Podence pode ser uma maravilha
ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES
Se já é Assinante, faça o seu Login
INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL
Ter, 08/08/2017 - 15:56
Se já é Assinante, faça o seu Login
Ter, 08/08/2017 - 15:56
Se já é Assinante, faça o seu Login
Ter, 08/08/2017 - 15:54
Se já é Assinante, faça o seu Login
Ter, 08/08/2017 - 15:52
Se já é Assinante, faça o seu Login
Ter, 08/08/2017 - 15:49
Este sábado à noite, Bragança viveu mais uma Festa de Verão. Desde as 19 horas, ao longo da noite e madrugada, vários dj’s distribuídos por quatro palcos temáticos animaram as ruas do centro da cidade, desde a 5 de Outubro à Praça Camões.
Se já é Assinante, faça o seu Login
Ter, 08/08/2017 - 15:46
Já está em Mirandela a locomotiva do comboio que vai fazer parte do projecto de mobilidade do Parque Natural Regional do Vale do Tua.
Compulsando a literatura portuguesa, vemo-la pejada de textos onde a mulher ocupa lugar cimeiro. De produção maioritariamente masculina que no amor busca o refrigério e a sua completude, é natural que a mulher seja uma procura constante. Cantigas de Amigo e de Amor hiperbolizam a donzela. Se umas a retratam como um ser que sofre e é saudoso pelo amigo que tarda em chegar porque está no “fossado” com el-rei, noutras situações ela, idolatrada e altiva, é a razão de ser de um amador a quem a “coita de amor” não o favoreceu e pede a Deus, em alternativa, que lhe dê a morte.
E graças ao amor e à mulher, foi a língua portuguesa crescendo, até D. Dinis a emancipar, dando-lhe “carta de alforria”. Estávamos no século XIII e a Universidade chegara a Portugal denominada Estudo Geral, nessa época. O país consolidara as suas fronteiras e Alcanizes servia de palco à confirmação do território.
Muito fizeram os nossos antepassados. Homens intrépidos cujos nomes povoam os nossos compêndios aparecem na ribalta, onde se acoitam mulheres que no remanso dos lares educam filhos que continuam a construir uma história, maioritariamente masculina.
Em tempos de descobrimentos, escrita de costumes, a caminho da centralização do poder, onde os homens, inevitavelmente, têm uma parte de leão, não cabe à mulher um quinhão no alargamento do território. O Auto da Índia ou a Farsa de Inês Pereira, entre outras formas teatrais, são paradigma da fraca representação social da mulher no mundo dos homens.
Camões, no episódio da despedida de Belém, lembra as lágrimas das mulheres, o papel na construção do lar e na felicidade caseira.
Dom Francisco Manuel de Melo, conquistada a soberania, no século XVII, instado a dar conselhos a um pretendente ao casamento, escreve em Carta de Guia de Casados, palavras nada abonatórias em favor da mulher, ele que, provavelmente, terá sido vítima de amores femininos, em favor de D. João IV, seu rival e subordinante em tempos de guerra em busca da paz com Castela. Um livro de carácter misógino, onde se podem ler “pérolas” deste jaez seria bom ocupar a mulher no governo doméstico, e é bom, e é necessário, não só para que ela viva ocupada, se não para que o marido tenha menos trabalho. Ressalve-se, porém, esta afirmação, as mulheres são como as pedras preciosas, cujo valor cresce ou mingua, segundo a estimação que delas fazemos. Em forma de aviso para os incautos, Os que casam com mulheres maiores no ser, no saber e no ter estão a grandíssimo perigo.
Em governação do Marquês de Pombal, com a Real Mesa Censória a espreitar, Luís António Verney em terras transalpinas, escreve o Verdadeiro Método de Estudar, obra epistolográfica, que servirá de catecismo numa época de luzes, com Portugal à procura do progresso e de novas mentalidades, com os jesuítas a correrem apressados para o exílio em 1759.
