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Os avós são pais duas vezes

Ter, 01/08/2017 - 10:25


Olá Familiazinha! Entrou Agosto, mês de matar saudades, de casas cheias, festas, romarias, casamentos, baptizados, convívios e tudo que sirva para passar umas boas férias e pôr o ponteiro das saudades no verde! Estejam atentos à próxima edição da nossa página, pois a nossa tia Irene, que nos liga da Suíça, vai apresentar-nos um trabalho sobre os emigrantes.

Ser médico de família

Cuidados de saúde primários, o que são?
Os cuidados de saúde primários são o primeiro contacto com o Sistema Nacional de Saúde do doente e da sua família. São cuidados mais próximos da população, e por isso estão mais próximos quer do local onde os doentes habitam, quer do seu trabalho. 

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - António (Moisés) de Valença (c.1472 – d.1548)

Terá nascido em Ureña, termo de Valhadolid, Castela, pelo ano de 1472. E sendo filho de judeus, certamente que foi circuncidado e ter-lhe-ão posto o nome Moisés. Andaria pelos 20 anos quando os judeus foram expulsos de Castela, refugiando-se muitos deles em Portugal. Moisés e a sua família terão entrado por Miranda do Douro e ali permaneceriam por algum tempo.
Aquando do batismo forçado, na páscoa de 1497, os Valença terão sido batizados, tomando nomes cristãos. Assim, os pais ficaram a chamar-se João Rodrigues e Leonor Rodrigues e as duas irmãs que lhe conhecemos tomaram os nomes de Mécia Lopes e Francisca Rodrigues. (1) O padrinho de António foi o alcaide-mor da cidade, Álvaro Pires de Távora.
Em Miranda do Douro, António de Valença casou com Francisca de Valença, nascida em Zamora, igualmente refugiada de Espanha, filha de Diogo de Valença e Ana de Valença.
Fazendo uma comparação algo grosseira, diremos que a Casa dos Távoras funcionava para Trás-os-Montes como a Corte do Rei em Lisboa. E nessa “corte” dos Távoras, António de Valença era presença constante e ocupava lugar de destaque, nomeado que foi médico da família, (2) enquanto a sua mulher convivia e desempenhava o papel de “dama de honor” das senhoras Távora e isso “era motivo de muita inveja” entre outras “damas” de nobres e fidalgas casas trasmontanas.
António de Valença era também rendeiro, o que significa elevado poder económico e financeiro. E tomaria de renda (ou aforamento) a quinta da Vilariça, no termo de Penas Roias.
O poder financeiro e prestígio social dos Valença permitiram-lhe arranjar bons empregos e bons casamentos para os filhos, referindo-se, nomeadamente, a filha, Maria de Valença (3) que casou com Francisco Vaz Pinto, homem da nobreza, irmão de D. Diogo de Murça, reitor da universidade de Coimbra.
Se o prestígio social e poder económico colocavam António de Valença entre os mais conceituados Trasmontanos da época, o seu saber, do ponto de vista religioso, e a sua liderança entre a gente da nação judaica era ainda mais destacado. Por isso mesmo, todos o tratavam por “Mestre” António de Valença. Sabia de cor os livros da Torah e conhecia o hebraico, caldeu e aramaico. Ele próprio se afirmava “repetidor da escola de seu tio o Valensi, (4) grande letrado do tempo dos judeus”.
Mestre António era então o maior doutrinador judaico em Trás-os-Montes. Ensinava os preceitos e cerimónias da lei de Moisés; conhecia e explicava cada uma das festas e jejuns; calculava e informava a data de cada uma dessas festas e jejuns. E especialmente sabia interpretar as profecias de Daniel. E baseando-se na contagem das “semanas” do profeta, ele pregava que o Messias prometido viria até ao ano de 1572, altura em que acabaria a “triplicidade da água” – uma teoria cabalística ligada à ideia messiânica.
Por essa altura fervilhava o messianismo judaico em Trás-os-Montes e duas “sinagogas” ganharam celebridade pelos “ajuntamentos” que nelas se faziam: uma na oficina do sapateiro Diogo de Leão da Costanilha, (5) em Miranda do Douro e outra na casa de Francisco Vaz, em Mogadouro. Nesta, o oficiante “encartado” era o Mestre Valença, que explicava o conteúdo dos livros da Torah (“em pergaminho, de letras douradas”) que guardavam secretamente na mesma sinagoga, a qual fora entregue ao dono da casa por Duarte Álvares, de Chacim. Sobre o funcionamento desta “sinagoga” temos muitos e variados testemunhos, alguns incríveis, como este de Cristóvão de Castro:
