Luís Ferreira

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Vendavais - Juventude desnorteada

A Europa está sob uma pressão enorme e implacável. Os últimos tempos têm sido terríveis, repletos de vivências inimagináveis e de incontroláveis atitudes por parte de quem não tem qualquer noção sobre o valor da vida humana.
A verdade é que o velho continente é cobiçado quer pela sua cultura, quer pela sua situação no contexto económico mundial, pela importância estratégica que inegavelmente usufrui e além disso, como objeto de uma vingança desmesurada de base racista e religiosa. Se aparentemente isto poderia ser justificável em termos normais, deixa de o ser a partir do momento em que se influenciam mentes jovens incultas e desnorteadas para ações tão execráveis como as que acabámos de ter em Nice e em Munique, para não falar de outras menos mediáticas.
Se em Nice houve uma ligação entre o indivíduo que resolveu atropelar a multidão que festejava o dia da liberdade e o auto proclamado estado islâmico, já em Munique parece não existir tal conexão. Contudo, a juventude do primeiro, está bem patente no segundo, pois se um tinha cerca de trinta anos o outro tinha dezoito, ou seja, se o primeiro se deixou manipular por um ideal atópico, o segundo deixou-se influenciar por uma tendência recalcada que resolveu extroverter em quem não tinha culpa nenhuma. Afinal que juventude é esta?
Indiscutivelmente, a Europa está sob um fogo cerrado de indivíduos criados em cativeiro como se de animais se tratasse, com o único objetivo de servirem de armas de arremesso contra tudo o que habita neste continente. Como não se conseguem mentalizar facilmente as mentes já formatadas e mais velhas, agarram-se as mais novas, as mais desnorteadas e desequilibradas, que mais facilmente podem ser formatadas a seu bel-prazer para, sem qualquer pudor, se atirarem aos leões em pleno circo para gozo deles próprios e para mal dos que quase não chegam a vê-los desfazer-se em pedaços. Estes jovens têm de estar forçosamente muito desnorteados!
Realmente, o que leva um jovem a pegar numa arma e começar a atirar sobre as pessoas que passam à sua frente? Que gozo poderá retirar dessa atitude? E que quereria ele provar com essa maluquice? Pior do que isso, que pretendia ele demonstrar se a seguir se suicidou? Nada, absolutamente nada. Somente a prova de que era completamente desnorteado e o seu desequilíbrio serviu para matar nove pessoas, não retirando daí nenhum benefício próprio.
Em todos os casos de atentados que temos visto na Europa, nenhum dos protagonistas retirou qualquer benefício ou qualquer outro estímulo posterior já que simplesmente foram mortos ou se suicidaram para não serem apanhados e julgados. Isto é o que eles não querem. Isto é obra de uma juventude equilibrada? Não, com toda a certeza. Mas se isto mostra desequilíbrio o mesmo demonstraram os Kamikaze japoneses da segunda guerra mundial, muito embora estes não tenham sido possivelmente mentalizados numa espécie de cativeiro de guerra para se suicidarem a seguir contra os navios inimigos e, também não tinham a esperança de conquistar esta Europa onde os aliados se encontravam. Mas a juventude estava lá como agora está nestes desequilibrados. Uns e outros não provaram nem provam nada a não ser o seu desequilíbrio. É pena gastar a juventude em tão pouco tempo e sem benefício algum, numa altura em que a juventude é mais necessária para tantas coisas bem mais profícuas do que estas atrocidades.
Podemos condenar muitas coisas que a juventude faz como o casal que foi apanhado a fazer sexo na rua em pleno dia em Minsk ou mesmo o chamar ao aeroporto do Funchal, aeroporto Cristiano Ronaldo, o nosso jovem de trinta e um anos, mas estas atitudes têm um propósito de alguma forma válido, embora condenável, mas não matam ninguém. Somente irreverência no primeiro caso e presunção no segundo, já que não foi o Ronaldo que pediu que o seu nome fosse dado ao aeroporto, mas a esse respeito uns concordam e outros não. É o povo a pensar. Mas o desnorte anda por aí. É pena!

