Vida e obra de escritores da região foram tema das jornadas culturais de Balsamão

PUB.

Ter, 08/10/2019 - 15:15


“O Património Literário Transmontano-Duriense” foi mote da vigésima segunda edição das Jornadas Culturais de Balsamão, que, anualmente, decorrem no convento dos Marianos da Imaculada Conceição, em Chacim, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Este ano, no sábado, dia em que as jornadas foram levadas a Mogadouro, Trindade Coelho foi um dos nomes em destaque, não fosse este um dos vultos do concelho.

Sobre o escritor, que também foi magistrado e político, nascido em Ju - nho de 1861, em Mogadou - ro, Fernando Machado, que conduziu a conferência so - bre o autor de “Os Meus Amores”, acredita que ain - da muito há por conhecer. Para o docente da Univer - sidade do Minho, também nascido em terras de Moga - douro, as mágoas de Trin - dade Coelho, que acabaram por ser um “caldo” que o le - varia a cometer, em 1908, o suicídio, são dos pontos mais desconhecidos e não menos interessantes do autor. “Estou a juntar alguns elementos para publicar uma pequena obra sobre as mágoas de Trindade Coe - lho, porque foi um homem que passou uma vida muito magoada”, começou por ex - plicar o docente que diz ter a “impressão” de que “ainda não se conhece suficiente - mente o conterrâneo” e Mo - gadouro devia ser a “base” da difusão e do maior co - nhecimento do escritor. Deixando de parte o que acredita ser o mais comen - tado e conhecido do escri - tor, a sua vertente literária, sobretudo “Os Meus Amo - res”, Fernando Machado reportou-se ao mogadou - rense para o dar a conhecer como um homem situado e comprometido. Situado porque “apesar de ter vivi - do pouco tempo em Moga - douro nunca deixou de ter esta referência, sendo que a quase totalidade dos contos aí são passados” e compro - metido porque foi um ho - mem “muito ligado à am - biência política”, vivia à sua altura, e estando encarre - gado de vigiar as publica - ções que saiam em Lisboa, sobretudo em jornais, aca - bava por viver numa “con - tradição” porque, tendo um “espírito democrático”, es - crevia contra as leis que fa - zia aplicar. Campos Monteiro, es - critor, médico, jornalista e político, nascido em Torre de Moncorvo, em Março de 1876, outro dos mais conhe - cidos nomes do distrito no mundo das letras, também mereceu destaque no penúl - timo dia das jornadas atra - vés do seu conterrâneo Jo - sé Firmino Ricardo. O in - vestigador no Centro de In - vestigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memó - ria” acredita que nomes co - mo o de Campos Monteiro deviam fazer parte da rea - lidade no ensino português que andará “sempre” à vol - ta de “meia dúzia” de nomes. Acreditando que o le - que de escritores com “qua - lidade” é “vasto”, olhando para os que vêm já de sécu - los anteriores, mais precisa - mente, XIX e XX, o “grande apogeu” do romance, refe - re que há vários nomes que deviam ser estudados e me - reciam que os professores do secundário tivessem “li - berdade” de escolha nesse aspecto. “Durante o Estado Novo, na escola, estudava - -se Campos Monteiro, mas com a revolução de Abril esses escritores malditos fo - ram riscados e é preciso se - parar as coisas, uma coisa é a arte e outra são as ideias”, explicou. José Firmino Ricardo é ainda responsável pelo pri - meiro estudo de fundo sobre Campos Monteiro: “Domus Mea est Orbis Meus”, publi - cado em 2012. “Sendo ele tão importante, foi um dos es - critores mais lidos no princí - pio do século XX, decidi pe - gar em papéis dispersos, em várias documentações, que não estavam trabalhadas, e fiz uma investigação, que deu num livro”, confirmou As jornadas, que come - çaram na quinta-feira e ter - minaram domingo, tive - ram a organização a cargo do Centro Cultural de Bal - samão e das autarquias de Macedo de Cavaleiros e de Mogadouro. Além de A. M. Pires Cabral, as sessões lem - braram ainda nomes como os de Guerra Junqueiro, de Freixo de Espada à Cinta, e Miguel Torga, de São Mar - tinho de Anta, Sabrosa.

Jornalista: 
Carina Alves