- Disse que Francisco Vaz, sapateiro, morador no Mogadouro, e sua mulher são judeus e eram arrabis e tinham sinagoga em sua casa. E isto sabe porque o viu muitas vezes, porque ia lá com os outros judeus. Na qual sinagoga tinham uma tourinha com cornos de prata dourados e era do tamanho de um gato, pouco mais ou menos, a qual punham em cima de uma mesa… (6)
Mas a pregação de Mestre Valença não se limitava à sinagoga de Francisco Vaz. Não, ele foi acusado de pregar o judaísmo durante as consultas que dava, como médico, em casa dos cristãos-novos, como acontecia em Sambade na casa de Luís de Carvajal, que frequentava regularmente e com o qual partilhava cortejos na Casa dos Távoras. O mesmo acontecia em Mirandela na casa de Belchior Vaz. Vejam como o próprio Mestre contou um episódio:
- Estando ele mestre António às oitavas da Páscoa das Flores do ano passado de 1544 na vila de Mirandela, na igreja da dita vila (…) lhe falou um Belchior Vaz, filho de Guterre Vaz, do Mogadouro, genro de Dello Guarde, de Mirandela, cristãos-novos, o qual saindo da igreja chamou a ele dito autor e lhe rogou que fosse a sua casa porque tinha uma criança doente. E indo vê-la, disse a ele autor que lhe dissesse se era aquela semana em que caía a Páscoa dos judeus. E ele autor lhe perguntou para que é que queria saber e o dito Belchior Vaz lhe respondeu que era para fazer alguma das cerimónias que costumam fazer os judeus na dita páscoa para ganhar a sua alma… (7)
Tempos depois, Belchior e o Mestre estavam presos na inquisição de Évora. E tendo o Valença denunciado o amigo, que continuava negando as acusações, decidiram os inquisidores coloca-los frente a frente. Imagine-se a reação de incredulidade de Belchior Vaz! Melhor que nós fala o processo. Vejam:
- E o dito réu, chegando onde ele testemunha estava, lhe falou como amigo ao dito mestre António. E ele Mestre António a ele réu. Mas depois que o senhor inquisidor disse a ele réu que o dito Mestre António era dado contra ele por parte da justiça, ele réu se espantou muito dizendo. – Vós, Mestre António! Vós, Mestre António, sois testemunha contra mim?
Maior espanto e dramatismo encerra o episódio descrito no processo de Ana Fernandes, a Doce, (8) quando a confrontaram igualmente com o denunciante, Mestre António de Valença. Pena que a extensão do texto não nos permita aqui reproduzi-lo.
O que não podemos deixar de falar é sobre um jejum que o Mestre ensinou a Ana Doce e de que, até hoje, não encontrámos referência em nenhum outro processo – o jejum do Tu B´Shevat  – que é móvel e cai na segunda metade do mês de janeiro ou pelo mês de fevereiro. É o jejum de agradecimento a Deus e celebração pelo renascer da natureza. Significativamente aparece representado por um ramo de amendoeira em flor, a árvore que primeiro floresce na região do Mediterrâneo e marca, por excelência o renascer da vida. Os judeus que nos perdoem mas propomos que se chame o jejum das amendoeiras em flor.
Acompanhemos agora Mestre Valença em uma das frequentes deslocações que fazia a Miranda do Douro, hospedando-se, geralmente, na casa de Isabel Álvares, uma das pessoas que ele ajudou a condenar. Vejam um pedaço da sentença:
- A ré tem provado contra si por parte da justiça que folgava de praticar as coisas da lei de Moisés, ouvindo dizer dos jejuns do Kipur e Rainha Ester, estando a tudo muito afeita e as procurava que perguntassem aos judeus que sabiam mais do que ela. E de tudo se mostrava muito devota, como pessoa que era apóstata – e isto diz Mestre António de Valença. (9)
Resta dizer que, no seguimento da “excursão” de Francisco Gil por terras trasmontanas, em 1543, Mestre António de Valença foi preso pela inquisição, ficando primeiramente metido das cadeias do Porto, às ordens do bispo/inquisidor D. Baltasar Limpo e sendo depois encaminhado para o tribunal de Évora. Na cadeia ele colaborou grandemente com a inquisição, denunciando mais de uma centena de compatriotas e fazendo para os inquisidores uma compilação das festas e cerimónias judaicas – o que, para aqueles, seria de extrema importância. Por isso mesmo ele ganhou o perdão e a liberdade, enquanto a sua mulher terminou queimada nas fogueiras da inquisição. (10)

