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Tocam os sinos na torre da igreja...

Ter, 18/04/2017 - 10:33


Olá familiazinha! Estamos a viver a semana da Páscoa depois de algumas das nossas casas já terem recebido a visita de Jesus Ressuscitado na, ainda, visita pascal, havendo também outras localidades em que a visita pascal se faz tradicionalmente no próximo Domingo de Pascoela.
Chegou a hora de vos confidenciar que, dos 8 aos 14 anos, fui sacristão do saudoso cónego Ruivo, juntamente com o meu ‘professor’ de sacristia e meu vizinho na Rua Nova, Teófilo Machado, com quem aprendi a ajudar à missa e também a tocar os sinos da igreja da Sé. Conclusão: também fui sineiro! Tocava antes das missas dominicais, repicando quatro sinos ao mesmo tempo. Aprendi ainda a tocar a sinais, para anunciar a morte de alguém. Lembro-me ainda que tocando três vezes, com um intervalo de alguns segundos era para anunciar a morte de um homem; se fossem só duas vezes seria uma mulher que teria falecido. Também era usual, enquanto decorria o cortejo fúnebre de algumas pessoas mais abastadas, ser tocada a marcha fúnebre com os quatro sinos. Ainda me estão a saber bem os 20 escudos que me dava o saudoso Monteiro da funerária para estar a tocar os sinos até perder de vista o cortejo. Penso que a última vez que toquei a marcha fúnebre foi a 21 de Abril de 1987, no funeral do meu avô. Nunca mais me lembro de ter tocado mais vezes nem de que alguém o tenha feito. Esta semana vamos falar da importância do sino nas nossas terras.

 

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - António Fernandes, o cortesão (n. T. Moncorvo c. 1505)

