Ter, 23/02/2010 - 11:16
Luxuosa e inigualável, foi concebida, na década de 50, por três jovens arquitectos da Escola de Belas Artes do Porto, que para alojar os milhares de trabalhadores das barragens de Picote, Bemposta e Miranda do Douro, conseguiram transformar as Arribas em verdadeiras obras de arte.
Além de bairros diferenciados, destinados aos operários e engenheiros, a localidade contava uma pousada, piscina e campo de ténis que eram utilizados pelos quadros superiores da empresa.
O Barrocal do Douro dispunha, ainda, um variado leque de serviços, como Estação de Correios, Posto Médico, padaria, mercado, refeitório, café e Centro de Comando.
Em termos arquitectónicos, o edifício que mais sobressai é a capela de traço vanguardista, que combina com o resto das infra-estruturas projectadas há mais de meio século por Archer de Carvalho, Nunes de Almeida e Rogério Ramos.
Mas, se a modernidade, ousadia e criatividade se reflecte nesta aldeia da freguesia de Picote (Miranda do Douro), a degradação também toma conta de bairros e equipamentos, retirando-lhe brilho e beleza. Mesmo assim, mantém a classificação de Património Nacional, atribuída pelo Instituto Português do Património Arquitectónico.
Sinais de abandono chocam qualquer turista ou habitante
Tectos que abatem, janelas e vidros partidos, persianas desfeitas, vegetação sem controlo, que outrora dava vida a jardins minuciosamente pensados e cuidados, são, apenas, alguns dos sinais de abandono que chocam qualquer turista ou habitante.
Contudo, a EDP está a levar a cabo trabalhos de remodelação e requalificação da Pousada que acolheu, em tempos, quadros da empresa e respectivas famílias.
As obras estão em curso e reacendem a esperança das poucas dezenas de habitantes que resistem no Barrocal do Douro. “Disseram-nos que a Pousada vai ser utilizada para fins turísticos”, adiantou Margarida Vale, uma habitante local.
Apesar do optimismo, o presidente da Junta de Freguesia de Picote, Luís Preto, desconhece as intenções da EDP. “Não sei se vão incentivar ou investir no turismo. Fomos esquecidos e os edifícios deixaram de ser mantidos há muito tempo”, lamenta o autarca.
Para já, a certeza é só uma, e entristece Luís Preto. “O Barrocal do Douro era como um bairro de luxo. Em todo o distrito não havia nenhum parecido ou com as mesmas condições”, recorda o presidente da Junta.