Frade barbadinho, ligado ao ascetismo clerical, não deixa de contemplar a sua atenção sobre a educação das mulheres a que dedica grande parte do seu estudo na carta décima-sexta, talvez inspirado no Tratado de Educação das Raparigas, de Fénelon (1651-1715). Afirma Verney:
Quanto à necessidade, eu acho-a grande que as mulheres estudem. Elas, principalmente as mães de família, são as nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida: elas nos ensinam a língua; elas nos dão as primeiras ideias das coisas. E que coisa boa nos hão-de ensinar, se elas não sabem o que dizem? (…) Além disso, elas governam a casa, e a direcção do económico fica na esfera da sua jurisdição. E que coisa boa pode fazer uma mulher que não tem alguma ideia da economia.
Não tendo a pretensão de esgotar o tema, vale a pena citar Alexandre Herculano que em Eurico, o Presbítero, publicado pela primeira vez em 1843 na Revista Universal Lisbonense e no Panorama e em livro, em 1844, escrevia no preâmbulo:
Dai às paixões todo o ardor que puderdes, aos prazeres mil vezes mais intensidade, aos sentidos a máxima energia e convertei o mundo em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será um erro melancólico, os deleites serão apenas o prelúdio do tédio.
Eça de Queirós, num outro registo e num outro ciclo, anos mais tarde, aberta a porta do realismo, nos livros que são do domínio público, Os Maias, O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, A Relíquia, A Tragédia da Rua das Flores e Contos, é possível verificar que a mulher é um ser ostracizado, pecaminoso, adúltero, onde as virtudes não abundam.
Em colaboração com Ramalho Ortigão escreve As Farpas, crítica impiedosa à sociedade da época. Motivos profissionais obrigam-no a abandonar o projecto, dando origem a Uma Campanha Alegre, onde afirma que peleja contra a tolice, reduzindo a mulher a “caçadora” de marido, é possível ler o que escreve em Junho de 1871:
A caça ao marido é uma instituição. Levam-se as meninas ao teatro, aos bailes, aos passeios, para as mostrar, para se lançar à busca. Faz-se com a maior simplicidade esse acto simplesmente monstruoso. Para se imporem à atenção, as meninas têm as toilettes ruidosas, os penteados fantásticos, as árias ao piano. A sua mira é o casamento rico. Gostam do luxo, da boa mesa, das salas estofadas, um marido rico realizaria esses ideais. Mas a maior parte das vezes, o sonho cai no lajedo.
Insistindo na desvalorização da mulher, servindo-se da mulher lisboeta, como paradigma, lembra Eça de Queirós, citando Michelet:
A valia de uma geração depende da educação que recebeu das mães. O homem é profundamente filho da mulher.
Acresecentando:
Diz-me a mãe que tiveste, dir-te-ei o destino que terás.
Neste currente calmo que a temperatura nos proporciona, uma saída do habitat é sempre motivo para uma apreciação que ultrapassa as fronteiras do quotidiano e nos transporta para lá do olhar.
Elvas e a sua monumentalidade arquitectónica, praticamente ímpar no país, colocando-a como Património Mundial da Unesco em 2012, leva-nos a pensar nos seus feitos, nas suas gentes e em tutti quanti. Se o Hissope é marca de água em igreja que já foi Sé, Adelaide Cabete, ilustre elvense, é nome a reter, conforme afirma Maria José Rijo, em artigo publicado no jornal Linhas de Elvas em 20 de Outubro de 1995. De Elvas muito mais há a dizer, para além das vinte igrejas e sete conventos, conforme prospecto divulgado para turista ler e ver.
Adelaide Cabete, também, já viera a Bragança pela mão do Grupo de Teatro dos Estudantes da Escola Secundária Abade de Baçal, em Abril de 2006, orientado por Paula Romão, tendo Lídia Jorge, a autora de A Maçon, assistido à representação.
E a Elvas regressamos. Adelaide Cabete aí nasceu em 1867. Chamava-se Adelaide de Jesus. Compunha uma prole de cinco filhos, dos quais não sobrevive Jerónimo, o primogénito, pai de Arnaldo Brazão (1890-1968), que será advogado republicano, acompanhante da tia em várias lutas em que esteve envolvida, incluindo a sua partida para Angola em 1929, e onde permanece até 1934. Lídia Jorge ficcionará a viagem, publicando A Maçon, em 1997, editada pela Sociedade Portuguesa de Autores e Publicações Dom Quixote.
Isabel Lousada, de quem extraímos muita da informação contida neste texto, retrata-a como alta, morena, desembaraçada, com lindos olhos pretos e uma voz fresca..
Com a morte do pai, Adelaide, Adelaidinha, como lhe chamavam, é obrigada a trabalhar, como forma de ajudar a mãe, viúva com quatro filhos. Empregada como criada em casas abastadas, em montes alentejanos, fará a quarta classe com 18 anos, quando servia em casa de uma família de Elvas.
Em 10 de Fevereiro de 1886, casa com Manuel Ramos Fernandes Cabete, sargento num quartel em Elvas, havendo uma diferença de idade de dezoito anos. Adelaide aguarda a passagem do seu décimo nono aniversário, a 25 de Janeiro, para celebrar o casamento. Sendo menor, necessitou da autorização da mãe, Balbina Brazão, que não sabia assinar. À data do casamento assina pela última vez com o nome de solteira, adoptando posteriormente o apelido do marido, Cabete. Foi seu padrinho de casamento, Francisco Inácio Xavier da Silva, alentejano, por quem durante toda a vida mostrará sentida gratidão.
Com a colaboração do marido que se dispôs a vender as poucas terras que possuía, para elevar o nível cultural de sua mulher, matricula-se em Outubro de 1889, no Liceu Nacional de Lisboa, tendo aí o apoio continuado de Manuel Cabete. No ano lectivo de 1894/95, Adelaide conclui o curso dos Liceus, tendo o apoio do amarido que, ainda, colaborava nas tarefas domésticas.
Residindo em Lisboa e sempre incentivada pelo marido, matriculou-se em 1896 na Escola Médico-Cirúrgica, instituição onde conclui o curso em 1900, com tese defendida a 26 de Julho, intitulada Protecção às Mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações, editado no mesmo ano.
De notar, que em Portugal, desde 1870, graças ao empenho de Magalhães Lima, estavam abertas as portas da Faculdade de Medicina às mulheres. A saúde feminina atribuída às mulheres. O pudor volatilizou-se num Portugal a abrir-se para a Ciência.
Segundo Isabel Lousada, o padrinho, Francisco Inácio Xavier da Silva, ter-lhe-á deixado uma herança, sob condição de ser mantido o anonimato, para custear os trabalhos conducentes à construção de uma maternidade de raiz em Lisboa, o que efectivamente veio a acontecer, já depois do falecimento do médico obstreta, Alfredo da Costa (1859-1910), que fora seu professor.
Não esquecendo as suas origens e dando conta das dificuldades por que passavam as mulheres portuguesas, praticando, muitas vezes, o infanticídio, face ao abandono das mães solteiras a braços com gravidez não desejada ou incomportável. Adelaide Cabete faz sessões públicas de esclarecimento sobre hábitos alimentares, pedagogia e puericultura. A sua competência profissional e científica é demostrada desde muito cedo, sendo respeitada e credibilizada nas posições que toma enquanto médica, feminista e propagandista da República.
Dotada de um espírito alocêntrico, tendo sempre em vista o outro, nomeadamente os seus familiares, colabora na formação da irmã, Maria das Dores Damas Brazão, dentista pela Escola Médico-cirúrgica de Lisboa, com quem manteve consultório em Lisboa, na Rua do Ouro, nº.266-2º-Esq. Igualmente protegeu seu sobrinho Arnaldo Brazão que atingiu o posto de capitão do exército português e concluiu o curso de Direito em 1920. Foi professor liceal e da Escola Superior Colonial. Ocupando cargos de elevada importância, tem colaboração dispersa em vários jornais, sendo director do jornal A Fronteira, de Elvas, a partir do nº. 550, de 31 de Maio de 1950.
Adelaide Cabete, autora de uma vasta bibliografia, na esteira do que tinha sido a sua tese de licenciatura, e das suas preocupações, que se compaginam com os cuidados básicos de saúde, a defesa dos direitos das mulheres grávidas, os problemas da amamentação e da nutrição, a luta contra o alcoolismo iniciada nas escolas, a higiene e a puericultura, uma das formas de combater a mortalidade infantil.
Em 1907, Adelaide Cabete é iniciada por comunicação do grão-mestre Sebastião Magalhães Lima na Instituição Maçónica Grande Oriente Lusitano Unido, fundando a Loja Humanidade, com o nome simbólico de Louise Michel. De entre outras fundadoras constará Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar para a Assembleia Nacional em 1911, e Maria Veleda. A sua participação como activista não mais pára, tendo assistido e colaborado em congressos no país e no estrangeiro, bem como em jornais onde o feminismo é posto em relevo.
Muitas revistas, da época, põem em destaque a figura da cidadã, médica Dra. Adelaide Cabete, que em 1910 confecciona com Carolina Beatriz Ângelo, 20 bandeiras verdes-rubras no prazo de 48 horas, conforme notícias de um jornal coevo.
Em 1912, é admitida como médica e professora da disciplina de Higiene e Puericultura, até 1929, no Instituto Feminino de Educação e Trabalho, em Odivelas. Em 1914, funda o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, sendo reeleita sucessivamente Presidente até à década de 30, onde pugna pela emancipação social da mulher, que deseja ver liberta de preconceitos.
Durante a sua permanência em Angola, prestou apoio a obras de benemerência para os indígenas, em particular, advogando a favor da Gota de Leite, das crianças e das maternidades, tendo pedido ao Governador- Geral para ser criada uma prisão condigna para mulheres e crianças, na Fortaleza de São Pedro da Barra, denunciando as condições miseráveis e degradantes a que estavam sujeitas.
Em 1934, Adelaide Cabete e o sobrinho regressam a Lisboa, numa altura em que são proibidas as sociedades secretas e os partidos políticos. De saúde fragilizada, tendo sido atingida por uma arma de fogo, disparada fortuitamente. Em Lisboa, vítima de uma queda, parte uma perna, obrigando-a a internamento.
Falece em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, a 19 de Setembro de 1935, com 68 anos, tendo expressado a vontade de um enterro modesto, sendo amortalhada com a sua bata de médica.
Em 1995 recebe, a título póstumo, a medalha de Grande Oficial da Ordem da Liberdade, a 10 de Junho.
Não foi adoptado o Acordo Ortográfico em vigor
Inserido no processo de transformação digital da Saúde, o Centro de Contacto do SNS assume-se como um novo paradigma comunicacional e diferenciador na relação entre cidadão, profissional de saúde e as entidades do SNS.
Mais do que uma linha de atendimento, o SNS 24 aposta na criação de novos serviços complementares aos já existentes na linha de Saúde 24, desenvolvendo, progressivamente, novas respostas de serviços informativos, administrativas e de telesaude.
Batizado em Mogadouro no dia 29 de agosto de 1670, Gaspar era filho de Belchior Fernandes e Beatriz Lopes. O pai, originário de Sanfins da Castanheira, termo de Monforte de Rio Livre, foi morador na Quinta do Vimieiro, Mirandela, de onde passou à vila de Mogadouro, para servir como criado em casa de Francisco Lopes Pereira, cristão-novo, o Papagaio, de alcunha. A mãe era filha natural do mesmo Papagaio e de uma Catarina Martins.
