Vendavais- A irreverência da juventude

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Não é defeito nenhum ser-se irreverente. Antes pelo contrário. O que é preciso é ser-se sensato e responsável simultaneamente. Ao longo de todos os tempos temos assistido a grandes mudanças promovidas pela irreverência da juventude, umas melhores que outras e com consequências diversas, mas marcaram o seu tempo e ficaram inscritas nas páginas da História Universal. Lembremo-nos, por exemplo, dos anos 60, o festival de Woodstock, o aparecimento e consumo de drogas duras, a geração hippie, o lema Make Love, not War, a influência e irreverência dos Beatles, o uso da minissaia, os cabelos compridos dos rapazes, enfim, um sem número de mudanças, boas e más, a que a tal irreverência nos foi habituando. Hoje, dez anos depois de um louco neonazi ter massacrado 77 pessoas, entre elas 69 adolescentes que estavam em retiro na ilha de Utoya na Noruega, podemos questionar-nos se nessa ocasião já houvesse Covid, como teria sido? Será que esse louco irreverente e fanático neonazi, teria agido da mesma forma? Possivelmente poderia ter sido apanhado pelo Covid e ter morrido para descanso de todos e para a salvação dos 69 adolescentes que não tinham feito mal nenhum a ninguém. O horror de tal evento não nos pode passar ao lado como se fosse um simples vendaval que nunca mais volta. A sua imagem e a lembrança que dela temos, formam a recordação que jamais olvidaremos. Os factos fazem parte da História e esta não tem folhas soltas como se de um livro se tratasse. Estas folhas da História não se arrancam, não se rasgam e nem se apagam, mesmo que se tente. De igual modo não se apagam as consequências dessa mesma irreverência da juventude ou mesmo dos adultos que ainda pensam que são jovens. Se não vejamos o que está a acontecer no mundo no que respeita ao alastramento do Covid19. Quando todos pensávamos que estava em regressão, eis que ele aumenta exponencialmente de um momento para o outro especialmente na faixa etária dos mais jovens, os tais que se manifestaram contra a vacinação e contra o confinamento. A tal irreverência que sempre se manifestou, mas que nunca quis ganhar caminho certo. As consequências não poderiam ser piores. Mas é bom questionar se essa irreverência é só da juventude. Será que é? Penso que não, muito embora se levantem outras questões associadas. Claro que a vacinação por grupos etários mais idosos foi o que pareceu mais aceitável dado o enorme número de óbitos nas pessoas mais fragilizadas, mas houve alguma relutância em vacinar outros grupos mais novos como se eles fossem resistentes ao vírus, como alguma informação foi adiantada na altura. Errado. O tempo veio a comprovar que assim não era, nem poderia ser. Vírus que se preza ataca qualquer pessoa e de qualquer idade. Outra informação desconforme dada foi que o vírus não se dava bem com o calor e o Verão iria travar a sua propagação. Errado. O Verão passado não foi exemplo disso e este também não está a ser. Voltamos aos números assustadores de Janeiro e de Março. A realidade é realmente cada vez mais assustadora. Neste momento há falta de vacinas. Está a vacinar-se a toda a velocidade para criar imunidade de grupo o mais rápido possível, mas se não houver vacinas, nada feito. Corre-se contra o tempo enquanto o vírus se passeia juntamente com a irreverência da juventude e dos responsáveis, que afinal são igualmente irresponsáveis e irreverentes. Tenta-se ganhar tempo nesta corrida que não tem fim. Em todo o mundo, esta juventude que não se habitua aos graus de responsabilidade que a sociedade moderna exige, vai gerando ondas de violência e desrespeito que acabam, quase sempre, em intervenção policial musculada, prisões e hospital. Alguém se importa com o vírus? Não. Cada um pensa em si e na sua liberdade sem se importar com a liberdade dos outros. A saúde não se compra, não se apanha na rua. Ela nasce com cada um de nós e cabe- -nos cuidar dela como se fosse uma flor de um jardim esplendoroso que é necessário tratar e regar todos os dias para não murchar. E se matamos os bichos que atacam as flores, também temos de matar os vírus que nos atacam e debilitam a nossa saúde. O contrário é crime. É uma sentença de morte. É tempo de acordar antes que seja tarde. É necessário acabar com esta irreverência juvenil e pensar que os outros não estão a salvo de coisa nenhuma. Nem uns, nem outros. Em tempo de Verão e de praia, os números assustam-nos cada vez mais. Os óbitos aumentam e os jovens estão cada vez mais nos cuidados intensivos. Será que vão acordar desta vez?

Luís Ferreira