Não faltam no nosso território marcas de relação vital com o sagrado, esse espaço/tempo de pulsões, intuições, angústias e desesperos, mas também da esperança, da alegria, da festa que nos mantém cheios de vontade de viver.
Editorial
Os números são cruéis. Apesar de muitos de nós não alimentarmos ilusões há décadas, sempre fomos sentindo que não seria destino fatal, que bastava vontade política e coragem para encontrar outros caminhos e garantir que, pelo menos, os núcleos urbanos fossem poupados à razia que a praga demográfica estava a provocar nos espaços rurais deste território.
Não há nada de novo, inesperado ou insólito nos afloramentos de radicalismo que foram objecto de notícias recentes, agravando a prostração a que nos condenou um Verão de abafar, num ano de vírus saltitantes, anunciando tragédias a cada momento.
As terras de Bragança não deixaram créditos por mãos alheias, durante séculos, na alta roda nacional e internacional, especialmente no último meio milénio.
Milhões, milhões e mais milhões. Desde a década de oitenta do século passado tem sido um festim, dinheiro a chover sobre este país à beira mar plantado, que se escoa para bolsos impados, moradias de luxo, carrões para mostrar ao povo e contas obscuras por tudo quanto é banca de feira em tenebrosos arquipélagos do Atlântico, do Índico ou do Pacífico, porque no Ártico e no Antártico a friagem não convida à cupidez ostensiva, babada, barriguda, ajaezada de ouro e pedrarias.
Sentimos o Verão como o tempo da plenitude, das alegrias sem fim, das promessas da fertilidade futura, da terra mas também nossa, que o calor e os dias longos destapam a beleza dos corpos, iluminam os rostos e instalam outro brilho nos olhares, muitas vezes efémero, mas que, como diz o poeta, nos
De vez em quando há notícia de eleições no seio dos partidos do arco governamental, uma referência que tem conhecido mutações na última meia dúzia de anos, mas que, no essencial, se mantém com as características que lhe conhecemos desde os idos de 76, esse ano do século passado em que a a árvore
O percurso histórico da humanidade conheceu episódios dramáticos, tremendos, quando o instinto de sobrevivência cegou a racionalidade, não deixando espaço à ponderação nem à compreensão misericordiosa do outro, reduzido a uma ameaça potencial que era preciso aniquilar para sobreviver.
Que vida, meus caros! Maus anos sempre os houve, com sangue, suor, lágrimas, suspiros, desânimos, angústias, mas este, que já vai em pleno verão, está a revelar-se de uma dureza que sentimos agravar-se a cada dia que passa, mesmo quando tentamos abrir as janelas da esperança.
Fernando Pessoa quis este país como o rosto da Europa, que “fita, com olhar esfíngico e fatal” o ocidente, o mar imenso e os sinais de venturas e tragédias que se apagam a cada ocaso do astro rei, até que, do oriente, volte a luz que alivia mas também inquieta, porque não se compadece com ilusões
O edifício do hospital de Bragança foi inaugurado no ocaso do regime do Estado Novo, em Abril de 1973, interrompendo longo ciclo de ostensivo descuido do poder político relativamente à prestação de cuidados fundamentais de saúde a uma população empobrecida, debilitada, condenada à diáspora.
Já lá vai meio ano de inquietação, angústia, raiva e resignação com a novíssima praga, que ameaça virar do avesso as vidas nossas de cada dia, sem que se vislumbre quando poderemos respirar fundo, entre a multidão, sem medo de encher o peito de pestilência.
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