Será só o aumento dos preços do combustível o problema?

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Ter, 30/11/2021 - 08:59


A manchete desta semana faz-se de um assunto que é muito preocupante e põe em causa os sectores fundamentais do nosso território: a agricultura e pecuária.
Em poucos meses o preço dos adubos e rações triplicou e alguns agricultores não vão mesmo semear cereais. 
A nível nacional produzir cereais para alimentação humana ou animal está logicamente mais caro. Há adubos que aumentaram entre 70 a 100%. Em 2021, a conta de cultura do milho, por exemplo, incluindo adubos, herbicidas, combustíveis e energia eléctrica disparou mais 40 a 50 euros por tonelada face a 2020. Já os subsídios mantiveram-se inalterados. 
Depois de termos auscultado os intervenientes, confrontámos o secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural que veio à região. A preocupação foi mínima dizendo que é uma situação temporária que se deve ao preço do combustível, como se fosse banal o preço exorbitante a que estão os combustíveis. Para nos tranquilizar ainda mais, disse que considera que a subida do preço dos produtos agrícolas não vai ter impacto na produção, dando o exemplo do azeite. Segundo o governante “dentro de alguns meses voltará tudo ao normal, caso não volte serão tomadas medidas”. Ora, terá isto algum nexo? Claro que no sector do azeite não vai ter impacto nesta colheita, a cultura já foi fertilizada em Março ou Abril. Bem, parece-me uma resposta que mostra muito pouca preocupação com o ganha pão de muita gente na nossa região.  
Há já algum tempo, muitos especialistas alertavam que a questão era muito mais complexa do que o aumento dos combustíveis. Afirmam que a China é uma grande incógnita, sendo o país caracterizado como o “grande acelerador de partículas”, neste momento, nos mercados dos cereais.  Por exemplo, o país de Xi Jinping é o segundo maior produtor de milho no mundo, mas consome mais do que produz. 
Os preços das rações para os animais também dispararam e muitos consideram que ter animais já não é rentável, tendo em conta o preço que recebem pela carne face ao preço das rações e cereal. Segundo os entrevistados, a carne é paga a 4/4,5 euros o quilo e que é quase o mesmo preço há décadas. 
Durante esta pandemia ficou claro que precisamos de produzir, sermos o mais auto-suficientes possível e o que é que está a acontecer? Precisamente o contrário. As políticas de incentivo à produção são ineficazes. Lembro-me bem de ouvir o Primeiro Mwwwinistro a dizer que a grande lição que tinha tirado da pandemia era que Portugal não pode ser tão dependente de um só país como a China. Mas era agora que devia actuar e não permitir que nenhum agricultor deixasse de semear e de ter animais pela falta de rentabilidade. É caso para dizer: de que serve ter uma lição se depois nada se faz para a pôr em prática. Cai em saco roto como boa parte das “lições”.
Falamos deste sector, mas é transversal a tantos outros. Há algo que é indesmentível neste período da pandemia, são os preços. Eles estão a subir a uma velocidade cruzeiro. Podemos afirmar que este é o custo de um grande recomeço e as consequências são imprevisíveis? Acredito que sim!

 

Cátia Barreira