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Portugal traído e ofendido

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Assumo o papel de um qualquer normal ci- dadão, livre e de bons costumes, como sói dizer-se, e não o do analista ou comen- tarista político que não sou nem pretendo ser. Para assim poder mais li- vremente expressar a minha revolta contra a situação de- gradante e vergonhosa em que os actuais governantes colocaram Portugal, que os deverá fazer corar de vergo- nha, se vergonha tiverem. Mais uma vez se constata que na deontologia política, maquiavélica, perfilhada pe- los machuchos lusitanos tudo é legitimo. Mentir, enganar, roubar o Estado ou trair são, para eles, virtudes, porque acreditam que o povo é man- so e tudo aceita docilmente. Talvez se enganem. A presente situação políti- ca, que não é inédita, amea- ça alcançar níveis da maior opacidade e gravidade, nunca vistos em democracia. Sobre- tudo por obra e desgraça do Primeiro Ministro demissio- nário que ao longo de quase oito anos de poder não teve pejo de se rodear de correligionários de duvidosa competência e honradez, a quem foi dando cobertura obstinada, mesmo quando os acontecimentos eram manifestamente escandalosos. O que leva muito boa gente a admitir que António Costa, premeditadamente ou não, inspirou e protegeu um alargado grupo para-governamental com outros fins que não os de servir o Portugal. Certo é que o afeiçoamento de determinadas políticas governamentais a poderosos interesses privados, em detrimento do interesse nacional e do benefício das populações, é hoje mais que evidente. Lamentavelmente, com a complacência do Presidente da República, com quem durante demasiado tempo manteve uma espúria relação de promiscuidade institucional que só poderia dar no que deu: um mau presidente a potenciar um mau Primei- ro Ministro e vice-versa, com prejuízo da Nação e da Demo- cracia. Se bem que o Presiden- te da República tenha tido as necessárias, suficientes e mandatórias situações para demitir o Primeiro Ministro, pondo termo à manifesta degradação política e ética do Regime, do Estado e do Governo. Acabou por só agora reagir ao pedido de demissão do chefe do Governo, tardiamente e em desespero de causa, quando já não tinha outra saída, lançando o país num desmoralizante estado de estupefação e descrença. Tenha-se em conta que a situação actual só encontra paralelo com a que redundou na prisão do ex-Primeiro Ministro José Sócrates, muito embora a presente seja mais grave e preocupante porquanto estão agora indiciadas judicialmente, não apenas uma, mas múltiplas personalidades da “entourage” do Primeiro Ministro, correndo-se o sério risco de Portugal cair num verdadeiro caos institu- cional, político, económico e social. Para lá de que o partido político que tem suportado tão mal-afamado Governo, muito embora não tendo o monopólio, persiste em comportar-se como uma fábrica de corrupção e clientelismo, incapaz de se regenerar, processo que deveria ter iniciado imediatamente após o caso José Sócrates. Tem valido à democracia, ainda assim, o Ministério Público onde ainda existirão profissionais com arreigado sentido patriótico e deonto- lógico, muito embora, ao que consta, alguns elementos des- sa mesma classe, noutras cir- cunstâncias, se tenham pres- tado a manobras partidários subterrâneas. Não será de espantar, por- tanto, que os dignos magis- trados que desencadearam e conduzem a Operação In- fluencer estejam a ser criti- cados e atacados por todos aqueles a quem a Justiça, directa ou indirectamente, incomoda ou que para tanto são mandatados. O Primeiro Ministro, tanto quanto se sabe, demitiu-se porque quis, muito por certo por razões pessoais inconfessas e não porque tenha sido pressionado por quem quer que seja. De resto, continua actual a conhecida asserção popular “quem não deve, não teme”, pelo que os eventuais enganos no Ministério Público não justificam o monumental fracasso da governança de António Costa e da maioria absoluta que lhe tem dado suporte incondicional. É por demais óbvio, por outro lado, que todos estes acontecimentos escabrosos só são possíveis porque o Regime político vigente não sendo genuinamente democrático, é permissivo, favorece os po- líticos oportunistas, incompe- tentes e desonestos, e obsta a que a Nação não seja ampla e justamente representada nas instâncias do poder, o que é fundamental em democracia. O que nos leva a defender que, para salvação e refina- mento da democracia, entre outras reformas, todos os ac- tos ilícitos e criminais prati- cados por políticos e afins no exercício de funções públicas, no passado e no presente, devam ser entendidos e tratados como verdadeiros crimes de traição à Pátria e como tal julgados e punidos e não apenas como meras infrações aos códigos vigentes. Triste é constatar que Portugal é, hoje em dia, um país traído, ofendido e os portugueses um povo abusado e explorado

Henrique Pedro