UM PROJETO REGIONAL

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Em crónica recente, neste mesmo jornal, Ernesto José Rodrigues, evidenciou de forma clara e brilhante as razões técnicas e históricas para a localização em Bragança do ainda embrionário Museu da Língua. Em consonância com o que publicamente tem afirmado Adriano Moreira. Hernâni Dias manifestou todo o interesse e empenho nesta realização, tendo feito o mesmo João Sobrinho Teixeira. Jorge Nunes prometeu bater-se pelo projeto. António Chaves garantiu todo o apoio que lhe seja requerido. Estão de acordo, pela voz dos seus responsáveis, o CLEPUL, a Academia das Ciências, o Instituto Politécnico de Bragança, a Academia de Letras de Trás-os-Montes e, obviamente, a Câmara Brigantina. O professor universitário afirma, na referida crónica, a sua convicção da adesão do Instituto Camões. Não parece haver qualquer risco relativamente ao suporte técnico e científico do projeto. E, contudo, recentemente fomos surpreendidos, com declarações de intenção de edificação de uma estrutura similar em Matosinhos, na presença do ex-ministro da cultura. O que não deixa de ser estranho. Ou que nos deve deixar de pé atrás a todos os nordestinos mais que não seja pela drenagem constante que os políticos do litoral fazem com os recursos naturais do interior, quando tal lhes dá alguma vantagem mesmo que a relevância relativa seja, naturalmente, muito inferior. Ora se tecnica e cientificamente estão criadas todas as condições para a concretização deste importante projeto, porque razão poderia o mesmo ser desviado da cercania do Sabor para a ribeira do rio Leça? Por razões políticas, obviamente. Mesmo que apenas seja um hipótese só o facto de ser colocada deveria revoltar todos os transmontanos. As Câmaras municipais do Distrito, todas e sem exceção, deveriam manifestar já a sua adesão incondicional e prontificarem-se a suportar e defender esta tarefa por todos os meios e formas. Entre elas a convocação das populações e das forças vivas de cada um dos concelhos para reclamar para a região o que de direito nos pertence e que se não for aqui implementado representa uma clara usurpação.  

Espero, esperamos todos os transmontanos, que pelo menos o que nos é devido por natureza não nos seja espoliado uma das maiores riquezas que ainda temos e conservamos que é a língua, aliás, as duas línguas oficiais a que se juntam os falares característicos e diversificados referidos pelo escritor de Torre de Dona Chama e que passam pelo guadramilês, riodonorês e barrosão.

Espero, esperamos todos os transmontanos, que a simples menção de saque da maior e mais forte argamassa que nos une e caracteriza nos convoque precisamente para essa união, sem qualquer excessão ou diferendo, a começar pelas elites socias e políticas, em rebelião contra os usurpadores

Espero, esperamos todos os transmontanos, que o novo ministro da cultura encontre à sua chegada ao Palácio Nacional da Ajuda a determinação nordestina, inquebrantável, como os sete vimes de Trindade Coelho, multiplicados por várias dezenas de milhar.

Por José Mário Leite