Uma parra, muita uva

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Ter, 20/09/2016 - 17:25


O Outono veio antecipado, a interromper o reinado do Verão nos dias 14 a 16 deste mês. Será que ele que entra já no dia 22, não vai ter mais verão também? Seja como for já caiu do céu mais vitamina para a terra. “Estes dias foram de licença sem vencimento para aqueles que trabalham na fábrica de empobrecer alegremente”, que é a agricultura na linguagem da família do tio João. A nossa gente disse que choveu ouro especialmente para as vinhas, castanheiros e oliveiras. Quero felicitar todos aqueles que fizemos mais uma caminhada até Terroso, à Santa Rita de Cássia. Fomos as centenas. Um bem haja à comissão de festas que tem para os peregrinos, assistência médica, abastecimento de água e café e faz desta caminhada uma das preferidas dos brigantinos.

A videira, vinha ou parreira é uma trepadeira da família das vitáceas, com tronco retorcido, ramos flexíveis, folhas grandes e repartidas em cinco lóbulos pontiagudos, flores esverdeadas em ramos, cujo fruto é a uva. A videira produz as uvas, fruto de cujo sumo se produz o vinho.
As uvas crescem em cachos de 15 a 300 frutos, e podem ser vermelhas, pretas, azuis-escuras, amarelas, verdes, laranjas ou rosas. “Uvas brancas” são naturalmente de cor verde e são, evolutivamente, derivados da uva roxa.
Os frutos também podem ser usados no fabrico de vários produtos, como geleias, sumos, gelados e refrigerantes. Surpreendentemente, as videiras dão frutos de melhor qualidade quando plantadas em lugares normalmente considerados inadequados para outros tipos de plantas. As parreiras crescem bem em áreas montanhosas e nas encostas das colinas arenosas, em terreno pouco irrigado e mesmo no meio do cascalho.
Estranhamente, as parreiras não gostam de solos muito ricos em nutrientes, e não se importam com a alta exposição à luz solar. Mesmo a poda radical só as faz fortalecer, em vez de as destrur, ficando verdejantes e ainda mais majestosas na colheita do ano seguinte.
Maria Lucinda Canteiro, de 80 anos de idade, “quatro vintes”, tem uma parreira com 124 anos.
Foi a sua avó Efigénia que, com 16 anos, a transplantou de um lameiro para o sítio onde até hoje se encontra, à entrada de sua casa. Esta senhora viveu até aos 80 anos, tendo falecido há 60 anos.
A nossa Tia Maria, viveu com a sua avó durante vinte anos nesta casa, sendo sempre a sua habitação, na aldeia de Castanheira, freguesia de Gostei. A parreira nunca foi enxertada nem enxofrada. O enxofre que recebe é o pó da estrada. Como diz a Tia Maria, “já antigamente o meu pai, quando ainda não havia empedramento na estrada, levantava o pó com uma vara para enxofrar a parreira”. Também nos conta que na ideia dela, o segredo da longevidade da parreira se deve ao facto de as lojas dos animais terem sido durante muitos anos debaixo da casa e o “fertelizante” do seu estrume ser aproveitado directamente pela parreira.
Este ano, pelo que podemos comprovar ‘in loco’, tem mais de 200 cachos de uvas, cerca de 100 quilos. A parreira também serve de sombra no Verão, para as festas. É a “menina dos olhos” da nossa Tia Maria Lucinda, assim como uma figueira que existe no mesmo quintal.
Oxalá que esta parra dure muitos mais anos, juntamente com a sua proprietária.
Tio João