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Vendavais - O nome das coisas

Não sei, mas possivelmente a palavra “coisa/s” deve ser a que mais usada é na língua portuguesa para nos referirmos a tudo e a nada, especialmente em ocasiões onde a necessidade de nos expressarmos rapidamente falha a expressão conveniente e lá teremos de chamar a “coisa”. Deste modo, todas coisas são coisas e qualquer coisa é uma outra coisa qualquer.
Mas a verdade é que seja qual foi a coisa a que nos queremos referir, o melhor mesmo é chamá-la pelo nome e mesmo quando não nos lembramos dele, fazer um esforço de memória para que ele surja. Mas não é fácil. Tentar não custa! E não adianta rodear o assunto invocando “aquela coisa” uma série de vezes à espera que outra pessoa pronuncie o nome e nos livre de termos sido nós a chamar pelo nome o que deve ser chamado pelo nome. Enfim! Felizmente ainda há quem chame os bois pelo nome.
Todos sabemos o que é a Caixa Geral de Depósitos. Todos sabemos que é um Banco público. O maior Banco público nacional. Todos sabemos que tem uma nova administração que está a dar que falar e muito. Tanto que está a pôr em perigo não só a sua própria credibilidade como a de toda a banca portuguesa e do governo. Todos sabemos que a culpa de toda esta celeuma é a teimosia do novo administrador não querer declarar os seus rendimentos. Todos sabemos que isso “cheira muito mal”. Pois é.
Quando se advogam razões para que tal não se faça, temos de invocar outras que contradigam aquelas e até referir o porquê de elas existirem numa instituição pública que quer ser diferente de todas as outras instituições públicas. Quero eu dizer com isto que o facto de se querer justificar a atitude do senhor administrador com uma legislação que permite ou torna legal a ocultação dos seus rendimentos, não deveria existir pois não se compreende que um banco público não seja objecto de igual legislação que os outros ou tenha de ser diferente. Se todos são “obrigados” a declarar os seus rendimentos em situações análogas, por que razões o administrador da Caixa não é ou não pode ser sujeito ao mesmo procedimento? Que “coisas” haverá por trás de toda esta complicação que tanto impedem o administrador de cumprir o que se lhe exige e continuar a bater o pé, como se de uma birra de garotos se tratasse? Ora como diz o povo e com razão, quem não deve não teme e sendo assim, o senhor administrador, se nada teme, que declare os seus rendimentos e os torne públicos, já que está numa instituição pública e que a todos nós diz respeito. E não adianta o ministro das finanças reclamar de sua justiça, porque ele é um dos culpados de tal situação. O mesmo se passa com todo o governo ao querer defender o indefensável. Não sei se isto tem um nome mais apropriado. Digam vocês. Experimentem, mas não recorram à “coisa”.
No meio de tanta hipocrisia lá apareceu alguém com vontade de esclarecer todas estas “coisas” e adiantou que o melhor mesmo é o senhor administrador declarar os seus rendimentos. Bom Marcelo. É assim que se exprime um Presidente da República. Com verdade e pondo o nome nas coisas. Sempre quero ver o que é que ele vai fazer agora. Como ameaçou que se ia embora se o obrigassem a declarar os seus rendimentos, pode ser que o faça perante esta sugestão presidencial. Caso o não faça, o governo deveria ter a coragem de o demitir do cargo e ir saber que “coisas” estão a impedir que o senhor não cumpra o que lhe pedem ao mesmo tempo que o impedem de ganhar mil euros por dia, ou seja 30 mil por mês, ou seja quase meio milhão por ano. Quem assim faz e corre risco de não receber tal salário, é porque tem muitos outros rendimentos e não precisa de mais. Haja coragem de pôr o nome nas coisas e de dizer o que se passa afinal com este senhor. É assim tão importante e tão brilhante e indispensável na Caixa? Não haverá mais ninguém que não tenha segredos e não queira ocultar certas “coisas” como os seus rendimentos? Certamente que haverá. Ainda temos gente séria neste país e com vontade de ganhar um bom salário. Acabemos com as hipocrisias e já agora com os salários chorudos num país que passa os dias a contar tostões para pagar milhões a quem não deve.