Beatriz nascera em 27.5. 1644 e no assento de batismo ficou escrito: - “Aos 3 dias do mês de Junho de 1644, batizou o padre António Martins a Beatriz, filha de Catarina Martins, cujo pai não sabe…” Se o pai não deu o nome no batismo da filha, a verdade é que desde menina cuidou dela, criando-a em sua casa. E ainda não tinha a Beatriz completado os 13 anos, quando o pai a casou com o seu criado Belchior, no dia 25.4.1657, escrevendo-se no registo de casamento que a noiva era “filha de Francisco Lopes Pereira e Catarina Martins”. E em dote de casamento, o pai deu-lhe a quinta do Souto, também conhecida como a quinta do Papagaio. O novo casal teve 10 filhos, 3 dos quais devemos referir:
1-Maria Lopes, que casou no Mogadouro, com Manuel Lopes Dourado, de uma família cristã-nova bem conhecida na terra e assinalada pela inquisição. Um filho do casal, Gaspar Fernandes Pereira, casaria com uma filha do nosso biografado e seria também preso pelo santo ofício. (1)
2-Beatriz Pereira que casou com André Vareda, de Mogadouro. O casal emigrou para o Brasil, e por lá faleceu o André. Também a Beatriz e alguns de seus filhos, passariam pelas cadeias da inquisição. (2)
3-O terceiro dos filhos é o nosso biografado que, pelos 9/10 anos, falecendo o seu pai, (3) deixou Mogadouro e se foi para o Porto. João Ribeiro, escrivão no Mogadouro, que ensinou o menino Gaspar a ler e escrever, dirá mais tarde que “ia descalço de pé e perna e depois, com muitos cabedais, viera várias vezes a esta vila onde tinha algumas irmãs”. Na verdade, foi rápida a ascensão económica deste homem que, aos 30 anos, se afirmava como “contratador de tabacos e sabões e rendeiro de comendas”.
Como explicar tão rápida ascensão? A dúvida permanece, mas estamos em crer que foi amparado por seu tio Manuel de Aguilar, filho do avô Francisco e sua mulher, Maria Dias.
Como quer que seja, Gaspar L. Costa e Beatriz L. Costa tinham morada estabelecida no Porto, na Ferraria de Baixo, uma boa casa, avaliada em 600 mil réis e bem movimentada de crianças, já que o casal viria a ter 17 filhos. Mas vejam um resumo da vida errante deste empresário, feito pelo próprio:
- Ele se criou no Porto, ficando sem pai na idade de 9 anos e dali foi para Barcelos com o trato dos tabacos e para Vila Real e para Lisboa e assistiu no Algarve, Alentejo e Beira, onde andou por várias terras, sendo administrador dos tabacos, sem domicílio certo, exceto nas vilas de Mogadouro e Viana (do Castelo) e em Compostela e na Corte de Madrid… (4)
Entretanto os esbirros da inquisição iam seguindo os passos de Gaspar e de seus familiares e amigos. E em 1697, um médico, familiar do santo ofício, informava o comissário Tomás de Almeida:
- Em casa de Francisco Lopes Carrança vira em muitas ocasiões, quando entrava a curar na dita casa, ajuntamentos entre os quais o seu genro, Gaspar Lopes (…), Diogo Vaz Faro (…), Manuel Rodrigues (…), o médico Gaspar Dias (…), um irmão do dito médico e o médico Miguel Nunes…
Na mesma altura, perante o mesmo comissário, outro familiar acrescentava:
- Que via entrar em casa de Manuel de Aguilar, contratador de tabacos, a Fernão Dias Fernandes e a seu irmão Gaspar, médico, e a Luís Francisco e a Rodrigo Álvares da Fonseca e a Gaspar Lopes da Costa e a seu sogro, e a Diogo Vaz Faro e a Gaspar Fernandes Lopes.
Em 1702, a inquisição começou a prender membros da família dos Medina, entre eles Joana de Medina, sobrinha de Gaspar da Costa, filha de sua meia-irmã, Beatriz Angel. (5) E este terá começado a sentir o cerco apertar-se em seu redor. E tratou de proteger-se, através de uma operação de limpeza de sangue.
E conseguiu que o juiz de Mogadouro e o vigário geral da comarca despachassem favoravelmente o processo provando que ele era filho de cristãos-velhos, sem gota de sangue judeu. Mas como, se muita gente de Mogadouro se recordava de ver pendurado na igreja o “retrato” do Papagaio que fora queimado pela inquisição como judeu? (6)
Simples: ele conseguiu testemunhas provando que a sua mãe era filha de Catarina Martins e do padre Gonçalo Martins, do Azinhoso, ambos cristãos-velhos. (7) E assim, no livro de registo dos batizados de Mogadouro, foi acrescentada, à margem, a seguinte nota:
- Declaro que o pai de Beatriz que declara este assento foi o padre Gonçalo Martins, da vila do Azinhoso, e por assim estar justificada a filiação por sentença, em caso julgado cuja declaração para que conste a todo o tempo, fiz, por despacho do Dr. Vigário Geral. Mogadouro, 13 de Agosto de 1706.
