União Nacional Socialista, estabilidade política e ruptura democrática

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Certo é que a democracia representativa está em crise um pouco por todo o mundo onde é suposto existir. Fenómeno que se reveste de particular acuidade nos países integrantes da União Europeia, por razões endógenas, mas também por interferências externas, sub-reptícias, de estados ditatoriais inimigos, com destaque para a Rússia de Putin e as poderosas teocracias muçulmanas fanáticas. Vários relatórios de entidades ligadas à defesa e segurança apontam neste sentido. Em Portugal as causas principais derivam de vulnerabilidades do permissivo regime político vigente e de más practicas da classe política, relapsas e generalizadas. Já não é a primeira vez que, entre nós, se fala em ruptura democrática. Tal se justifica mais agora do que em qualquer outro momento, porquanto o Estado, a Nação, o País, como se queira, estão feitos em cacos. Tão séria é a situação que está a provocar fortes sentimentos populares de insatisfação e revolta, claramente perceptíveis em murmúrios e lamentações generalizados, tais como “são todos iguais” ou “os machuchos deveriam sentir vergonha de sair à rua e de dar a cara nas televisões”. De facto, é entendimento dos portugueses independentes e de boa vontade, que são a maioria, que tudo se deve ao permissivo regime político vigente, que tem propiciado roda livre ao PS e ao PSD, o chamado Bloco Central, para furtiva e informalmente partilharem cargos, mordomias, dinheiros públicos e vantagens diversas, muito embora tal associação política nunca tenha sido formalizada. Trata-se de forças partidárias maioritárias que nunca ousaram congraçar-se para promover as necessárias e suficientes reformas fundamentais, designadamente no sistema de justiça, na lei eleitoral ou na administração do território, ainda que cinicamente proclamem aos sete ventos a sua disponibilidade para tal. Bloco Central que é o verdadeiro alfobre da corrupção genericamente entendida, da degradação do Estado e do descredito da própria democracia, qual delas a mais grave ameaça à Nação. Degradação que, manda a verdade que se diga, se acentuou com as governanças de José Sócrates, que foi forçado a chamar a Troica e acabou indiciado judicialmente e de António Costa, que inventou a Geringonça e viu os seus governos envolvidos em múltiplos escândalos, acabando ele próprio por ser igualmente alvo de demanda judicial. Recaiu sobre Passos Coelho, nesse ínterim, o ónus e o mérito de resgatar provisoriamente, ainda que sob a batuta da Troica, a situação desesperada para a qual havia sido atirado Portugal. Foi sol de pouca dura, porém. Mas foi, sobretudo, com o senhor que se lhe seguiu, o ainda primeiro ministro António Costa, titular de uma perversa maioria absoluta, que a legendária família socialista se transfigurou num arremedo da União Nacional salazarista, fazendo com que com as crises do SNS, da Habitação, da Justiça, as greves e motins generalizados e o monumental fracasso do estado social socialista, traduzido em pobreza, emigração e o desemprego, ganhassem expressões dramáticas. Insucessos que de alguma forma foram sendo branqueados e menorizados pelo Governo, através do mais que evidente domínio de importantes órgãos da comunicação social, como agora melhor se vê nos debates eleitorais e na prevalência nas televisões de comentadores afins. Entretanto Pedro Nuno Santos, o novo homem forte dessa novíssima União Nacional Socialista, servindo-se do surreal slogan Portugal Inteiro e em nome da sua esfarrapada e perversa estabilidade política, que mais não é que a garantia do status quo, está agora a dar tudo por tudo para restaurar o pote de barro dourado, tentando colar os cacos com cuspe de esquerda. A situação tornou-se particularmente grave na Justiça que acaba de alcançar o seu clímax com o escândalo da Madeira, reforçando a opinião, que é generalizada, de que o sistema de justiça em geral e não só o Ministério Público, está minado e corrompido por interesses políticos partidários e outros, estranhos à democracia, muito embora haja meia dúzia de dignos magistrados que continuam a bater-se heroicamente pela sua dama. Resta a esperança de que o povo acorra às urnas massivamente, já no próximo acto eleitoral, para salvar a Nação e a Democracia, elegendo representantes, fora do mítico arco da governação, com expressão suficiente para provocarem uma genuína ruptura democrática, pugnando consequentemente pelas reformas indispensáveis e neutralizando democraticamente quantos se têm portado como verdadeiros vende pátrias. Ruptura democrática que, por esta via, em nenhuma circunstância representará um retrocesso ao autoritarismo. Bem pelo contrário, melhor se traduzirá no aprofundamento da democracia e no reforço do estado de direito. Será bom se assim for.

Henrique Pedro