PAFÓS

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Todos os anos, o Carnaval leva-me a pensar na poesia “Carnaval Todo o Ano”, nas “Memórias” de Casanova e nos Pafós. Se as restantes referências estão escoradas em autores de enorme relevância no domínio da música e da literatura, os pafós eram simples e pitorescas figuras masculinas enroupadas em saiotes e saias largas, que desfilavam tristemente nas ruas de Bragança no dia de Entrudo (o vocábulo Carnaval era primacialmente para gente fina), acicatados quando recebiam saraivadas e cascas de tremoços ou beliscões de unhas de luto nos esquálidos traseiros, no decorrer dos bailes da Associação, cuja mulheres na sua maioria sabiam colocar o corpo no ritmo certo em função do Bolero, do tango ou da valsa, enquanto no Clube as moças e as mães martelavam da mesma maneira o Carlos Gardel e o Danúbio Azul pois os treinos eram diferentes. O Entrudo levava a atrevimentos na sátira a actos, decisões e omissões do poder salazarista nas suas variadas ramificações, no entanto, não passava tudo, o Botas de Santa Comba servia-se da dependência da maioria da população para dar uma côdea aos in- formadores popularmente conhecidos por bufos. Nas minhas crónicas amiúde lembro esse tempo recheado de biltres, no desejo de os mais novos saberem quão opaco, cinzento e medroso era o dia-a-dia onde ninguém se sentia seguro, nem era inteligente confiar na camisa que se vestia durante a semana, nem nas dos de posses que, mudavam de camisa diariamente. Os pafós seriam arlequins de olheiras fundas, pobres sem atingirem o grau de alegretes da canção da casa portuguesa, comer de untar a barbela apenas por acaso de esmola nos dias de festa, aposta ganha e engano. Comer fora? Ir tomar uma refeição num restaurante só quando «o rei fazia anos», reinava a frugalidade, o naipe de pro- dutos alimentícios era bas- tante, o dinheiro rareava, o funcionalismo auferia reduzidos vencimentos com a excepção dos empregados do Banco de Portugal, as profissões liberais também angariavam escassos proventos, poupar, mandava o famigerado Salazar o qual arrecadava inúmeras alcunhas de índole rústica, ou não fossem os agricultores a matriz das Comunidades do rectângulo à beira-mar plantado nos idos do século XII. Os pafós do Entrudo per- sonificavam o País misera- bilista, sendo a fuga a salto para França e Alemanha, levando debaixo do braço a frágil mala de cartão canta- da por Linda de Susa recen- temente falecida, a solução em demanda de melhor e maior vivência, antes fora o Brasil da árvore das pa- tacas. Agora, rufiões sevandijas, na cidade de Olhão, atacam e agridem indefesos nepaleses. A cognominada «vila poema», dispensa bem indivíduos deste jaez, embora o Presidente da Câmara tenha dito que lapuzes rapazes estão arrependidos. O autarca na caça ao voto, escrevo eu! Os citados pafós, recordados nesta crónica, são desconhecidos mesmo nos dicionários móveis e de papel de largo consumo nas escolas, foram substituídos pelos momos brasileiros de todos os géneros. É o progresso! Armando Fernandes PS. Parabéns a Henrique Pedro colega colunista no Nordeste Informativo. A condecoração outorgada pelo Presidente da Repúbli- ca só peca por tardia. Muito Bem

Armando Fernandes