Pensaria Gaspar que assim, munido com uma certidão de cristão-velho, estava protegido das garras da inquisição.
Entretanto a roda da fortuna também começou a encravar no mudo empresarial de Gaspar Costa. As dívidas à Fazenda Real chegavam aos 32 contos de réis e, por 1710, vivendo em Mogadouro, foi preso e levado para a cadeia de Miranda. Deste processo civil, não temos elementos concretos. Sabemos que saiu em liberdade condicional, como hoje se diz, ficando “preso debaixo de fiéis carcereiros”.
Na tentativa de endireitar os negócios e resolver o problema das dívidas à Fazenda, o nosso contratador mudou-se para Lisboa. E ali, entre os negócios, meteu-se a embarcar pessoas que fugiam da inquisição, ajudado por um cidadão inglês estabelecido em Lisboa, chamado João Cronque. Uma das famílias embarcadas seria a do irmão de sua mulher, João Gomes Carvalho. Este, porém, não se demorou lá e, um mês depois, estava de novo em Lisboa, apresentando-se na inquisição, onde falou de muita gente que fugia para Inglaterra, ajudada pelo seu cunhado, “passador de judeus”. Acusou ainda o cunhado de ter feito uma venda fictícia dos bens que tinha em Mogadouro a Leonor Angélica, sua irmã. (8)
Outras denúncias foram acrescentadas, já que, por aqueles anos, a inquisição fazia larga colheita entre familiares, amigos e conhecidos do nosso biografado, que foi preso em 10.7. 1725. O seu processo é deveras interessante, pois nos mostra a vida de um empresário em constante movimento, deitando mão a todos os negócios possíveis e relacionando-se com gente de toda a parte. Dele vamos apenas olhar o inventário dos bens que possuía em Mogadouro e que poderão ajudar na definição de uma “Rota dos Judeus”:
- Uma morada de casas por baixo da cadeia, com quintal, no valor de 100 mil réis; outra casa, onde mora o prior, também com quintal, avaliada em 80 mil réis; um campo de olival e horta, no sítio do Escorial, todo murado e que valia 500 ou 600 mil réis; a citada quinta do Souto; um campo de vinha e olival no sítio de Santo André.
Escusado será dizer que Gaspar Lopes da Costa acabou confessando-se judeu e ditou 3 belas orações para o processo. Terminou condenado em cárcere e hábito perpétuo, no auto de fé de 13 de outubro de 1726.
NOTAS e BIBLIOGRAFIA:
1-ANTT, inq. Lisboa, pº 8777, de Gaspar Fernandes Pereira.
2-IDEM, pº 9924, de Brites Pereira; pº 7264, de João da Costa Vareda; pº 6540, de António Lopes da Costa.
3-Belchior Fernandes faleceu em Madrid, onde ia regularmente visitar os sogros.
4-ANTT, inq. Lisboa, pº 8766, de Gaspar Lopes da Costa.
5-ANDRADE e GUIMARÃES – Percursos de Gaspar Lopes Pereira e Francisco Lopes Pereira, dois cristãos-novos de Mogadouro, in: Cadernos de Estudos Sefarditas, nº 5, pp. 253-297, Lisboa 2005
6-O “retrato” pendurado na igreja de Mogadouro respeitava a Gaspar Lopes Pereira, tio de Gaspar Lopes da Costa, que foi queimado em 10.5.1682.
7- Na verdade o padre Gonçalo também andou de amores com Catarina Martins e dela teve uma filha que se chamou Apolónia, batizada em 1 outubro de 1653. Mas o padre não a desamparou, antes a levou consigo, a criou e “tratou por filha, coisa que não fez a Beatriz que esta sempre foi tida e havida por filha do Papagaio”.
