OS TRÊS “R” E OUTROS TRIOS 1 – TRÊS “M”

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Recentemente fui convidado a elaborar uma comunicação sobre o processo de valorização ambiental da Terra Quente, a propósito da passagem de 25 anos da inauguração do Aterro Sanitário que aconteceu em setembro de 1997. De- veria ser apresentada numa sessão a realizar para celebração da data do evento.
Por razões que desconheço, na totalidade, tal celebração não se realizou.

Arredado há muitos anos da gestão dos resíduos, no nordeste, a minha interven- ção, para não me envergo- nhar, teria de ter um pendor histórico. E, assim sendo, para começar do início, teria de re- montar a 1993, altura em que me iniciei nessa atividade. Verifiquei que se cumprem agora, em 2023, três décadas e que foi nessa altura que sur- giu com particular importân- cia para o projeto que abraçava a política dos três “R” – Reduzir, Reutilizar e Reci- clar. De repente vi que havia, nesse processo, vários grupos de três palavras-chave com as mesmas iniciais. Pareceu-me ser de interesse, passados que são trinta anos, revisitar esses tempos, trazer para a luz do dia, episódios desconhecidos e revelar situações menos conhecidas e até, porque não, desfazer alguns equívocos e mitos criados à volta de uma instalação que, sabendo-se importante, à data, não se adivinhava a relevância que viria a assumir por ter sido o único aterro concluído, no distrito de Bragança, dos três então anunciados.

O primeiro trio é de palavras começadas por “M”: Mirandela, Moncorvo e Macedo.
José Gama, o autarca modelo de então, ganha- ra, surpreendentemente, o município mirandelense e propunha-se fazer da “prin- cesa do Tua” um jardim. Ob- tivera financiamento europeu para a ponte-açude, revolucionara a zona entre pontes com a construção do Parque do Império e a urbanização da antiga zona da feira, junto à Senhora do Amparo, cons- truíra o Parque de Campis- mo da Maravilha e iniciara a revitalização do espaço que, futuramente, haveria de ter o seu nome. Nas rotundas e ou- tros espaços públicos trans- plantara oliveiras e mandara plantar rosas. Alindara a cida- de, em toda a zona ocidental,
porém... a nascente, uma li- xeira a céu aberto, era o pior dos cartões de visita de quem chegava vindo de Vila-Flor ou Alfândega, impedia o cresci- mento para leste e empesta- va toda a zona da Reginorde,
sempre, mas muito especial- mente nos dias em que o ca- racterístico “capacete” de ne- voeiro aprisionava os fumos e cheiros libertados, cons- tantemente, pela combustão dos resíduos ali depositados. A minha entrada para a Asso- ciação de Municípios da Terra Quente Transmontana a que o edil mirandelense presidia, tinha como desafio primeiro, libertar Mirandela (e a região) deste cancro ambiental.Em Moncorvo, Aires Ferreira que disputava, a Gama, o título de melhor autarca re- gional, estava no final do seu segundo mandato e depara- va-se com um problema idên- tico que sendo, embora, de impacto inferior causticava os moncorvenses que subiam para a Terra do Ferro, vindos do IP2 junto do cruzamento da Foz do Sabor ou quando o vento empurrava fumos e cheiros para o centro da vila. Associar Moncorvo, onde eu, nesse ano, concorria contra o autarca pela disputa da Câ- mara, era um objetivo políti- co, mais do que técnico. Por óbvia razão política, foi rejei- tada a minha proposta. Apesar da mancha ambiental no centro da REN, na serra de Bornes, a lixeira de Mace- do não tinha os incómodos das duas anteriores. Contudo o aspirante Luís Vaz fez da inclusão do município ma- cedense, na Associação, para resolver, precisamente, os problemas de recolha e trata- mento de resíduos, o mote da sua campanha eleitoral que o haveria de levar ao poder, em dezembro desse ano de 1993.
José Mário Leite