class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-taxonomy page-taxonomy-term page-taxonomy-term- page-taxonomy-term-77">

            

Luís Ferreira

Vendavais - Quando melhor, cada vez pior

Portugal tem andado numa roda-viva desde a política aos incêndios que têm assolado a zona centro do país. A própria política tem-se intrometido nos incêndios não se conseguindo separar o trigo do joio nem arranjar os verdadeiros culpados de tudo o que vai acontecendo. No meio de todo o turbilhão de informações, o primeiro-ministro vem a público apaziguar as hostes e realçar os progressos da economia portuguesa. Não basta. Só os incêndios já causaram e vão causar milhões e milhões de prejuízo na economia nacional e vão levar à falência muitas empresas ligadas ao setor madeireiro e afins.
O Banco de Portugal divulgou recentemente os dados da balança de pagamentos, relativos ao final de junho, com o défice das balanças corrente e de capital a fixar-se nos 685 milhões de euros, quase o dobro dos 356 milhões registados no mesmo período de 2016. O que explica esta evolução, segundo os entendidos, é o facto de as importações aumentarem a um ritmo superior ao das exportações, apesar do ‘boom’ do turismo em Portugal, setor que registou um excedente de quase 4 mil milhões de euros.
Segundo o Banco de Portugal, até junho, a balança de bens e serviços registou um excedente de 713 milhões de euros, menos 412 milhões de euros do que no período homólogo. Mas o aumento do excedente da balança de serviços em 825 milhões de euros – devido ao bom momento do turismo – foi insuficiente para compensar o aumento do défice da balança de bens ou de mercadorias que regista as exportações e as importações de mercadorias. 
Pois é, quando nos parece que tudo está a correr bem, de repente tudo se transforma em dívidas. Por mais que o governo se esforce por nos dar uma visão optimista da nossa economia e de quanto ela flui positivamente, a realidade vem dizer outra coisa. Será que as exportações subiram para obviar a que aos turistas nada falte, mesmo que sejam os portugueses a pagar tudo isso? Ou será que a alegria do crescimento fez disparar o disparate das compras ao estrangeiro? A verdade é que nós somos um pouco assim. Se temos muito, temos de gastar e comprar do melhor. Não podemos ficar atrás dos outros! Enfim!
Quando o governo vem a público enumerar o que de bom se está a verificar na economia portuguesa e até pode ser verdade, o certo é que esconde ou omite o que está cada vez pior. Todos os partidos são de opinião que a economia está a crescer a bom ritmo, mas a economia é um bicho-de-sete-cabeças e nós nunca sabemos exatamente qual das cabeças está a falhar. A dívida pública sim, essa sabemos que é cada vez maior. Como diz o povo, alguém há de pagar! Claro, todos nós pagamos. E o principal problema é que pagamos sem ter culpa nenhuma, como sempre.
Este ano até pode ser considerado um ótimo ano no setor do turismo, mas foi péssimo no que concerne aos fogos e à destruição do património florestal e o governo limita-se a dizer que já foram apanhados 70 possíveis incendiários sem referir o que lhes vai acontecer, quando vão ser julgados e condenados por delapidarem a riqueza florestal e levar à miséria centenas de famílias que, além de ficarem sem lar, ficaram sem a possibilidade de se sustentarem porque perderam as suas hortas, as suas vinhas, familiares, referências, gado, enfim, o que lhes dava no seu dia-a-dia, a possibilidade de se manterem vivos para enfrentar o futuro, sempre incógnito e avassalador. E tudo está a demorar tempo demais para se solucionarem os casos mais prementes.
A verdade é que Portugal é um país pequeno, mas como diz o povo, com uma alma enorme, mas não chega. Efetivamente não chega tapar o sol com a peneira. É positivo informar que a nossa economia vai melhor, mas é imprescindível reafirmar que temos dívidas grandiosas e que têm estado a subir enormemente desde há dois anos para cá. Isso tem de se saber e tem de se realçar. É a outra parte da questão. Neste momento estamos a atravessar um caminho muito difícil, mesmo muito complicado, perante as desgraças que se têm verificado. A campanha eleitoral que se avizinha que sirva para abrir os olhos dos eleitores e que alerte para os perigos que têm de ser resolvidos pelos próximos autarcas. Deixem as promessas. Limitem-se à realidade para que se não pense que o presente é bom quando o futuro é péssimo. As coisas não podem continuar a ser boas para uns e más para outros. Vamos lá a nivelar!

Vendavais - Ai, ai, ai Venezuela

Podia ser o mote para uma canção, mas não é. Infelizmente não. Lá vai o tempo em que Maduro dizia, num assomo de inteligência obscura, que um passarinho lhe veio trazer recados do falecido Chavez, para que governasse a Venezuela e desse continuidade ao seu projeto político. Hoje, posta de parte essa vontade, surge uma vontade titânica de assegurar o poder a qualquer preço e mostrar ao mundo que ali quem governa não é Maduro mas a democracia para bem de todos os venezuelanos. Democracia! À sua volta ardem os fantasmas do medo, as sombras do desespero, desfazem-se os panos da esperança que cobre a vontade tétrica de uma ditadura que tenta afirmar-se contra a vontade da maioria ameaçada que não se resigna no meio deste duelo de morte. Continua a falar de democracia para impor uma constitucionalidade que lhe transmitiria todo o poder para vergar os democratas que se erguem contra ele, mesmo sem que nos estômagos haja o pão necessário para lhes dar as forças mínimas para aguentar a refrega. Este governante não frequentou a escola da democracia e por isso troca os termos como se fossem peças de um tabuleiro de xadrez, onde os peões são efetivamente os primeiros a serem derrubados. Aqui tudo é permitido antes de haver xeque ao rei. Será que vai haver?