Vendavais - A força de um povo

Espalhados pelos quatro cantos do globo, os portugueses marcam a sua presença e integram-se onde quer que estejam e sabem adaptar-se perfeitamente de tal modo que são respeitados por toda a parte. Levámos connosco desde tempos imemoriais esse hábito de conhecer tudo e ensinar o que sabíamos aos que de nós nada sabiam. Marcámos território.
Assim, espalhados por este globo imenso, conseguimos impor-nos aos poucos, e levar os outros a considerar-nos como um povo com características muito próprias eivados de uma força imensa que só se consegue quando funciona em uníssono. E quando assim foi, vencemos sempre.
Foi esta força enorme, a força de um só povo, que conseguiu vencer este Europeu. Foi essa força enorme que derrotou os franceses, ciosos das suas capacidades, mas sem a força necessária para suplantar a força do povo português.
Os franceses criticaram a seleção portuguesa e disseram que Portugal nada tinha demonstrado como equipa e que estava ao alcance da França. Disseram mesmo que éramos porcos a jogar. Que jogávamos mal. Afinal o que dirão agora os franceses que desse modo criticaram Portugal?
Pelo que vimos, eles levavam a lição bem estudada. Era preciso acabar com Ronaldo, fosse como fosse. Aos vinte e cinco minutos acabaram com ele. Devem ter respirado de alívio. Mas uma seleção não é só um homem. É um povo, uma vontade, uma esperança, uma força imensa. Não havia Ronaldo, mas havia química secreta que é desconhecida dos franceses e de todos os outros povos. Uma química chamada Pátria, chamada ambição. Laços de união fortíssimos entre todos os que em campo batalharam para representar mais de onze milhões de portugueses espalhados pelo mundo desde o Minho a Timor, passando pelo Brasil e mesmo pela Austrália. Isto, a França não pode exprimir porque não tem.
Quase todos pretenderam denegrir a nossa seleção, todos a criticaram. É verdade que não começámos da melhor forma, mas como diz o povo, não se louva quem bem começa, mas quem bem acaba. Acabámos muito bem. Ganhámos o título que nos fugia há muitos anos. Vingámos a Grécia e vingámos a França. Diria mesmo que vingámos também a Alemanha, embora não se trate propriamente de vinganças. São formas de expressar o sentimento que nos vai cá dentro. Um sentimento que os emigrantes portugueses em França bem conhecem, porque vivem e convivem no meio dos franceses todos os dias e são por eles amesquinhados muitas vezes. Mas como noblesse oblige, há que aguentar e calar. Chegou o momento de falar, de gritar bem alto o nome de Portugal e enaltecer o valor de um povo, o povo português.
Parabéns aos valorosos guerreiros que, apesar de ficarem sem o seu capitão dentro das quatro linhas, manteve-se atento e sofredor fora delas, ocupando espaços que não podia para incentivar os colegas e dar-lhes a receita da força que o povo português tem e que ele bem conhece: a força da união.
Sofremos todos, como sempre sofremos. Eles ensinaram-nos a sofrer, mas também a ter esperança. Sofremos muito, mas o final valeu a pena. Como diziam os emigrantes portugueses, “temos de comer os galos” e cumprimos. Comemos na mesa deles e em casa deles.
Agora os que criticaram a seleção portuguesa, desde os espanhóis aos alemães, passando pelos franceses têm de se reverenciar e olhar para dentro de si próprios e fazerem o seu acto de contrição, se forem capazes disso. O seleccionador tinha razão quando dizia que só viria dia onze e que seria recebido em festa. Claro. Mesmo que perdesse, merecia essa festa na sua receção. Fez de tudo para garantir a manutenção e a vitória. Conseguiu. Pragmático e racional quanto baste, soube equilibrar o barco para que nunca se afundasse e chegasse a porto seguro. Teve mérito. Foi um ótimo timoneiro. Fez de Portugal Campeão Europeu pela primeira vez na História e isso ninguém lhe pode tirar.
Agora podemos dizer todos juntos e a uma só voz “somos campeões europeus”. Em evidência esteve a força de um povo com uma alma maior que o próprio mundo.

Vendavais - E agora amigos?

