A Geringonça

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Soltam lamúrias quais carpideiras a preço de saldo. Invocam o passado sem o terem sabido defender, na deles, a Geringonça é antinatural esquecendo os setecentos mil votos perdidos. E, a Geringonça vai rodopiando.
Fingem arrepelar cabelos existentes e os voados por mor os malefícios do Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, no entanto, socialmente, tudo corre de forma a o girar da geringonça só sofrer atropelos vindos de Bruxelas. As émulas da Kiki (Espírito Santo) ainda tentaram ridículo bater de testo na caçarola. De óculos escuros Ray Ban só fim perceberem não chegarem a duas dúzias. Ponto final. Parágrafo.
Choram lágrimas ao modo dos crocodilos, acusam os socialistas de traidores ao velho esquema, nunca entenderam a canção – mudam-se os tempos, mudam-se as vontades –, a ignorância é atrevida, subestimaram a experiência dos comunistas, as alteridades partidárias ocorridas na Europa, para o bem, para o mal. Néscios, ficaram iracundos.
Rangem os dentes ao contemplarem o desembaraço de Marcelo no enfunar as velas da geringonça facilitando-lhe o deslizar, o Presidente vai ajustando contas antigas, vai traçando o caminho em função dos seus desejos, vai cumprindo o dito do poeta: o caminho faz-se caminhando, de modo a aumentar o seu poder de poder.
Os apaniguados de Passos enterram a cabeça na areia de forma a avestruzes ficarem invejosas, ao invés, os atingidos pela pressa demais do antigo primeiro-ministro (continua a colocar na lapela o signo a enunciar despeito) não esquecem o sofrido, não esquecem as desgraças no BES, não esquecem o truque eleiçoeiro do BANIF. Os áulicos de Passos pensam que o povo são os amáveis empregados do restaurante O Comilão. Podem ler a Time, não leem a imprensa regional.
Os choramingas apostrofam Costa, ele ri-se, negoceia, mete a mão de ferro em luva branca de pelica antes de socar os adversários internos, afastar os incómodos, colocando em prática o ouvido a Marcelo nas aulas na Faculdade de Direito, e a Jorge Sampaio, Vera Jardim, José Manuel Galvão Teles, Victor Wengorovius e César Oliveira, ao redor da mesa do Flórida, no edifício Franjinhas, onde eles almoçavam nos dias activos da semana.
A oposição passista é passadista, anémica, queixinhas, Passos Coelho reduz ao menos possível a ambição de reconciliar o eleitorado vagabundo (um milhão de votos) com o PSD, resgatar o passado, antes das atribulações resultantes do desvario ideológico de assessores tipo Maçães e Morgado.
O líder laranja devia pedir ao deputado Adão e Silva o favor de lhe explicar o jogo do Rapa, no intuito de embaraçar Costa e Centeno, de alegrar os militantes laranjinhas ao opor vigorosa e exaltante barreira às suas políticas. A pionça do Rapa impulsionada por Centeno faz perder, sempre, todos quantos ousam ganhar o salário mínimo praticado na Noruega, Holanda ou Alemanha. As quatro faces da pionça ostentam as letras: R de rapa, T de tira, D de deixa, Põe, de pôr.
O ministro Centeno interpreta as letras da seguinte forma: Rapa tudo quanto pode em impostos sobre quem gera riqueza e emprego, Tira quanto pode em impostos indirectos, Deixa o fisco vasculhar a tua conta bancária, Põe a classe média à míngua se quiser adquirir livros, ir ao cinema, ouvir música num concerto ou comprando discos, fruir o olhar visitando exposições, longe da tentação de sinalizar a aquisição de um quadro. Em suma: a aculturação dos públicos é cada vez mais cousa televisiva. Um desastre. Sim, o dinheiro tem de vir de algum lado, sabemos isso, mas tudo o que é demais é moléstia. E a classe média está à beira de ser garrotada.
Os querubins de Passos nunca pensaram na classe média, habituados às extravagâncias virtuais, eles só exultavam quando os chocalhos tecnológicos tocavam, tudo quanto cheirasse a cultura preferiam a inculta (Alain Bloom), tudo quanto fosse no sentido da discussão da essência da social-democracia motivava-lhe risadinhas disparatadas (ainda acudi ao convite de Jorge Moreira da Silva, após a sessão inicial desisti de imediato), só após serem apeados do poder Passos proclamou a sua paixão pelo cânone social-democrata.
A geringonça gira embalada pela maioria, não adianta continuar Passos a encharcar lenços, a teimar no Pin, a soletrar soluços, não adianta os militantes do PSD descarregarem a electricidade nervosa contra os socialistas, adianta isso sim, pensarem a estratégia de os confrontarem seriamente com o futuro. O nosso futuro. E, ao fazê-lo, sem serem atarantados equacionarem o presente do Partido. Passos passou, só que ainda não o percebeu. Ponto final. Parágrafo!

Armando Fernandes