As eleições decorreram no meio de uma sublevação nacional e onde meia dúzia de pessoas aparece nas televisões, com ar de contentamento, dizendo que votaram para bem da Venezuela e onde milhões, proibidos de se manifestarem e sob uma capa de intolerância que os levará à prisão em nome da democracia, pasme-se, se ergueram como bandeiras desfraldadas, contra ventos e marés. Mortos, presos e feridos são a base de uma construção anómala de um país forjado num poder que é cada vez mais ditatorial, ainda que a realidade que o envolve seja bem diferente. Para onde vai esta Venezuela? O que acontece à esperança de milhares de portugueses que a ajudaram a crescer e que lá enterraram anos de vida para desenterrar à pazada o futuro e o sonho de gerações e que agora regressam ao seu país sem nada, trazendo apenas o sotaque de uma língua que aprenderam e que lhes fez esquecer a sua própria língua? Por lá ficou a esperança e o sonho enterrados no enorme buraco que abriram durante tantos anos e que agora Maduro quer tapar antes que seja ele próprio a cair lá dentro. Não duvido que o medo é enorme e que um dia será ele a ser corrido por todos os que tenta enganar com palavras de uma mentalização fanática e sem sentido. É o que acontece a todos os ditadores!

São muitos os que já regressaram a Portugal, especialmente à Madeira de onde partiram há muitos anos. O governo da Região, concertado com o Nacional, irá minimizar este enorme percalço na vida destas pessoas, mas não lhes pode dar o que já perderam, porque o sonho e a esperança que levaram não têm preço. E para os mais jovens, os que nasceram lá e lá aprenderam a língua de Bolívar, há todo uma caminho a percorrer de novo, toda uma aprendizagem e uma adaptação a cumprir, mas com a enorme vantagem de possuírem a força da juventude que os levará muito mais longe, atrás de um sonho novo e de um futuro risonho. As raízes ficaram por lá e por lá vão permanecer muitos anos, a não ser que Nicolás não caia de Maduro e lhes seja permitido regressar em segurança para apanhar novamente os despojos que por lá ficaram caídos. Oxalá seja possível, para bem de todos.

E o que trouxeram estas eleições? Alguma coisa vai mudar? Quem acredita que a mudança está ao virar da esquina? Não serão estas eleições que conseguem mudar a Venezuela e o seu governo. A oposição pode ter força, mas não tem o poder. Pode ter mais gente do seu lado, mas falta-lhe a força para se afirmar perante o exército e a polícia. Não vai ser fácil a mudança. Ganhar ou perder, é quase o mesmo neste momento. Só a demissão de Maduro será solução e nunca um ditador se deu por vencido. Nunca um ditador entregou o poder nas mãos da oposição de livre vontade. A Constituição não se torce, fabrica-se, forja-se na vontade popular e não pode ser torneada pelo medo. A suposta democracia apregoada por Maduro vai ser o início do seu fim, estou certo, mas não tão cedo. Como dizia um venezuelano seu adepto, “este senhor irá cumprir o mandato até ao fim ou seja até ao próximo ano”! Será? Ai, ai Venezuela, para onde estás a ir!

Vendavais - Terra queimada

Eu tenho esperança de que todos queremos o melhor para este país sempre em ebulição informativa e quase sempre pelas piores razões. Mas ninguém julgue que somos todos uma cambada de totós que acredita em tudo o que se diz e que engolimos todas as patranhas que nos querem impingir. Isso leva-nos a sermos desconfiados, o que também não ajuda muito, mas pelo menos pode minimizar o impacto final.

Este Verão tem sido demasiado penoso para os portugueses. Depois de se anunciar uma melhoria na economia, o que nos fazia sentir mais animados e ir para férias mais descansados porque afinal o governo tinha feito bem o seu trabalho, eis que vem a público que a dívida pública tinha aumentado substancialmente, ultrapassando todos os valores anteriores. Uma no cravo, outra na ferradura!

Chegada a época dos incêndios e pensando que os anos anteriores tinham dado lições de como combater o flagelo anual, eis que surge a desgraça de Pedrógão e Góis e faz sessenta e quatro vítimas, cujos culpados não se conhecem, além do próprio fogo assassino. Quando ninguém quer as culpas, tenta-se encontrar um bode expiatório, mas nem o tal bode parece querer aparecer. Azar dos Távoras! É fácil falar de prevenção. É bonito e fica bem dizer que as coisas vão finalmente mudar e que se vai alterar o sistema e gastar mais dinheiro na tal prevenção e envolver mais instituições neste combate desigual que todos os anos consome o que de mais rico temos. Mas para trás fica a terra queimada que sustentava famílias inteiras que agora se sentam nos escombros que as cinzas deixaram e nos bancos do desespero e do abandono. Queira Deus que daqui a um ano as pessoas que perderam as suas casas e a quem tanto foi prometido, não se encontrem ainda no meio da rua à espera do teto promissor.

