Pedradas no futebol

PUB.

Após o desastre dos andrades (portis- tas) ante o Bruges, cidade onde vive uma bra- gançana do meu tempo, do jet-set da Praça da Sé dos anos sessenta do século passado, vários energú- menos entretiveram-se a aguardar o carro da famí- lia do treinador Conceição, para o apedrejarem civili- zadamente arremessando bocados de granito, xisto, quartzo e mica contra a sua viatura. O estúpido atentado, provocou enor- me comoção nas redac- ções chorosas, em virtude do falecimento da rainha do reino desunido, provocando a saída para as ruas de Lisboa, devidamente ataviado, do Sr. Magina polícia Intendente, qual Pina Manique a examinar bolsos e bolsas como se fossem caixas forradas de livros proibidos do rol do Santo Ofício de triste me- mória. Ao que as pantalhas da CNN, SIC, CMTV e oficiosa RTP informam, o fundista e acólitos já estão identifi- cados, por tão formidável proeza o cavalheiro Ma- gina e demais detectives aguardam serem conde- corados no próximo 10 de Junho ante proposta de José Luís Carneiro, de- vendo os penduricalhos serem apostos na casaca azul de gala por Marcelo supremo chanceler das ordens honoríficas portu- guesas. Nem mais! Ora, nos anos sessenta do século passado na esteira da década antece- dente a escolha da equi- pa que ia disputar uma das zonas da 3ª divisão no distrito de Bragança confinava-se a Bragança e Mirandela, só se alargan- do alguns anos depois. A rivalidade passava dos resmungos recíprocos de narros para lá e para cá, até ao violento acertar nas viaturas dos forasteiros, passando pelos enfrenta- mentos dentro das quatro linhas do campo. A cousa com laivos épicos possuía vários actores de diferen- tes escalões e respectivas representações, jogadores ordeiros e respeitados, o grande e sorridente capi- tão Xico Ferreira e o im- pecável Luís Mesquita, o pendular Frias, o Dionísio de tremenda mão zurda no GDB, o Policarpo avançado do Mirandela. No leque dos sarrafeiros, a legião dos passa a bola não pas- sa o homem placado que esperneia no áspero cam- po pelado, alargava-se nos dois lados de tal modo que prefiro restringir-me a re- ferenciar o Moisés, o Rodi- nhas e o Tita no GDB, o Vi- nhas, o Mário e o Macedo no Mirandela. Os despiques na assis- tência levavam a cenas de “mosquitos por cordas”, os mais ferozes de língua seriam o tenente da GNR, comandante da secção ca- nhota salazarista na vila de Mirandela, agora refe- rida como princesa do Tua (o saudoso Roger enfure- cia-se com a ridícula ca- talogação), enquanto nas hostes bragançanas, o ad- vogado Eduardo Gonçal- ves semeava impropérios condenatórios dos dislates dos árbitros. No que tange a árbitros Armando (Bom- badas) e Salazar deixaram em herança acções grotes- cas a favorecer o Despor- tivo, os apitadores vindos de fora quando metiam a pata na poça (o campo após uma boa chuvada exibia muitas) entornava-se o «caldo» daí perseguições até à Mosca (estação), sen- do empregues calhaus, pe- dras, e demais auxiliares de iradas manifestações de vernáculo vocabular da nossa língua charra. Nos prélios no «está- dio» do Toural a presença de trovadores/trotadores incansáveis a dar voltas e voltas era habitual, de tempos a tempos, inci- tavam os jogadores bra- dando os nomes da sua afeição. O Senhor Veloso (Cabeça de Pau), distin- guia-se dada abrangência do clamor sem recurso a chistes de afrontamento. Agora, o «Mundo da bola» toldou-se, as tecno- logias de ponta são mais perigosas que as navalhas de ponta e mola, as claques quais émulas dos rapazes de Al Capone imperam no «jardim das delícias» do referido desporto-rei, o negócio da compra e ven- da dos atletas pouco varia relativamente ao mercado de escravos de todos os colonialismos. As multi- dões aplaudem!

Armando Fernandes