Os britânicos têm destas coisas! Nunca quiseram ser verdadeiramente europeus ou melhor, continentais europeus. A verdade é que não são, ou então as ilhas passariam a ser uma outra coisa diferente. Serão sempre as Ilhas Britânicas e o espaço onde se inserem, será sempre o Atlântico Norte. Paciência.
Já Napoleão tentou derrotar essa arrogância britânica com o célebre Bloqueio Continental que arrastou Portugal para três invasões francesas e não conseguiu.
A verdade é que os ingleses são muito conservadores e não conseguem virar as costas aos velhos hábitos como por exemplo, o leiteiro deixar à porta de cada um a cantarinha de alumínio ou a garrafa com o leite do dia.
Arrastados para uma união europeia onde grande parte se identificava, nunca se tornaram, contudo, verdadeiros europeus da união já que não aceitaram o euro como a sua moeda, mantendo a eterna libra. Ao longo dos anos, várias foram as negociações que foram feitas, sempre para acomodar o Reino Unido nesta falsa União. Mas compromissos são compromissos.
A União Europeia tem já 56 anos de existência e a sua construção tem sido difícil e mais difícil ainda a sua manutenção como tal. Tratados atrás de tratados têm sido assinados para envolver suscetibilidades e tendências e foi preciso, passados 56 anos, criar o célebre artigo 50 no Tratado de Lisboa em 2007 que permitia que um estado membro pudesse iniciar um processo para sair da União. Aconteceu agora. Mas os britânicos saem já? Não. Não podem.
O ponto 3 desse artigo, explica que “os Tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a partir da data de entrada em vigor do acordo de saída ou, na falta deste, dois anos após a notificação” do desejo de saída. E o mesmo ponto ainda prevê que o “Conselho Europeu, com o acordo do Estado-membro em causa, decida, por unanimidade, prorrogar esse prazo”.
Significa isto que a Grã-Bretanha continua presa à União Europeia durante mais alguns anos. Aliás, Michael Gove, o ministro da Justiça que se tornou o principal representante do governo entre os defensores da saída, disse no início do mês que o país “não sairá da União Europeia até ao fim desta legislatura”, previsto para 2020. Mas o processo não acaba aí e pode prolongar-se por mais de dez anos. Portanto, o Reino Unido está para ficar, ainda que alguns pensem que vão ser independentes já amanhã. Há ainda toda uma política interna britânica a discutir antes de uma decisão final, até porque as leis nacionais que foram adotadas na transposição de leis europeias, continuam válidas até que as autoridades nacionais decidam alterá-las. E mesmo aqui, Bruxelas continua a ter uma palavra.
E Portugal? Como é agora a dança dos tratados e das alianças? Será que Costa vai esfregar as mãos de contentamento e querer livrar-se também das exigências de Bruxelas? Não será bem assim. As coisas tornam-se um pouco mais difíceis para nós já que contamos com a Inglaterra como um dos maiores parceiros do comércio externo e também porque o nosso turismo assenta em muitos milhares de ingleses que se deslocam principalmente para o Algarve, nas suas férias de verão e não só. São muitos milhões de euros a entrar nos nossos cofres e precisamos deles. Por outro lado, há uns milhares de enfermeiros portugueses a exerce no Reino Unido e muitos que se preparam para ir para lá com base nas leis europeias da livre circulação de pessoas e bens. Será que tudo vai mudar? Algumas coisas já mudaram como sabemos, com as últimas negociações e imposições entre o Primeiro-ministro David Cameron e Bruxelas e que incluía as prestações sociais dos trabalhadores entre outras coisas. Pelos vistos, não foram suficientes para quase 52% dos ingleses. Esperemos que para estes, o nosso vinho do Porto continue a ser o melhor de todos.
Agora, meus amigos, aberto este precedente, a Europa vai viver momentos desagradáveis e contenciosos, capazes de gerar conflitos tremendos entre países membros e não só. Os independentistas da Escócia, os catalães e mesmo os franceses de extrema-direita, querem agora referendos e marcar também as suas posições. É que a Escócia, por exemplo, é pró-europeia e não pró-Inglaterra. A Espanha já está a viver um problema de independência há uns anos e agora vê agravada a situação e os independentistas da Catalunha têm agora mais força perante esta separação do Reino Unido. E a Bélgica? E a Suíça? Que papéis irão desempenhar estes países que até agora se mantiveram à margem da União Europeia? Será que a construção de uma Europa Unida vai cair por terra? Se assim for, uma vez mais, os países europeus falharam nas suas políticas, nas suas economias, nas suas exigências absurdas e não foram capazes de afirmar o que realmente os une. A Europa aberta e desimpedida foi, talvez, o ponto de toque de toda a viragem. Foi a partir daí que a Europa foi invadida por outros povos, foi a partir daí que se deu o colapso económico e foi a partir daí que se desencadeou toda a onde terrorista que se vive hoje na Europa e no Mundo.
A Europa ainda não estava preparada para esta mudança. Quando estará? Se é que algum dia vai estar.

VENDAVAIS - Redonda, mas com dois lados

Há já muitos séculos alguém conseguiu inventar uma coisa tão simples como a roda, mas que revolucionou absolutamente todo o sentido da vida que até esse momento se vivia. Foi uma questão de perspicácia apurada, observação e necessidade. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e a prova é toda uma panóplia de invenções que ao longo dos séculos foram surgindo redimensionando o dia-a-dia de todas as comunidades em todo o mundo.
Possivelmente quem inventou a roda viu muitas vezes rolar pedras e troncos pelos campos ou pelas encostas dos montes e daí surgiu a ideia de ser ele a fazer algo parecido com mais utilidade e que servisse para os seus afazeres. Acabaria por revolucionar tudo o que é possível imaginar ao cimo da Terra. Hoje tudo roda sobre rodas e quando empregamos esta frase, é precisamente para dizer que tudo está a andar muito bem. Claro!
Sabemos bem que nem tudo corre sobre rodas hoje em dia e estamos fartos de o referir diariamente a propósito de quase tudo. Mas basta uma simples coisa correr bem para melhorar o sentido de tudo o resto e consolarmo-nos com isso.
Começou há dias o Euro 2016 onde depositamos toda a nossa esperança na equipa das quinas com a esperança de conseguirmos o que nunca foi conseguido. Vinte e três bravos vão iniciar uma batalha enorme contra uma Europa imensa, em nome de um só país, pequeno, mas com uma alma do tamanho do mundo, aquele que conseguimos descobrir e aculturar. A vantagem é que a bola que eles vão movimentar é igual para todos e aí somos iguais. O contra é que a mesma bola que eles vão movimentar, apesar de ser redonda, como as pedras que levaram à invenção da roda, tem dois lados. Precisamente. É redonda, mas tem dois lados. Pois isto não é nenhuma invenção. É que só ganha um dos lados que movimenta a bola!
Os portugueses sempre gostaram de futebol e de fado e durante muito tempo arvorámos as bandeiras destes símbolos e em todo o mundo foram reconhecidos como tal. Amália e Eusébio mantiveram acesas as chamas de um Portugal que a muito custo queria afirmar-se entre os grandes, mesmo que fosse cantando o que os outros não sabem cantar ou chutando uma bola bem redonda que encantava ver passar para dentro de redes alheias. Desses tempos gloriosos ficaram as recordações imensas que continuamos a reviver.
Hoje temos igualmente entre os seleccionados, um símbolo mundial e nele depositamos aquela esperança que nos caracteriza. Cristiano Ronaldo não necessita de muitas referências ou exaltações, pois todos conhecem a sua capacidade e o seu valor, mas vai precisar do valor de todos os outros que com ele vão enfrentar essa Europa que tanto nos amedronta, embora por outras razões! Mantemos a esperança. Por que não?
Não vamos precisar de cantar diferentemente a não ser o nosso Hino sempre que entrarem em campo os valorosos onze da frente da batalha. Não há que temer. Nuno Álvares Pereira quando enfrentou os espanhóis, seis vezes mais do que nós, apesar de muito receio e um medo atroz, acabou por ganhar. Valeu-lhe a coragem de todos e, possivelmente, uma ajuda divina. É disso que continuamos à espera. Uma ajuda divina que aliada à nossa coragem e valentia, mas também muito saber, nos ajude a ganhar o que sempre nos escapou. Há sempre uma primeira vez para tudo e pode ser que desta vez o tal caneco nos calhe em sorte.
Pois é, sendo a bola redonda e igual para todos, basta que saibamos fazê-la rodar e encaminhar para o lado certo, porque, quer queiramos, quer não, só um dos lados vai poder dizer que ganhou. Esta bola da esperança tem um peso enorme, sem dúvida, mas como são vinte e três e mais uns quantos a aguentar com ela, talvez o peso seja bem repartido e possamos trazê-la para este país pequeno de tamanho, mas enorme na ambição.

 

Vendavais - Ainda hei de roubar um gato

Dizia-me um amigo há uns dias atrás que ainda havia de roubar um gato. Fiquei perplexo e a minha insistência em receber uma explicação saiu frustrada. Ainda vais perceber, disse-me. Parece-me hoje que talvez tenha atingido o que ele queria dizer.
Quando o ano letivo está a chegar ao fim, o governo resolve levantar um problema terrível e de difícil solução. A educação é um direito de todos e todos devem ter acesso a ela sem que para isso tenham de despender grandes somas de dinheiro. O ensino público é gratuito. Inicialmente gratuito só na escola primária, claro. Depois alargou-se. Foi uma conquista recente de que ninguém quer abdicar.
O meu amigo é professor e a sua ânsia de querer roubar um gato, metaforicamente falando, claro, prende-se com o facto de se dizer que quem não tem cão, caça com um gato. Mas só se for ratos, pois com gatos não se pode aceder a caça maior. Como o entendo agora!
Na realidade, levantar o problema dos colégios privados e do subsídio estatal às turmas numa altura em que o ano letivo está prestes a chegar ao fim e os exames estão à porta, não demonstra grande inteligência política e só escassamente compreendo tal atitude do governo, porque possivelmente por detrás está a pressão bloquista e comunista a esse respeito. Para esses não timings certos ou errados. È quando lhes apetece interferir e ter antena.
A posição de cada um fica com a justificação que lhe dão. Eu pessoalmente, não sou contra o ensino privado, até porque estudei sempre em colégios particulares, pois nessa altura só havia Liceus e nas capitais de distrito. Não havia alternativa. Tinha que se pagar se se queria estudar. Neste momento, a proliferação de colégios particulares não está percentualmente de acordo com o número de alunos, principalmente no interior do país, onde as distâncias são maiores e mais difíceis de percorrer. Contudo, penso que quem quer andar a estudar em colégios particulares quando tem à porta ensino público, deve pagar esse luxo. Penso que não tem de ser o Estado a pagar a educação de quem quer frequentar colégios privados, podendo estudar na escola pública se esta estiver por perto, como é o caso de muitas em Lisboa, Porto, Coimbra ou em outras cidades maiores.
Apoio o ensino privado e a liberdade de escolha, mas quem quer ter um colégio e dedicar-se ao ensino, é como ter uma empresa e portanto, terá de a saber gerir de modo a ter lucro e a governar-se com ela. Não pode estar à espera de ser o Estado a pagar-lhe as dívidas e a conseguir-lhe as turmas. Se não pode aguentar o colégio, muda de ramo. Penso que todos entendem isto. Pois se eu não posso caçar com cão, tenho de tentar caçar com gato. Será que há gatos que cheguem?
Alguma coisa terá de mudar a este respeito. A altura não foi a melhor para mexer neste assunto. Os alunos e professores ficaram abalados e durante algum tempo não vão conseguir acalmar a ansiedade que lhe tolheu os passos na reta final. Com o terceiro período a terminar e os exames à porta, exigia-se mais comedimento por parte do governo e apoiantes que se esqueceram dos alunos, pais e professores, para pôr em prática uma medida puramente economicista, tendente a colmatar as falhas de uma política que alargará o défice perante Bruxelas e corre o risco de sanções mais graves. A Escola Pública foi o argumento que serviu para esgrimir contra um privado que faz o seu serviço dentro dos parâmetros exigidos e de acordo com os contratos assinados. Mudar tudo quando falta um mês para o final do ano letivo é um atentado sem exemplo e com consequências enormes. Prova disso, foi a manifestação de mais de vinte ou trinta mil pessoas em frente à Assembleia da República no domingo passado. É muita gente para desprezar o ensino privado!
É forçoso que se chegue a um entendimento rápido e duradouro que contente as partes, pois não chega exigir que os nossos alunos atinjam metas, que tenham hábitos de estudo, que o ranking das escolas suba e que se demonstre ao resto da Europa que os níveis de sucesso estão a subir. Isto é simplesmente falacioso. Temos alunos dos melhores do mundo e a prova-lo estão alguns que enfrentam concursos internacionais e ficam nos primeiros lugares. Muitos são do ensino particular. Será que andaram à caça com gato?

