Falando de … O Mandarim, de Eça de Queirós

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Resignados na nossa condição de gente esperançosa aguardando melhores dias, até que tudo seja debelado, somos convidados para a leitura. Livros há muitos e muitos são os que estão ao nosso alcance. De leitura acessível, alimentam a nossa imaginação, trazendo-nos um bem-estar que muito ambicionamos.

Ler escritores portugueses em detrimento de estrangeiros, é uma manifestação de boa escolha. Somos herdeiros de uma literatura que nos honra e que nos apraz. Há os escritores que são nossos contemporâneos, entendendo aqueles cuja existência está próxima da nossa, e há os que nunca passaram de moda, conquanto tenham vivido em tempos recuados e que nunca passaram de moda. Teríamos um rol de não mais findar.

Com a China no nosso horizonte, cada vez mais próxima de nós, quer sob o ponto de vista comercial, quer pelas razões que estão na origem do mal que nos avassala, ler um texto que tenha a China dentro, é motivo que não rejeitamos. Se Camilo Pessanha e Venceslau de Moraes transportaram consigo o império celeste, sem esquecer Fernão Mendes Pinto, que na Peregrinação nos apresentou os bons costumes do Oriente, transportando consigo o anátema de Fernão! Mentes? Minto, voltar a Eça de Queirós é ler o que de melhor se escreveu nas páginas do texto português.

E a China lá está em O Mandarim, mais um sopro da boa literatura, na linha do que Eça nos legou.

Lemo-lo de um fôlego. É verdade que um livro se lê tantas vezes quantas as necessárias. Neste momento de Páscoa em clausura, O Mandarim que cheira a chinês, preenche-nos o prazer do texto. Ligados a Teodoro e de braço dado com a personagem principal, somos levados para um mundo que não se sabe para onde vai e até onde chega. História hilariante a mostrar o poder da pecúnia. Mudam-se os dinheiros, mudam-se as vontades…

Escrita de grande leveza e simplicidade. Acessível a qualquer leitor. Uma espécie de ensaio, onde não falta um propósito de vida. Lê-se bem e com prazer. Nós recordámo-lo e voltámos a apreciar. Esquecemo-nos do tempo que passa e usufruímos do prazer da vida, agora que ela nos é tão madrasta.

João Cabrita