NOTAS e BIBLIOGRAFIA:
1-Francisca Rodrigues  casou com Diogo Pereira e Mécia com Francisco Lopes, que foi juiz em Mogadouro.
2-Para além do “físico” Valença, na “corte” dos Távoras, em Mogadouro, destacavam-se oficiais da estirpe judaica como o ferrador Henrique Dias, a criada Ana Dias, o alfaiate Diogo Gomes, o sapateiro Bernardo da Rua…
3-Maria de Valença faleceu no dia em que prenderam os pais, deixando 9 filhos: 6 rapazes e 3 raparigas.
4-Referia-se certamente a Samuel ben Abraham Valensi (1435-1487), um grande talmudista espanhol, morador em Zamora.
5-Diogo da Costanilha pregava a vinda do Messias baseando-se nas Trovas do Bandarra. ANDRADE e GUIMARÃES – Judeus em Trás-os-Montes, A Rua da Costanilha, ed. Âncora, Lisboa, 2015.
6-ANTT, inq. Évora, pº 4434, de Cristóvão de Castro. Este, diria depois que no processo estavam escritas coisas que ele não dissera e, chorando, respondia ao malfadado “caçador de judeus” Francisco Gil: - Que posso eu fazer senão ratificar minhas confissões?!
7-IDEM, pº 5165, de Belchior Vaz.
8-IDEM, pº 4637, de Afonso Garcia. ANDRADE e GUIMARÃES – Miranda do Douro 1544: Ana Doce traída pelo mestre Valença, in: jornal Terra Quente, de 1.3.2009.
9-IDEM, pº 9020, de Isabel Álvares.
10-IDEM, pº 8232, de Mestre António de Valença; pº 7794, de Francisca de Valença.
TAVARES, Maria José Ferro – "Mobilidade e Alteridade” : Quadros do quotidiano dos cristãos-novos sefarditas, in: In the Iberian Peninsula and Beyond: A history of Jews and Muslims ( 15th -17th centuries) vol.1, pp 26 e 27,  edited by José Alberto Tavim, Maria Filomena Barros and Lúcia Mucznik,  2015
IDEM – Para o Estudo dos Judeus em Trás-os-Montes sec XVI, in: Cultura História e Filosofia, vol VJ, pp.371-417, Lisboa, 1984.
 