Terá nascido em Almendra, terra de Ribacôa, sendo batizado em S. Martinho, concelho medievo de Penas Roias. O crisma tê-lo-á recebido em Bragança, assentando morada em Torre de Moncorvo, onde exercia a profissão de sapateiro e onde casou com Maria Fernandes, a maravilha, de alcunha, pelo ano de 1530.
De seus familiares, sabemos que os pais foram batizados em pé e tomariam então os nomes cristãos de Fernão Chaves e Branca Nunes. E sabemos que tinha uma irmã chamada Catarina Fernandes, casada em Mirandela e outra nomeada Francisca Nunes, casada em Vila Nova de Fozcôa.
Em 1535 foi metido na cadeia da comarca de Torre de Moncorvo, num processo algo estranho, possivelmente a mando do vigário geral da comarca, concertado com o juiz de fora, acusado de ser “mau cristão” pois que, na missa de domingo, se ia colocar “ao canto do altar de Santa catarina”, em local de onde não podia ver o sacerdote, com “tenção danada e diabólica” para não ver “alevantar a Deus”. Naquela prisão estaria uns 17 meses, sendo depois mandado para a cadeia da inquisição de Évora, com mais uma acusação: enquanto esteve preso, ninguém o viu rezar. Em Évora estaria preso uns 3 ou 4 meses, saindo por efeito do perdão geral concedido aquando da fundação do próprio santo ofício. (1)
Por mais de 20 anos viveu descansado em Torre de Moncorvo, trabalhando de sapateiro e vendo crescer 2 filhos e 3 filhas. A 20 de junho de 1558, Pero Fernandes Lima, pouco antes nomeado vigário geral da comarca pelo arcebispo Baltasar Limpo, mandou publicar um édito da fé chamando os fiéis cristãos a denunciar formalmente os “crimes” de que tinham conhecimento.
E assim apareceu uma testemunha dizendo que, 10 anos antes, em uma quinta-feira de Endoenças, entrando em casa do Cortesão, viu que tinham sobre a mesa uma galinha cozida, que logo escondeu. Acrescentou que em outra ocasião lhe ouviu dizer que “não podia crer que Nossa Senhora ficara virgem parindo”.
Outra testemunha apareceu a dizer que o vira em dias de domingo albardar a besta e sair a negociar pelas aldeias, ao passo que nos dias de sábado trabalhava menos que nos outros dias. E também disse que lhe ouviu chamar cães aos cristãos velhos, que eram descendentes dos Cananeus e que nisso apenas seguia Cristo que chamara cadela à Cananeia.
No livro das denunciações do vigário estava já registada, com data de 22.12.1552, a denúncia de uma testemunha “de idade de 15 anos, jurada e ratificada”, nos seguintes termos:
- Disse que indo a casa do réu o dia de Nª Senhora que caíra ao domingo e chamando à porta cerrada, a empuxara e entrara dentro e vira ter na mão a Isabel, filha mais velha do réu (…) uma roca na mão e lhe vira enrolar o fio no fuso e a maçaroca estava presa à manta e almofada, como que acabava de fiar quando ela testemunha entrara (…) a testemunha tem para si que ela acabara de fiar e por mor da testemunha tirara a roca dali.
Finalmente, António Fernandes era acusado de ter feito um comentário suspeito acerca de um menino filho de um cristão velho e de uma cristã-nova, dizendo: “o demo que te eu dou feito em pecado mortal”. E sendo repreendido, explicou que dissera aquilo “porque é como misturar vinho branco com vermelho”.
Os autos com estas denúncias constavam de 6 folhas de papel que o vigário Lima entregou a João Gonçalves Cordeiro, morador no Felgar, para levar à inquisição de Lisboa onde o Cortesão deu entrada em 15 de março de 1560. (2)
Vista a acusação e antes de passarmos à defesa, importa dizer que este processo é muito diferente dos que temos vindo a estudar, de datas anteriores, no que respeita aos estilos inquisitoriais. Com efeito, se antes as testemunhas eram apresentadas aos réus, agora os nomes das testemunhas são “calados” e os interrogatórios são feitos de um modo muito metódico.
Sobre a defesa apresentada pelo Cortesão, diremos que ela se concentrou em provar que por detrás de todos os testemunhos se encontrava o vigário geral, Pero Fernandes Lima e que todos eram seus inimigos declarados.
As razões da inimizade declarada entre o sapateiro e o vigário prendiam-se com a vida dissoluta do vigário que andava metido de amores com a mulher de um seu criado. E a sogra do criado, a “calva” de alcunha, é que “abria a janela” para o vigário entrar. E como a mulher do réu e a calva andaram em ralhos… tudo foi publicamente posto na rua, com o criado do vigário a ser tratado por “cornudo e alcoviteiro”.
António Fernandes explicou ao inquisidor Ambrósio Campelo que durante os dias que o teve preso em Torre de Moncorvo, o vigário andou “buscando e rogando” testemunhas falsas contra ele. E apontou, um a um, todas essas testemunhas, provando que por alguma razão eram também seus inimigos. Um deles seria o porteiro do vigário a quem o réu tinha apanhado em certa ocasião “com um couro furtado em um pelame de Fernão Rois”. Outro seria Gonçalo do Rego que o réu apanhou em relações ilícitas com uma sobrinha e a quem processou por uma dívida de 1000 réis de calçado.
Facto é que os inquisidores concluíram pelo “defecto da prova das ditas culpas vistas juntamente com a contrariedade do réu”. E as acusações contra a vida escandalosa do vigário geral da comarca não terão caído em saco roto, com o inquisidor Campelo a escrever no próprio processo de António Fernandes:
- E também se tomará informação ex ofício sobre o conteúdo nos artigos com que vem ao doutor Pero Fernandes Lima, vigário que foi da Torre de Moncorvo.
E a verdade é que, ainda o cortesão não tinha cumprido os 7 meses de sua prisão e já o licenciado Sebastião Veloso ocupava a cadeira de vigário geral da comarca de torre de Moncorvo, que Pero Lima mal chegou a aquecer. Terá sido determinante a informação prestada pelo Cortesão? Ou a mudança ficou a dever-se à nomeação de Frei Bartolomeu dos Mártires para arcebispo de Braga?
Voltemos atrás, aos interrogatórios conduzidos pelo inquisidor Campelo e que começaram com o réu a dizer que era muito bom cristão. Porém… apenas soube dizer o Pai-Nosso e “na Ave-Maria acrescentou algumas palavras; não sabia o credo, nem a salve-Rainha, nem outras orações; disse que os pecados mortais eram 10 e o primeiro era amar a Deus sobre todas as coisas”. Imagine-se a cara do inquisidor!
E também a cena passada em outra audiência com o réu a jurar que ao domingo nunca faltava à missa. E o inquisidor ripando de um papel que o vigário Lima tinha enviado com o réu e lendo:
- Hoje 10 de julho de 1559. Mando ao cura da vila da Torre que assiste na igreja e ofícios divinos a António Fernandes, cortesão, pagasse 6 réis a que foi condenado, pagasse ao meirinho, por deixar esta igreja onde está obrigado aos domingos e festas, e se ir pelas aldeias a contratar e assim pagar mais 10 réis a ele meirinho, das custas que se fizeram à sua ausência.
Razão tinha o novo arcebispo de Braga ao chamar a atenção para a ignorância religiosa dos cristãos e tomar a iniciativa de escrever o primeiro catecismo que a igreja católica conheceu. Exemplar, a este respeito o processo do Cortesão que terminou com a sentença a ser lida em mesa a 19.11.1560, registando “o defecto da prova das ditas culpas vistas juntamente com a contrariedade do réu” e decretando que António Fernandes fosse solto. Porém, constatando a sua ignorância da doutrina cristã, os inquisidores ordenaram que ficasse retido nas Escolas Gerais até ser bem instruído (…) e “ com isto satisfeito, seja solto e se vá em paz”.

