Tempo frio é bom para as matanças

PUB.

Ter, 07/01/2020 - 10:27


Olá familiazinha! Como estão desde o ano passado?

Já decorreu uma semana depois da entrada de 2020. Muita gente assinala a entrada do novo ano com um grande jantar, seguido de baile e cada vez são mais as aldeias que organizam festas para entrar no novo ano, mas também há quem se deite no ano velho e só acorde no ano novo.

A nossa Bininha, de Carrazedo de Montenegro (Valpaços), ensinou-nos que além de se comerem as 12 passas ao som das 12 badaladas, também se deve colocar uma folha de loureiro na carteira, rezando a seguinte oração: “meu Deus, fazei com que esta folha de loureiro me dê sorte e dinheiro”. Assim não nos faltará o dinheiro durante todo o ano, segundo a tia Bininha e, por isso, muitos foram os nossos ouvintes que resolveram experimentar mais esta superstição e a afluências aos loureiros foi mais que muita!...

Algumas localidades estiveram debaixo de nevoeiro desde a última sexta-feira de 2019 à primeira do novo ano. Por Bragança temos tido algum sol, mas como diz o povo “os bons dias de Janeiro vêm-se a pagar em Fevereiro” e, como agora o trabalho agrícola não é muito, “em Janeiro acende a fogueira e senta-te à lareira”. Os dias também já começam a crescer, pois “em Janeiro, os dias dão um salto de carneiro” e “no mês de Janeiro, uma hora por inteiro e quem bem olhar, hora e meia há-de achar”. Os nossos pastores também dizem “em Janeiro, cada ovelha com seu cordeiro”.

No sábado passado estivemos em Salsas, na Festa dos Reis, pela quinta vez consecutiva, para promovermos o evento, que contou com o desfile de muitos grupos de caretos e mascarados de Portugal e Espanha e também com o ritual da queima do ano velho e fogo-de-artifício.

Quem nos deixou nos últimos dias do ano foi a tia Lídia, de Vale de Janeiro (Vinhais), que também fazia parte da formação inicial da Família do Tio João. Tantos anjinhos a acompanhem como ervas medicinais me ofereceu num dossier que guardo como uma relíquia para toda a vida. Que em paz descanse a sua alma e os sentimentos à família enlutada.

Quem esteve de parabéns na última semana foram o Ernesto Oliveira (80), de Bragança; Henrique Pires (36), de Rio Frio (Bragança); Aquiles Ferreira (87) e o seu neto Dario Ferreira (26), ambos de S. Martinho (Miranda do Douro); Fernando Machado (54), de Tronco (Chaves); António Castro (79), de Sendim (Miranda do Douro); Américo Lopes (61), de Estorãos (Valpaços); João dos Santos (77), de Torre de Dona Chama (Mirandela) e António Cavalheiro (66), de Vilarandelo (Valpaços). Que para o ano todos voltem a festejar o seu aniversário na nossa companhia.

E agora vamos até Caçarelhos (Vimioso) à matança dos porcos do tio Luís Ventura e da tia Ana Maria, assinantes deste jornal.

 

Durante alguns meses, o nosso casal amigo, Luís e Ana Maria, de Caçarelhos (Vimioso), cevou os seus porcos, alimentando-os unicamente como batatas, abóboras e beterrabas.

Como todos os anos, esperam pela lua crescente para fazer a matança, pois a carne e o fumeiro curam melhor. Sendo assim, no passado sábado foi o grande dia da matança, com a presença de familiares e amigos. Logo pelas 9 horas da manhã teve lugar o mata-bicho, composto por salpicão, chouriças e presunto, dos porcos do ano passado. De seguida o grupo, composto por cerca de 10 homens, foi buscar os porcos à loja e foi o anfitrião que teve a responsabilidade de espetar certeiramente a faca. Seguiu-se o chamuscar dos animais, à moda antiga, com palha e sem recurso a maçaricos a gás.

Depois de os porcos estarem lavados e antes de serem abertos, ainda tem lugar a tradição de se comer o sangue cozido dos porcos, com cebola, alho, azeite e vinagre. É o tio Luís que chama a si a tarefa de abrir os animais “desde a borga (garganta) até ao rabo, a três dedos das mamilhas, de um lado e doutro”.

Na aldeia de Caçarelhos não é usual pendurar os porcos, nem utilizar escadas para o efeito. É costume “usar-se uma estaca de pau, que é colocada por dentro do porco, junto aos presuntos” e assim “fica com o focinho a um palmo do chão, onde permanece até ao dia seguinte, altura em que será desmanchado.” Este ano os porcos do tio Luís “botaram 150 quilos um e 170 o outro”.

A comida tradicional da matança são “as tenrelas” (as costelas mais pequenas e moles), “guisadas no pote, juntamente com fígado picado”. Enquanto esperam, vão-se saboreando os “garrotes e o fígado assado na brasa, condimentado apenas com sal”. Depois do almoço, o resto do dia é dedicado ao convívio entre todos os participantes na função.