Ter, 18/12/2007 - 09:59
Os ruídos ensurdecedores e o pó esbranquiçado libertado pelos gigantes de metal e madeira continuam iguais ao longo das décadas.
Os tubos, que perfuram os soalhos de uns andares para os outros do edifício, continuam a carregar os cereais, que deslizam a um ritmo próprio, rumo às máquinas que os triturarão e transformarão em farinha.
O ir e vir constante de camiões com cereais é constante. O carregar e descarregar de pesadas sacas fazem parte da rotina daquela firma e, mesmo, da própria rua. A Moagem do Loreto – Afonso, Lopes & Cª, Lda., em Bragança, foi criada há cerca de 80 anos, com um capital social de 60 contos, e é, actualmente, a única que resiste ao passar do tempo.
Fundada por Alexandre Augusto Afonso, em sociedade com dois importantes comerciantes locais, Domingos Lopes e Alcino Lopes, a firma Afonso, Lopes & Cª, Lda. passou a ser, em 1944, detida na sua totalidade pela família Afonso.
Actualmente com cerca de 13 trabalhadores, a Moagem do Loreto chegou a ter mais de 20 funcionários, divididos pelas tarefas de carregador, ensacadores, ajudantes de máquinas, moleiros e administrativos, entre outros.
Hoje, a empresa produz diariamente cerca de 18 toneladas de farinha, que é vendida nos mercados regionais, para padeiros e particulares.
Há 80 anos, sacos de cereais chegavam a pesar 100 quilos e eram descarregados sem a ajuda de máquinas
Dentro do grandioso edifício, vizinho do rio Fervença, cada um conhece pormenorizadamente a tarefa a cumprir. “Comecei em 1989, nas cargas e descargas, e depois continuei a subir até chegar a moleiro, em 1994, que é o posto mais elevado na fábrica propriamente dita”, expicou Pedro Sernadela.
Após a descarga dos cereais, que chegam de França e da Alemanha aos silos da moagem, o responsável faz a mistura, conforme o destino final. “Vou misturando como quero. Se for para pastelaria é de uma maneira, se for a normal é outra, o que faz variar os preços de venda”, explica o moleiro.
Apesar da escassez de cereais nacionais que, segundo Pedro Sernadela, “eram mais baratos e deixavam a farinha melhor e mais branca”, a Moagem do Loreto continua a vender toda a sua produção. “Fabricamos em grandes quantidades e a nossa farinha sai muito bem”, sublinhou o profissional.
Com oito décadas de existência, a Moagem do Loreto alberga funcionários que têm 40 anos de casa. “Quando entrei para aqui éramos mais de 20 pessoas a trabalhar e era tudo tão diferente”, recordou Acúrcio Nogueira, motorista da empresa há cerca de quatro décadas.
Para este funcionário, hoje é fácil laborar neste sector, uma vez que as existem máquinas para facilitar todo o tipo de trabalho. “Antes, era tudo à força de braços. Tinham que carregar e descarregar sacas de 100 quilos de três ou quatros camiões de uma só vez”, explicou o motorista.