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Passe bem

Quando escrevo esta crónica, ainda não é totalmente conhecida a proposta do Go-

verno do Orçamento de Estado para 2019, contudo, tudo indica que vai contemplar uma medida de singular relevo, não tanto pelo valor em jogo mas pela mais valia intrínseca. Refiro-me aos passes sociais que, anunciados inicialmente por Fernando Medina, com aplicação, obviamente, na área Metropolitana de Lisboa e que acabaram por ser “adotados” pelo Governo e estendidos a todo o país. Entretanto várias peripécias acompanharam este processo que será interessante analisar.

Após a comunicação inicial do autarca alfacinha, esta intenção foi devidamente analisada e assinalada por Luis Marques Mendes no seu espaço de comentário semanal na SIC. Elogiando a medida e os seus previsíveis benefícios quer para a capital quer, sobretudo, para os residentes nas suas imediações e que regularmente se deslocam diariamente, não deixou de apontar uma “falha” pois sendo uma medida de aplicação regional tinha uma componente nacional, no seu financiamento. A reação política foi imediata revelando a atenção crescente que os políticos dispensam aos comentadores (efeito Marcelo?) tanto assim que a expressão “não comento comentadores” perdeu atualidade sendo usada apenas por atores secundaríssimos, incapazes e incompetentes para responderem de forma clara a críticas de que são alvo. Não sendo este o caso, a disposição foi, de imediato, alargada à zona urbana do Porto.

O antigo líder do PSD retomou novamente o tema reclamando que era um caso de flagrante injustiça, que ao fazer uso do Orçamento de Estado para implementar melhorias em zonas urbanas limitadas e com níveis médios de vida acima da média nacional estava-se a subverter o papel redistributivo do Estado colocando os pobres a pagar para os ricos. Como reação, a regra foi estendida a todo o país. Caíram então as críticas “óbvias”, a que o nordeste não escapou: a dimensão dos transportes públicos no interior é residual – lá estão, mais uma vez, a subtrair ao interior para levar para o litoral.

Sendo certo que a maioria dos queixumes e reclamações contra o Estado centralista são mais que razoáveis e justas, não o são, desta vez. Por várias razões:

1 – Se é verdade que o nível de transporte público é muitíssimo superior nas grandes zonas urbanas, também assim é, no que toca à contribuição para o Orçamento comum. Há pois uma grande proporcionalidade entre o contributo e o benefício.

2 – O princípio de solidariedade, tão caro à nossa gente, baseia-se na norma de que perante um problema com dificuldade de resolução de per si e dos recursos locais existentes, deve recorrer-se aos recursos globais disponíveis. Ora a questão das deslocações urbanas é um problema das áreas metropolitanas e necessitam de ser resolvidas com os meios comuns. Não podemos apelar a este princípio, quando nos dá jeito e abominá-lo quando não nos beneficia.

3 – Não é válido nem automático que um benefício no litoral tenha como contrapartida um prejuízo no interior. Há casos, como este, em que o benefício é do país, como um todo e logo, direta ou indiretamente, todos dele beneficiamos. A diminuição dos veículos nas grandes cidades é um imperativo para minimizar o aquecimento global que a todos afeta.

4 – Finalmente, a afirmação de que estamos perante uma situação de serem os pobres a pagar para os ricos é falsa e ridícula. A proporcionalidade fiscal garante que quanto mais rico se é, mais se contribui. Por outro lado a referida medida vai beneficiar as populações mais pobres dos dormitórios urbanos que são os principais utentes dos serviços públicos. Mesmo aceitando que pudesse haver alguma transferência de impostos do interior para o litoral seriam, quando muito, os ricos da província (que, infelizmente são poucos e sem grandes fortunas) a pagar alguma coisa para os pobres das cidades (que são muitos e, alguns, muito necessitados).

Críticas infundadas e sem adesão à realidade não só não ajudam à justa luta pela dignificação e desenvolvimento do interior, como, pelo contrário, a prejudicam, subtraindo  justeza e fundamentação ao conjunto reivindicativo, no seu todo.

