A vida amorosa é como o corredor dos iogurtes do supermercado

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E ali estava eu: tão perdida no corredor dos iogurtes como na vida, em geral. O costume. É aqui que começa a nossa viagem - num espaço ladeado por arcas de refrigeração. Quase poético, eu sei. Onde nos pode levar? Talvez, e se formos em linha recta, à secção dos frescos, no máximo. Não criem grandes expectativas. Expectativas normais, diria, levava eu, enquanto puxava o cestinho das compras. Queria iogurtes de coco. São os meus preferidos de todos. Parecia tão fácil. Acreditem ou não, não foi. Até havia o sabor pretendido, mas sem gordura, ou de soja, ou sem açúcar ou com misturas. E eu naquele momento estava capaz de matar por algo só normal, entendem? Descobri que existem mais iogurtes do que aqueles que seriam necessários. Como de abóbora e laranja. Eram precisos? O Marketing dirá que sim. Eu não paguei para saber. Já bufava eu como uma chaleira a ferver ao lume quando encontrei - benza-os Deus! - iogurtes normais de coco. Mas... (há sempre um) vinham num pack com mais seis, emparelhados, de limão, framboesa e banana. Destes últimos nem sequer gosto. Se comer, é por frete. Os outros, nem nunca provei. Por isso vou manter-me céptica-normal até os degustar. Reportarei resultados. Nesta senda, ocorreu- -me isto - a nossa vida amorosa é como o corredor dos iogurtes do supermercado. “Tudo o que vemos exposto tem prazo de validade?”, pergunta- ram-me. Pode ser, mas não é por aí que vamos. Tantas opções, algumas mais ou menos duvidosas, pelas quais podemos enveredar, se quisermos. Uma busca incessante, no meio de tanta variedade. E acabamos sempre por escolher. Tanta vez teria sido melhor cortar os lacticínios da alimentação. Ou optar pelo vegan. Só que, escolhemos. E não serei a desbravadora, ao levar para casa uma catrefada sem saber se estou capaz de fazer todo o conteúdo do pack. Só que havia ali qualquer coisa que fazia o meu âmago pipilar - o raio dos iogurtes de coco, pelos quais estava a salivar. Não me julguem. Quem nunca? Foi assim que acabei com oito iogurtes em casa, sendo que gosto apenas, garantidamente, de dois. Meia dúzia foram por arrasto, sem saber o que reservam ao meu palato, que é muito refinado e habituado a amarguras. Se não gostar, posso sempre atirar ao lixo, renunciar. Não assinei nenhum papel, se é que me entendem. Ou, em boa verdade, é preguiça e pressa. Deveria, sim, ter esperado pelo pack de iogurtes perfeito, aquele que me enchesse as medidas, que fizesse o pleno. Enfim, agora já está. Porque, vejam se me en- tendem, ali estava eu: tão perdida no corredor dos iogurtes como na vida, em geral. O costume.

Tânia Rei