Como uma desgraça não vem só, eis que surge o alarme de Tancos. Chego a questionar-me se tal acontecimento não terá sido forjado com o objetivo de desviar atenções, mas a verdade é que se fosse positivo o que aconteceu, eu talvez duvidasse das notícias que foram dadas, mas mais uma vez vemos a culpas a ser arrastada pelas ruas da amargura e continuar solteira mesmo em tempo dos santos casamenteiros.

O que aconteceu com o paiol de Tancos foi realizado por quem sabe e tem capacidade para o fazer. Pode-se por-se a hipótese que, se por acaso, a ronda militar apanhasse em flagrante o grupo assaltante, muito provavelmente seria neutralizada ou até eliminada. E porquê? É que as sentinelas nos nossos quartéis andam sem carregadores municiados nas armas e apenas dispõem de um outro, nas cartucheiras, com poucos cartuchos e lacrado. Em resumo: não podem defender as instalações que lhes são confiadas, mesmo que o queiram porque retirar o carregador vazio, deslacrar o que levam na cartucheira, colocá-lo na arma e disparar é uma impossibilidade, porque antes já foram desta para melhor.

Por outro lado, se uma sentinela, no exercício da sua missão, disparar a sua arma em defesa do pessoal, das instalações ou do material que lhe estão confiados, uma coisa é certa: está metido numa encrencada que pode resultar na sua prisão e pagar grossa indemnização a um ou mais assaltantes. Resumindo, o nosso exército está a trabalhar com enormes dificuldades e as culpas não podem ser assacadas aos militares, simples comandados das elites e do governo.

Este ataque, se é que ele aconteceu, só pode ter ocorrido através da porta d'armas, a entrada principal, e não através de um buraco na vedação, que foi, segundo consta, por lá que entrou e que depois saiu a viatura pesada de transporte. Quem estava a comandar o portão principal, ou era conivente com a conspiração, ou tinha sido autorizado por algum superior a deixar entrar e sair aquele camião concreto sem fazer perguntas, nem pedir papéis, e que depois nem vasculhou o conteúdo à saída. E na cerca da vedação ninguém falou de rasto de pneus, nem de que género de viatura entrou e saiu por lá. Isto parece um filme de desenhos animados.

Enfim. Tivesse sido um conjunto de responsáveis da Base a fazer uma “exportação” de material bélico a troco de muito dinheiro ou ser somente uma aldrabice para iludir ingénuos e tudo ser orquestrado para encobrir inventários mal feitos ou mesmo uma operação dos serviços secretos destinada a desestabilizar o jogo político e a criar medo e insegurança na opinião pública, o certo é que tudo o que aconteceu em Tancos dificilmente será investigado a fundo como quer Marcelo e nunca se chegará aos culpados verdadeiros.

Deste modo quase patético e inverosímil, Portugal vai continuar a ser simplesmente uma terra queimada onde a culpa arde lentamente ao sabor das vontades políticas.

VENDAVAIS - Fases da Lua, a política e o futebol

Desde que o homem é homem que se habituou a olhar para o céu à procura de respostas às perguntas que ele próprio fazia e aos problemas que o universo constantemente lhe propunha. Como não obtivesse soluções plausíveis, procurava na Natureza algo que o satisfizesse minimamente como modo de solucionar as dúvidas que lhe surgiam.

Nessa procura incessante e no perscrutar do firmamento, a Lua surgiu como algo mais próximo e capaz de ser a solução para as explicações que ele necessitava. Estava ali mesmo à mão no meio da imensidão celestial e talvez por isso mesmo, deveria ser a resposta para algumas das muitas dúvidas que ele tinha. Mas a Lua não era sempre igual. Tinha fases e ele também não sabia explicar o porquê dessas modificações. Demorou muitos anos a encontrar alguma explicação razoável para as suas interrogações a esse propósito e ainda hoje o homem remete para a Lua a culpa de algumas coisas que sucedem na Terra.

Deste modo, é frequente ouvirem-se expressões como “está com a Lua”, “está como as fases da Lua” ou “funciona como as fases da Lua” ou ainda “está com fases”. Enfim, a Lua que resolva! A verdade é que ela aparece ou Cheia, ou Crescendo ou Minguando ou completamente Nova.

Se alguma coisa se pode comparar às interrogações e procura de respostas que o homem primitivo se colocava a si próprio, ela é a política, os políticos e o modo de fazer política, entenda-se o modo de proceder. É que este vem por fases. Nem sempre se age da mesma forma com respeito às mesmas coisas. Perde-se frequentemente a verticalidade.

De facto, quando se dizia que o ministro das Finanças era fraco e que não iria resolver os problemas do défice excessivo de Portugal, não se equacionava a possibilidade de entrar numa nova fase da economia, um pouco melhor, que levou a uma redução do montante da dívida ao FMI, aliviando deste modo, a pressão que se exercia sobre o país. Agora que estamos na porta de saída do défice excessivo, já se apressam a apelidar Centeno de “Ronaldo” da economia. Deve isto significar que o governo está em fase de Lua Cheia, mas não invalida a fase Minguante em que se encontra a dívida pública uma vez que ela está em Crescendo. No meio de todas estas fases, qual escolher? Qual a melhor?