NOTAS:
1-ANTT, inq. Évora, pº 7804, de António Fernandes. Em 19.4.1560, diria na inquisição de Lisboa: - Haverá mais de 25 anos o prendeu na vila de Torre de Moncorvo um juiz de fora que o mandou preso à santa inquisição à cidade de Évora onde esteve preso 3 ou 4 meses (…) e saiu livre por sentença sem pena alguma, a qual sentença tem em sua casa.
2-IDEM, inq. Lisboa, pº 9554, de António Fernandes.

Que seja a Justiça a fazer justiça à Justiça.

Tem-se a percepção de que durante muitos e bons anos de desbragada democracia a Justiça esteve completamente alheada dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influências. Crimes de cariz político, portanto.
As prisões abarrotavam de criminosos comuns, mas a fina flor dos amigos do alheio, amigos do Estado, melhor dizendo, que tratavam a Administração Pública como se fora pertença sua e a usavam para proveito próprio, era intocável.
Não passava pela cabeça de um qualquer juiz ou polícia a ideia peregrina de questionar legalmente o comportamento dos políticos, sobretudo se de príncipes partidários se tratasse. O regabofe parecia não ter fim porque os dinheiros públicos davam para tudo e para muito mais.
Ainda hoje é assim, em certa medida, porque os políticos continuam a não ser julgados como tais, mesmo quando algum governante corrupto trai a Nação e lesa a Pátria escandalosamente.
Claro que as coisas não se faziam assim tão descaradamente! Havia um certo decoro, ainda que pouco, e sempre se encenava uma sentida dedicação à causa pública, tendo por música de fundo a modernização do País. 
Os mais altos magistrados políticos e judiciários da Nação a tudo assistiam indiferentes, ou inconscientes e porque não, coniventes. Claro que o povo murmurava mas isso era coisa de invejosos e intriguistas que o populismo ainda não havia sido inventado.
Para lá de que esses mesmos, os tais, eram os grandes arautos da transparência, da justiça e da moralidade. O resultado, porém, está à vista de toda a gente: uns tantos, esses mesmos, os tais, enriqueceram desmesuradamente enquanto o Estado se empobreceu até à indigência e o povo continua a ser explorado até mais não. Confiram-se as facturas da energia, da água ou dos impostos se dúvidas houver.
A verdade é que são muitos desses, que se diziam guardiões da Justiça, que agora não querem a Justiça em casa, porque a Justiça os embaraça e lhes mete medo.
Felizmente a Justiça parece estar a querer afirmar-se, finalmente. Titubeante, é certo, sem saber bem que caminho tomar. Ainda assim o Regime corrupto vive agora a sua pior provação. Não lhe bastava a dívida pública insustentável, a abstenção eleitoral abismal, ou o crescimento ilusório da economia que não é suficiente para que os portugueses possam olhar o futuro com sossego, o Regime tem agora pela frente o teste definitivo da Justiça repartida por múltiplos megaprocessos que envolvem políticos de topo que se julgavam intocáveis.
O futuro do País e da Democracia está nas mãos de meia dúzia de magistrados de quem se espera a maior coragem, tenacidade e amor à Justiça, precisamente. Juízes que, como era de esperar, são atacados por todos os lados, ardilosamente ou às escâncaras, pelos bandos de malfeitores que é seu mister acossar, com justiça, precisamente.
Que seja a Justiça a fazer justiça à Justiça. Não os políticos e muito menos os criminosos.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

