O beijo - mas agora a sério

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Há uns tempos, se estão recordados - claro que estão, eu sei, seus fofos! - falei-vos sobre beijos.

Percebo que, devido a alguma nuvem cor-de-rosa, doença ou acidente grave que tenha tido à época, adoptei uma postura muito romântica. E, sobretudo, muito romantizada (vómitos). Peço desculpa. Do fundo do meu coração, perdoem esta pobre, sofrida e incauta cronista (lágrimas rolam-me pelo rosto). Mereciam mais to- dos aqueles que me acompanham na esperança da abordagem mordaz do costume.

Quero agora dar-vos a verdade. Pelo menos, aquela da qual eu sou possuidora. Vale o que vale. E vale mais a intenção.

Voltei aos meus primórdios, de quando comecei a escrever estas maluqueiras. E isso consistia muito em fazer perguntas a pessoas. Vai daí, questionei vários amigos e amigas sobre más experiências beijoqueiras. Não fiquei satisfeita com as respostas. Portanto, estou agora em crer que maus beijos são tema tabu.

Fruto das minhas pesquisas, acredito que maus beijos são como fantasmas - há quem jure que existem (como eu, já la vamos), que eventual- mente, já teve algum contacto, mas não tem provas cabais para convencer a classe. E a esmagadora maioria da população não tem dúvidas de que não há tal coisa. Até goza com essa possibilidade (para-normal ou normal? Decidam por mim, sou Balança).

“Ah, não existem maus beijos, porque tudo depende do sentimento ou da química entre as pessoas”. Deixem cair a máscara, seus Valentins de trazer por casa! A conversa aqui é sobre a técnica. Todos sabem, em teoria, o que fazer. Mas há formas de pôr em prática melhores do que outras.

Não tenho vergonha de admitir que já tive maus beijos. “Tânia, e o que é um mau beijo?”, consigo ouvir-vos perguntar. Ora bem, são os beijos que defraudam os vossos requisitos para que ele seja prazeroso - nenhuma/ pouca/muita língua? check-up a todos os órgãos internos incluído? muita saliva? bateu dente no dente? pareciam um peixe daqueles limpa-vidro, sem expressão e sem vontade, só a abrir e a fechar a boca no aquário? Estão a perceber, não estão?

O que mais me intriga são as pessoas que dão beijos na boca, com menu completo, com os olhos abertos. Em conjunto, cheguei à conclusão que, principalmente quando se tratam de primeiras interações bocais, tendemos a estar preocupados ou ansiosos para perceber o que se está a passar com o parceiro. É aí que abrimos a pontinha de um olho, só para ter a certeza que está a ser ao nível do incrível. E não há nada mais assustador do que encontrar dois olhões abertos, a fitar a ponta dos narizes e todo o acontecimento, de cima. De repente, vai-se o fulgor e é como se estivéssemos a fazer reanimação a uma vítima de afoga- mento (que ficam sempre de olhos abertos). Sinto ali uma desconfiança - terá medo que lhe palme a carteira? E os olhos abertos a fixar um ponto por cima do ombro? Deixam-nos confusos, como aos donos de gatos, quando os bichanos atentam num ponto na parede onde não há...nada.

É estranho. E, talvez por ser tão exigente...Bem... Essa fica para outro dia.

Tânia Rei