Das aparições às visões de Fátima

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Faz cem anos que três humílimos pastores, perdidos nas cercanias de Fátima afirmaram, convictos, ter visto numa azinheira, no dia 13 de maio de 1917, uma senhora vestida de branco.
Estas aparições surgem numa época dificílima da História da humanidade em que a primeira grande guerra estava ao rubro e algumas classes sociais temiam as ameaças do comunismo. Esta hierofania, ou seja a manifestação do sagrado em Fátima, surge como um sinal redentor do fim da guerra e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.
As aparições de Fátima assumem um carisma profético de que é necessário a conversão da humanidade para terminar com o inferno da primeira guerra mundial e de outras guerras, como a segunda guerra e a terceira guerra de que o papa Francisco já fala.
Contudo, as aparições de Fátima foram objeto de múltiplas interpretações para todos os gostos, dentro duma análise teológica espiritual, ou científica.
É bem conhecida a posição do padre Mário de Oliveira que apresenta o “fenómeno” de Fátima como uma construção do “clero de Ourém”. Noutra análise surge o livro de Fina d'Armada e Joaquim Fernandes: "Intervenção extraterrestre em Fátima" que pretende inserir as aparições de Fátima no fenómeno “OVNI”. Muito mais se escreveu sobre Fátima e continuará a escrever.
Mas, independentemente da Fé que cada um possa ter, Fátima é indiscutivelmente o grande santuário mariano. Aqui há uma clara hierofania, um lugar de culto impressionante, com milhões de pessoas que se deslocam. Uns vão a Fátima porque a “Fé move montanhas”, outros pedindo ajuda, ou agradecendo, alguns no âmbito do turismo religioso. Mas uma coisa é certa, Fátima tornou-se no altar do mundo.
Agora, sem dúvida, a Igreja tenta adequar a sua linguagem a uma interpretação mais exata dos fenómenos religiosos, dentro do espírito da teologia e da psicologia. E isto está bem patente na grande entrevista que o jornal Público fez a uma personalidade reconhecida da igreja, o bispo D. Carlos Azevedo, delegado pontifício da Cultura no Vaticano. E o bispo afirma que a igreja tem que falar uma “linguagem exata” e que “Maria não vem do céu por aí abaixo”. Segundo o bispo o que aconteceu em Fátima é que os três pastorinhos tiveram “visões místicas”, proféticas, muito frequentes na História da Igreja como é o caso de São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila.  O bispo acrescenta que os fenómenos místicos são espirituais e não físicos e que refletem os arquétipos do vidente relativamente à imagem que se revela e que transmite uma determinada mensagem.
Pelo exposto, a igreja adequa-se ao devir histórico quando procura maior rigor na linguagem o que em nada compromete a grande mensagem de Fátima que pretende a conversão da humanidade dentro deste espírito profético: "se não mudardes, o mal vai vencer"
Assim, o momento que vivemos é verdadeiramente histórico com a vinda do Papa Francisco a Portugal, calçando “as sandálias do pescador” para em Fátima canonizar os pastorinhos, Francisco e Jacinta que em 1917 tiveram o privilégio de ter “visões místicas” que haviam e alterar, significativamente, o rumo da história.

Fernando Calado