Vendavais - Quem recebe os louros?

Desde os tempos muito antigos, que os heróis recebiam um reconhecimento na forma de um ramo de fores ou uma coroa de louros ou de ramos de oliveira. Só os vencedores tinham direito a esse prémio que era carregado de uma simbologia enorme. Tão grande que na Grécia antiga, alguns se tornavam heróis, adorados como deuses.
Mas se recuarmos a tempos mais antigos, encontramos igualmente casos semelhantes em que os vitoriosos acabavam por receber a coroa da vitória que os distinguia de todos os outros que com eles tinham competido de alguma forma.
O problema surge quando muitos querem ter acesso ao troféu e só um o pode receber. A luta para chegar ao fim em primeiro lugar e receber essa gratidão não é fácil e muitos atropelam-se e acabam por cair antes do fim. Mas nem tudo se resume a uma corrida. E se na Grécia antiga, o desporto era o ponto alto onde os heróis se adivinhavam e eram aclamados nesses jogos olímpicos, que acabaram por se eternizar até à actualidade, a verdade é que nos dias de hoje não é só no desporto que se entregam esses troféus. Os louros banalizaram-se e as coroas também.
Significa isto dizer que quando nos referimos à coroa de louros, não passa de uma metáfora para significar simplesmente uma vitória ou a conclusão de uma obra qualquer e portanto, alguém pode ter direito a receber os louros da vitória, nem que seja somente palavras banais de circunstância.
Não sei se isto é apanágio somente dos portugueses ou se em outros países também acontece com a mesma sofreguidão estar à espera de receber os tais louros da vitória por algo que se fez. A realidade é que se não for o interessado a reclamar, outros o farão em seu nome, sejam amigos ou mesmo a comunicação social na ânsia de noticiar e abrir casos onde muitas vezes eles não existem.
Todos têm direito à sua opinião, justa ou não, mas apontar vitórias antes do tempo e chamar pelos nomes os que poderão receber a coroa de louros, não é nem simpático, nem digno, especialmente se todos os possíveis interessados percorreram o mesmo caminho para chegar à meta.
As boas obras merecem reconhecimento. Não são necessários falsos moralismos. E em termos políticos, onde mais se notam os que querem arrecadar louros, os moralismos andam um pouco por baixo porque os interesses partidários se sobrepõem ao interesse comunitário. Penso mesmo que até as obras acabam por serem relegadas para um segundo plano em detrimento dos interesses partidários, servindo somente de salvo-conduto para poder subir ao podium.
Seja como for, quando as obras são dignas e meritosas, são elas que merecem ser relevadas, já que elas ficarão muito mais tempo do que os seus mentores. É o caso do túnel do Marão. Finalmente foi inaugurado e com toda a pompa e circunstância, noticiada em toda a comunicação social e, como não podia deixar de ser, com o frisson político habitual. Uns porque estavam, outros porque não estavam, mas deviam estar, outros que estavam porque foram convidados, outros ainda porque estar era imperioso face à grandeza da obra e, talvez ao interesse comunitário. Pois é. Uns estavam porque quiseram inaugurar uma obra que não fizeram, outros estavam porque não fizeram, mas iniciaram a obra, outros porque faz parte da praxis, outros não estiveram porque não puderam ou porque não costumam ir a inaugurações.
Afinal o que é que isso interessa? Será que a obra se vai incomodar com quem esteve ou não esteve lá? Claro que não. Quem se incomodou foi quem não devia e por razões que não lhes deveria interessar certamente. A grandeza da obra deverá sobrepor-se a todos e a tudo, nomeadamente à comunicação social. O alarido não enalteceu nem o momento nem a obra do túnel do Marão. Mas quem vai receber os louros? Quem inaugurou, quem iniciou, quem acompanhou, quem suspendeu ou quem esteve presente e, sem merecer, quis ser o candidato principal à coroa de louros? Parece-me que todos se esqueceram dos mil trabalhadores que escavaram os quase seis quilómetros de montanha. Paciência!