As Castanhas - Para a Maria do Loreto

Bem alinhadas, reluzentes quais unhas envernizadas, as castanhas, de castanho vestidas, exibiam-se no Festival Nacional de Gastronomia, ocorrido em Santarém. Perguntei sobre a sua procedência. De Marvão, respondeu a Menina. Da memória brotaram memórias do brilho das castanhas apanhadas por meninas e mulheres nos soutos de Bragança e Vinhais, debaixo da luz clemente das manhãs frias a anunciarem o Inverno.
A evocação rebentou-me ao modo das castanhas grávidas de ar interior, puxadas à parição pelo fogo vivo, infiltrado nos assadores, aspergindo os pedaços ao modo de gotas do orvalho gelado na face das destras pesquisadoras dos frutos no emaranhado das folhas e nas rachas dos ouriços.
Naqueles soutos pisados e repisados de Lagarelhos, de Vilar de Ossos, nos soutos passeados das cercanias de Bragança, vi mãos de dedos gretados, vi dedos protegidos até ao meio por luvas grosseiras de lã fiada enquanto os meninos jogavam à arrebunhana, tais dedos laboriosos enchiam cestas e sacas dos frutos pingados a cadência marcial pelos majestáticos castanheiros. Vi!
Entrei inúmeras vezes me apeteceu no ventre da castanheira de Lagarelhos, vozes marotas acusaram-me de em sociedade com o Arménio ter acendido nessa ampla barriga um lume apagado de imediato devido à vigilância de vizinha desconfiada, conhecedora das nossas proezas traquinas. Só ouvimos ralhos e imprecações.
Atropelo recordações no aprazível esparzimento da ternura antiga dos magustos, dos caldos finos, adocicados das castanhas cerceadas, piladas, dos caldos grossos inçados de couves, batatas e chicha gorda comida em cima de pão centeio.
As cozidas com a casca, depois esmagadas por garfos de ferro, comida gulosamente no final da ceia, derivaram em criação de pastelaria fina, parideira da delicadeza baptizada em francês, marron glacé assim se chama, segundo consta os mordomos servem-na às senhoras, mesmo no interior de automóveis luxuosos.
Durante séculos as castanhas ajudaram a matar a fome interior, quase endémica, das comunidades rurais de grande parte de Portugal, a doença da tinta, qual virulenta tinha, apagou da face da terra milhares de castanheiros, ficaram os topónimos: Castanheira dali e de acolá, do Ribatejo, de Pera, Castanheiro de muitos sítios, do Norte, Souto, de fora e da Casa, Soutos, Soutelo, Soutelinho da Raia a delimitar fronteiras. Os meninos bem podiam aprender geografia e tantos saberes mais se lhe ensinassem o ciclo de vida dos castanheiros.
Nomeio Opiano por íntima obrigação, ele, Teofrasto e Ateneu ensinaram-me a ver as árvores tutelares da Terra Fria transmontana, a ficar feliz observando-as recuando o registo até às manhãs de cortinas fechadas de cenceno, até às madrugadas finas de Janeiro, chorosas, de fim de férias, no ir apanhar a careira do Sr. Jerónimo.
O exercício memorialístico é tal como o vento, invisível, intenso, longe da suavidade da brisa, as quentes e boas da canção aquecem as mãos dos turistas a gozarem o verão de S. Martinho na baixa de Lisboa, no tropel apressado bamboleiam máquinas fotográficas, quais achas de guerra dos bárbaros de Átila, a vou roufenha de uma mulher ensina-me: as castanhas são do Norte. O Norte não é Trás-os-Montes respondo a mim mesmo lembrando a ironia de Afonso Praça, do Felgar. Tenho de estar com o Rogério Rodrigues a fim de comermos castanhas e bebermos vinho tinto saudando o Afonso, saudando-nos prazenteiramente.
As castanhas são fruto cumpridor das quatro estações, os chefes de cozinha do estrelato Michelin andam a tecer hossanas e louvores aos produtos da sazão, desde Tóquio (197 estrelas) a Lisboa (vai receber mais), passando por Nova Iorque, São Paulo, Londres, Modena, Roma e Paris (o ancestral umbigo culinário), todos gritam a preferência.
Estes famosos chefes para sorte deles nunca tiveram de comer apenas aquilo que a horta dava, as frutas temporãs e do tempo, as gorduras depositadas na salgadeira e dos potes de unto, e…as providenciais castanhas.
A carta de comeres exclusivamente centrada na castanha desde tempos imemoriais documentados até aos nossos dias, incluindo as especificidades de regozijo está por fazer, não advirá mal ao Mundo se nunca for construída, a herança cultural dos nordestinos fica diminuída. Nada mais. Paciência. A verdade manda dizer: já ficou tantas vezes!
Virá o vento, trará frigidez, cairão as últimas castanhas da estação. Quem irá ao rebusco? Talvez apanhe a ignorância enlaçada no desdém pelo passado. Nunca se sabe!