Mas se Centeno é um suposto “Ronaldo” da economia, a realidade no futebol é quase idêntica já que o nosso Ronaldo, o melhor do Mundo, também tem as suas fases. E para sermos realistas podemos dizer que ele tem estado numa fase de Lua Cheia, mas como esta fase não dura muito tempo, segue-se a fase do Minguante. O auge que atingiu recentemente está a desmoronar-se devido à acusação de fraude fiscal posta pelo ministério público espanhol. Mas se isto se pode resolver investigando mais aprofundadamente, o mesmo já não se pode dizer do facto de a imprensa espanhola querer dividir o Ronaldo em dois. Dois? Como? Porquê? Pois é. Para os espanhóis a questão agora é não serem melindrados nem eles nem o Real Madrid por coisas de um jogador Português e que está na Seleção Portuguesa, em vez de um jogador do Real Madrid e que ganhou o Campeonato e a Champions. Afinal onde está o Ronaldo que ganhou tudo isto? Ou será que só deve contar o Ronaldo que ganhou o Campeonato Europeu pela Seleção Portuguesa? São fases diferentes! Há uma fase que os espanhóis querem ignorar. Não lhes interessa ter um Ronaldo acusado de fraude como jogador do Real. Esta fase que Portugal fique com ela. Ronaldo que aguente! Então e o campeonato de Espanha e a Champions também passam a ser de Portugal? É só uma pergunta! E se ele sair do Real? Vamos ver como se comporta ele agora na Taça das Confederações. Mas não entremos em euforias. Isto são apenas fases e estas também acabam.

Do mesmo modo parece que se está a acabar a fase de Lua Cheia do Benfica. Depois de uma fase boa, parece que tudo se está a desfazer e onde tudo era bom, passou a muito mau. E agora? Tal como o Ronaldo, também este Benfica parece estar a entrar em Minguante. Enfim. Fases!

 

 

Vendavais - Os milagres que Maio trouxe

O mês de maio é rico todos os anos em acontecimentos, uns com data marcada, outros que acontecem ao sabor do vento. Este ano não foi muito diferente.

Com data marcada está, agora e sempre, o dia 13, comemorado todos os anos com a dignidade que o dia e o acontecimento merecem. Fátima, bafejada pela graça divina, elevou-se há 100 anos ao mais alto pódio da religião cristã e se desde então tem sido palco onde se encontram os crentes e até alguns não crentes, este ano o dia mereceu a comemoração do centenário das aparições da Virgem. Também este ano e para realçar o centenário das aparições, juntaram-se mais dois eventos de relevo: a presença do Papa Francisco e a canonização dos pastorinhos. Portugal ganhou mais dois santos.

À volta da presença do Papa em Portugal, geraram-se vários comentários, que alguns acharam ter alguma relação com o facto e tudo passou a ser justificado como se de mais um milagre se tratasse. Se para uns isso foi motivo de sorrisos, para outros foram piadas de muito mau gosto. A verdade é que temos de ter mais postura e responsabilidade no que afirmamos especialmente se isso pode colidir com sentimentos e modos de estar de outros que pensam de modo diverso.

Na verdade, o facto de o Benfica ganhar o tetra pela primeira vez, não terá muito a ver com a vinda do Papa a Portugal já que o Benfica estava à frente da classificação do campeonato há já algum tempo e não se esperava grande alteração a esse respeito. Mas outros vieram dizer o contrário e até puxaram a brasa à sua sardinha ao dizer que o Porto não ganhou precisamente devido a forças externas ao mundo do futebol. Nós sabemos que em Portugal sempre se celebraram os três Fs: Fátima, Fado e Futebol, mas francamente, isto é abuso.

Outro facto que mereceu e bem, a atenção do país inteiro, foi termos ganho o Festival da Eurovisão pela primeira vez. Salvador Sobral foi, com toda a prioridade, o Salvador da Nação. Há muitos anos que perseguíamos esta vitória e chegámos mesmo a ficar em sexto lugar, mas o salto para o primeiro não estava nos melhores prognósticos nos tempos que antecederam o festival. Salvador “amou pelos dois” e Portugal agradeceu e até o ”condecorou” de certa forma ao homenageá-lo na Assembleia da República com aclamação unânime dos deputados. Também a este respeito, muitos correram a afirmar que foi mais um milagre que o Papa Francisco fez ao vir a Portugal, juntando assim uma mão cheia de “milagres” que fizessem esquecer alguns momentos menos bons que o país pudesse estar a atravessar. Enfim! Coitado do Papa Francisco! Se mais nada tivesse que fazer, isto bastava-lhe para se promover a ser o próximo santo em nome de Portugal. Pois, mas ainda há mais.

A verdade é que Costa ao anunciar a melhoria da situação económica de Portugal, a redução do défice, a redução da taxa de desemprego e mais umas descidas quase inesperadas, logo apareceu quem dissesse que se devia a mais um milagre do Papa Francisco. Pois claro! Eu, pessoalmente, não imaginava que o Papa pudesse ter tanto poder! Será que alguém imaginava? Francamente, ponho-me a pensar no que dirão os que não tiveram a sorte de serem bafejados por toda esta panóplia de favores celestiais.

Não sei se Trump é fervoroso de Nossa Senhora de Fátima ou até do Papa Francisco, mas o que lhe está a acontecer este mês de maio não lhe é muito favorável. Não sei se pelo facto de ele não ser suficientemente inteligente para não dizer certas coisas, ou se pelo facto de mesmo falta de sorte! Pode ser que esta visita ao Médio Oriente e ir até ao Muro das Lamentações, o alivie do peso que traz às costas!