8- ANTT, inq. Lisboa, pº 8764, de João Gomes Carvalho: - Entende que o dito Gaspar Lopes da Costa lhe deu o dito conselho em razão de ter feito um escrito de venda à dita sua irmã Leonor Angélica para que não sucedesse que lhe apanhassem a dita fazenda por dívidas que devia a el-rei e portanto recear que, se as ditas suas irmãs fossem presas, ele viesse a perder sua fazenda.
Hoje o Júlio Manso e o Tomé Guerreiro encontraram-se na Taberna do Pataquim. Uma escuridão sobre o Monte Meão bifurcando-se entre a Lousa e a Cardanha prenunciava borrasca estival. Muitas vezes não passava de susto, mas pelo sim pelo não, era melhor não arriscar. Aproveitavam para alargar o diálogo a outros que igualmente se abrigavam dos humores de S. Pedro que devia ter dormido mal a sesta a avaliar pelo relampejar que estalava no céu seguido de fortes ribombadas.
– Já não passamos sem apanhar com uma boa carga d’água.
– Pode ser que não. Já puseram o S. Martinho à porta – ripostou o Júlio, molhando a palavra e aludindo à tradição centenária de colocar a imagem do Bispo de Tours no cadeirão paroquial sob a arcada da porta de entrada da igreja, para que a tempestade passe ao largo ou que não cause grande estrago.
– Com este calor, se chover, vamos apanhar com uma boa carga de míldio!
– Lá se vai o Vinho do Porto!
– Do Porto? Do Porto porquê?
– Porque é assim que é conhecido.
– Aqui não. Aqui é Vinho Fino. Do Porto não tem nada. Só o nome...
– Isso é a mais pura das verdades. Devia ser Vinho Fino do Douro. Mas o Porto é quase como um íman. Atrai tudo o que tem valor e fica com ele.
– O Vinho generoso é uma boa metáfora sobre a auto-intitulada capital do Norte. Serve-lhe às mil maneiras este norte desertificado e esquecido para que a Invicta possa, contrariamente a Lisboa, manter-se dentro da zona de convergência. Mas quando se trata de distribuir os meios adicionais que por nossa causa acaba por receber abotoa-se bem primeiro e só depois é que deixa cair algumas migalhas.
– E às vezes nem isso.
– Tens toda a razão. Às vezes nem migalhas nos tocam. Veja-se o que aconteceu quando o ex-ministro Jorge Moreira da Silva quiz que um pequeníssimo aumento nas tarifas da água nos consumidores do litoral permitisse uma assinalável baixa nos preços unitário do interior que têm custos de exploração mais elevados. Foi o Porto que liderou a contestação e que veio inviabilizar este pequeno gesto de solidariedade.
– O que é válido para a água, não devia ser também para a eletricidade? Os custos não são mais baratos aqui que no litoral?
– São, claro que são. Contudo o preço que os tripeiros pagam é rigorosamente igual ao dos transmontanos.
– Oh ti Tomé, não me diga que ainda continua com a candidatura da Agência Europeia do Medicamento atravessada.
– Atravessada não está. Porque haveria de estar? Agora, o que eu mais quero é que venha para o Porto, claro. É a única forma que temos de a ter por cá e sempre é melhor que fique em território português do que vá para outro lugar, apesar de tudo.
– Apesar de tudo? Parece pouco convicto, homem.
– Não são favas contadas, podes crer. Vai ser muito difícil ganhar essa disputa.
– Mas o Porto fez o que lhe competia...
– Pois fez. Só tem a ganhar. Ao contrário de nós.
– Ao contrário? Porquê ao contrário?
– Porque nessa competição, tal como na questão da água, nem as migalhas vamos arrecadar. Não ganhamos nada nisso e ainda podemos perder...
– Perder? Perder porquê?
– Veja bem: se a proposta portuguesa ganhar o concurso, os louros e proveito vão inteirinhos para o Porto. Para nós nada sobra dessa mesa.
– Não sobrará não, mas também não vejo que prejuízo podemos ter.
