sabia ler nem escrever e que escusava de insistir, porque não ia preencher. No dia a seguir, já estava mais calmo, e consegui entregar a carta”, relata, recordando que o preenchimento é obrigatório. Por outro lado, diz que “a vantagem dos bairros é que há várias pessoas que se conhecem e acabam por se sensibilizar umas às outras, o que facilita o trabalho”, conta. A distribuição das cartas com os códigos começou a 5 de Abril e ficou concluída até dia 18. “A entrega de códigos livres e identificação de edifícios e alojamentos correu da melhor forma”, assegura a coordenadora do trabalho de recolha de informação nos concelhos de Bragança e Vinhais. Caso não tenha recebido ou tenha perdido o código, há a possibilidade ligar ou dirigir-se à junta de freguesia para pedir um novo. Além da generalização do preenchimento do inquérito dos censos de forma digital, em 2021 a geo-referenciação dos edifícios é outra das tarefas dos recenseadores. Ao utilizar a aplicação e-recenseador, “desenvolvem o trabalho no terreno, junto do edifício, do alojamento” e podem “confirmar a sua caracterização e confirmar geograficamente se está bem colocado no terreno”. Na mesma aplicação é inserida a informação sobre os códigos que são atribuídos a cada alojamento. Em Bragança há 56 recenseadores no terreno e em Vinhais 29. “Na nossa área de trabalho, o recenseador reside na freguesia ou tem conhecimento da realidade e tem o acompanhamento do coordenador de freguesia, que é o presidente de junta ou alguém por ele delegado, que conhece a realidade da freguesia e isso ajuda na recolha da informação”, explica Manuela Marrucho. A coordenadora apela à colaboração de todos e que o máximo das pessoas possa responder ao inquérito no site, para minimizar os contactos durante a pandemia. “Podendo responder por internet para segurança de todos seria o melhor”, referiu. O processo de preenchimento acontece até 31 de Maio, mas na UFSSMM esperam que em meados de Maio a maioria das pessoas esteja recenseada.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro