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O AUTO PROCLAMADO ESTADO do INTERIOR 2 (continuação)

Penso que os Transmontanos não se revêem na recomendação Salazarista de que “os pobres devem saber ser pobres” mas também não os vejo, de forma alguma, na postura de “chulecos” valendo-se de expedientes tácticos para ir buscar mais “algum”. Também não os vejo como os “moderados” do Maio de 68 que aconselhavam “Sede realistas! Pedi o impossível!” Mas ainda os vejo menos como uns parolos reconhecidos com o estatuto de burro ou de vaca Mirandesa com que o “Movimento pelo Interior” os quer brindar quando vaticina que “sem subsídio não ides lá”. Os Transmontanos são orgulhosos demais para aceitarem esmolas mas também são suficientemente humildes para aceitarem, como bem vinda, qualquer ajuda quando sozinhos não logram alcançar. Não aceitamos qualquer estatuto de excepção ou de privilégio  pois seria o reconhecimento da nossa incapacidade, da nossa incompetência. ( “Não queremos o peixe mas queremos que nos ensinem a pescar”). Somos como somos, temos o que temos mas temos, sobretudo, a obrigação de o saber rentabilizar. E para rentabilizar as nossas potencialidades não nos envergonhamos de pedir às “cabeças iluminadas” (espero que por Deus que não, só, pela luz elétrica - O. Salazar) ajuda para remover dificuldades. Darei alguns exemplos de empreendimentos que teimam em não se realizar pela falta de conjugação de esforços e que poderá ser um teste às capacidades dessas figuras públicas. Assim queiram elas.
1- Não temos uma estrutura agro-industrial desde que o Cachão fechou. Como se sabe a falta de estruturas de recolha da produção agrícola leva ao abandono da produção. Claro que a transformação deve ser o passo a seguir à produção. Só que, se além falhámos, aqui falhamos mais. Este falhanço ganha especial relevância quando falamos na castanha. Vêmo-la ir sem lhe tirar o sumo. Não resisto a relatar o que vi e ouvi numa feira de produtos da terra que a televisão transmitiu. Foi assim: dois empresários italianos do ramo da castanha, com fortes negócios aqui no Nordeste, exibiam um pacote de “bombons” de castanha, o mais recente produto das suas indústrias transformadoras. Quando o entrevistador televisivo lhes perguntou onde poderia comprar um pacote desses “bombons”, responderam “ não, para já é só para Itália”. Fiquei indignado mas também envergonhado. Indignado por ver a arrogância daqueles italianos que levam daqui a matéria prima e sem o mínimo de elegância dizem-nos, na cara, que o produto acabado não é para indígenas. Mas também fiquei envergonhado porque quem tinha obrigação de fazer aqueles bombons eramos nós. Eu sei que os não sabemos fazer mas podemos ir buscar quem saiba. O Eng. Camilo de Mendonça para fazer as compotas no Cachão também foi buscar Mestres ao estrangeiro.
2- A falta de dimensão das explorações agrícolas não permite uma mecanização eficiente o que aliada à falta de escala trás produtividades abaixo do sofrível. Sem competitividade logo com baixos salários, o abandono da actividade é a saída. O emparcelamento, não sendo panaceia, daria outro fôlego ao sector. Mas o emparcelamento não é coisa que nós possamos fazer, isso é coisa da política. Ora, é mesmo à política que nós devemos este atraso ancestral, esta política de minifúndio, esta agricultura de canteiro. A falta do emparcelamento, logo a falta de dimensão, acarretou a falta de investimento na agricultura, a manutenção do paradigma agrícola, em suma o atavismo. Mas os políticos sempre  tiveram medo ao emparcelamento. Acho que já é altura de sacudir esses receios e para isso contamos com a prestimosa colaboração dos nossos “chefes de turma”.
Por outro lado, os nossos baldios, excluindo a parte alocada às Matas Nacionais, não produzem rigorosamente nada. E não se pense que é despiciendo pois Bragança mais Vila Real têm aproximadamente 120.000 hectares de baldios. Ponham esses hectares nas mãos de quem sabe e os quer trabalhar. Mas isso também não é tarefa nossa, é da Política. Aceitamos ajuda.
3- Trás-os-Montes recebeu uma prenda de luxo e não sabe o que há-de fazer com ela. Trata-se de 100 km de zona ribeirinha na albufeira do baixo Sabor. A albufeira, com 50 km de comprido, é um espelho de água imenso onde se pode fazer pesca, caça, mergulho, sky aquático, náutica de recreio, motonáutica de competição isto tudo contando com o apoio logístico dos bares, das praias, dos restaurantes, dos parques de campismo, etc. É estranho que, sendo mais ou menos consensual a ideia que o turismo é uma das poucas hipóteses de desenvolvimento sustentado que temos, ninguém mexa uma palha.
4- Moncorvo tem sido muito falado pela hipótese de reabertura das minas de ferro. Os jornais trouxeram escalpelizado o assunto do escoamento do minério para a siderurgia do Seixal. Vantagens e inconvenientes do escoamento por rodovia, pela via fluvial ou pela ferrovia. Por fim assentaram que o escoamento se fará por rodovia até Vila Franca das Naves e daí seguirá por ferrovia até ao Seixal. Ora, o que me faz confusão é terem estudado até à exaustão o escoamento do minério para a siderurgia do Seixal e nem uma linha, nem um pensamento sequer, sobre a possibilidade de trazer a siderurgia para Moncorvo apesar das imensas vantagens que isso traria para a região. Nem aos autarcas, sempre tão zelosos dos interesses dos seus municípios, lhes ouvi aflorar essa hipótese. E não é novidade nem deve ser difícil. Não é novidade pois em tempos houve os altos fornos da Campeã-Vila Real que era onde descarregava o minério de ferro de Guadramil. Além disso se se pensa que a deslocalização da siderurgia é “um bicho de sete cabeças” eu lembro que o dono da siderurgia, há um ano ou dois, ameaçou mudá-la para Vigo se lhe não fizessem um determinado preço na electricidade. É porque não deve ser muito difícil.                                                                                                                        
5- A mobilidade em automóvel com propulsão eléctrica será, dizem, a 4ª revolução industrial. A peça fundamental desse veículo é a bateria de lítio. Ora, segundo a empresa mineira Dakota Minerals, Portugal possui em Montalegre, na Serra de Arga e Barca de Alba as maiores reservas de Lítio da Europa. Isto devia ser motivo bastante para que as Câmaras, os Politécnicos, as Universidades instituíssem prémios, criassem bolsas de estudo, contratassem Professores e peritos estrangeiros, enfim, que de uma forma ou outra fomentassem a investigação na aplicação do Lítio às baterias. É absolutamente fundamental que quando o Lítio sair da mina haja pessoal especializado de maneira a prosseguir os procedimentos que constituiriam a fileira do Lítio. Em suma: da mina à bateria seria tudo trabalho nosso com a arrecadação das respectivas mais valias para não falar na colocação de mão de obra especializada no interior. Que não aconteça ao Lítio o que aconteceu à castanha. Seria demasiado mau.
Pelos vistos, algumas nozes, ainda, há. Temos de compor os dentes.

O ónus dos livros e da leitura na autognose humana

“Os livros são o alimento da juventude”, Cícero.
“A leitura engrandece a alma”, Voltaire.

Esta sucinta reflexão é motivada pela efeméride comemorada no dia 23 de abril, assinalando-se o Dia Mundial do Livro e dos Diretos de Autor.
As palavras, sempre atuais, dos mestres citados nas epígrafes encerram o desígnio deste texto, isto é, o encómio da leitura. No entanto, convém contextualizar e recentrar a questão nos tempos hodiernos.
Começo por uma interrogação, que razões nos levam, no presente, a ler? As causas são inúmeras, para não ser exaustivo, elenco apenas: lemos, fundamentalmente, por uma necessidade de libertação e para expressar o nosso inconformismo que não deve aceitar ficar aprisionado dentro dos limites de ideários pré-estabelecidos e de um vocabulário primário. Este progressivamente cada vez mais reduzido por razões demagógicas dos aparelhos de condicionamento das mentalidades e dos media, que se têm esforçado por o afunilar, reduzindo-o a uma elementaridade básica, que não se coaduna com as reais necessidades dos seres pensantes.
Reconheço, a contragosto, que as intervenções que se fazem, coadjuvadas pela propaganda, abrem caminho à custa do abandono da literatura no ensino, por um lado, e pela sua desvalorização nos media, por outro. Por vezes, fico com a sensação de que para os poderes instituídos, tanto a nível nacional como internacional, patentes e latentes, como nos tempos da ditadura salazarista, de má memória, basta que as pessoas sejam capazes de ler, escrever e contar. Estes intentos fazem eco das palavras, infelizmente não anacrónicas, de D. Miguel Forjaz, da obra “Felizmente Há luar!” de Luís Sttau Monteiro: “sonho com um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor.” Em suma, estas atuações mais não pretendem do que suprimir toda a complexidade, limitando escolhas e tranquilizando espíritos, com o fito de instituir o conformismo, a uniformização e a resignação, de forma acéfala, ao paradigma que se impõe.
Perante este cenário caótico e disfórico, só nos resta uma atitude digna de seres racionais, encarar o livro como um objeto falante, como algo que nos põe a pensar, pois já Platão afirmava que: “o livro é um mestre que fala, mas que não responde”. Essa tarefa cabe, inequivocamente, ao leitor, mas pensar é a coisa mais difícil que o homem pode fazer, como se infere dos versos de Pessoa/Caeiro: “Pensar incomoda como andar à chuva / Quando o vento cresce e parece que chove mais”. O livro é, sem dúvida, um objeto para pensar. Se o livro não cumprir esse desiderato, quem realizará esse encargo? A televisão? Não me parece. Esta, respondendo a interesses ínvios, está apostada em criar cidadãos acríticos que consumam a panóplia de programas, bens e serviços publicitados até à extenuação e, não raras vezes, à náusea.  A este propósito, recordo os versos: “putos que crescem sem se ver / basta pô-los em frente à televisão”, da música, de 1992, “Chuva dissolvente”, dos Xutos & Pontapés, que já, na derradeira década do século XX, alertava para as perniciosidades de uma educação baseada nos curricula da “caixa mágica”, assumindo-se, no presente, como uma enxurrada de irrealidade extraordinária.
Voltando ao livro e às razões da leitura, pergunto por que devemos ler? Lemos para ter lucidez e utilizar esse conhecimento em prol dos outros, isto é, da sociedade.
Assim sendo, impõe-se nova questão. Que relação devemos ter com a leitura? Do rol de réplicas possíveis - cf. Daniel Pennac Como um romance - apresenta-se esta. A relação com o objeto livro deve ser violenta. Devemos encarar a leitura como uma dura peleja entre as ideias do livro/autor e o pensamento do leitor, sendo essa pugna renovada a cada nova leitura. O mesmo se infere das palavras de Italo Calvino, em Porquê Ler os Clássicos: “Interessa-me muito tudo o que Jean-Jacques Rousseau pensa e faz, mas tudo me inspira um irresistível desejo de contradizê-lo, de criticá-lo, de brigar com ele”. Da contenda podemos, por vezes, sair a coxear e a ver menos, isto é, mais confusos; mas, na maioria das vezes, ficamos a enxergar mais e de forma diferente, ou seja, os nossos horizontes podem abrir-se até ao infinito.
Sintetizando, devemos cultivar a insubordinação do pensamento e adotar como estandarte/divisa a insolente liberdade de pensar. Só, assim, escaparemos à pesada sentença de Eugénio de Andrade, presente nestes versos, escritos em 1948, mas que se mantêm atuais, pese embora o caminho percorrido, em 2018: “Passamos pelas coisas sem as ver, / gastos, como animais envelhecidos: / se alguém chama por nós não respondemos, / se alguém nos pede amor não estremecemos, / como frutos de sombra sem sabor, / vamos caindo ao chão, apodrecidos”.
Termino reiterando não só a importância da leitura, mas, sobretudo, uma certa maneira de ler, encarada como um combate, que nos permite conhecer as ideias que o livro explana, honrando, desta forma, o autor e a obra; porque os livros são, indubitavelmente, os objetos mais propícios à autognose, como asseverou Marguerite Yourcenar, escritora belga, primeira mulher eleita para a Academia Francesa de Letras, em 1980, no livro Memórias de Adriano: “o verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente a si mesmo: as minhas primeiras pátrias foram os livros. Num grau inferior, as escolas”.
O valor da leitura e dos livros é, também, destacado por Italo Calvino, na obra citada, ao afirmar: “A escola destina-se a dar-nos instrumentos para exercermos uma opção; mas as opções que contam são as que se verificam fora e depois de todas as escolas”.
Epilogando, a melhor forma de celebrar o Dia Mundial do Livro e dos Diretos de Autor é, sem dúvida, ler as obras e questionar as ideias nelas plasmadas. Assim, os livros granjearão vida e os leitores concretizarão a autognose almejada, pois, como escreveu Stéphane Mallarmé, em 1897, “Todo o Pensamento produz um Lance de Dados”.
 

Abril abril

A democracia, que por estes dias festejamos, surgiu no mundo como uma flor da civilização, joia rara entre o cascalho da marcha da humanidade. Por imperfeita que seja, e ainda que outros benefícios não tivesse, a licença de sob as suas asas se dizer o que se pensa e sente sem medos (essa mesma que aqui estou a usar) já seria preciosa. E a que consiste em indicarmos quem nos há de governar mediante um gesto secreto não o é menos, mesmo que existam reservas quanto à sua efetividade. Ambas são dádivas, tanto mais admiráveis quanto é certo terem surgido por sobre o sacrifício de incontáveis gerações, flageladas durante milénios por toda a sorte de tiranias e sob o fogo constante da repressão de mentes e corpos.
Num mundo perfeito as suas regalias durariam para sempre mas, se pensarmos que sobre elas pesam ameaças de vária ordem, há poucas garantias de que tal aconteça. A primeira talvez advenha de, por terem passado a ser tão banais, tendermos a não lhes dar valor, sempre mais ciosos de direitos que de deveres, mais zelosos de liberdades que de moderações, mais solícitos a assegurar garantias que a admitir e acolher incertezas. Daí termos tolerado que aos poucos a democracia viesse a ser gerida por medíocres que se aproveitam das suas fraquezas, que em vez de a servirem porfiem intentos que lhe são alheios, em lugar de a visarem como um fim se convertam em fins a si próprios.
Sabendo-a tão frágil como a própria sociedade, e tendo tudo a ganhar com ela, estimo-a de coração (talvez como só quem viveu em ditadura a saiba estimar) e permito-me gozar de todos os seus prazeres. Mas daí a que todos sintam o mesmo vai um abismo: quando se é muito afeiçoado a mordomias vive-se no receio contínuo de as ver talhadas; a fazenda traz sempre o secreto temor de a perder. Em tal estado de espírito, o mínimo transtorno da ordem ou brisa de mudança constituem fonte de anseio, sendo muito provável até que as regularíssimas eleições assomem de quando em vez como motivo de inescapável incómodo. O que se entende. Porque no fundo, no fundo, isto de ter dado a soberania à plebe foi muito generoso, muito bonito, muito poético, mas não deixou de comportar os seus óbices. Afinal de contas, sabendo-se da volubilidade, dos humores, dos caprichos dos eleitores, quem pode dizer o que trará o amanhã?
Ora é justamente esta indecisão própria dos ciclos democráticos que leva muitos a torcerem-lhe o nariz. É certo que, para assegurar o poder que faculta e protege proventos, se vai participando ativamente nas suas estruturas formais, tem que ser. Porém, de modo a acautelar surpresas não se pode descurar a possibilidade de jogar o xadrez noutros tabuleiros, assim como quem lança um olho ao burro e outro ao cigano. Faz-se jogo limpo enquanto este nos é favorável, mas a bola é redonda e o resultado sempre incerto. Que bom não seria poder mudar as regras a meio, caso estejamos a perder, sobretudo quando há muito a perder… Nada mais natural então do que fazer um nadinha de batota criando e ativando grupos esconsos (cujos sócios podem à luz do dia aparentar mesmo ser opositores) para mover na sombra os cordelinhos. Ou não fosse o dinheiro um instrumento privilegiado das maquinações do belzebu!
Se buscarmos alguns princípios da coisa democrática, eles não andarão muito longe do acolhimento da diversidade de interesses, da abertura aos outros e ao diálogo, da troca de ideias, do confronto aberto, da negociação benevolente, da humildade para a cedência, do sim à crista-da-onda e à mó-de-baixo, da sabedoria na derrota como na vitória, da serena aceitação das incertezas. Os mesmos que propiciam uma instância cívica, a democracia, onde nenhum saber, propósito ou atividade humana poderiam ser estranhos ou tabus, incluindo mesmo aquilo que a põe em causa. Onde toda a ação privilegia a abertura, não o fechamento, e por conseguinte se deseja impregnada de convicta e honesta transparência.
Em suma, tudo aquilo de que esses furtivos clubes, por mais que se reclamem de aperfeiçoamentos, fraternidades e coisa e tal, são a própria negação. Isto sem prejuízo de admitir que haja quem, sem a clara noção destas mundanas subtilezas, se lhes possa juntar somente por retirar prazer de algum sombrio gosto da camuflagem ou de exclusivismos snobes.

Sancho Cruz vence I Volta ao Nordeste

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Ter, 24/04/2018 - 10:27


Sancho Cruz da ACDC Trofa / Trofense é o primeiro vencedor da Volta ao Nordeste em bicicleta. A prova foi para a estrada no sábado e domingo, com mais de uma centena de ciclistas de vários pontos do país que percorrem seis concelhos, num total de 220 quilómetros. 

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Francisco da Costa Henriques (n. Vimioso, 1623)

Francisco da Costa Henriques nasceu em Vimioso, cerca de 1623, filho de António da Costa e Beatriz Lopes. Tinha meia dúzia de irmãos e quantidade de tios paternos e maternos, muitos dos quais assentaram morada em Castela. Sim, que à época os dois reinos ibéricos estavam unidos pela coroa dos reis Filipes e as rotas comerciais de Vimioso e do Nordeste trasmontano se dirigiam especialmente para aquelas bandas. Aliás, as cidades então capitais da Ibéria (Valhadolid e Madrid) eram mais próximas que Lisboa.
Também Francisco cedo começaria a viajar com mercadorias para Castela, certamente acompanhando seu pai. Não sabemos que géneros de mercadorias levavam e traziam, mas pegariam a tudo o que aparecia, como era normal entre os da etnia. Das andanças por Castela, Francisco dirá que assistiu em Toledo e Valhadolid.
Teria uns 15 anos quando foi viver para a cidade do Porto, parecendo haver coincidência com idêntico movimento de seu tio materno, António Henriques da Costa, mercador, natural de Vimioso que, depois de viver 15 anos em Castela, (1) regressou ao reino para casar em Vila Franca de Lampaças, com Isabel Cardosa e ali viver por 9 anos, posto o que a família se mudou para o Porto. Eles seriam os sogros de Francisco, que, por 1648, casou com Leonor Henriques, filha única do casal, nascida em Vila Franca, por 1630.
Não sabemos onde e como viveria Francisco Henriques no Porto antes de casar. Viveria já em casa do tio e com ele trabalharia, como viveu e trabalhou depois de casado, “porque viviam na mesma casa e tratavam de tudo misticamente”, como ele próprio declarou?
Ao Porto foram ter com Francisco seus dois irmãos mais novos, Manuel e João da Costa (2) que, por 1656 se embarcaram para Pernambuco, Brasil, onde vivia Bento Cardoso, natural de Lampaças, tio materno de Leonor Henriques da Costa.
Adivinha-se a existência de uma rede familiar de negócios, baseada na importação de açúcar do Brasil e sua distribuição a partir do Porto, não apenas em Portugal mas também para Castela e principalmente para os países do Norte da Europa. De contrário, receberiam e fazendas e manufaturas que seriam enviadas para o Brasil. Isso não impedia Francisco de fazer constantes viagens de negócio, nomeadamente a Lisboa, Trás-os-Montes e terras da raia de Espanha onde, nem a guerra da Restauração impedia as transações comerciais.
Floresciam os negócios de Francisco da Costa Henriques e podemos com certeza afirmar que ele integrava a elite da burguesia mercantil da cidade, a avaliar pelo seu relacionamento com outros poderosos mercadores da época. Esta classe viria a ser completamente arrasada pela inquisição que, ao início do verão de 1658, lançou uma terrível operação de limpeza, que levaria à prisão mais de uma centena de pessoas. E muitos mais fugiam, conforme as informações dos familiares do santo ofício que chegavam a Coimbra dizendo:
- A gente da nação desta cidade anda de alevanto para se ausentar da mesma (…) lembro em termo de 6 dias não fica aqui cristão-novo algum… (3)
Logo na primeira vaga de prisões seguiu o nosso biografado, assim como o sogro, António da Costa. Dias depois, levaram também a mulher, Leonor Henriques da Costa. (4) No Porto ficaram 2 filhos e 2 filhas do casal, o mais velho contando apenas 9 anos. Quando o prenderam, Francisco trazia 4 dobrões de ouro que valiam 28. 800 réis, “cosidos no gibão” e mais 150 réis em prata.
No inventário dos seus bens móveis ressaltam 4 cofres, mobiliário de escritório, e mobiliário de casa feito de madeira de castanho, jacarandá, pau-preto ou pau-Brasil… tudo peças marchetadas de marfim, assim como bufetes, cadeiras e tamboretes de couro do Brasil, painéis e espelhos com boas molduras… reveladoras de um ambiente burguês.
Porém, o que verdadeiramente importa do mesmo inventário, são as janelas que se abrem sobre o mundo empresarial deste homem de 35 anos. Vejamos, antes de mais, as mercadorias que estavam embarcadas.
No porto de Viana do Castelo, chegadas no navio do mestre Cosme Vaz Carneiro, à responsabilidade de Heitor Tinoco, tinha 2 caixas de açúcar branco, pesando 47 arrobas.
Em um navio acostado na Foz do rio Douro, que havia de seguir para Hamburgo, tinha, carregadas, 10 caixas de açúcar “e um feito de mascavado” vendidas a Fernando Álvares e António Correia da Mesquita, ali moradores. Na margem do processo aparece desenhado o sinal identificativo destas caixas. Desenho diferente também, para identificar 3 caixas de açúcar branco que iam destinadas a António Henriques do Vale, mercador em Hamburgo. No mesmo navio estavam embarcadas mais 12 caixas de açúcar branco e 10 de mascavado, cujo destinatário não aparece identificado, sendo apenas a terça parte de Francisco, pertencendo as outras duas a Jorge Garcia de Leão.
Imperador Octaviano era o nome de um navio, dirigido pelo mestre João Bernardo, vindo de Hamburgo e atracado no rio Douro, com fazendas dali remetidas por Duarte e José de Lemos a ele e ao sogro e antecipadamente “vendidas” a Domingos Lopes Pereira, filho de Francisco Vaz Artur, mercador no Porto, natural de Segóvia, Castela, significando isso que o nosso biografado era um verdadeiro importador / exportador, ganhando nisso a sua comissão.
Pena que não tenhamos o preço das mercadorias para avaliar a grandeza dos negócios. De contrário, sabemos que ele devia “perto de 200 mil réis” à firma de António Rodrigues Mogadouro, (5) com sede em Lisboa, na Rua das Mudas, se bem que as contas do ano ainda não estivessem apuradas, significando isso que eram parceiros comerciais, não se antevendo o tipo de mercadorias fornecidas. De contrário, devia 20 mil réis a Diogo Lopes Dias, estabelecido na ilha Terceira, Açores, respeitantes a despesas havidas com o embarque de uma caixa de açúcar. Também ao mestre de navios, Manuel Álvares dos Santos, devia 7 mil réis que gastou com o embarque de uma caixa de açúcar. De tudo isto e mais dívidas se acharia registo concreto e preciso no seu “livro da razão” e no “livro que tem do recebimento das caixas que vêm do Brasil”.
Se as dívidas passivas são poucas e quase exclusivamente relativas a embarque ou transporte de açúcar, já as dívidas ativas são mais e de natureza diversa, mostrando que o nosso biografado vendia mercadorias tão diversas como sedas a um mercador portuense morador à Ponte de S. Domingos ou madeiras a um tanoeiro de Aveiro, certamente para a construção naval. E agora, veja-se um estranho tipo de negócio, contado nas próprias palavras de Francisco da Costa Henriques:
- Comprou ele de uns homens de junto a Bragança, cujo nome não se lembra, a herança do padre Amaro Martins que faleceu na Baía, estando no Brasil, do qual padre ficaram testamenteiros Miguel Carneiro e Pedro Vargas Carneiro, da Baía, e remeteram já a ele declarante o que lhe tocava; mas ainda lhe está devendo, da dita herança um Francisco Nunes da Mota, morador no Rio de S. Francisco, do mesmo estado, uma dívida grande, não sabe a quantia ao certo, e era procedida de gados, de que pertence a metade aos herdeiros do dito padre, conforme o contrato que fizeram; e todos os papéis tocantes à compra e cobrança desta herança tinha ele declarante no seu escritório. 
Não vamos analisar o processo de Francisco Henriques que logo começou a confessar as suas culpas e a denunciar familiares e amigos, particularmente trasmontanos e marranos, tal como fizeram a sua mulher e o seu sogro. E foi a partir das suas denúncias que a inquisição lançou em terras de Vimioso e Carção uma grande operação contra a heresia judaica, na qual foram parar ao tribunal de Coimbra umas 7 dezenas de pessoas.
Notas:
1-Em Espanha, António Henriques da Costa viveu 2 anos em Medina de Rio Seco; 7 em Ávila dos Cavaleiros e 5 em Segóvia. Tinha 2 irmãs, uma em Castela e outra em Livorno e um irmão, também morador em Castela, na cidade de Sevilha.
2-João da Costa faleceu em 1657, ainda solteiro, em pleno mar, em viagem de regresso ao Porto. Manuel da Costa continuava no Brasil em 1658 e Bento Cardoso morreu, na tomada de Pernambuco aos Holandeses, em 1654, conforme informação da sobrinha, Leonor Cardosa.
3-ANTT, inq. Lisboa, pº 4603, de Vasco Fernandes Campos, mercador, natural de Vila Flor, morador no Porto, assistente em Lisboa.
4-IDEM, inq. Coimbra, pº 280, de Francisco da Costa Henriques; pº 2256, de António Henriques da Costa; pº 7102, de Leonor Henriques da Costa. 
5-ANDRADE e GUIMARÃES – A Tormenta dos Mogadouro na Inquisição de Lisboa, Ed. Vega, Lisboa, 2009.

Vendavais - O poder a par da burrice

Portugal é um país pequeno, todos sabemos disso. Nascemos de um pequeno território que graças à perseverança e denodo de um rei que não o era efetivamente, mas acabou por ser reconhecido como tal, resolveu ir contra tudo e contra todos, acrescentando palmo a palmo, toda a terra que conseguiu conquistar. Nasceu, pois, um país resultado de muito esforço, muita luta e muita conquista.
Desde então, a vontade de crescer não morreu e nos séculos que se seguiram isso foi demonstrado pelo mundo inteiro onde aportámos, ficámos e aculturámos. Significa isto que ensinámos a muitos povos a nossa língua e a nossa cultura. Até hoje, ainda se fala por lá, a língua de Camões. Infelizmente ou não, não chegámos à América do Norte. Foi pena!
No meio de tantas viagens que os portugueses fizeram, no meio de tantas riquezas transportadas e aureolados pela importância que chegámos a ter, nunca conseguimos ter relacionamentos chegados com a América que se tornaria os EUA. Ficámos pelo sul e para lá levámos o nosso saber tão completo e perfeito que fizemos o que hoje é um país imenso. O Brasil deve-nos essa quota-parte, mas nem por isso somos mais alguma coisa do que a semente que cresceu e floriu. Até a nossa língua querem que se torne subserviente da multidão que por lá pulula, mesmo a mais ignorante.
Entretanto, a América cresceu sem a influência lusa o que lhe permitiu continuar a ignorar o grande povo que descobriu o mundo, mas que por azar não chegou à baía do Hudson ou a outra mais propícia à demanda das nossas caravelas. Coisas do acaso!
Talvez por isso mesmo, passados séculos os americanos continuam a ignorar-nos. Sim, ignorar-nos no sentido de não saberem exatamente quem somos e onde ficamos. Será possível?
Hoje a América é um país poderoso, é verdade, mas é talvez o mais ignorante do planeta. Só se interessam pelo imediato e pelo que lhes diz respeito diretamente. Não sei o que ensinam à juventude deste país, mas sobre o mundo que os rodeia não será grande coisa.
A Jetcost levou a cabo um inquérito cultural e entrevistou um pouco mais de 4.000 norte-americanos com mais de 18 anos. O resultado é triste. 49% dos inquiridos acredita que a África é um país, 39% pensa que o Polo Norte não existe e 9% acredita que a Terra é plana. É preciso dizer que os jovens inquiridos tinham um emprego estável e tinham efetuado pelo menos uma viagem nos últimos dois anos. Isto é inacreditável.
De facto, não chega ser poderoso para saber muitas coisas. É preferível ser pobre e ter conhecimentos do que rico e ignorante! Mas eles são pobres em sabedoria, em conhecimentos o que não supera a riqueza e o poder. São, é verdade, os mais poderosos e mais ricos do mundo, mas de que adianta se nem sequer sabem que Portugal existe? Questionados sobre os países que existiam na Península Ibérica, disseram que só havia um: a Ibéria. Será possível? Para que lhes serve a riqueza e o poder se são completamente ignorantes?
Há uns anos atrás, questionados sobre quem era Al Gore, 25% desconhecia que era o vice-presidente dos EUA. Ora quando nem sobre o seu país conhecem quem os governa, como poderão saber o que vai nos outros países ou onde é que eles ficam?
Realmente fico com pena de os nossos marinheiros não terem chegado às costas da América do Norte. É que pelo menos hoje eles falariam a língua lusa, teriam uma cultura muito maior sobre o mundo e com a riqueza que conseguiram acumular ao longo destes anos todos, seriam não só os mais ricos e poderosos, mas também os mais cultos e com certeza saberiam onde fica Portugal. É que ser pobre e burro é triste, mas mais triste ainda é ser rico e poderoso e ignorante. É a sua sina, talvez. Também quando a rapaziada anda aos tiros dentro das escolas e mata os colegas e professores como forma de afirmação ou vinganças mesquinhas, não se pode esperar grande coisa! O mundo não pode girar só à volta deles!

Passadores e passantes

O género do negócio – furar a fronteira – redundava em pingues lucros para os furadores, os passadores embrenhados numa controversa teia de transportarem gado humano para uma terra, terras sem guerra colonial, onde as padarias vendiam pão a todos quantos o podiam pagar.
A notícia informa-me de o Museu Abade de Baçal ter inaugurado uma exposição referente à emigração clandestina ocorrida no Nordeste desde a eclosão da guerra colonial. Não vi a exposição, li o artigo de fundo de Teófilo Vaz que calou fundo na plataforma de palavras, sons e sentidos do que entendo ser a nossa memória colectiva, no caso em apreço de toda a negregada e forçada fuga ao opróbio, ao analfabetismo, à miséria e funesta opressão conduzida por «educadores» de um sistema político antidemocrático e amigo das medidas de segurança instituídas por um Ministro bragançano.
Tais medidas inspiradas nas leis fascistas produziram muito sofrimento, muita miséria e, graças aos militares de Abril, macias retaliações, o Catedrático legislador foi saneado, todos os sequazes ficaram de férias uns tempos sendo reintegrados sem perda de direitos ou regalias de estatuto e mesura.
Ora, o editorial de Teófilo Vaz teve o condão de remexer o baú da memória, daí o recrudescer centrado em actores que de uma forma ou outra desempenharam papéis na grotesca peça do negócio que no essencial, a cupidez, conseguiu superar as negociatas do volfrâmio onde se espalhavam semienterrados bocados e vestígios do metal levando os lorpas ao engano de forma a vender-lhes a ilusão. Sobre o volfrâmio escreverei um dia!
No tocante à exposição não sei se contempla relatos sonoros e descrições proferidas e descritas por passadores, alguns estarão vivos, vivi e ouvi conversas no café Progresso e esporadicamente em duas casas de pasto bragançanas onde pontificavam passadores quase sempre de samarra colada às costas, de olho vivo e pé-ligeiro mormente nos dias de feira pois propiciavam recrutamentos e prisões ou não existisse bem perto (Quintanilha) um posto da PIDE dirigido por frenético agente nascido em Moimenta da Raia que o Senhor José Reis enfrentou olhos nos olhos e punhos cerrados.
Alguns passadores corriam parados a recolherem e segregarem informações na potenciação (como agora se diz) do negócio longe das evocações daquela Senhora Clímaco que escreveu uns pitorescos livros relativos aos clandestinos, longe da cesura higiénica de autores austeros e longe da escrita de Pugalle. Eu disse cesura, não disse censura!
Seria estultícia enunciar sacerdotes, escritores e publicitas que conseguiam furar a cortina censória do Estado Novo escrevendo acerca dos dramas decorrentes dos saltos quantas vezes mortais advindos das custosas transposições de obstáculos naturais e humanos, no entanto, felizmente, também surgiram vozes de apoio aos desgraçados caídos nas garras de ladrões de tudo. Neste vaivém emigratório deve-se incluir os transportadores muito bem pagos, estes comparsas ganharam muito dinheiro apesar de untarem as mãos visando o fechar de olhos de vigilantes de raias secas e molhadas, sem esquecer os celerados a depositarem as vítimas onde calhava.
No tocante a documentação também ignoro o trazido a lume, penso que o meu amigo Professor Doutor Francisco Cepeda deve possuir e saber onde se pode encontrar para além das instituições habituais, o Centro de Documentação 25 de Abril e o Museu da Resistência e a Biblioteca de Pacheco Pereira terão documentos de várias origens referentes ao tema em bora hora ressuscitado pelo Museu. O Dr. Ochôa trabalhou junto de emigrantes na Alemanha, de qualquer modo, o importante seria convencer os homens e as mulheres a testemunharem as suas errâncias no grande palco francês e luxemburguês prioritariamente, no alemão na primeira fase e no espanhol um pouco na qualidade de comprido corredor até à fronteira francesa. Seria vaidade pacóvia indicar este ou aquela nos diversos patamares do drama, a mala de cartão da maioria dos atingidos não se esvaneceu, continua a perdurar no seu imaginário sem canções a acompanhar, sim imagens de dormirem em barracas, de trabalharem de sol a sol, de amealharem sorrisos de troça e humilhações porque a instrução era escassa e a míngua de conhecimento da língua hospedeira aumentavam as provações. 
Nas festas estivais descendentes dos forçados foragidos vêm as aldeias dos ascendentes, não acreditam no antigo modo de vida dos avós, às vezes já nem eles querem acreditar porque preferem esquecer, só que tão funda e forte ferida aberta a golpes de infortúnio não ser cerzida porque continua a purgar, esta exposição tem o mérito de possibilitar o reforço da nossa identidade colectiva, neste caso pelas piores razões.
O desafortunado e eminente historiador Lucien Febvre escreveu uma obra que, pelo menos, todos os professores de História deviam ler e meditar, trata-se de Combates pela História, o autor argutamente aponta o papel da História para o conhecimento do Mundo, de nós próprios. Ora, o período de passadores e passantes nas nossas aldeias e cidade (naquela época ainda não se tinham multiplicado as vilas e cidades) devia fazer parte das preocupações educacionais e culturais dos nossos burgos para sem peias e resguardos estudarmos a documentação existente nos mais variados suportes, os discutirmos e cicatrizarmos a referida ferida. É melindroso, é. O mesmo melindre que encerram duas canções de Zeca Afonso, uma a contrastar com a outra, as duas invocando dois homens há pouco tempo desaparecidos.
O restauro da democracia cuja efeméride comemoramos amanhã também se fez a fim de permitirmos abriras arcas encoiradas de toda e qualquer natureza porque a História pode ser branqueada, mutilada, distorcida, falseada, pura e simplesmente arrasada como no século XX os ditadores e tiranos pretenderam, porém a história deixa sempre um vestígio a denunciar os regimes criminosos e os apagadores cheios de invisível pó de giz a surgir imitando o nariz do Pinóquio. 25 de Abril sempre!

Tiago Antunes faz hat-trick e evita derrota do Mirandês

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Ter, 24/04/2018 - 10:15


Foi uma tarde difícil para a formação de Luís Preto, que jogou, no domingo, no terreno do GD Mós, oitavo classificado.
Os locais estiveram a vencer por 2-0 e ameaçaram a liderança do Mirandês já que o Vila Flor vencia o Rebordelo por 1-0.