– O estrago pode ser grande. Se a União Europeia optar por outra cidade o golpe não atingirá significativamente o Porto que já fez valer e bem o seu peso relativo. Quem vai pagar o insucesso de uma troca de última hora da cidade candidata é o movimento regionalista. O Porto encontrará sempre uma outra benesse compensadora. O centralismo lisboeta é que olhará cada vez com mais desdém para a necessária descentralização.
– Mas isso não é grande novidade...
– Pois não. Só que agora já não se trata apenas de uma posição teórica e de princípio. Agora têm um exemplo para brandir. Poderão sempre argumentar que se a candidatura fosse melhor, entenda-se a original preparada por e para Lisboa, não teríamos perdido esta importante batalha! Tenham ou não tenham razão!
Um dos maiores males que presentemente afectam Portugal é o despovoamento persistente de vastas regiões do interior, que em muitas áreas rurais assume mesmo a gravidade do ermamento desolador. Fenómeno que não pode, nem deve ser atribuído a causas naturais, e muito menos ser chamado de desertificação, como levianamente se vem fazendo.
Os, transmontanos, por exemplo, procuram empregos melhor remunerados e com trabalhos mais agradáveis longe da sua terra natal porque, apesar da Mãe Natureza que os criou ser pródiga e diversificada, as prevalecentes actividades agrícolas e pecuárias, continuam a ser árduas, desprestigiadas e pouco rentáveis e, por tudo isso, nada atractivas. Acresce que, até hoje, não se conseguiu que o turismo e negócios correlativos alcançassem significativa expressão local e os empregos que o Estado faculta não são solução.
O problema é sobretudo grave porque a economia nacional continua débil e distorcida por culpa das más práticas políticas, ainda que, verdade seja dita, os resistentes, aqueles que teimam em viver nas cidades, vilas e mesmo aldeias do interior, regra geral, vivam melhor que muitos que vegetam encafuados nos bairros sombrios das grandes cidades.
Fiquei literalmente de olhos em bico quando, um destes dias, ouvi dizer a um político responsável, ainda que de segundo plano, da geringonça ou da oposição não importa (nem mesmo me dei ao trabalho de saber se seria transmontano), que Trás-os-Montes só progredirá quando for vendido aos chineses. E mais argumentava ele, com duvidoso sentido de humor, que “já lhes demos (ou deram eles, digo eu) tanta coisa de mão beijada, de maior dimensão até, como a EDP, por exemplo, que bem lhes podíamos vender agora Trás-os-Montes inteiro, por atacado”. É verdade, pensei para comigo, aos vales do Tua, do Sabor e do Rabagão, que já lhes pertencem, transformaram-nos em albufeiras imensas. Aos transmontanos resta agora aprenderem a “surfar” sem ondas.
Pessoalmente, ironia à parte, duvido, portanto, que essa fosse uma solução aceitável ainda que o problema do despovoamento ficasse resolvido com a caterva de chineses que por cá se radicaria, mesmo que não fosse para arar e semear arroz, que seria o mais certo.
Embora tal ideia não seja mais disparatada que as tão propaladas discriminação positiva e descentralização que muitos insuspeitos governantes alardeiam com o palavreado do costume, mas que não passam de boas intenções ou mesmo de presentes envenenados.
Eu tenho outra ideia melhor e mais séria que passa por dar plena expressão ao Poder Local num contexto de regionalização. Libertem Trás-os-Montes. Soltem-no das amarras partidárias. Inibam os partidos políticos de concorrer em eleições locais e de, por essa via, se apossarem das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia para as converter em coutadas privativas. Acabem com os autarcas delegados políticos dos partidos no poder ou na oposição e com os deputados simbólicos, honorários, vitalícios.
E, claro está, não vendam mais olgas e olivais para a EDP afogar. Deem vida aos rios transmontanos e às suas margens com projectos agrícolas, turísticos, energéticos e culturais convenientemente dimensionados. Façam em Trás-os-Montes os investimentos públicos mais justos e ajustados à Região e não apenas os que melhor servem os interesses do Terreiro do Paço e maiores réditos conferem ao grande capital. E não insistam na loa de discriminar positivamente Trás-os-Montes porque essa é a pior forma de descriminação.
Tornem Trás-os-Montes independente!
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico