Larápio

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Texto dedicado a uma senhora perspicaz e inteligente

Não estou autori- zado a contar o episódio, apenas a referir o porquê do hoje em desuso vocábulo – larápio -. Há alguns anos a se- nhora via um canal de televisão quando a determinada altura surgiu na pantalha a imagem de um figurão de alto coturno da nossa sociedade. A senho- ra levantou a cabeça, disse para o filho: se aquele que ali está for como o pai, é um larápio! Ora, ao ouvir os detalhes da afirmação entendi reter a atenção no termo – larápio –, visto a considerar eficaz em termos semânticos para a viva imagem do ratoneiro a fugir velozmente com o produto da rapina qual milhafre ou gavião a reter nas garras o pintainho descuidado privando a galinha alvoroçada do estouvado e, a dona do futuro pica no chão, como agora os frequentadores de restaurantes dizem numa referência envernizada à ruralidade. Bem sei, agora os larápios deram lugar aos cavalheiros de casaca (filme o Ladrão de casaca) os quais, nos intervalos de almoços, nos gabinetes opacos onde gizam jogadas golpistas em que larapiam dezenas e dezenas de milhões de euros, atirando para cima dos ombros dos contribuintes a responsabilidade de pagarem o escamoteamento dos lustrosos roubos. Larápio ladino ou não, de bicicletas, (genial o filme do neo-realismo italiano realizado pelo Senhor V. de Sica) recorda o biscateiro de secos-emolhados relapso a trabalhar nas segundas-feiras, terças e quintas ao contrário dos argentários sempre activos na ânsia de atingirem o estatuto de plutocratas descritos primorosamente no mais que esgotado livro O Plutocrata do filósofo Orlando Vitorino. Larápio é o palhaço pobre a contrastar a roupa puída contra as lantejoulas do Augusto, o larápio rouba um corte de fazenda, o Augusto toca violino enquanto o faz-tudo consegue entender a mensa- gem em notas musicais surripiando as carteiras dos espectadores nos circos de onde financeiramente vale tudo até esbulhar a família de os olhos bem abertos. O País tem assistido a cenas deste teor na destruição do cânone de a roupa suja da parentela lava-se em privado. O exemplo dos pri- mos DDT e Ricciardi desmente a velha máxima de os esqueletos de todas as famílias não devem sair dos armários. Tretas! Sendo esta a primeira crónica publicada no ano de 2023, não podia começar melhor, a justi- ça não sai do estado comatoso, o governo imita o Gargantua de Rabelais (come tudo), o Professor Marcelo após a desvinculação da Ritinha além de aguadeiro governamental é passa culpas relativamente a casos e casinhos da lavra da turma do chefe António Costa. Bom Ano Novo. Incluindo os larápios que também são gente. Na guerra e na paz!

Armando Fernandes