E se fôssemos sinceros com base no ramo imobiliário e automóvel?

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O Mundo é, claramente, de plástico. Sim, este devia ser um alerta para as alterações climáticas. E, é. Também. Sintam-se alertados. Mas estava mesmo a falar das pessoas. Tal como aquela música dos finais dos anos 90 dos Aqua (que é feito dessa malta?). Se bem que a letra do “I’m a Barbie girl, in the Barbie world/ Life in plastic, it’s fantastic” pode ter imensas interpretações. Cada um faz a sua. Assim como destas linhas. Estamos nesta época esquisita, em que vivemos mais da internet do que do cara a cara. E onde parecemos ter uma persona online e outra, mais fraquita, com forma humanóide à mistura. Na dita vida real, chamemos-lhe assim, é quase impossível arranjar disponibilidade para ir fisicamente a algum lado, nem que seja ao fundo da rua, quanto mais a qualquer actividade que implique interacção social, num horário a combinar? Quando der para comprar pão virtualmente, e que este chegue a tempo útil para o pequeno-almoço, esquece, Sociedade! Perdeste. Ainda assim, tenho tudo a favor da internet e de fazer novas ligações por essa via. Todos nós, pelo menos, diria, numa faixa etária até aos 50 anos, estamos familiarizados com aplicações para dispositivos móveis que nos dão aquilo que é uma autêntica montra de seres humanos disponíveis para dois dedos de prosa, e, quem sabe, algo mais. Nas descrições dos perfis encontramos um nome (com sorte, o verdadeiro), uma idade, uma localização e às vezes meia dúzia de coisas que pretendem ser fora da caixa para chamar a atenção ou uma lista de restrições - “não tolero se fores assim, nem sonhes se fores assado, não curto dessa forma” - mais apertada do que a dieta de um obeso. E o que acontece é que um primeiro encontro meio às cegas pode ser absolutamente desastroso. Às vezes as fotografias enganam-nos, e damos connosco a jantar com a versão em estágio daquilo que tínhamos idealizado. Sendo um borracho, são as personalidades que parecem carrinhos de choque nas feiras, sempre às turras. Ou, simplesmente, queremos coisas distintas da vida. Tenho para mim que encontrei a solução para este problema. Como pessoa atenta que sou, reparo que há todo um vocabulário com o qual até estamos à vontade e que, se usado nestas aventuras e desventuras, seria muito mais útil e daria, sem rodeios, uma descrição nossa e daquilo que procuramos. Tudo na honestidade. Exemplo do ramo imobiliário - “É pequenino, mas para uma pessoa serve bem”, “Para dividir com mais três pessoas”, “Com todos os serviços básico à mão e com estacionamento à porta”, “Com entrada imediata”. Ou então, do ramo da venda automóvel - “A precisar de algum trato de estética, mas a nível de motor está excelente!”, “Revisão geral efectuada, apto para todas as circunstâncias e tudo funcional”, “Muito económico. Apenas precisa de pintura porque tem algumas partes comidas do sol”. E, sim, são anúncios verdadeiros. A realidade supera sempre a imaginação. Agora lidem com o facto de as aplicações de encontros não serem assim, sinceras a ponto de toda a gente poder escolher de forma consciente e deliberada o rodízio em que se vai meter. Façam uma corrente e passem este texto a 10 amigos. Juntos, vamos revolucionar os encontros deste planeta! Muito ambicioso... Do país? Nah? Distrito? OK. Pelo menos lá do bairro, acham que dá?

Tânia Rei