Já cá dentro de portas, finalmente Passos Coelho admitiu que a economia melhorou um pouco, mas sempre foi dizendo que era preciso ter cuidado pois não vá ela voltar a piorar. É que ele baixou de 11% para 3% o défice que agora até está em 2,8%. Será que também aqui o Papa teve alguma influência? Não me parece que seja milagre, mas que este mês foi bem recheado de coisas boas, lá isso foi. Venham mais maios!

Vendavais - Na corda bamba

O equilíbrio é essencial para não se cair, mas para que ele exista é necessário saber manobrar muito bem todos os fatores. Um dos fatores é ter a consciência que a queda é sempre uma possibilidade presente, outro é que cai-se sempre muito depressa. Para baixo todos os santos ajudam!

A Europa vive neste instante, momentos cruciais, já que há eleições em vários países e, numa conjuntura difícil, nunca se sabe como vão reagir os que são chamados a votar e a decidir o futuro. Não podemos pôr de lado as várias hipóteses que se levantam aos decisores políticos, nem pensar que a tarefa lhes é fácil de concretizar.

Da França à Inglaterra, passando por Portugal, todos os partidos estão a entrar em ebulição. Neste fim-de-semana foi a vez da França. E ela tremeu. Mas não tremeu só. Toda a Europa abanou ou pelo menos receou que os resultados fossem favoráveis à extrema-direita e a França fosse abrir uma brecha enorme na coesão europeia. No meio da confusão de candidaturas, as sondagens iniciais davam a possibilidade de ganhar Le Pen e muitos franceses, talvez por um impulso primário subjacente a um incomodativo processo de desgaste socialista, quiseram mostrar que era fácil mudar de rumo. E não nos enganemos. Era mesmo fácil e é fácil. As mudanças existem, são reais e surgem quando menos se espera e no meio de conjunturas difíceis. As pessoas fartam-se de determinadas políticas e dos políticos que as exercem e quando se pensa mais com o coração do que com a cabeça, tudo pode acontecer. Felizmente, à hora de decidir, sempre pode prevalecer o bom senso. Um arrepiar do caminho! Certo é que a França andou na corda bamba algum tempo e muitos se convenceram de que era desta vez que a extrema-direita chegava ao poder. Não foi.

Na Inglaterra, a pressa do referendo levado a votação, possivelmente com o coração a bater em vez de uma cabeça a pensar, levou a um Brexit que parecia ser consensual de início, agora gera uma confusão tremenda e se fosse possível voltar atrás, estou convencido que a maioria votava contra a saída da União Europeia. Arrepiava caminho igualmente. Theresa Mae que era contra a saída, mas que teve de engolir um enorme sapo para poder ficar à frente do partido e do governo, limitou-se a continuar com o programa antes adiantado. Agora pretende que se façam eleições antecipadas para que consiga ter uma maioria confortável para manobrar o Brexit a seu favor. Isso quer dizer, minimizar os estragos da saída perante uma Europa que lhe pode ser hostil essencialmente em matérias económicas e financeiras e também sociais. Não nos podemos esquecer que na Europa estão cerca de quatro milhões de ingleses e que na Inglaterra estão igual número de continentais. Há que negociar termos de permanência e de trânsito de pessoas e bens. Shengan deixa de ser a grande referência e as fronteiras voltam a ter alguma importância. Está pois, a Inglaterra na corda bamba e vai permanecer por mais algum tempo.

Mas se quisermos passar a corda por este país à beira mar plantado, também as coisas não andam mais seguras. A Geringonça continua a dançar e a tremer ao som dos acontecimentos diários. Ora ameaça o PS, ora ataca o PC, ora adianta projetos que obrigam a tomar decisões comprometedoras ao governo de António Costa. Se ele é efetivamente um negociador hábil, ainda tem de sê-lo um pouco mais para não deixar cair o que a custo tem conseguido manter à tona.

A nível partidário, o PS anda à deriva, especialmente no que se refere às eleições autárquicas para a Câmara do Porto. Disse o que não devia, ouviu o que não queria. Moreira não precisa e rejeitou mesmo o apoio do PS. Nem as desculpas de Costa vão valer o equilíbrio, porque esse, já Moreira tinha adiantado: Pizarro vai estar na lista e na Câmara. Mas não. Enganou-se porque Costa não ficou sossegado e pescou Pizarro para encabeçar a lista. Esta é a parte do PS que está garantida. Não há coligação e o PS também não ganha tudo como queria a Vice de Costa. Era só o que faltava! Mas também o PSD não está seguro em coisa nenhuma, embora Passos venha a terreiro dizer que não tem ninguém a expulsá-lo de qualquer coligação, fazendo uma crítica velada à situação do Porto. Enfim! Tudo numa corda bamba.

