Vacinar, testar e... saber comunicar

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A disseminação da Covid19 depende, provavelmente, mais dos comportamentos individuais e voluntaristas de cada um do que das regras, imposições, proibições e limites impostos legalmente pelo Governo, com as propostas do Presidente da República, aprovadas no Plenário da Assembleia da República. Portanto, motivar os portugueses assume uma importância enorme que não pode ser negligenciada. Os confinamentos vieram provar que, aparte algumas exceções, que existem e existirão sempre, os portugueses são sensíveis e ordeiros e cumprem, satisfatoriamente, as exigências e recomendações. Desde que devidamente comunicaVacinar, testar e... saber comunicar das. E aí é que está, tem estado, um dos busílis. A vacinação, se se olhar apenas aos números, às médias e à comparação com os nossos parceiros europeus, estando lenta, não está a correr mal. Mas, contudo a perceção que a população tem do processo é má! Fica-se com a impressão que as falcatruas são imensas, que o processo está inquinado e os chico-espertos são quem está ao comando do processo e as distorções são mais do que muitas. Havendo-as, não têm a dimensão que a comunicação social lhes dá. É verdade que a notícia faz-se mais do escândalo e da exceção do que da norma e do cumprimento mas... a gravidade e a importância desta maldita pandemia justificava bem um pacto que a todos beneficiaria. Mas não! O episódio do teste positivo do Presidente da República, intercalado entre outros negativos e a dimensão que a imprensa falada e escrita lhe deu é disso um triste exemplo. Não deixa de ser irónico que os políticos que o que, normalmente melhor fazem é comunicar (o seu sucesso depende disso) neste caso claudicam grosseiramente. Basta ver o resultado da comunicação errada, de todos, Governo, Oposição, Presidente, Assembleia e jornalistas, por ocasião do “interregno” natalício. Ora quando se pensava que a lição tinha sido aprendida... nada! As notícias chegadas das últimas reuniões no Infarmed são disso exemplo. Manuel Carmo Gomes veio dizer o óbvio: o pior deste combate está no desconhecimento do inimigo. Por isso é essencial testar, a par da vacinação. Mas houve outros investigadores que fizeram outras afirmações, seguramente fundadas, válidas e valiosas, mesmo que não coincidentes. A imprensa explorou, até ao limite, as várias divergências encontradas por bem pequenas que fossem. O Primeiro-Ministro, na sua cada vez maior desorientação resolveu vir reclamar o consenso dos cientistas. Ora isto não faz o menor sentido! A força da ciência e a sua maior eficácia e segurança nasce precisamente na diversidade de ideias, na multiplicidade de propostas e na sua discussão livre e sem constrangimentos! Obviamente que não é possível atender a cada uma das diferentes e fundadas razões e teses levadas às célebres reuniões do INFARMED que, diga- -se, a propósito, foi muito má ideia abri-las à imprensa e a políticos sem capacidade de decisão e que só lá vão para papaguearem a teoria que mais lhe agrada. Mas, entre a multiplicidade de cientistas há, e são conhecidos, os que têm capacidade e competência para, ouvindo todos os seus colegas, sabem ponderar, sem ignorar, cada uma das opiniões e, fazendo a adequada síntese, recomendar ao poder político a melhor opção. Essa, e só essa, deve ser adotada.

José Mário Leite