Olhar para trás

Uma voltinha à aldeia, onde atualmente o sol já se deita muito mais cedo, permanecendo o seu brilho um pouco mais tarde na torre da igreja. Não é uma aldeia deserta mas desertificada. A maior parte das persianas encontram-se fechadas dia e noite.
Olhar para trás de si, qualquer que seja a estação do ano, é contemplar, pelo pensamento, um cemitério cada vez mais vasto onde se levantam silenciosamente as silhuetas dos “nossos defuntos”. É repensar na geração dos nossos pais e dos que foram seus contemporâneos. Mas é cada vez mais, com o passar dos anos, compreender que os mortos de hoje são os nossos contemporâneos, aqueles com quem trabalhámos, caminhámos, convivemos, amámos. Estes rostos obsessivos, que já não passam muitas vezes de fotos armazenadas nos computadores, investem-nos e habitam-nos neste período de luz, cor e perfume de outono. Falam-nos da nossa vida em comum, das paixões partilhadas, do clima dos anos anteriores. Das dificuldades ultrapassadas em comum.
Os mortos são os nossos próximos bem definidos. A partir do momento em que partiram, num estúpido dia de agosto por exemplo, vivem e habitam na nossa memória viva onde se instalaram com direito a tiragem permanente. Nunca os afastaremos e como? Se contaram nas nossas vidas, que continuem a fazê-lo depois da morte. São um recurso permanente para nos ajudar a enfrentar, aguentar e transportar os dias: um casal defunto ou um amigo desaparecido nunca concluíram o seu trabalho dentro de nós mesmos. É como se olhassem por nós, com as suas vozes audíveis, os seus sorrisos perpetuados e a sábia forma de nos aconselhar a relativizar as nossas preocupações.
Ficamos contudo perante uma prova que nada tem a ver com a festa americana que não faz mais do que maquilhar a realidade e o medo. A nossa perspectiva é magnífica, mas aleatória. Nos cemitérios todas as inscrições garantem que os nossos familiares (ou desconhecidos) “descansam aqui à espera da ressurreição”. Esta aposta em forma de afirmação encontra-se no coração da mensagem cristã. Perturbante, apesar de tudo, um tal pressuposto. Difícil de atravessar este mistério. Nada se encontra verificado. Mais ainda; ignoramos completamente a forma como poderiam acontecer as coisas no dia em que essa promessa surgiria. Não conhecemos nem a forma, nem o momento dessa reaparição que vai até ao reencontro do corpo! O nosso corpo com que idade? E em que estado? Não o corpo sofredor dos sofredores, seria um castigo injusto, eterno.
“Transfigurados”, respondem os teólogos desde há séculos. Mas da transfiguração em questão não temos qualquer ideia, qualquer representação. Seria uma “alma” revestida de atributos? Um espírito com uma ancoragem carnal mínima ? Uma forma vaga envolvida por uma tal luz em que nenhum pormenor seria percetível nem necessário? Este mistério faz balançar o nosso imaginário, e deixa-nos no turbilhão do incerto e do improvável. Faz rir às gargalhadas os que não crêem nem em Deus nem no diabo.   
Porém, esta famosa “ressurreição” prometida, porquê esperá-la? Porquê colocar-se numa fila de espera que não levará a nada, nada ao fundo? Para quê, sobretudo, suportar as provas que, no fim da vida, se acumulam tão cruelmente? É preciso consentir ao desconhecimento desta espera e dar sentido aos sofrimentos retirando-lhes a carga de puro escândalo. E admitir que esta espera do desconhecido é a nossa única possibilidade de nutrir a bela virtude da esperança. Loucura, finalmente, esta esperança. Loucura sem provas estabelecidas, sem verificação científica ou experimental, triturada dolorosamente com a razão.
Contudo é talvez o que faz a sua força, esta loucura consentida.

Bragança reclama título de Capital da Castanha

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Qui, 03/11/2016 - 11:38


Bragança vai a partir de agora adoptar o título de capital da castanha. O presidente do município, Hernâni Dias, reclamou para Bragança este estatuto na Norcaça, Norpesca e Norcastanha, já que o concelho é o maior produtor deste fruto seco no país.

Brigantinos preparam máquinas para o CN Trial 4x4 2017

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Qua, 02/11/2016 - 20:52


Já ganha forma o novo jipe de Flávio Gomes. O piloto da TáBô Team vai mudar de classe, passa para Super Proto, e já começou a construir um novo carro. 
O brigantino não adianta muitos pormenores sobre o novo carro, mas sabe-se que será mais leve e evoluído.