Vendavais - A coragem de querer

Para querer é necessário ter coragem, muito embora muitos pensem que não. Claro que depende sempre do que se quer, mas a coragem de o afirmar estará sempre subjacente a essa vontade, mesmo que indelével na sua assunção.
Um dia o homem ao sentir-se livre em plena Natureza e desconhecendo que o mundo girava e tinha coordenadas para que cada um se situasse orientado na imensidão desconhecida do espaço universal, quis afirmar essa mesma liberdade através de diferentes modos que, sendo díspares, também eram contrários ao mesmo sentido da liberdade universal. Gerou-se a confusão. Confusão entre os homens, entenda-se.
Saltando século e séculos de aprendizagem, o homem confundiu sucessivamente como aplicar a sua primeira dádiva, que não conquista. Tentou roubar cada um para si, a liberdade que lhe fora dada ao nascer e no início dos séculos, quando ainda quase não falava e não sabia para onde ir. Perdido, orientou-se e acabou por se perder quando já conhecia os caminhos que queria seguir. Não teve coragem para corrigir o engano. Sucederam-se os enganos e faltou a coragem de querer emendar-se. Frequentemente a coragem esteve arredia na remissão dos pecados praticados.
Na universalidade dos países que compõem este mundo que continua a girar como no início, os homens continuam a querer reaver a tal liberdade que não souberam ou não tiveram a coragem de guardar e dividir por todos. Um bem precioso e duradouro, inesgotável, mas muito mal utilizado. Penso que todos o querem, mas não têm coragem de o afirmar. Não é suficiente dizer que se quer, é necessário ter coragem para o querer.
Assistimos com o passar dos tempos a exemplos onde os homens se libertaram da liberdade. Paradoxo absoluto. Em seu lugar, substituindo a liberdade, colocaram ídolos de pés de barro, que aos poucos se têm desfeito porque não têm sustentabilidade, preciosidade e a durabilidade que a liberdade exige. A esses faltou a coragem para querer a liberdade em vez dos ídolos obsoletos e irracionais cujos objetivos se esfarelam na falta de exequibilidade dos projetos em que assentam. Infelizmente hoje ainda continuamos a ver quem não tenha a coragem para querer mudar. Penso que querem mudar, mas não têm coragem para querer mudar.
O mesmo aconteceu em Portugal há muitos anos atrás. Trocou-se uma ténue liberdade, por um projeto cuja exequibilidade viria a falhar porque os homens não queriam continuar sem a dádiva inicial. Durante trinta e seis anos Portugal viveu um tempo de obscurantismo e manteve a liberdade na gaveta de onde sairia em Abril de 74, uma vez mais por vontade dos homens.
Quem governava só não teve coragem para admitir o engano por falta de coragem e porque esse engano lhe dava o poder de continuar a não ter coragem para lutar pela liberdade. Queria certamente, mas não teve a coragem de afirmar que queria efetivamente mudar. Fechado numa gaiola, tentou exercer a influência que o poder lhe permitia e viver na liberdade reduzida que a gaiola facilitava. Era necessário muito mais. Felizmente outros houve que tiveram a coragem de querer a liberdade e de derrubar a gaiola onde a liberdade era somente para alguns. Mas todos queriam esse tremendo bem que lhes permitiria descobrir os caminhos para onde ir e orientar-se neste mundo que continua a girar como no início dos séculos. Aconteceu em Portugal.
Hoje, anos depois, a liberdade continua por aí, mas muitas vezes associa-se na viagem a companhias menos aconselháveis e baralham os caminhos para onde deveriam seguir. É que a liberdade também dá ao homem a facilidade de se enganar muitas vezes. Novamente a coragem para querer desfazer o engano deve ter prioridade.
Pois é. Se a liberdade tem estas duas facetas, cabe ao homem saber o que quer e ter coragem para querer mudar e ir em busca da liberdade pura, a tal dádiva que não foi conquistada pelos homens no início dos séculos, mas que foi subestimada pelos que vieram a seguir. É preciso continuar a ter coragem de querer.

Vendavais - Juventude irreverente

Nas últimas décadas já apelidámos a juventude de muitas formas e todas elas tinham algo de substancial nessa união. Nos nossos tempos e não no desta juventude, os anos 60 marcaram a grande transformação e afirmação da juventude perante uma sociedade bastante conservadora e ciosa dos seus princípios. E a Inglaterra foi o palco dessa enorme mudança. Nascia a famosa Generation Gap. Afirmou-se com novos princípios, novos valores, novas metas e objetivos, mas não abandonou a tradição. Foi o desapertar dos laços inibidores e o dizer o que queriam realmente. Foi a juventude do amor, da paz, da alegria e do repúdio pela guerra. E foi esta juventude que acabou por escolher como palco da sua afirmação maior, os Estados Unidos em 1969, para dar um outro salto e fazer nascer a juventude Hippie. Este salto foi mais perigoso e assustador para todo o mundo.
Desde essa altura, um pouco por todo o lado, a juventude tem tido laivos de mudança, mas de pouca duração. São tiques mais ligados a ondas musicais do que a uma mensagem global que agregue a juventude como um todo. Recorrem à moda e à música para ter alguma ligação, mas não basta. É muito pouco e o cimento é demasiado fraco para aguentar a obra feita que acaba por ruir.
Em Portugal a nossa juventude não é muito diferente das outras e vai facilmente a reboque do que a moda traz, do que vêm, do que ouvem e do que se diz. Não há um mote de afirmação digno e nacional que só a ela diga respeito.
Este fim-de-semana, fomos confrontados com notícias deveras decepcionantes, relativas ao comportamento de alguns milhares de alunos que resolveram ir para Espanha passar alguns dias de férias e comemorar o que supostamente seria o ano dos finalistas do ensino secundário.
Cerca de oito mil alunos portugueses espalharam-se pelo Sul de Espanha, em dois locais deferentes e resolveram dar largas a esse contentamento, numa euforia irreverente e inapropriada, que acabou mal.
Mil alunos que estavam em Torremolinos, foram expulsos do hotel onde se sediaram porque praticaram atos indignos e desacatos com destruições à mistura, o que não foi aceite pelo dono e lhes deu ordem de expulsão depois de chamar a polícia. Os outros sete mil que estavam em outra localidade, divertiram-se, cantaram e dançaram e passaram uns dias esplêndidos sem causarem problemas a ninguém. Então porque é que estes sete mil se divertiram e souberam estar em harmonia e os outros mil só arranjaram complicações?
Penso que é tudo uma questão de cidadania, de educação, de formação cívica para não ir mais longe. É urgente formar civicamente esta juventude que sem rumo certo, quer afirmar-se pela negativa, usando métodos que põem na lama o nome do país a que pertencem e das famílias que se vêm confrontadas com situações complicadas e comprometedoras.
Não pode ser através de métodos irreverentes e sem sentido como o deste fim-de-semana, que a nossa juventude se vai afirmar. É certo que também numa concentração desta natureza há sempre alguma irreverência comportamental, alguns excessos, mas é necessário saber até onde se pode ir e essas metas têm de lhe ser ministradas o quanto antes por quem de direito, sejam os professores, sejam os pais. Agora que parece voltar a Formação Cívica às escolas, é tempo de alertar para estes problemas de irreverência que não dão bons resultados a ninguém.
Depois de toda a poeira assentar, ouvimos várias versões, tanto dos alunos como dos pais ou mesmo dos espanhóis e até podemos ficar perplexos e sem decidir a quem atribuir as culpas, mas onde há fumo, há fogo e quem o ateou não foi certamente o dono do hotel. Mas se houvesse fogo, era fácil mil alunos apaga-lo imediatamente e o que vimos foi reanimá-lo ainda mais. Assim não! Sabemos que de Espanha não vem nem bom tempo, nem bom casamento, mas então porquê ir até lá quando temos cá locais esplêndidos para passar uns dias com os colegas e amigos? Puxem pela cabeça e esqueçam as euforias do Sul de Espanha que leva sempre a maus resultados. No ano passado morreu um aluno, lembram-se? Pois foi. E onde ficou a culpa? Ninguém a quis trazer. Irreverência, somente.

 

Vendavais - Uma punhalada nas costas

Como tudo o que acontece na vida, há momentos elevados e dignos de menção e outros que são mesmo para esquecer. Na perspicácia analítica de cada um pode-se salientar o bom e o mau de tudo quanto se faz ou de quem faz. E como diz o povo, é mais difícil subir do que descer.

Exemplos, temos às dezenas e quando pensamos que se vão esfumando por entre as cogitações mundanas, eis que surgem de novo para acicatar a perspicácia de quem se sente atingido. Ou não! A verdade é que é vulgar dizer-se que somos apunhalados pelas costas por quem se diz mais amigo e isto acontece frequentemente e quando menos se espera. 

Quando Passos Coelho ganhou as eleições e se guindou a primeiro-ministro, todos diziam e afirmavam que o deveu a Miguel Relvas. Nunca foi desmentida esta influência dentro do PSD e de tal modo que o número dois de Passos Coelho era efetivamente Miguel Relvas, de tal modo que Passos parecia uma autêntica marioneta nas mãos de Relvas. Chegou uma altura em que o partido se sentiu muito incomodado com essa influência e criticou mesmo Passos Coelho de se deixar manipular tanto.

O problema que surgiu com a falsa licenciatura de Relvas e que levou ao seu afastamento do governo e até do partido, marcou o divórcio entre os dois grandes amigos. Relvas saiu, afastou-se da política direta e foi para o Brasil. País que parece predestinado a receber os políticos portugueses e não só. Parecia que Passos Coelho ficava órfão do amigo íntimo e meio desorientado e não era mentira. Muito se disse então e muito se viu depois. Facto é a perda de maioria que lhe permitisse novamente assumir o governo. E nessa altura alguém culpou Relvas por razões diversas. Ou porque fez o que não devia e deu mau nome ao partido, ou porque sem ele o partido e Passos Coelho não conseguiram renovar o mandato governativo. Ficou marcado.

Agora, e quando Passos Coelho continua a sua senda de ex-primeiro-ministro, muito à deriva e sem rumo certo por este Portugal de geringonça, o amigo Relvas vem apunhalá-lo quando menos se esperava. Do Brasil mandou recados ao partido e vem propor uma nova forma de eleição dentro do partido, imitando as diretas do partido socialista, numa alusão lógica ao modo como foi afastado José Seguro. Pois deste modo, Passos seria afastado dando lugar a nova figura de proa. Resta saber quem.

Como a amizade entre Relvas e Coelho está fortemente beliscada e não é seguramente com Passos que Relvas volta à política, é necessário arranjar outro escadote que lhe permita subir e abrir uma porta nesse setor, o mais depressa possível. Face a algumas alusões do próprio Relvas, podemos concluir que tanto Montenegro como Rui Rio seriam hipóteses sérias e ganhadoras e que afastariam definitivamente Passos Coelho da liderança do partido. Facada mais certeira ele não poderia inventar. Resta saber se Passos estaria à espera dela ou não, mas quem tem amigos destes, não precisa de inimigos.