Vendavais - Há sempre um plano … depois de um falhanço

Estamos demasiado habituados às palavras que a maioria dos políticos proferem e do mesmo modo percebemos que elas não dizem tudo o que deveriam.
Durante muitos anos, acreditámos que poderia haver alguma verdade por detrás das frases repletas de intencionalidade, mas depois de nos apercebermos que era somente uma mão cheia de intenções, começámos a desconfiar e a não acreditar. Contudo, ao longo dos tempos ainda fomos esperando para ver o que vinha a seguir. Desencanto, puro e simples.
Hoje, penso que todos acreditamos que há sempre algo para além do que se diz e do que se promete. De facto, nos últimos tempos, os governos que se têm sucedido, muito têm prometido e, às vezes só falta jurar que é verdade o que realmente dizem e prometem para bem do povo. Mas a inocência do povo foi-se perdendo como se se tratasse de uma rapariga bonita a quem todos querem prometer tudo e mais alguma coisa. A troco de quê? Ela acaba por perceber que a sua inocência é simplesmente a moeda de troca para outros voos, mas quando a realidade cai, a noite já está demasiado escura.
Se fizermos um esforço de memória, depressa lembraremos que a maioria dos governos sempre nos prometeram melhorar a situação do país, melhorar a vida dos portugueses, diminuir a dívida e a submissão a Bruxelas ou a quem quer que seja, aumentar o emprego e os salários, enfim um sem número de coisas bonitas de ouvir, mas difíceis de cumprir e com alguma falsidade à mistura. A realidade diz-nos que cem por cento do que se promete, somente trinta são cumpridos. Cada cem promessas, traz trinta possíveis! E se calhar nem tanto.
Seja no governo ou na oposição, as promessas são sempre fáceis de fazer e para quem não tem de as executar, ainda mais fáceis são de proferir. É curioso, pois por vezes quase não se entende como é que a oposição a um qualquer governo pode fazer promessas do que não está nas suas mãos poder cumprir! Enfim! Que sejam os elementos do governo a fazê-lo, ainda aceitamos a sua boa vontade em aquietar o povo, mas o contrário já me parece mais caricato.
A verdade é que neste governo atual, isso está a acontecer. Seja o governo a prometer o que não poderá cumprir, sejam os partidos supostamente apoiantes a adiantar o que querem fazer pelo governo, empurrando este para um beco sem saída do qual só se aperceberá demasiado tarde. Ou se calhar já se apercebeu! Mas o certo é que tanto o primeiro-ministro como os partidos que o apoiam disseram que não havia nenhum plano B e mais, disseram que não seria necessário. Centeno, por meias palavras foi dizendo que se fosse necessário algum ajustamento, não interferiria com a vida do dia-a-dia dos portugueses. Costa vem a público tentar sossegar os incrédulos e desconfiados de tanta segurança política, dizendo que não havia nenhum plano B e que nada levava a que fosse necessário implementá-lo. Portanto, todos descansados!
Eis que, de um momento para o outro, passa a haver um plano B. Afinal, há ou não há? Havia ou não a necessidade de o ter na gaveta? Claro que todos têm um plano B para a eventualidade de falhar o primeiro plano, como parece ser o caso. De facto, não se pode prometer só porque é bonito e se tenta convencer os mais distraídos. A verdade vem sem ao cimo, como diz o povo e tem toda a razão. Não adianta escamoteá-la.
Bem gostaríamos de não precisar de um plano B. Era bom sinal, mas infelizmente parece que não será assim. A oposição tinha razão ao confrontar o governo numa das últimas sessões da Assembleia da República. E quem ouviu as variadas respostas, do governo e dos partidos que o apoiam, hoje podem retirar as devidas conclusões. Todos sabiam que havia um plano B e que, mais tarde ou mais cedo, vai ser necessário implementá-lo para infelicidade dos portugueses. Porquê? Quem tem culpa disto? Não me digam que é do Banif e dos Papéis de não sei onde e dos bancos todos, nacionais e estrangeiros, porque de certeza que não é dos portugueses que têm de pagar tudo isso. Estamos fartos de mentiras e de promessas bonitas e mais falsas que Judas. Basta! Estamos fartos de falhanços!

Onde pára o nosso dinheiro?

Há já bastante tempo que nos sobra mês para o dinheiro que temos. Como não consegue esticar, ele acaba-se, quando ainda vem longe o dia 30 e nada se pode fazer para contrariar tal situação.

Mas se assim acontece com a maioria dos portugueses, já a situação é outra para muitos outros que não se preocupam mesmo nada com o fim de cada mês e com o dinheiro que lhes sobra. Têm demasiado, talvez não porque o ganharam, mas porque o reproduziram, seja lá de que forma, que a nós é um pouco desconhecida.

Bem, é facto o que ouvimos agora nas notícias sobre os Papéis do Panamá e os dinheiros que andam por lá escondidos em Off-shores que são autênticas empresas fantasma. Ninguém sabe de quem são, como circula o dinheiro e quanto dinheiro pertence a quem. Nomes e mais nomes inscritos em milhões de papéis e muitos deles são portugueses e assim concluímos que algum do nosso dinheiro anda por lá a circular, internacionalizando-se, com é moda.

O que me intriga é que se ande a investigar tanta coisa por cá e não se chegue a nenhuma conclusão sobre a maior parte das coisas investigadas. A verdade é que o Estado Português anda a ser roubado. Não é ilegal ter dinheiro no estrangeiro, mas é crime não pagar os impostos desse dinheiro em Portugal. Falsas empresas há-as em todo o lado e não é só no Panamá e outros paraísos fiscais. Portugal não necessita de nenhum chapéu do Panamá, mas oferecem-lhos de borla.

Eu gosto muito de paraísos onde me possa perder à sombra de uma palmeira e onde a água do mar seja morna e apetecível, mas estes, os tais fiscais que se não pagam, não me motivam a não ser pelo prazer que me daria arrecadar nos cofres do Estado o dinheiro indevido que por lá anda a navegar e castigar os que roubam o Estado, muito embora por cá se passeiem como se nada acontecesse lá tão longe dos nossos olhos.

