Moinho parado não ganha maquia

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Ter, 23/08/2016 - 14:03


Olá, estamos a começar a viver os derradeiros dias de Agosto. Muitos daqueles que encheram as nossas terrras estão quase de partida.No sábado passado tive o prazer de almoçar com os nossos famosos “farruquinhos”, em Coelhoso, na casa da tia Irene, que me apresentou parte da sua familia. Éramos mais de 30 à mesa. Muitos deles escutam-nos diariamente em França. Durante a semana passada, no programa da “maior família do mundo” falámos sobre os moinhos do povo. Por isso, brindo-vos com esse tema.

“Os moinhos de água são engenhos hidráulicos. Salientam-se particularmente os de roda horizontal, bem adaptados ao regime torrencial dos ribeiros de montanha, que quase secam no estio. Por isso mesmo, a sua atividade anual  reduzia-se a pouco mais que os meses de inverno. Eram estes moinhos os mais correntes  e utilizados na moagem do cereal (centeio, trigo e milho), havendo outros, semelhantes mas muito mais raros, usados na fiação do linho e na serração de madeira. Estes moinhos de roda horizontal são de rodízio, com penas, não ocorrendo nesta região os de sistema de turbina por rodízio submerso. O edifício, de pequena dimensão, não ultrapassando 5 x 7 metros, é constituído por paredes muito resistentes, em alvenaria de xisto ou granito, conforme a natureza geológica do local e com cobertura de duas águas, geralmente em lajetas de lousa ou com tosco telhado. Localiza-se nas margens ou pelo menos na proximidade das linhas de água de forte caudal, onde é possível criar um açude, que alimenta uma levada que o vai acionar. O engenho motor, o rodízio, é uma roda horizontal (cabaço) com cerca de dois metros de diâmetro, que tem inserida uma numerosa série (geralmente vinte) de palas côncavas (penas) centrada num eixo vertical (pela ou árvore). A água da levada, repuxada em jato por um orifício do cubo, é dirigida contra as penas fazendo rodar o rodízio e a pela, que está solidária com a mó e lhe transmite o movimento.                       
Há centenas de anos que o movimento da água é usado nos moinhos. A passagem da água faz mover rodízios de madeira que estão ligados a uma mó (pedra redonda muito pesada). Esta, mói o cereal (trigo, milho, cevada, aveia, etc.) transformando-o em farinha. Estas são as estruturas mais primitivas conhecidas de aproveitamento da energia cinética das águas dos rios e ribeiros.
A maioria dos moinhos de água localizam-se na rede de afluentes e subafluentes do Sabor e do Tuela, com maior concentração a norte da cidade de Bragança.
O moinho do povo ou comunitário constitui uma resposta directa às necessidades e possibilidades materiais e técnicas dos seus criadores-utilizadores . Este tipo de construção, muito simples e rudimentar resume a experiéncia de gerações de gente da terra, é como que uma ferramenta adaptada ao trabalho do homem e este foi transmitindo-a tal como os seus antepassados a conceberam e realizaram. O moinho do povo foi construido num passado já distante de que a a população actual das aldeias já se não lembra. A sua conservação e manutençao está a cargo  da junta de cada freguesia”(1).
A União de Freguesias de São Julião de Palácios e Deilão ainda conserva, prontos para trabalhar, 13 moinhos de água, 6 dos quais no rio Maçãs e os restantes em ribeiros. Três em São Julião, 2 em Deilão, 4 Vila Meã, 2 em Caravela, um na Petisqueira e um em Palácios. Quando há água todos destes povos podem ir moer. Não necessitam marcar, se estiver ocupado é só aguardar. Os moinhos do povo não têm chave. Actualmente, a maioria das pessoas que utilizam o moinho do povo é para fazer farelos para os animais.  Nestes dias as gentes da aldeia de Lanção, concelho de Bragança, estão a reconstruir o seu moinho. Claro que não é para trabalhar arduamente como há muitos anos, mas para perservar a memória dos seus antepassados.  Muitos outros moinhos que laboravam antigamente estão em ruinas. Alguns moinhos de particulares foram transformados em unidades de turismo rural.

(1) Texto respigado de “Artes e Tradições de Bragança”, edição da Escola Preparatória de Bragança - 1984.