A odisseia de Tancos

Ainda sobre o famigerado assalto aos paióis do polígono militar de Tancos somos levados a concluir que o bom povo continua a ser endrominado.

Tal como o senhor Azeredo Lopes, ministro da Defesa ao que parece, que só agora ficou a saber que sabe ainda menos do que julgava que sabia, agora que foi acusado pelo seu subordinado senhor Vasco Brazão, major de infantaria e ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, de ter sido por ele informado da já lendária operação de recuperação do material roubado.

 Não é de admirar, portanto, que o senhor Azeredo Lopes, ministro da Defesa, ao que parece, tenha jurado a pés juntos que é tudo mentira porque ele de nada sabia.

Também o senhor coronel Luís Augusto Vieira, director-geral da Polícia Judiciária Militar e chefe do senhor major Vasco Brazão, diz que também ele não sabia de nada porquanto se limitava a mexer em papéis. Era um simples amanuense, portanto.

Já o senhor tenente-general António Martins Pereira, chefe de gabinete do senhor ministro Azeredo Lopes à altura, declarou, por escrito, que não lhe “foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos”, donde se depreende que terá tomado conhecimento dos factos muito embora neles não tenha notado irregularidades.

Em contrapartida, entidades políticas de topo, no poder ou na suposta oposição, que não importa aqui enumerar por irrelevantes, vieram a público declarar ou insinuar que sobre os factos vertentes sabiam muito mais mas que nada diziam. Cala-te boca!

Tudo muito estranho, ridículo e preocupante sobretudo porque o ignorante mor nesta comédia burlesca tutela uma organização alienígena que dá pelo nome de Polícia Judiciária Militar. E também porque, embora sendo certo que “militar” e “judiciária” nem em poesia rimam lá muito bem, tal polícia alguma utilidade deve ter, para lá de representar a charla “A Guerra de 1908”, do imortal Raul Solnado.

É aqui que a porca grunhe e torce o rabo: saber o que é na verdade a PJM e para que serve, saber quem sabia e quem não sabia o que a PJM andava a fazer, saber quem mente e quem fala verdade e até que nível do poder a mentira subiu e a incompetência desceu e alastrou.

Uma coisa é certa, porém: perante uma tão grave ameaça à defesa nacional (em causa estava material de guerra suficiente para paralisar a capital de qualquer república das bananas, designadamente Lisboa), o senhor Azeredo Lopes, ministro da Defesa, de pronto deveria ter accionado todos os serviços secretos e policiais, civis e militares, nacionais e internacionais, coordenado acções com outras entidades, designadamente com o seu colega ministro do Interior, exigido relatórios diários e informado o primeiro-ministro e o próprio presidente da república, precavendo qualquer acção violenta com impacto nacional.

Pelos vistos assim não terá acontecido. O senhor Azeredo Lopes, suposto ministro da Defesa e todo o Governo, ter-se-ão mantido olimpicamente distraídos, a ver o filme sentados no sofá, desleixando uma emergente e séria ameaça à democracia e à soberania nacional.

Permitiram e tacitamente autorizaram, portanto, que meia dúzia de iluminados chico-espertos, a coberto duma surrealista PJM, ousassem salvar a pátria borrando a honra do convento.

Enfim. Dá para perceber, embora a procissão ainda vá no adro, que se tratou dum hino à irresponsabilidade e à incompetência! Duma odisseia de polichinelos que vai ficar nos anais da nossa história recente.

É caso para o povo ir para as portas do palácio de Belém gritar, com as mãos em concha: Senhor presidente da República, olhe que andam a gozar consigo e com os portugueses!

Confirma-se que a pátria está bem entregue!

 

Este texto não se conforma com

o novo Acordo Ortográfico.

 

Tremoços: o marisco dos pobres

Ter, 16/10/2018 - 10:08


Adoro fazer rádio que mexa com as pessoas. Todo o mundo estava à espera da tão desejada chuva. Na madrugada da passada quinta-feira ela apareceu e eu consegui que muita gente se levantasse da cama para a ir ver à janela, abrindo o programa desta forma: “Família vai à janela / e o que vais lá ver / dá lá uma espreitadela / e vê se está a chover.”