PUB.

Um artista que cospe no prato.

O artista José Cid não é, propriamente, um modelo de beleza, nem consta que o seja de virtudes.
Tal não o inibiu de lançar um chorrilho de impropérios sobre Trás-os-Montes, que alguém com maior arcaboiço intelectual classificou de Reino Maravilhoso, e sobre os transmontanos, que em toda a parte são tidos como honrados e trabalhadores.
José Cid sempre foi acolhido com a simpatia e a generosa hospitalidade que é timbre dos transmontanos. Diria mesmo que sempre que veio actuar a Trás-Montes levou o saco cheio de notas. Trata-se, portanto, de um artista que cospe no prato em que come.
Os danos que o artista José Cid, figura pública, causou a todo o Trás-os-Montes não são de menosprezar.
Por isso as suas palavras, tolas, foram de pronto justamente sancionadas com o cancelamento de contratos e rejeitadas por milhares de comentários desfavoráveis exarados nas redes sociais, muito embora muitos deles não sejam de aplaudir.
Estranhamente, até ao momento em que esta crónica é escrita, não se registaram reacções com a firmeza requerida dos mais influentes políticos regionais, designadamente dos deputados transmontanos.
Compreende-se que assim seja porque estes não representam a região mas os partidos que os designam, sendo que, para o poder político, estas polémicas são incómodas porque lhe interessa esconder as realidades que espelham a incompetência prevalecente.
José Cid, quer queira, quer não, não deixa de ser um lídimo representante da música e da cultura pimbas que o sistema instalado em Lisboa reserva para o interior em geral e Trás-os-Montes em particular. Que o diga o seu macaco que gosta de bananas.
Como não deixa de ser verdade que há nas aldeias transmontanas, milhares de idosos sem condições de vida e assistência médica condignas e que são forçados a morosas e custosas viagens para tratar de um dente que seja.
Como não deixa de ser verdade que há milhares de transmontanos que não podem dar-se ao luxo de bronzear o corpo nas praias, e por isso tisnam e enrugam o rosto no amanho das hortas. Não foram estes, porém, que se indignaram e mostraram os dentes no facebook.
Como também é verdade que existe uma muralha política, cultural e social a separar Trás-os-Montes do resto do País, e que os únicos empresários de espectáculos, que são os municípios e as comissões de festas, salvo raras excepções, por regra apenas contratam artistas pimbas como José Cid e quejandos.
Não se diga, porém, que é disso que o povo gosta, porque não é verdade. Já assisti a uma récita monumental de Carmina Burana, é de ópera que falo, ao ar livre, bem no coração de Trás-os-Montes, e que teve grandiosa e civilizada adesão popular.
José Cid limitou-se a cuspir no prato que uns tantos, de sua igualha, lhe servem.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Por Henrique Pedro

O urro da besta

Qua, 15/06/2016 - 17:39


Ao contrário de todas as prospectivas que, no fim do século passado, iam anunciando luminosos futuros, cada dia deste novo milénio traz-nos mais angústias e desânimos sobre a condição humana, apesar do generoso Francisco, que se desdobra em apelos e orações.

“Os citadinos têm um interesse de brincadeira pela província”

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Qua, 15/06/2016 - 11:52


J. Rentes de Carvalho, um dos mais reconhecidos autores portugueses da actualidade, divide os dias entre Estevais, Mogadouro, de onde os pais eram naturais e a Holanda, onde se radicou há 60 anos. Numa entrevista, ao Jornal Nordeste, o escritor fala do seu mais recente romance e da ligação a Trás-os-Montes. Rentes de Carvalho entende que os citadinos têm uma ideia romântica do mundo rural e considera que a falta de vocabulário está na origem da violência. O autor de 86 anos critica ainda a inexistência de um plano de desenvolvimento para o interior.