Transmontano Luís Cangueiro expõe em Palmela

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Ter, 30/08/2005 - 16:16


Natural de Prado Gatão, concelho de Miranda do Douro, Luís António Cangueiro foi figura bem conhecida em Bragança nas décadas de sessenta e setenta, como docente do ensino secundário e director do então conhecido como Lar da Fundação Calouste Gulbenkian, que dava acolhimento a cerca de uma centena de rapazes estudantes. Já naquele tempo, figura grada, também conhecida como espírito esclarecido e inovador nas artes literárias da comunicação.

Estes e outros invulgares dotes transportou-os Luís Cangueiro consigo para a cidade de Almada, em cujas imediações actualmente é senhor de uma grandiosa coudelaria e de um correspondente campo hípico, bem como de uma empresa de publicidade. Mas, bem a par de tudo isto, merecem aqui realce as colecções de antigas peças de arte, que este ilustre transmontano, com a sua sensibilidade artística, foi conseguindo adquirir ao longo das últimas décadas, em que o seu prestígio mais se passeia por aquela cidade sobranceira a Lisboa.
Neste âmbito, propomo-nos aqui noticiar, com o merecido destaque, a impressionante exposição denominada “Sons de Ver, Ouvir e Sentir - instrumentos de música mecânica”, com que o saudoso Luís Cangueiro se apresenta na Igreja de Santiago, integrada no monumental Castelo de Palmela.
Esta extraordinária exposição, em colaboração com o Município local, foi inaugurada em 9 de Julho e estará permanentemente aberta até 11 de Setembro do ano corrente, excepto nas segundas-feiras e feriados, sempre das dez horas às doze e meia e, da parte da tarde, das catorze às dezoito. De muito interesse será também saber que às onze e meia e às dezassete horas se poderá, conjuntamente, aproveitar também a oportunidade de apreciar os sons harmoniosos daqueles já raros e artísticos instrumentos da antiga música de reprodução mecânica.
Como meros exemplos extraídos à sorte e sem desprimor para com quaisquer outras de diversas qualificações e nacionalidades, entre as oitenta e quatro peças expostas, é grato aqui referenciar, ao menos, três excelentes exemplares, produzidos no século XIX, todos dotados de moedeiro, destinado a accionar o sistema mecânico, especialmente concebido para locais de grande afluência. Uma dessas máquinas é a denominada Caixa de Música Gare, com cilindro metálico, originária da Suíça. Outra poderá ser a também célebre Stereoscope, inglesa, esta com a particularidade de ser dotada de um estereoscópio visionador de postais ilustrados da época. Ainda, também como exemplo, outra Caixa de Música de Disco Metálico, a Polyphon, de origem alemã e igualmente dotada de excelente sonoridade.
Usando a palavra do expositor, “poderemos considerar fantásticas estas máquinas falantes: no plano acústico, quando restauradas com mestria, são extremamente agradáveis de se ouvir e deleitam-nos com a sua excelente sonoridade; no plano sentimental e a esta distância do tempo, inspiram-nos uma profunda nostalgia, ao recriarem a admiração e o fascínio que teriam provocado nos nossos antepassados ao longo de décadas”.
“Na verdade, sem se saber tocar um instrumento musical, poderiam ouvir-se as mais belas melodias, rodando simplesmente uma manivela, dando corda a uma mola, accionando pesos, movimentando pedais, articulando foles”.
Pela nossa parte, conhecendo o sucesso que está a constituir esta exposição em Palmela, também aqui expressamos o vivo desejo de que este sucesso estimule o coleccionador a realizar mostras idênticas por estas suas e nossas terras transmontanas, designadamente em Miranda, sua naturalidade, em Bragança e noutras capazes de lhe proporcionar idêntico sucesso, bem como igualmente o estimule a realizar o seu sonho de abertura de um Museu, em que outras mostras permanentes possam ser partilhadas mais extensivamente e em plena continuidade.

José Francisco Fernandes