NHA TIA

Umas das maiores prorrogativas da Democracia, talvez a maior, provavelmente a Única por ser a base de todas as outras reside no direito reconhecido a todos de poderem escolher uma entre várias opções para cada um dos problemas que o tempo e as circunstâncias nos vão colocando ao logo da vida. Mesmo que quando, quer a nossa, quer a da maioria, pender sempre ou quase sempre para o mesmo lugar é bom, reconfortante e seguro saber que essa escolha resulta da convicção de bondade da mesma pois havia, há e haverá a possibilidade de preferir, promover ou adotar um caminho diferente, uma solução alternativa, um propósito diverso. É por isso com grande estranheza, com surpresa e até com alguma mágoa que se constata que, cada vez mais, muitas das resoluções dos decisores locais, nacionais e até europeus, nos aparecem como factos consumados, definitivos, sem possibilidade de argumentação ou oposição porque, dizem, “Não Havia Alternativa”. São demasiadas e cada vez mais frequentes as circunstâncias que desembocam em ruelas estreitas, apertadas, difíceis, tantas vezes, mas inevitáveis por constituirem a única saída possível. Foi, inclusivé, cunhado um acrónimo com base na enunciação em língua inglesa desta mirífica e polivalente solução: “TINA – There Is No Alternative”. Por oposição a este existe o oposto “TIA – There Is Alternative” que no nosso português configura um nome de muito maior abundância e utilização. Mesmo sendo certo que a crescente opção pelo filho único lhe diminui a vantagem, mesmo assim há e haverá sempre mais tias do que Tinas. Preferindo embora a denominação lusófona em que a opção única nos oferece como sigla um vocábulo fonético muito nosso, muito nordestino Nha pela utilização das iniciais de “Não há alternativa” mas também usado popularmente como abreviatura de “minha” (Nha mãe, nha tia – como recentemente e com muito agrado ouvi em plena Lisboa), não me conformo com a as soluções únicas trazidas e apresentadas como inevitáveis por alguns iluminados de que se supunha haver apenas (má) memória.
É que, por estranha coincidência, quando uma opção tem por justificação a inexistência de alternativa, é sempre má, prejudicial para os cidadãos e acarreta custos que, mais tarde ou mais cedo, se irão refletir no nosso bolso. Curiosamente também se verifica que quem justifica estas deliberações, quase sempre, pouco tempo antes, desde que noutras circunstâncias e com outras responsabilidades, jurava e garantia que o leque de escolhas é, para todos e qualquer dos casos, largo, vasto e com seguras vantagens sobre as decisões alheias. Assustadoramente, floresce esta teoria e maneira de ser e pensar no centro político onde até há bem pouco se encontravam as soluções governativas maioritárias. É infelizmente nos extremos, quer da esquerda, quer da direita, que aparecem e fazem caminho ideias e propostas com diferenciação clara e evidente.
Ainda há pouco tempo se falava na “esquerda caviar” para fazer a ponte entre os extremos políticos. Chegou a vez das tias para igualmente encontrar as pontas extremadas da política. É da extrema esquerda e da extrema direita que chegam as TIA’s com consistência e estabilidade perante a deriva e desnorte do tradicional centrão de TINA’s

O TURNO DA NOITE

 Na casa de meu pai nunca existiu uma televisão. Hoje está fechada e por isso continua sem televisão. Das noites da minha infância recordam-se as rezas e as conversas sobre a terra que acabavam quando a avó se levantava, abria o postigo e via o tempo – uma previsão que nunca falhava. A única janela para o mundo de lá de fora era o rádio vindo de França. Ligava-se ao serão, baixinho e, por volta das onze desligava-se. Nunca entendi porque tinha de ser assim. Também não me recordo de ter perguntado se podia ser de outro modo. Anos mais tarde, quando já era eu a rodar o botão porque achava graça aos sons e, sobretudo à procura das estações de rádio, deparei-me com umas sons estranhos que cativavam pela musicalidade mas não entendia – música árabe. Anos mais tarde deduzi que, por essa hora, seria possível ouvir a Rádio Portugal Livre ou a Voz da Liberdade, essas vozes de Argel que apelavam à resistência contra a ditadura. Seria por precaução que se desligava rádio, não houvesse alguém que, vendo luz na casa, deduzisse sermos nós ouvintes de notícias subversivas. Era o tempo do medo e da escuridão.

