Festival de Street Art deslocaliza-se para as aldeias

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Ter, 22/06/2021 - 11:46


O Festival de Street Art de Bragança chegou, na quinta edição, a sete aldeias do concelho: Baçal, Deilão, Mós, Rebordãos, Santa Comba de Rossas, São Julião de Palácios e Zoio

O objectivo desta edição do SM’ARTE é atrair novos visitantes ao meio rural. Apesar de serem mais comuns no meio urbano, este tipo de intervenções adaptou-se ao meio rural, fazendo de espaços como um posto de transformação de energia, sedes de associações e juntas e até uma antiga ordenha tela. Os temas que vão ficar eternizados nos murais também estão relacionados com as localidades. Em Rebordãos, pintar a fauna da Serra da Nogueira foi o desafio que Tiago Braga, de nome artístico Fedor, do colectivo Rua, abraçou. “Tiveram em conta o tipo de trabalho que costumo desenvolver, porque já represento muito elementos da fauna e da flora”, afirma. O artista do Porto admite que trabalhar numa aldeia é um bocadinho diferente, mas tem um “contacto mais próximo com as pessoas”, “é um local mais tranquilo, são boas condições para trabalhar”. “Numa cidade, as pessoas estão na sua vida e fazem comentários rápidos, mas aqui conseguimos falar um bocadinho com as pessoas”, que no início “ficaram muito curiosas, perguntavam como se trabalha com spray, o tipo de técnica, outras vêm perguntar se é muito caro e pedir orçamentos”, diz o artista que lhes fala do seu percurso e que desenha desde pequeno. “Para já só tenho ouvido elogios”, afirmou. Já em Santa Comba de Rossas as memórias da linha ferroviária ficam agora gravadas num Posto de Transformação de electricidade, como explica Vírus (Francisco Bravo) que colaborou com Trip na intervenção, e também destacou a proximidade com os habitantes. “A própria interacção das pessoas com a obra é diferente, tudo é mais pessoal. Pelo menos eu venho do Porto e estou habituado a um ambiente que é um pouco mais impessoal”, referiu. Além de uma locomotiva, o PT tem pintado numa parede motivos mais conceptuais ligados à ferrovia. A maior dificuldade foi mesmo o mau tempo dos últimos dias. “Faz um bocado parte do que é pintar murais, senão estávamos a pintar telas em casa, temos de ter um bocado jogo de cintura”, afirmou. O trabalho dos vários artistas parece ter convencido os habitantes que foram acompanhando o evoluir da pintura com curiosidade. “Por acaso está bonito, toda a gente ficou contente com esta pintura. Nunca tinha visto isto ao vivo, mas digo-lhe que deve ser um grande artista”, afirma Armindo Gomes, habitante de Rebordãos, que conta que já fotografou a intervenção e enviou a imagem aos filhos que estão em França e na Suíça. José Luís Garcia diz que “é uma coisa espectacular, é diferente aqui” e conta que nos últimos dias “já tem passado aqui muita gente”, para ver a evolução da pintura. Irene Ala acha bem que a iniciativa tenha sido descentralizada para o meio rural: “Se Bragança tinha direito, também as aldeias tinham direito de ter estas coisas”. A pintura na associação de Mós ficou bonita e prefere-a mesmo a outras que já tem visto. “Gosto mais desta que fez aqui o moço, pôs lá os carvalhos, as bolotas e essas coisas”, afirma. As edições anteriores do Festival de Street Art já tinham dado origem a 50 intervenções de artísticas. Com esta descentralização o objectivo passa por “levar as pessoas a viajar mais dentro do próprio concelho, conhecer o potencial que existe no meio rural, a nível natural, patrimonial e etnográfico”, afirmou o autarca Hernâni Dias.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro