class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Vendavais - À procura do Éden

Portugal, desde sempre foi procurado por muitos e bons motivos e por muita gente bem intencionada. Localizado mesmo à beirinha do Atlântico, mar aberto logo em frente, estrada de ida e volta para todo o tipo de embarcações, não seria de modo algum de descartar a possibilidade de aqui se ancorarem algumas delas.
Desde os primórdios temporais onde assenta alguma da nossa História, já por aqui vinham povos à procura de grandes negociatas, num leva e traz metafórico, incentivando desse modo, um sistema económico de trocas bastante eficaz. Com algumas lutas à mistura, uns fixaram-se por cá, outros simplesmente passaram e poucos rastos deixaram dessa fugaz passagem. Mas algo ficou, quanto mais não fosse uma leve aprendizagem que se foi transmitindo aos que por cá ficaram e desenvolveram o sistema.
Os séculos não pararam e através deles podemos ler o que escreveram os que moldaram esses tempos e o resultado que por ventura daí se possa concluir, de toda essa azáfama.
Portugal só o foi efetivamente há cerca de 900 anos, mas o território onde se insere, não seria demasiado grande para a alma lusitana que aqui se iria expandir. E foi essa alma lusitana que acabaria por definir os contornos do território, lhe marcaria as fronteiras e acabaria por dizer bem alto “aqui mandamos nós”. O “aqui” é o mesmo hoje. Não vou entrar em pormenores. Não é necessário. Claro que os nossos vizinhos não deixaram de tentar a sua sorte, mas sempre gorada. Feliz ou infelizmente, a História foi assim escrita.
Hoje, quando sentimos o peso de alguma fraqueza e a desventura de algum sucesso, acabamos por constatar que ainda há quem nos procure e queira ficar por aqui, apesar do enorme êxodo que temos sentido nos últimos anos. Se uns querem sair e outros querem vir e ficar, qual será a explicação? De facto, parece haver aqui um contrasenso, mas se calhar não há. Os que partiram foram procurar o que aqui não acharam. Os que vêm querem o que não têm, seja lá onde for. Se os que partiram tivessem cá o que os que vêm procuram, escusavam de sair. Mas isso seria difícil de satisfazer. Então o que esperam uns e outros?
Na verdade, os que partiram não tinham emprego compatível com o seu estatuto profissional e os que vêm têm estatuto profissional, mas querem muito mais e esse muito mais passa além das fronteiras que os nossos antepassados definiram. Hoje, passados séculos, as fronteiras não se limitam ao espaço terrestre. Têm outros contornos e eles são quase ilimitados.
Afinal quem demanda este país e para quê? Pois ao que parece até podemos dizer que estamos com sorte, visto que quem nos procura são gigantes económicos da área das novas tecnologias, a começar pela Google e a acabar na Amazon. Colossos económicos que se querem sediar neste Portugal de séculos à beira-mar plantado.
Ao que se diz, ninguém os chamou ou lhes prometeu contrapartidas de qualquer ordem. Ainda bem que assim é, pois não há lugar a subornos aparentes. Os investimentos são enormes e os lugares de emprego também, o que significa que temos vantagens enormes nesta concessão agradável aos que nos procuram. Sejam pois bem vindos.
O que me custa por vezes entender é a relutância com que alguns partidos políticos encaram estas coisas. Nenhum país cresce ou se desenvolve sem que o grande capital se instale e desenvolva, desde que não seja selvagem. Esse, não queremos cá. As ideias de cada um e do partido a que possa pertencer, são deles e têm todo o direito de o possuir. Ninguém lhes rouba essa privacidade, mas sejam razoáveis ao ponto de compreender que sem capital nada feito.
Portugal precisa de investimentos, nacionais ou estrangeiros, que possam dar emprego e garantias para que muitos não tenham a tentação de abandonar o território que os viu crescer e aqui deixar lágrimas de esperança nas faces de quem os vê partir. Se a Google e a Amazon querem investir aqui é porque têm razões para isso. No meio de tantas possibilidades, a escolha de Portugal não será casual certamente. O local é promissor, as pessoas também. Em termos políticos já há quem questione que razões levam estas multinacionais a investir num país onde o governo é composto por partidos extremistas de esquerda. Sim, por que sendo grupo económicos enormes, esperam ter aberturas à sua altura para os negócios internacionais que querem operar. E o espaço é enorme! Vai até ao Médio Oriente. Muitas fronteiras! Não querem entraves políticos no seu caminho e muito menos de partidos pequenos e extremistas, porque se for o caso, levantam ferro e rumam a outras paragens. Aqui, será o Éden para eles, mas também não poderá ser o paraíso para alguns malandros. Vamos estar atentos.

Restaurante O Nobre

Nos idos de 1984, no fervilhar do caldeirão político, reuníamos perto do Palácio de Belém, num restaurante chamado Rimini, nessa casa de comeres avultavam figuras militares do talante de Melo Antunes e Vítor Alves, discutia-se muito, acima de tudo a necessidade de ser formado, construído, desenvolvido um projecto político alternativo ao Bloco Central, assim foi parido o PRD.
A marcha do tempo impunha-se à marcha dos militares, em 1085 realizaram-se eleições, o PRD elegeu 45 deputados, fui um deles, os trabalhos parlamentares impunham presença assídua em Lisboa e errâncias prandiais especialmente à noite.
Numa dessas incursões o meu amigo e excelente jornalista transmontano Rogério Rodrigues disse-me (e recomendou-me) a novidade de na Ajuda existir o restaurante O Nobre onde “a nossa conterrânea Justa deliciava o palato da nata da classe política a principiar no Dr. Mário Soares”. Agradeci a informação, mal tive ensejo fui «testar» as aptidões da Chefe, de tudo quanto degustei na ocasião a sopa de santola agradou-me em excesso e ascendi à condição de cliente regular. O Sr. Nobre, tal como agora, recebia-me de forma galharda e todos quantos franqueavam a porta do restaurante cujo espaço de espera dava pretexto a bebericar vinhos intranquilos e mastigações de entreténs de boca. A seguir o gritado bródio sensorial. Num desses jantares o então Ministro Mira Amaral explicou-me quais eram as virtualidades industriais do vale do Côa, explicou a cousa de modo a estalejar gargalhadas como se fossem foguetes em honra do senhor São Pedro padroeiro da aldeia dos três deputados na altura, Amândio Gomes, Armando Vara e eu, que também entendo possuir vínculos à aldeia por raízes de quatro costados. Lá possuo uma casa herdada baptizada de Casa Buíça.
O Sr. Nobre é uma pessoa duplamente Justa, por isso obrigou-se a derribar muros de dificuldades, assumir responsabilidades dos outros, nunca perdendo o sorriso amável a receber os clientes e para consolo dos gourmets a viverem e/ou a trabalharem em Lisboa renasceu nas imediações do Campo Pequeno. E, de vez em quando ali acudo a refeiçoar não me dando ao trabalho de escolher, mas prazenteiramente dado a honrar como merecem as vitualhas saídas da cozinha onde pontifica a Dona Justa. Pois é no restaurante mais transmontano da capital que a Câmara Municipal de Bragança leva a efeito o tradicional festejo do butelo acolhendo convidados de vários saberes e sabores bem como jornalistas e profissionais das agências de comunicação.
A refeição substanciosa inclui enchidos de massa e de carne, os cuscos cuja ancestralidade está no Magrebe e forma de fazer nos fogões portáteis de cerâmica usados no deserto, e o Butelo em casamento com as casulas ou cascas. A refeição permite rever amigos, ouvir as sábias e momentosas palavras do Professor Adriano Moreira, verificarmos o entusiasmo do Dr. Hernâni Dias a apontar caminhos em direcção à cidade do cunhado do Rei Afonso Henriques, enaltecendo os nossos patrimónios imateriais e materiais a romperem a teia burocrática da Entidade de Turismo mais virada para o Douro dos cruzeiros, o Porto das pontes e o Minho do vira. Causou-me prazer ouvir o óbvio – Bragança - ~e destino capital e não adjacente.
O Nordeste Informativo esteve presente através dos seus colaboradores Ernesto Rodrigues, José Mário Leite e o autor deste escrito, aproveitámos o ensejo falando de vivências, de gente da escrita, de livros, dos livros itinerantes das Bibliotecas da Fundação Gulbenkian desaparecidas há anos, hoje entendem-se noutro figurino de presença cultural, distribui amplexos, fortíssimos ao meu Amigo desde os tempos em que fomos alunos da sempre lembrada Dona Aninhas Castro, o Comandante José Manuel Chiote, troquei piadas picadas não picantes com o Ezequiel Sequeira, osculei a Alexandra Prado Coelho do Público, e a todo o tempo e a todo transe enalteci a Terra Fria, porém o Ernesto Rodrigues só sorriu e o José Mário Leite não se exasperou. E, aguardemos a próxima edição da substanciosa Festa.

Como preferirem

Bom dia, caros amigos. Bem, um dia destes estava ler um texto de alguém que se sentia particularmente incomodado por as empresas e instituições se lhe dirigirem com este caro nas cartas que recebia em casa. Que nunca tinha sequer tomado café com eles para se porem com tantas intimidades. A língua portuguesa juntamente com os portugueses em si pode frequentemente criar uma mistura enervantemente maçadora e picuinhas. Imaginem, na nossa língua tanto podemos dizer é necessário fazermos como é necessário que façamos, o siginificado é igual, no entanto acrescentamos um que e o tempo verbal já muda radicalmente. Só para chatear. Quanto aos portugueses também são particularmente férteis a nível de picuinhice, exemplos não faltam. No que toca a formas de tratamento é o cabo do trabalhos e nem se pode dizer que seja coisa comum das línguas latinas. Se usamos o senhor(a) é porque o senhor está no céu ou me faz sentir muito velho, você nem pensar, esse é o que mais ofende as almas mais sensíveis e puritanas. Dos tempos da estrebaria. Numa dessas entrevistas que se replicaram por aí, o Zé Pedro dizia uma vez a um jornalista “trata-me por tu que o você não é nada rock n’ roll”. Achei piada. Exmº é exagerado. Prezado, estimado, não andei contigo na tropa, dona é a tua tia, somente pelo nome próprio não o conheço de lado nenhum para essas confianças. Não é fácil, missão quase impossível arranjar uma forma que sirva a todos. Melhor é fechar os olhos e escolher uma ao acaso. De qualquer dos modos haverá sempre quem não goste de bacalhau ou de arroz-doce, por isso não vale a pena perder muito tempo com o assunto. Mas atenção àqueles que fazem mesmo questão de ser tratados pelo título. Se colocam engenheiro no cartão do banco ou do Pingo Doce é por alguma coisa. É porque exigem respeitinho. É bonito e eles gostam. Com três letrinhas apenas se difere dos outros e se escreve a palavra Engº. Não omitir também presidente, director, professor e demais pafernália de profissões e dísticos quando os mesmos insistem em alardear tais letreiros. Para tudo o resto doutor, doutora, costuma servir. É carapuça que ninguém parece importar-se muito em enfiar. Pelo contrário, até sabe bem. Se tiverem que pedir alguma coisa ou agilizar algum assunto, doutor, doutora pode ser um bom começo. Doutora, tal como combinado… A probabilidade de vos pegarem de ponta pode assim reduzir-se significativamente. Deixámos de ser um país de analfabetos, para sermos um país em que todos, em algum momento, somos doutores. É o processo mormente referido como doutoramento da sociedade. Todos diferentes, todos doutores. E o princípio é o mesmo desde sempre. Isto é, a formas de tratamento mais refinadas começaram por ser uma forma de se dirigirem aos elementos da família real, vossa senhoria. Com o tempo iam-se difundindo por toda a nobreza, de primeira e de segunda. Arranjava-se outra, vossa alteza. E de cada vez que cada título se vulgarizava e se ia espalhando por ali abaixo, outros se criavam para os reis e mais altos representantes. Vossa majestade. E assim sucessivamente, desciam, banalizavam-se e outros se inventavam. Reparem que os nobres se batiam com unhas e dentes por estas etiquetas. Obviamente significavam estatuto, posição social. Não sei é se se batiam com o mesmo afinco pelo incremento das suas competências individuais, culturais ou socio-profissionais. O foco na forma, no que está por fora, no que enche o ouvido e o egozinho. O tal mesmo princípio que se mantém até hoje. Ao menos uma das coisas que o século XXI mais nos trouxe foi homogeneidade. Todos podem agora com relativa facilidade ser pelo menos doutores. Muito diferente dos tempos da Idade Média, como por exemplo nas nossas aldeias do nordeste há 50 anos atrás, onde apenas alguns poucos podiam aspirar a tão respigados tratamentos. O Bispo era o meu reverendíssimo senhor, os demais sacerdotes também seriam qualquer coisa cheia de “íssimos” e “ências” assim como o professor e talvez o regedor. O resto seriam tios e os demais mancebos, enzoneiros e pantomineiros. Penso eu de que. Sem nenhuns salamaleques, um grande abraço!