Bairrismos sem horizontes

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Ter, 07/03/2017 - 10:03


Uma das razões determinantes do estado a que se chegou no nordeste transmontano é a divisão que tem campeado, décadas sucessivas, entre os protagonistas da política local, com reflexos inegáveis nas decisões nacionais.
Ao contrário do que acontece, as dificuldades que por aqui se vivem deveriam despertar a necessidade de conjugar esforços para lograr conquistas importantes para a região, de modo a que não nos vamos reduzindo ao desânimo, apesar de curtos momentos de euforia, com sóis trémulos, logo engolidos por novas noites de breu.
Vale a pena lembrar um episódio, no já distante ano de 1972, quando, em pleno regime do Estado Novo, depois da ilusória primavera marcelista (de Marcelo Caetano, para que não haja equívocos), num tempo em que a liberdade de manifestação era uma miragem se realizou em Bragança, uma manifestação ruidosa, que encheu a Praça da Sé e culminou na sede do partido único, então transmutado de União Nacional em Acção Nacional Popular, com intervenções vibrantes contra o IV Plano de Fomento, instrumento “estratégico” para o desenvolvimento.
Estava em causa uma liderança regional, dentro do partido único, de Camilo de Mendonça que, considerava-se em Bragança, iria privilegiar Mirandela e Macedo de Cavaleiros. Por trás do evento estava a ala de António Gonçalves Rapazote, então ministro do Interior. O resultado foi a morte do projecto camiliano, que bem poderia ter sido fonte de venturas para todo o distrito, mas que se quedou num amontoado de ruínas, sobre as quais continuamos a verter lágrimas de crocodilo. (Vem a propósito dizer que Camilo de Mendonça foi o padrinho de baptismo do actual presidente da República)
Nos tempos democráticos pouco se alterou no que respeita ao império do bairrismo sem horizonte e vamos em quase meio século de oportunidades perdidas, apesar das torrentes de dinheiro que inundaram o país, sem inverter a nossa condição de condenados ao último suspiro. Porque os priores de cada capelinha não têm sabido identificar os objectivos comuns que nos fortaleceriam a todos.
Assim, temos sido relegados para as últimas prioridades, o que acentua a propensão para o salve-se quem puder. Talvez valha a pena ainda reiterar o apelo para que se mude de rumo e os doze concelhos do distrito, que ainda não morreu, apesar dos golpes traiçoeiros, promovam uma verdadeira cooperação.
Desde logo é fundamental que os três concelhos do sul, que integram agora a CIM Douro, percebam que a centralidade de Vila Real pode ser-lhes mais asfixiante do que a mítica centralização de Bragança, propalada por interesses inconfessados.
Entretanto, nada deveria impedir que se defendesse com firmeza a concretização das ligações do IC5 ao território espanhol e do IP2 às Rias Bajas, complementadas pelo desenvolvimento de estratégias de pressão, a nível nacional e no país vizinho, para a rápida concretização da autoestrada entre Zamora e Quintanilha, sem esquecer que estão prometidas intervenções nas ligações de Vinhais e Vimioso a Bragança, obras fundamentais para trazer alguma justiça às populações daqueles concelhos.

Por Teófilo Vaz