Mas além do Panamá há outros destinos interessantes para o nosso dinheiro. A Holanda, por exemplo, onde muitas falsas sedes de empresas portuguesas do PSI 20 são aceites, arrecada mais de 500 milhões de euros. Em 2015, segundo o jornal de negócios, distribuíram-se dividendos de 18 empresas cotadas em bolsa, no montante de mais de 2 milhões de euros, sendo que mais de dez delas levaram mais de metade do bolo e só pagaram à Holanda uma taxa de 5%, mas não pagaram a taxa portuguesa que é de 28%. Entre estas empresas está a Jerónimo Martins que tem sede na Holanda, como sabemos. Mas também a EDP distribui agora aos seus accionistas chineses, americanos e espanhóis cerca de 670 milhões de euros. Só a China Three Gorges vai encaixar 144 milhões de euros e sem pagar impostos. Isto é um roubo a Portugal. Assim não admira que andemos sempre com as calças na mão. Ao que parece, a Holanda é também um enorme paraíso fiscal, já que a taxa liberatória holandesa é de quase 50% para os dividendos resultantes de atividades na Holanda e de 5% para os das falsas sedes estrangeiras. Assim é fácil fazer dinheiro!

A taxa portuguesa é das mais baixas da Europa e não é proporcional. De facto, um taxista, por exemplo, que paga 28% do resultado do seu lucro anual em taxa de IRS, está na mesma situação de um milionário que tem um lucro de 10 milhões. Isto é normal? Claro que não.

Na realidade, perante estes factos, não é difícil saber onde pára o nosso dinheiro, não só o que devia estar no nosso bolso, como o que deveria estar nos cofres do Estado. Acho que se deveria investigar estas falsas sedes da Holanda entre outras, pois tudo o que é falso é crime, seja uma cópia de uma marca, uma fatura ou uma sede no estrangeiro onde ninguém existe para a administrar, mas onde o dinheiro flui como um rio subterrâneo. Há que acabar rapidamente com a corrupção e com esquemas de falsidade. Urgentemente.

Continente condenado

Disse Malreaux, no século passado, que “politicamente, a unidade da Europa é uma utopia. Seria preciso um inimigo comum para a unidade política da Europa e o único inimigo comum que existe é o Islão”.
Não é uma afirmação de agora, nem deste século, mas possivelmente continua a ter razão. Os últimos acontecimentos que se têm verificado na Europa, demonstram que há necessidade de uma unidade que está a falhar em toda a linha.
A questão dos migrantes, que são na sua grande maioria muçulmanos ou de religião muçulmana e que estão a invadir a Europa, fugindo das atrocidades que os seus irmãos cometem, não estão a gerar a unidade que eles esperavam e a que muitos países preconizavam.
Os últimos acontecimentos que tiveram lugar em Bruxelas, nada tendo a ver com a questão das migrações, estão relacionadas com a religião islâmica e com uma tendência de dominação que está subjacente ao ideário das mentes retorcidas de quem retorce a sua própria religião.
A este propósito, referia Condorcet, no século XVIII, que“ a religião de Maomé condena a uma escravatura eterna e a uma incurável estupidez toda esta vasta porção de terra onde ela estendeu o seu império”. Não sei se a estupidez alastra pela Europa dentro ou se fica somente no tal império que Condorcet referia, mas a verdade é que não conseguimos vislumbrar as razões sensatamente plausíveis que permitam a um muçulmano fazer-se explodir em nome de Maomé ou de Alá. Isto, nada tem de sensato!
Seja como for, a verdade é que em nome de um deus menor !! ou será o mesmo Deus ?, as mortes sucedem-se um pouco por todo o lado acompanhadas de ameaças de dominação e conquista de uma Europa que nunca lhes pertenceu. É curioso que o Corão defende a paz e abomina a guerra e a sujeição, mas é em nome deste Corão que eles produzem as maiores atrocidades. Como se compreende isto?
A explicação, se assim lhe quisermos chamar, está no que disse Chateaubriand há dois séculos atrás quando afirmou que “todos os germes de destruição social estão na religião de Maomé”. Será que já naquele tempo ele se apercebia disso? Destruição e maldade contra a humanidade de que eles também fazem parte.
Ouvimos todos os dias nos meios de comunicação social falar do proclamado estado islâmico para perceber que, embora não tendo muitos meios, nem muita força, conseguem aterrorizar uma Europa que se está a ajoelhar a seus pés, tremendo de medo e vivendo em constante sobressalto. Desde Espanha a Bruxelas, passando por França, toda a Europa parece condenada a esta ameaça abominável, levada a cabo por meia dúzia de suicidas que pensam que o seu “morrer” é diferente do dos outros e que a promessa de leite, mel e muitas mulheres, está para ser cumprida com a sua chegada ao mundo que está do lado de lá do seu próprio muro.
A falta de unidade desta Europa ajoelhada é urgente e necessária. Malreaux tinha razão e continua a ter passados tantos anos. O curioso é que ao longo dos séculos já muitos se aperceberam das verdades que tanto Condorcet como Chateaubriand proclamaram no seu tempo e até hoje nada fizeram acreditando, talvez, na boa vontade do ser humano, seja ele muçulmano ou não. Talvez. Mas é facto que estas ações em plena Europa, em vez de a unir, estão a dividi-la, a amedrontá-la e a impedir a sua união, porque isso implica guerra imediata e a Europa não quer viver mais guerras. Já teve muitas e saiu sempre a perder. Será que perde mais esta?
O que se está a verificar até agora é que as batalhas têm sido ganhas pelos muçulmanos e jhiadistas e a Europa vai tentando apanhar o que sobeja dos despojos que para trás vão ficando. Temos vindo a apanhar os destroços. Será que estamos num continente condenado a viver amedrontado?

Afetos quanto baste

Quanto vale um afeto? Muito sem sombra de dúvida. Um afeto é sinónimo de bom entendimento, de bem-querer, de pacificação.
Contudo, os afetos não são nem podem ser algo que dá só porque dá jeito ou porque fica bem. Os afetos são demasiado valiosos para se desperdiçarem e os que se dão não se recebem de volta. Talvez um reconhecimento, um acenar de cabeça em sinal de agradecimento.
Claro que há afetos e afetos. Nem todos têm o mesmo peso emocional.  Se o afeto pode significar gostar de alguém, particularmente ou globalmente, o certo é que esse gostar tem cambiantes muito diversos.
O Presidente da República eleito quer que a sua magistratura seja pautada pelos afetos. Tem todo o direito de o fazer e de querer que assim seja. E quem está à espera de os receber, certamente tudo fará para que isso aconteça. Marcelo acabou de abrir as portas a todo um povo que o elegeu e que lhe manifesta muitos afetos, como temos visto nestes primeiros dias do seu exercício. Mas a verdade é que nem todos estão dispostos a fazê-lo. Possivelmente, para esses, os afetos estão demasiado distantes.
Na tomada de posse do Presidente da República, onde estava a fina flor da sociedade portuguesa e alguns representantes estrangeiros, Marcelo foi aplaudido efusivamente mesmo ainda antes de alguém saber o que iria dizer no seu discurso de tomada de posse. Era de bom tom que se aplaudisse o homem, o magistrado, o Presidente e esperar o que ele tinha para dizer a todos os portugueses. Mas a verdade é que a esquerda, aquela que não governa, mas que condiciona e manda no governo do partido socialista, não aplaudiu o presidente. Ainda não sabiam se o que ia dizer lhes agradaria ou não e portanto, na dúvida, ficaria bem aplaudir, até porque senão foi eleito com os votos deles, vai com certeza ser o presidente de todos os portugueses e, desse ponto de vista, ganhariam certamente muitos pontos.
As criticas foram muitas e essa atitude não lhes granjeará muitos afetos e penso que também eles não estarão à espera que isso aconteça, até porque isso será o mote para as criticas que se seguem. Convinha, no entanto, fazer uma introspeção para ver se as merecem ou não.
Para Marcelo, os afetos significam entendimentos e proximidade, mas parece que nem todos são adeptos dos entendimentos e muito menos de proximidade. Em política valem as meias verdades e nem tudo o que parece o é efetivamente. O que vale são os interesses. Esses condicionam tudo e, possivelmente até os afetos.
O esfroço que o agora Presidente Marcelo terá de fazer é enorme e nem ele o terá já sopesado devidamente, sendo embora uma pessoa inteligentíssima. Mas de uma coisa ele tem a certeza: em política nada está resolvido com antecedência. Deste modo, os afetos são simplesmente intenções, boas intenções e só passarão a valer alguma coisa quando com elas conseguir resolver os problemas que se avizinham.
Falar dos problemas que se vivem no bairro do Cerco no Porto e nos pedidos a Marcelo para resolver alguns deles, não é a mesma coisa que falar dos problemas que Marcelo terá de resolver, já que os do bairro do Cerco estão a cargo do presidente do município do Porto e longe de Marcelo. Os dele estão mais perto e estendem-se a um espaço enorme onde muitos presidentes têm igualmente os seus problemas. Cá dentro de portas, são mais problemáticas as situações e vão dar-lhe mais que fazer. E é nessas ocasiões que os afetos podem valer alguma coisa ou não valerem coisa nenhuma.
A verdade é que não se pode espera muito de quem não aceitou a derrota, mas continua a querer mandar em tudo e em todos. E não penso sinceramente que os afetos resolvam esse diferendo. E mesmo que Marcelo continue a dizer que é preferível que o governo dure o seu tempo normal de vigência e eu esteja completamente de acordo com esse pressuposto, o mesmo pode não ser verdade entre os protagonistas do governo e apoiantes parlamentares. Um dos primeiros focos discordantes está em cima da mesa de negociação. O PC e o BE estão contra os apoios aos migrantes e à entrada da Turquia na União Europeia e embora o António Costa fosse dar o apoio do governo português, a verdade é que precisa de aprovação do parlamento e agora o PSD diz que vota contra. A ser assim, será reprovado e o que fará Costa? E será que Marcelo terá de usar a sua influência e todos os seus afetos para sustentar a discordância entre os partidos que apoiam Costa? E senão resultar?
Realmente os afetos têm o peso que têm e nada mais que isso. Será sempre uma boa tentativa a de Marcelo querer manter vivos os afetos e a possibilidade de entendimentos entre todos, mas se fosse assim tão simples, tudo se resolveria da mesma forma. Infelizmente não se resolvem assim. Seja como for, valham-nos os afetos e Marcelo.