Mas Relvas vai mais longe ao não concordar com a escolha de Teresa Leal Coelho como candidata à Câmara de Lisboa, indo de encontro a muitos notáveis do PSD a esse respeito, o que vale dizer contra Passos Coelho já que a escolha foi imposição sua e não do partido. Relvas tem muitos contactos dentro do partido e domina ainda um setor bastante alargado no aparelho o que lhe permite recolher muitos apoios que decerto poderão desmontar o que o seu ex-amigo Coelho anda a tramar. A verdade é que este sai muito beliscado de tudo isto. Parece que as asneiras não são só do outro lado do Atlântico! De facto seria muito mais apoiado e tiraria mais proventos políticos se tivesse optado por apoiar Cristas na candidatura contra Medina, mantendo uma união lógica e possivelmente muito mais ganhadora. Enfim!

Mas Relvas está à espera. E a derrota em Lisboa, deve ser, segundo ele, o passaporte para Passos Coelho abandonar definitivamente o partido. E segundo outros, já vai tarde, pois com alguma demora, desfaz o partido por inteiro! As punhaladas sucedem-se. Cuidado.

Vendavais - O diz que nunca disse

Somos o povo que somos e não é por ser assim que vamos mudar a nossa maneira de estar e de dizer as coisas que nos vêm à cabeça. De facto, é frequente dar o dito por não dito, embora isso não abone a credibilidade seja de quem for. Nós sabemos que somos assim, mas não mudamos. E não mudamos porquê? Porque simplesmente ninguém exige explicações sobre o que, no fundo, são puras mentiras ou falsas promessas.

Vem isto a propósito do que o governo disse e disso fez eco, sobre as reformas a levar a cabo na Educação a partir do próximo ano letivo. Todos ouvimos, lemos e comentámos a “decisão” do Ministério da Educação sobre grandes alterações em diferentes áreas disciplinares dando como exemplo as disciplinas de Português e Matemática que seriam objeto de redução de algumas horas para beneficiar disciplinas como História ou Geografia que necessitariam de uma nova redistribuição de horas. Durante dias e dias a fio o discurso manteve-se, embora não especificasse concretamente se seriam as disciplinas de Português e Matemática as que seriam sacrificadas e se a História e a Geografia as beneficiadas, deixando contudo, essa possibilidade em aberto já que se discutia a matriz e a operacionalização do perfil do aluno. Neste aspeto, teriam de se valorizar sempre as áreas curriculares e visto por essa óptica, faria todo o sentido essa distribuição de horas para novas disciplinas.

Pois passados alguns dias e durante o mês de Fevereiro, o Ministério da Educação veio dizer que nunca esteve equacionada qualquer redução da carga horária das disciplinas de Português e Matemática, reforçando que nunca o tinha afirmado. Sinceramente! Está tudo louco?

Como se isto não tivesse grande importância, mas querendo firmar os pés antes de poder cair, o Ministérios fez questão de voltar a afirmar que essas disciplinas não iriam sofrer qualquer redução horária. Deste modo passava uma esponja nas afirmações proferidas e alinhava em outra direção, deixando, mesmo assim, algumas dúvidas no ar especialmente no que se refere à disciplina ou tema, ou área da famosa Cidadania que não têm professores e que terão de se recrutar para o efeito. Caberá aqui os tais 25% da carga curricular que o Ministério adiantou e que as escolas poderiam gerir dentro da tal autonomia que nunca chegou?

Segundo parece, o Ministério tem vindo a contactar e a reunir com algumas escolas e associações de professores, diretores de escolas e outras identidades ligadas à educação, no sentido de aquilatar as melhores soluções a implementar, sem no entanto adiantar seja o que for que descubra o que agora está no segredo do governo. Afinal, parece que tinham começado pelo fim! As casas não se começam pelo telhado!

Resta agora perceber quando é que todo este processo estará resolvido e quando poderá ser implementado nas escolas e quais as escolas “cobaias” que o irão experimentar. Mas será que podemos contar com essa certeza? Sim, porque isso não foi desmentido pelo governo. É verdade que disse coisas que agora negou, mas também há coisas que nunca veio dizer que nunca disse e que nunca se iriam implementar. Já estamos fartos do diz que disse…, mas não disse.

Uma coisa é certa: antes de estar concluído todo o processo com as estratégias de implementação adequadas, ou não, nada vai ser divulgado e ainda bem, pois ninguém quer ser embalado em camas de sonho e acordar em esteias de arame. Haja responsabilidade no que se faz, mas também nos caberá a nós que somos os lesados ou beneficiados, uma quota de responsabilidade, pois teremos sempre de julgar os que nos impõem as suas decisões seja em que campo de análise for.

O que se pede é uma grande dose de responsabilidade por parte do governo e dos seus Ministérios e como não estamos em campanha, que parem de adiantar supostas decisões que afinal não o são, mas que dão falsas esperanças de resolver o que necessita de ser resolvido. Nem resolvem nem dão certezas de o fazer e no que se refere à Educação, é bom que se pare de experimentar reformas que também o não são e que só trazem confusão. São já anos e anos seguidos, governos e governos uns atrás dos outros a fazer experiências na Educação e o que temos visto não passa mesmo de experiências falhadas. E não venham dizer que já o tinham dito!