Fantasia e realidade sobre as cegonhas

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Ter, 30/07/2019 - 11:07


Como estão os leitores da página do Tio João?

O mês de Julho está a findar e fazendo o balanço, ao nível de temperaturas, tivemos algumas vagas de calor, a que chamamos “vagas loucas”. Com este calor vieram também as trovoadas uma vez por semana. Todos sabemos que a “santa esquecida”, a Santa Bárbara, é a protectora contra as trovoadas e só nesses momentos é evocada. Como diz o nosso povo há muito tempo, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”.

A tia Ilda, de Macedo do Mato (Bragança), disse-nos que quando a trovoada ataca a sua terra, coloca a pá do pão à entrada da porta de casa e dessa forma se tem “livrado” de tristezas. É um hábito que vem do tempo da sua mãe.

Quem se tem queixado muito do calor são os nossos emigrantes, particularmente os que estão em Paris, porque, na semana passada,por lá, o calor bateu todos os recordes com temperaturas máximas inéditas.

Nestes dias, não passa pela cabeça de ninguém o estado de espírito dos emigrantes, que já têm tanta “fome” da sua terra. O ponteiro das saudades está no vermelho. Embora alguns já venham várias vezes por ano, o Verão continua a ser a época mais ambicionada porque é altura de festas, casamentos e baptizados. Também há alguns que aproveitam para verem como vão as obras de construção das suas casas.

Nesta altura são muitos os que estão a fazer a viagem para Portugal e nos dizem que o carro para cá até parece que vem sozinho, tal é a vontade de chegarem. Que venham devagar para chegarem depressa e que o S. Cristóvão, comemorado no dia 25 de Julho, lhes dê uma boa viagem. O dia 25 também é dedicado a S. Tiago e muitos já foram à vinha a provar o bago.

Na sexta-feira, dia 26, festejou-se o dia dos avós, o dia dedicado a Santa Ana e S. Joaquim, avós do Menino Jesus. Cada vez mais os netos vêm de férias mais cedo que os pais para junto dos seus avós, como é o caso da tia Lurdes Marrão, de Laviados (Bragança), que tem alegrado estes dias com a presença dos seus netos (na foto).

Esteve de parabéns na última semana a tia Claudina Dominguinhos, de S. Martinho (Miranda do Douro), que completou um século de vida. É bom constatarmos que cada vez é mais frequente haver quem chegue aos 100 anos de vida. Também festejaram as Bodas de Ouro Matrimoniais o tio Manuel Braz e a tia Maria da Luz, de Outeiro (Bragança). Outros aniversariantes foram o tio Hilário Morais (68) e a sua filha Ana Bela (40), de Nuzedo de Cima (Vinhais), que fizeram anos no mesmo dia, a Verónica Barros (26) e o Martim (6), de Estorãos (Valpaços); a Inês Isabel (16), de Rio Frio (Bragança); a Bruna Alexandra (18), de Víduedo (Bragança).

Que para o ano os possam festejar novamente connosco.

Esta semana vamos falar da cegonha branca, que regressa todos os anos à nossa região e que está envolta em lendas populares.

 

 

As cegonhas são aves migratórias e normalmente voltam ao mesmo lugar todos os anos. A sua chegada geralmente coincide com a entrada da Primavera, a época considerada da fertilidade.

A tia Ana Maria, de Vale de Lamas (Bragança), disse-nos que este ano avistou cegonhas logo em fins de Janeiro.

As cegonhas fazem o ninho em cima de árvores ou edifícios, torres ou campanários, mas porque sujavam muito as igrejas, em algumas localidades, como Gimonde (Bragança), construíram-lhes estruturas artificiais para que não nidifiquem nos campanários e torres de igrejas. Também escolhem árvores para os seus ninhos, que incluem uma grande variedade de espécies como choupos, pinheiros, eucaliptos ou freixos. Na construção do ninho, as cegonhas utilizam diversos materiais, como sendo galhos, folhas e até resíduos produzidos pelo homem.

Segundo nos contou a tia Maria da Glória, a nossa pastora de Vilar Seco (Vimioso), as cegonhas podem ter três ou até quatro ovos, mas só ficam com uma ou duas crias no máximo, pois “atiram com as outras do ninho”. Também nos contou que as cegonhas são amigas do agricultor, porque ajudam a eliminar a bicharada de que se alimentam: ratos, sapos, cobras, lagartos ou rãs. Por isso é tão comum verem-se atrás dos tractores quando as terras são lavradas.

Nos arredores da cidade de Bragança há algumas localidades onde se podem ver muitas cegonhas, nomeadamente em Baçal, Fontes Barrosas, Gimonde, Vale de Lamas, ou na veiga de Gostei.

Quando crianças, todos ouvimos dizer que quem trazia os bebés de Paris eram as cegonhas. Pode haver outras lendas, mas a tia Lurdes Marinho, de Bragança, emigrada em Paris, contou-nos uma, que tem a ver com o facto de as cegonhas migrarem para uma área habitacional perto de Paris, onde um casal construiu o ninho na chaminé de uma casa. A dona dessa casa estava de esperanças e por coincidência o nascimento do bebé aconteceu ao mesmo tempo que a chegada das cegonhas. Espalhou-se a lenda de que foram as cegonhas que trouxeram o bebé de Paris. A verdade é que durante muito tempo, quando os filhos perguntavam de onde vinham os bebés, era esta a explicação que os pais nos davam.

Esta lenda também influenciou outros propósitos, muito deles com fins comerciais. É vulgar os bolos de baptizado terem uma cegonha com uma fralda pendurada no bico com um bebé dentro.