Veio a era da palavra farta, do cântico e da afirmação. Os mais velhos continuaram fechados aos novos sons e os mais novos simplesmente não aprenderam a escutar. Escudados pelo estereótipo do “conflito geracional”, confundiram individualidade com individualismo e falta de civismo com educação livre. Redundou isto na incapacidade de educar numa cidadania responsável quando chegou a hora de formar os filhos que, ao mesmo tempo, são netos das gerações mais velhas. É a isto que se referem os psicólogos de hoje quando, de dedo em riste, acusam que mais do que crianças hiperativas, temos pais hiperpassivos.

Viver na democracia de abril será tudo menos fácil porque se cai no laxismo e se esquece do elevado custo que outros pagaram para que, se possa, inclusivamente, falar mal da democracia. No entanto, estes valores não estão garantidos e, cada vez que há uma crise, é este modo de vida que é posto em causa, quando ainda há tanto caminho a percorrer para que valores como justiça, equidade e solidariedade sejam apanágio de todo e qualquer cidadão. A crise recente já mostrou à geração de abril que direitos, liberdades e garantias dificilmente se recuperam. Também já constatou de que a um movimento de avanço corresponde um de retrocesso, obrigando o cidadão a definir-se de acordo com o lado em que se posiciona. Tem ainda de entender-se que, em tempos de prosperidade não se podem esquecer os de carência, porque nada é eterno e os sinais de ameaça à paz e à liberdade a este modo de viver são mais que muitos nos dias que correm.     

As tensões sociais e políticas, os radicalismos e fundamentalismos emergentes fazem-nos comprar o que não queremos e vender o que não desejamos, sendo o valor maior que se aliena o da liberdade. Cabe a cada um trabalhar nesta construção mediante uma participação democrática ativa para que o turno da noite não tenha de voltar e a última locução da RPL continue a fazer sentido: "Esperamos que nunca mais seja necessário haver uma rádio clandestina, para que o povo português saiba o que se passa no seu próprio país". Para que a Europa saiba o que se passa na própria Europa – diria hoje.

Casa Transmontana de Lisboa e o IV Congresso

 
Nascida em 1905, em Lisboa, nos últimos tempos da Monarquia, «tem-se portado como o movimento dos planetas, ora em processo de regressão, ora em processo de progressão», nas palavras do último presidente da Assembleia Geral Jorge Valadares.

Tem a idade que teria meu Pai se fosse vivo. E eu que já estou na idade com que ele morreu, significa que essa Instituição já prestou relevantes serviços à Comunidade que ela representa e ao mundo da Lusofonia. Ela fez com que o seu exemplo fecundasse outros projetos semelhantes quer no país, quer na Diáspora, onde os Transmontanos chegaram, em busca de novos mundos e da sua própria sobrevivência pessoal e familiar.

Em Portugal ainda hoje funcionam as Casas do Porto, Coimbra, Guimarães, Braga, Tomar, Algarve e Viana do Castelo. Umas estão em plenitude, com sede própria, como Lisboa, Porto e Braga. Outras pagam renda como Guimarães e Coimbra e outras têm espaços reservados, onde regularmente confraternizam e tomam decisões. Penso que é esse o caso de Tomar, Viana do Castelo e Algarve.

Em Luanda (Angola), funcionou em instalações próprias, o Clube Transmontano que foi o ponto de Encontro de muitos Transmontanos que iam do «puto» ou por lá andavam a precisar de apoio. No Brasil há diversas casas e núcleos, em S. Paulo e no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos existe a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Newark. E também em França existem diversos núcleos, uns mais ativos do que outros, mas todos com fins solidários com as pessoas e com as terras de origem. Foi da Casa-Mãe de Lisboa  que, em 1920 e em 1941, se realizaram os dois Primeiros Congressos de Trás-os-Montes, que tiveram por palco cidades dos dois distrito de Bragança e de Vila Real. Em 2002 voltou a realizar-se o III, mas já com a envolvência de todas as Casas Transmontanas do continente que, anos antes, fundaram a Federação das Casas Regionais. Ato que decorreu na congénere do Porto. Esse Congresso reuniu, cerca de 1200 participantes, para o que também a Associação dos Municípios que tinha sede em Murça, delegou no Presidente da autarquia de Bragança, Eng.º Jorge Nunes que foi o grande obreiro desse acontecimento. Se no I congresso teve Óscar Carmona, Presidente da República, a presidir, também o III teve Jorge Sampaio, em idênticas funções. Neste Jornal e em toda a imprensa regional de Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1980 e 2002, pugnou-se porfiadamente por esse evento, cujas conclusões têm vindo a cumprir-se. Retomando a razão do título desta crónica cabe-me saudar a equipa dos 16 heróis que – finalmente – aceitaram prolongar a história desta centenária instituição regionalista, tomando posse dia 13 do corrente. Pelo que lemos na imprensa e nas redes sociais, foi muito, muito difícil encontrar Transmontanos com garra para reanimar a Casa-Mãe de Lisboa.

