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Aldeias amassam o pão que a cidade come

Ter, 15/04/2008 - 10:56


São 6 horas e já se ouve o barulho dos motores dos primeiros carros de distribuição de pão com destino à cidade. Após uma noite de trabalho intenso, em que se perde a conta aos quilos de farinha amassada, está na hora de levar o produto fresquinho aos supermercados e hipermercados de Bragança, pois é na cidade que as padarias das aldeias vendem a maioria da produção.

O dia começa bem cedo para os padeiros do Mundo Rural, que se vão cruzando nas ruas com os colegas de profissão. Ser o primeiro a chegar é, para alguns, o truque para aumentar as vendas, mas há quem aposte na qualidade do pão que ainda é confeccionado nos fornos de lenha tradicionais.
“Quando eu chego, os outros padeiros já estão a receber e aquelas pessoas que vão trabalhar mais cedo já têm o pão comprado. Mesmo assim, consigo vender tudo”, afirma Paulo Martins, o padeiro de Rebordainhos.
Na unidade familiar desta aldeia do concelho de Bragança, o pão é confeccionado à moda antiga, o que representa um esforço acrescido para os proprietários e limita a quantidade de pães produzidos. “Só sou eu e a minha mulher. Começamos às 8 da noite e estamos até às 8 da manhã para cozer os pães necessários para distribuir no dia seguinte. Temos três fornos com capacidade para 150 pães por fornada”, explica o padeiro.
Apesar de chegar mais tarde, Paulo Martins já tem muitos clientes à sua espera, que se dizem fiéis ao sabor do pão de Rebordainhos. “Compro sempre o pão de Rebordainhos, porque acho que é o melhor”, afirma António Arroz, um habitante da cidade de Bragança.

Pão do concelho faz sucesso nas lojas gourmet de Lisboa e Porto

Maria Adelaide Coelho, proprietária de um supermercado, garante que enquanto tem pão de Rebordainhos não consegue vender o outro. “É o pão que vendo mais. Há pessoas que dizem que se aguenta 8 dias sem ganhar bolor”, salienta a comerciante.
O segredo deste pão poderá estar na levedura tradicional (o fermento usado é a massa que fica de um dia para o outro e que se torna ácida) e no facto de ser cozido em fornos tradicionais. “Os fornos são aquecidos com lenha, depois tiramos as brasas e metemos o pão. Já há pouca gente a trabalhar como nós. A maioria dos padeiros usam fornos mais modernos e mais práticos, que permitem cozer maiores quantidades”, realça Paulo Martins.
De Gimonde para as prateleiras dos supermercados e dos hipermercados da cidade chega pão com diversas formas e sabores. A servir a população do concelho desde 1960, esta padaria sofreu algumas alterações para conseguir aumentar a produção sem estar dependente de mão-de-obra. “No ano 2000 chegámos ao Verão e éramos apenas a família a trabalhar, pelo que tivemos que investir em maquinaria”, explicou Elisabete Ferreira, proprietária da empresa Pão de Gimonde.
“Pão de Gimonde” é actualmente uma marca registada que já conquistou outros mercados, nomeadamente Vila Real, Porto e, mais recentemente, Coimbra.
“Apesar de termos investido em maquinaria ainda usamos a receita tradicional e temos pão cozido nos fornos de pedra antigos, que são aquecidos a lenha. Os bijus é que já são cozidos em fornos mais práticos”, realçou Elisabete Ferreira.
O pão de Samil também chega, diariamente, à capital de distrito. Pão de trigo e centeio de vários tamanhos e os bijus são vendidos porta a porta ou nas prateleiras dos supermercados da cidade.

Aumento do preço poderá ter contribuído para a diminuição do consumo do pão

Nelson Preto, o proprietário da Padaria Grão-a-Grão, também elege a lenha para confeccionar os seus produtos. “Tendo em conta o elevado preço a que está o gasóleo, fica mais barato usar lenha. Além disso, o pão fica com outro sabor, muito mais apreciado pelos consumidores”, frisou o responsável.
Este padeiro tem, ainda, uma teoria para explicar porque é que o pão cozido num forno aquecido a lenha é melhor do que aquele que é cozido em fornos eléctricos ou a gasóleo. “ Os gases que a lenha liberta é que dão sabor ao pão, tornando-o mais saboroso”, sublinha Nelson Preto.
A crise, aliada à concorrência e à mudança de hábitos alimentares, tem levado os padeiros a apostarem noutros mercados. “Também vendo para lojas gourmet do Porto e Lisboa. Cá o mercado não é muito grande para o número de pessoas que estão a vender. Com os meios que tenho conseguia triplicar a produção”, constata Nelson Preto.
Na óptica de Elisabete Ferreira, o pão tem vindo a ser substituído por bolos ou cereais.
“Produzimos toneladas de pão, mas nos anos 90 produzíamos mais. Isto acontece porque a população do distrito ter vindo a diminuir e devido à mudança de hábitos alimentares das gerações mais novas”, realçou a responsável.
O aumento do preço também poderá ter contribuído para a diminuição do consumo de pão. “Um pão custa, em média, 1,30 euros As farinhas aumentam, o gasóleo também e isso reflecte-se no pão. Já me apercebi que há pessoas que poupam no pão”, frisou Paulo Martins.
Além de Gimonde, Samil e Rebordainhos, Bragança também recebe, diariamente, pão de Nogueira, França e Izeda e ainda há espaço para os padeiros da cidade.