Em quanto tempo chega a desilusão?

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Quanto tempo demoramos a desiludir alguém? E a ficar desiludidos? Há algum tempo tabelado, para sabermos o que é normal? Para sabermos se ainda é muito cedo para ser considerada desilusão, ou se, por outro lado, ainda está dentro do expectável e estamos só a empolar as circunstâncias? São perguntas pertinentes, que tivermos em conta que, hoje em dia, tudo parece descartável. Até as relações interpessoais. É tudo à velocidade da luz, num antigo “vai ser bom, não foi?”. De repente, parece que tudo já aconteceu, porque havia algum prazo de validade invisível. E nem sempre nos apercebemos disso. Vivemos na poesia de Álvaro de Campos, num “sentir tudo de todas as maneiras”. Mas só se for nos próximos cinco minutos, porque depois tenho mais o que fazer. Ou já passou a vontade. Ou era só mesmo isto, obrigada. Ou, se calhar, nem era bem isto que eu idealizava, agora que tirei os tais cinco minutos para pensar sobre o assunto. Quanto tempo é preciso para saber que desiludimos alguém? Talvez nem nunca saibamos, porque isso requer que a outra parte tenha o tal tempo e, claro, a disposição para nos dizer. E, sem dons de adivinhação, poderemos ficar para sempre na ignorância. Em boa verdade, às tantas queremos lá saber disso! Num momento, estamos muito próximos. No momento seguinte, somos completos estranhos. Mesmo sem dar muita importância, o que é certo é que é difícil não sentir a tal pontada de desilusão. “Ah, afinal era só isto!”, num anticlímax extremamente desagradável. Parece-me que não há muito tempo para ficar, simplesmente. Para ser, fazer, sentir. Sem grandes preocupações. Há sempre mais para além do momento que vivemos no presente, numa ânsia de agarrar o futuro, que ainda se está a desenhar. Ou melhor, que estamos somente a rabiscar. Porque é difícil fazer uma obra-prima quando se está com pressa. No máximo, dá para safar. O ideal seria termos tempo, paciência e um sorriso no rosto para aqueles que escolhemos ter na nossa vida. Que escolhemos, sim. Porque, mesmo quando dizemos que foi tudo um mero acaso (talvez tenha sido, quem sabe?), tivemos sempre a opção de dizer “sim” ou “não”. De dar um passo em frente ou de virar as costas. Mesmo quando a opção era caminhar a passo firme para o abismo, a escolha foi, em última análise, pessoal. Mas, tudo tem dois lados. Todas as histórias, melhor dizendo, têm dois lados. E nem sempre no final do abismo temos um trampolim ou uns braços abertos para nos receber. Às vezes, temos somente rocha à nossa espera, tão dura e fria como seria de esperar. Contudo, em boa verdade, apenas julgamos os nossos próprios abismos, sem saber quais são os lugares negros por onde pisam os outros. A tendência é, logicamente, para olhar para o nosso umbigo, e lamentar tudo que não nos corre de feição. Quanto tempo demoramos a ficar desiludidos? E a desiludir alguém? Será o tempo de chegar ao final de um abismo? De perceber se há almofadas fofas ou se há apenas calhaus? Bem, se assim for, então o melhor é aproveitar a queda.
Tânia Rei