A sua sede já passou por vários espaços. Até que mudou para o Campo Pequeno, para um terceiro. Por alturas do centenário a Casa tentou construir um prédio de raiz e chegou a ter terreno próprio na zona de Belém, junto ao Tejo. Através do Jornal da Casa fez-se uma campanha de angariação de fundos para essa construção. Só que a morosidade e o desânimo de quem pensa dominar as situações, é mais forte do que os dominados. E o terreno de Belém acabou por regressar à Câmara de Lisboa, por troca com um edifício para reconstrução. O novo presidente incluiu no seu programa o IV congresso Transmontano. Foi um dos compromissos do III. Já passaram 15 anos.

O III Congresso Transmontano distanciou-se 61 anos do II. Quase tanto tempo como a média de vida de uma pessoa normal. Embora tenha sido, provavelmente, a maior manifestação conjunta de Transmontanos, em torno da ligação ao berço daqueles que o tornaram possível, só decorreu com o sucesso que ninguém pode negar, graças às Casas Regionais e ao indesmentível entusiasmo de algumas Câmaras Municipais. Volvidos quinze anos quase ninguém mais falou ou escreveu sobre ele. Há uma honrosa exceção que não sendo jornalista profissional, nem dispondo de muito tempo para aflorar este tema, foi o ex-autarca de Bragança, Jorge Nunes que no Jornal Nordeste, de Bragança, assinou numa sequência de quatro extensos relatos que foi pena não serem reeditados em livro próprio, com mais alguns elementos históricos que servissem de ponto de partida para os mais novos que nos anos, entretanto decorridos, já esqueceram o que viram.

Foi ele que deu a cara para que outros saíssem da sombra. Quase sempre é assim: uns têm ideias, arriscam com todas as capacidades pessoais e profissionais e lançam-se às feras. Os mirones espreitam e, quando notam que essa aventura vai dar mediatismo, atiram-se de pés e mãos e arrogam-se à liderança dessa faina. Em cima do acontecimento podem os observadores aperceber-se de que houve aproveitadores dessa empreitada. Passados alguns meses, os obreiros que mereciam palmas voltam ao silêncio do quotidiano. Os espontâneos partem para outras empreitadas, em busca de mais sucesso alheio que faz deles os reizetes de todas as manifestações do povoado.

Ocorre-me mexer numa proposta que ficou de realizar-se alguns anos depois, numa quarta edição.

Já passaram quinze anos. A nova direção da Casa-mãe de Trás-os-Montes, com sede em Lisboa, desde 1905, relançou a ideia. Como fiz parte da comissão organizadora do III, gostaria muito de ver essa promessa cumprida durante o quadriénio em curso.

“A minha intenção era fazer alguma coisa por uma casa que estava numa situação financeira muito má”

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Qua, 12/04/2017 - 14:33


Maria do Céu Quintas foi eleita pelo PSD para o primeiro mandato como presidente do Município de Freixo de Espada à Cinta há quase 4 anos e recandidata-se nas eleições de 1 de Outubro. Assume que o principal objectivo, até agora, foi trabalhar no sentido do reequilíbrio financeiro do concelho mais endividado per capita do distrito. A promoção do turismo, da seda e dos produtos regionais, bem como a requalificação do centro histórico são as apostas para o futuro.

“A minha intenção era fazer alguma coisa por uma casa que estava numa situação financeira muito má”

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Qua, 12/04/2017 - 14:31


“O nosso freixo mostra a grandeza desta terra, apesar de pequena. Ele conseguiu resistir e parece novo e nós também vamos conseguir resistir, de certeza absoluta, aos maus tempos e à crise.”