Publicidade ao intervalo

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Como vai a viola meus caros? Essas cores e aragens da Primavera? Já andava há uns tempos para vos saudar com esta da viola. Tinha um tio-avô que cumprimentava assim as pessoas. Nunca percebi bem se era apenas algo dele ou até que ponto é que fora corrente pelo Nordeste esta expressão. De qualquer dos modos sempre me soou engraçada e original. Possuía outras originalidades que destaco e já mal se usam. Tinha uma intuição única para encontrar ninhos e camas de lebres e outros animais. Parecendo que não são cada vez menos os homens que têm esse nível de sintonia e intimidade com a natureza. Saber o que nos contam os ventos, os voos dos pássaros, os sinais das plantas, os animais que vão e os que vêm, as cores do céu de dia, as direcções nos céus limpos de noite, e um longo rol de coisas que pura e infelizmente me ultrapassam. O homem como alguém que vive na e para a natureza. Enfim, passo a publicidade familiar. Dito isto nem parece que vos venho falar de futebol depois do clímax de uma época como há muito não se via e discutia. E daqui a nada olhos e corações em França. Barrigada. A China quer apostar a fundo no futebol. A última das pretensões num país que tem tantos praticantes federados de pingue-pongue como nós de habitantes. Depois vem o badminton e não sei se me estou a esquecer de algum mas surge o basket num país que segue o modelo económico-social dos Estados Unidos da América com a mesma avidez com que um cão faminto corre atrás do bife que tem à frente. Tanto que os pingue pongues, os badmintons e outros jogos com tradição começam a ser vistos pelos jovens como algo antiquado, old school, dos tempos antigos. Agora quem vai a jogo é o futebol. A China quer apostar forte e não é só ao gastar muitos milhões em jogadores e treinadores para a superliga chinesa que só começou nos anos 90. Não esquecer que há uma China antes, onde o que era estrangeiro não tinha lugar, e outra depois dos anos 80 quando perceberam que um certo comunismo estava perto de ser expulso por acumulação de amarelos e poderiam perfeitamente lutar pela conquista do título nas quatro linhas do capitalismo. A China está a investir imenso na formação de base. Luís Figo tem cá vinte e tal escolas de futebol a funcionar e como ele muitos ex-jogadores famosos e clubes do mundo inteiro, inclusive os nossos. Saiu recentemente uma lei para o futebol marcar presença obrigatória nas escolas. Dizem que querem organizar um mundial a breve/médio prazo… e ganhá-lo… Por tudo isto a China é um país excelente para treinadores de futebol. Diria mais, a China é o país, sobretudo para os jovens treinadores com espírito aberto e vontade de descobrir e (fazer) desenvolver. Costumava jogar futebol, na verdade agora não tanto, e até fiz de treinador com a equipa da minha universidade. Quando posso jogo também noutras frentes com estrangeiros, inclusive. Proliferam ringues de futsal e futebol 7 um pouco por toda a parte. Aqui os jogadores são folhas em branco, precisam de aprender tudo, perceber o próprio jogo, coisas tão elementares como fazer um passe minimamente acertado, o guarda redes sair da linha de golo ou dominarem uma bola. Tudo! Desafiante. Por outro lado precisam de trabalhar o colectivo, o espírito de equipa e respirar futebol, perceberem que é um jogo com uma mentalidade diferente dos outros. Uma vez o André Lima, treinador de um clube de Cantão e agora também da selecção de futsal chinesa e ex-jogador e treinador em Portugal onde foi várias vezes campeão, disse-me “repara que são bons nos desportos individuais mas não se destacam em nenhum desporto colectivo”. É verdade, a sociedade chinesa é profundamente competitiva e individualista, por norma as pessoas não vivem com o hábito de cooperar, da solidariedade, da ajuda ao próximo, para além do plano familiar. Por isso é um desafio também trabalhar esse lado colectivo (numa equipa de futebol como numa sala de aula). Os chineses quando querem evoluir em algo que não é deles vão buscar profissionais de fora para se instruírem. As condições dadas são apelativas - até pelo feedback dos treinadores da Fundação Luís Figo - a necessidade é enorme e o que há a fazer e a aprender é quase tudo, um autêntico livro em branco. Jovens treinadores portugueses estão à espera de quê? Incluam China no vosso itinerário. Agora é o momento. E é isto. Fim de publicidade (absolutamente gratuita).

Manuel João Pires