Ter, 23/11/2021 - 09:46
Este mês é das almas, por isso tivemos no nosso programa a tia Maria Falcão de Caçarelhos, Vimioso e a tia Felisbina de Constantim, Miranda do Douro, a cantar a encomendação das almas, embora, na maior parte das aldeias, esta tradição só realize na Quaresma.
O tio João Santos, de Torre de Dª Chama, que é um apaixonado por cabaças, este ano teve dezenas delas de um só pé e de várias formas como se pode ver na foto.
Temos que continuar com as devidas precauções pois a pandemia continua. Como diz o tio António Guedes. “Ó tio João, estamos mal, o bicho mau está a fazer cada vez mais criação”
Vamos à lista dos aniversariantes dos últimos dias; Aldina Pinto (87) Lampaça (Valpaços); Manuel Rosa (84) Vilar Seco (Vimioso); António Lopes (83) e seu neto Moisés Lopes (18) Argemil (Valpaços); António Romão (76) São Julião (Bragança); Afonsa Pacheco (69) Sacoias (Bragança); Lucinda Merêncio (59) Pereiros (Valpaços); Vítor Moreira (51) Oleirinhos (Bragança); Sofia Sampaio (46) Agua Revés (Valpaços); Ariana Dias (45) Couto de Ervededo (Chaves); Marco Lopes (40) Esturãos (Valpaços); Simão dos Santos(5) Torre Dª Chama.
Saúde e muitos parabéns para todos!
Já vos tinha falado na edição anterior do tio Mário Melo, que começou por nos ouvir por intermédio de Augusto Machado, que vive em Águeda, mas é de Paçó de Rio Frio, Bragança. Já há alguns meses nos ouve e liga, deliciando a família com as suas melodias tocadas e cantadas. Já fez amizades e muitos admiradores. Na semana passada interpretou vários fados de Coimbra. É cego de nascença e hoje resolvemos dar-vos a conhecer um pouco da sua história de vida.
Mário Melo nasceu a 21 de Janeiro de 1957, em Frossos, concelho de Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro. Já tinha 14 meses quando a avó materna disse à sua mãe, “se calhar o menino é cego”. Como sabem nessa altura não havia diagnóstico precoce do teste do pezinho, pois os partos eram feitos em casa.
A seguir transcrevemos um excerto da nossa conversa.
“Eu sou cego, não gosto muito de ser tratado por invisual, porque invisual parece que é uma pessoa que não aparece, que é invisível. Sou cego! Não tenho que ter medo das palavras e aceito a minha deficiência. Às vezes, com ironia até digo, eu seja cego se não for assim! Estou sempre a brincar, com boa disposição.
Gosto muito de conhecer pessoas, gosto de falar com toda a gente. Fui para a escola com sete anos, mas foi muito difícil integrar-me, porque fiquei preso na escola de dia e noite. Estive no Porto, num colégio interno para cegos, onde aprendi braille, joguei à bola, claro, a bola era diferente pois tinha dentro umas arreias para nós sentirmos o rugido e ir em direcção à bola. Nunca encontrei na minha vida muito apoio familiar. Não tive o mesmo tratamento que as minhas irmãs, por ser cego. Uma vez perguntei ao meu pai: porque é que dá às minhas irmãs isto e aquilo e a mim não me dá nada? O meu pai respondeu: eu não te dou, porque quando eu precisar, é com elas que conto e não contigo. Isto dói tio João!
Estou no meu terceiro casamento, e nenhuma delas era cega. Nunca tive grande aptidão para cegas, embora saiba que a mulher cega faz o asseio da sua casa como ninguém, são muito arrumadas, sabem onde guardam tudo.
Eu conheço um rapaz, também cego, que trabalhou muito anos numa retrosaria, sempre a lidar com botões, agulhas, a cor das linhas e tudo. Tinha as gavetas identificadas em braile e apesar da sua deficiência fazia tudo direitinho.
Em 1983 trabalhei numa fábrica de papel e ganhava na altura 16 contos por mês. Estive lá 23 anos e não fui telefonista, estava numa linha de montagem. As pessoas pensam que os cegos no emprego só sabem ser telefonistas, mas isso é mentira, os cegos são mais capacitados. Não têm obrigatoriamente que ser telefonistas ou músicos, eu por acaso virei-me para a música, só pensava na música e agora é isto que eu faço.
Com as novas tecnologias, nós os cegos, tanto no telemóvel como no computador, tudo o que as pessoas que veem no ecrã, nós ouvimos.
Gosto muito de conviver. Trabalho aos fins de semana no hotel estalagem da Pateira de Fermentelos, sou o animador do hotel para vários grupos, isto para mim não é trabalho, é um passatempo, que ao mesmo tempo me dá alguns euros.
Durante a semana também ensino a tocar acordeão, tenho um método para ensinar a tocar com as duas mãos. Passo também muito tempo ao telefone numa linha de animação, convivendo assim com muitos mais cegos.
Aqueles que já viram, mas perderam a visão ao longo dos anos, custa-lhe mais a adaptação eu como nunca vi, sou feliz assim”.
Bem haja tio Mário Melo, pelo seu entusiasmo e alegria que dá à nossa gente, que Deus o beneficie com saúde para nos continuar a animar com as suas melodias!