PUB.

Seda de Freixo de Espada à Cinta trabalhada artesanalmente ganha certificação DOP

PUB.

Qua, 22/11/2023 - 11:19


A seda de Freixo de Espada à Cinta acaba de ganhar a certificação DOP, Denominação de Origem Protegida

“A cereja no topo do bolo”, afirmou o presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta, que tem andado a trabalhar no processo há algum tempo. Nuno Ferreira considera que esta chancela vai “abrir portas” para que “mais pessoas possam aprender, possam usufruir da seda e sobretudo incrementar cada vez mais a seda como um potencial a nível local, distrital, nacional e sobretudo internacional”. O autarca explicou que, a partir de agora, a seda de Freixo vai passar a valer o “dobro”. “Temos exemplares de carteiras que custam 500 euros, passarão a valer mil euros com esta certificação”, disse. A seda é feita de forma artesanal, no Museu da Seda e do Território, da vila, desde a criação do bicho-da-seda à produção das peças. O objectivo é o “mercado de luxo” e, por isso, o município não quer que o produto seja “vendido ao desbarato”. “Estamos numa pequena escala vocacionada para aquilo que é o mercado de luxo e, posteriormente, iremos passo a passo cimentar a seda e a sua comercialização, mas sempre com uma denominação principal, que a seda é neste momento um produto DOP”, frisou Nuno Ferreira. A câmara tem já um protocolo com o Castelo de São Jorge, em Lisboa, onde também estão a ser vendidas peças de seda feitas em Freixo.

Todos os dias é uma constante aprendizagem

A seda começou a produzir-se em Freixo de Espada à Cinta no século XVI. O concelho chegou a ter 16 fábricas, a maior empregava 18 pessoas. No entanto, com a pebrina, doença da amoreira, fez acabar com esta indústria, uma vez que o bicho-da-seda se alimenta das folhas desta árvore. Mas nem por isso, o conhecimento se perdeu. As mulheres começaram a fazer peças, de forma artesanal, em casa, preservando a arte até aos dias de hoje. No Museu da Seda e do Território é possível ver como este processo acontece. Susana Martins é uma das sabedoras. A sua mãe já trabalhava a seda, mas nunca achou grande piada à arte, porque considerava que era “uma coisa de velhos” e não via a seda como “futuro”. Contudo, terminou o 12.º ano e surgiu a oportunidade de fazer uma formação sobre a seda. Apaixonou-se pelo processo desde o primeiro dia que começou a trabalhar. “Gosto de fazer tudo e faço tudo com muita dedicação, porque é uma coisa que sai de mim”, disse. Já passaram 20 anos e admite que ainda hoje está aprender. A sua parte preferida é o processo de extracção da seda. “O que gosto mais é de trabalhar na caldeira, extrair a seda é a minha praia. Gosto muito de estar ali e de mostrar, ver as pessoas com aquela admiração de quem nunca viu fazer seda”, contou. Com a certificação DOP considera que “haverá uma certeza da genuinidade do produto” e espera que o conhecimento se transmita de geração em geração para “não deixar morrer” a arte. Acredita que isso não irá acontecer, até porque os mais novos mostram-se interessados em aprender. “Os miúdos adoram escolher os casulos, dar de comer, dar à roda, fazer estas coisas”, referiu. Há nove artesãs a trabalhar a seda no museu. Além de Susana Martins, também Ana Isabel Martins trabalha a seda, embora há menos tempo. “Eu já tinha trabalhado anteriormente na seda, na associação que existia antes do museu, mas fiquei sempre com aquele bichinho, com aquela vontade. Em 2018 aconteceu um curso e eu vim fazê-lo e tive a sorte de ficar até hoje”, contou. Admite que este não é um trabalho que se aprende da noite para o dia, “leva tempo” e o mais difícil é mesmo “empeirar a teia”. “Há umas casinhas muito pequeninas e os fios são fininhos e têm que passar nessas casinhas. Se tenho o azar de me enganar a enfiar um fio, tenho que desfazer tudo”, disse. Há cinco anos a fazer da seda uma paixão, acredita que com Denominação de Origem Protegida vai ser benéfico para Freixo de Espada à Cinta e ajudará a “promover o produto”. As artesãs fazem carteiras, porta óculos, panos, s do bicho-da-seda entre outras peças.

Mas como se faz seda?

O processo começa com a criação do bicho-da-seda. Nos meses de Abril, Maio e Junho, os ovos são colocados à temperatura ambiente para nascer o bicho-da-seda. Durante 45 dias, as artesãs dedicam-se à criação do bicho, dando-lhe a comer as folhas da amoreira, de hora a hora. Passados 45 dias, os bichos começam a segregar uma baba que forma um casulo, onde dentro se vão transformar numa borboleta. Porém, é provocado um choque térmico para que os bichos-da-seda morram e é daí que é extraída a seda. A qualquer altura do ano os casulos podem ser colocados numa caldeira a 90 graus e com uma vassourinha de carqueja é extraído o fio de seda. Cada casulo tem à volta de mil metros de seda. No entanto, este fio ainda não dá para trabalhar e, por isso, o processo não termina aqui. É necessário “dobar”, porque fio é um muito fino. Seguidamente junta-se quatro desses fios para fazer um “cubilho”, que depois é torcido e a meada que sai dessa torção tem que ser cozida com água e sabão. Volta- -se a dobar e forma-se novelos. O fio está pronto para ser urdido na teia.

 

Jornalista: 
Ângela Pais