A talhe de foice

Ora muito bons dias. Bons olhos vos vejam. Por aqui tudo a andar, felizmente. Então as foices já chisparam muito por essas searas adentro? Parece que este ano o tempo andou mais marçagão do que granaio. De qualquer modo já ninguém anda de foice em punho nem de fardo ao ombro, quanto muito de volante de ceifeira debulhadora nas mãos. E andar à torna jeira e começar a segar ainda antes do sol nascer, e as cantigas e as comidas da segada e aquelas primeiras ceifeiras debulhadoras de madeira que vieram e que pareciam umas máquinas do futuro e de um passado longínquo ao mesmo tempo. As poucas que vi, ao vivo, em ruínas envergonhadas, ou em fotos antigas cheias de vida e de gente em cima delas… Sempre me custou perceber como é que uma máquina daquelas, aparentemente tão complexa e rudimentar, pode ter vindo para facilitar. Ainda por cima precisava de tantos homens com funções tão definidas que mais parecia toda ela uma daquelas máquinas ou fábricas onde o Charlot trabalhava e mostrava os novos paradigmas e problemas com que os homens do seu tempo se deparavam. Na foto que vi estavam uns em cima, outros em baixo, alguns pareciam enfiados lá dentro, uma autêntica e bizarra - a palavra é precisamente esta - geringonça. E o moleiro, já me esquecia do moleiro, marcar um dia, ir de burra até ao moinho, levar-lhe o cereal e em troca dar-lhe de almoçar e uma parte da farinha. Não passei por isso, mas não invento nada, sabem que eu tenho as minhas fontes… Mas este talhe de foice não vem do cereal, mas de tudo um pouco, desde o que por aí tem acontecido ao que tenho andado para aqui a falar e que vós tendes a bondade de ouvir. De ler, digo. Na verdade o título destas palavras de hoje era para ser gaspacho. Um gaspacho de considerações muito pouco saborosas. Começando, os recentes incêndios do centro do país. [Pausa]. Os meus sentimentos a todos o atingidos. [Pausa]. Por acaso há uns anos andei aí a lutar com um fogo, embora com proporções bem menores, é uma aflição muito grande. E uma aflição que sarcasticamente sabemos que vai voltar Verão após Verão. O que é particularmente triste. E até revoltante. Evitar estes incidentes e apostar na prevenção para proteger meia dúzia de casas pingadas não dá dinheiro nem votos, de modos que não quero lançar mais achas para a fogueira. A questão é que este tema chegou aqui à China em força. Nos noticiários, nas redes socias, três palavras repetidas: Portugal, fogo, floresta. Durante essa semana toda a gente me perguntava o que se andava a passar, mas eu próprio (e não fui o único ao que parece) ainda não percebi bem o que se passou. Vinham os chineses perguntavam-me, e os ingleses, e os americanos, e os espanhóis e todos. Tirando quando a selecção de futebol se destaca, não é normal a actualidade trazer assim o nome de Portugal de modo tão expressivo. Para quem não conhece o país fica uma ideia um bocado negativa (um bocado bastante grande). Incêndios há muitos, da Austrália ao Canadá ou à Califórnia, agora… A pergunta que se impõe é: "o que é que andaram a armar?”. Averigúem isso, bem averiguado, se faz favor. E quando se estava na ressaca ou no rescaldo de tudo isto, vem a bomba (a falta delas) de Tancos [Oh que…]. No princípio parecia uma coisa de somenos, mas logo se viu que era algo lastimosamente sério. E igualmente difícil de compreender. Que eu saiba não chegou aqui, excepto aos espanhóis que cá estão. Os seus meios de comunicação deram realce. É verdade que nos pusemos a jeito, mas não perderam tempo a fazer pouco. É incrível, estando nós colados, ver o desconhecimento que de modo geral têm de nós. Excluindo talvez a Galiza e localidades mais fronteiriças. Nuestros hermanos vivem virados para as Alemanhas, Franças e Inglaterras e vêm-nos como aquele primo campónio que parou no tempo, feliz com o seu bacalhau e sempre pronto a vender atoalhados. Estão ao nosso lado mas, de modo geral, passam-nos tanto cartucho como se estivessem a milhares de quilómetros.
E isto não são considerações minhas, não é assim tão difícil de constatar, já muitos mo admitiram, e ainda há um par de dias um vizinho espanhol reconheceu ele próprio tudo o que eu acabei de escrever em cima. Estereótipos, preconceitos. Concluindo: Para eles, que vão comer uma bela pratada de gaspacho, do nosso, para que se dêem ao trabalho de perceber quão pouco distamos, de saber como somos e de compreender que estereótipos e preconceitos brotam sempre da mesma fonte: desconhecimento e ignorância. Para nós, a mensagem é para não descansarmos à sombra de nenhuma bananeira, nunca dá bom resultado. Afinal somos muito melhores do que isto, tolerância zero para mais tristes figuras. Vejam lá isso. Força, um abraço!

A campanha

Será fácil adivinhar que nas próximas semanas vamos assistir ao recrudescer das promessas de boas intenções e melhor governação por parte dos candidatos, envergando as camisolas das várias cores partidárias.

Há largos meses de modo empacotado e encapotado, os candidatos desdobram-se em promessas destinadas a embalar os votantes, isto por um lado, por outro entretêm-se no envio de dichotes destinados a todos quantos são considerados adversários, especialmente àqueles que se posicionam a par e par, e a todo o custo tentam desalojar os já suficientemente conhecidos do eleitorado.

Nesta altura nas sedes dos partidos reina ambiente pesado, cerzir as listas implica paciência de Job ante os desejos e pretensões dos militantes, firmeza no dizer não às pressões e cartas verbais vindas do interior do partido, autoridade para suster as forças de bloqueio dos dispensados, dos desejosos, dos esperançados no chamamento e que não o foram.

Se lermos atentamente os jornais nacionais e regionais, lemos incrédulos soletres manifestações de escárnio maldizer destinadas a produzir efeito nos militantes e companheiros de jornada de cada partido. Façam favor de ler acusações de traição, de duplicidade, de hipocrisia, vindas a lume nos órgãos de comunicação social, sem esquecer as redes sociais onde prevalece o vale tudo no tocante a desqualificações dos opositores.

Naturalmente há sempre pessoas cujo ego supera os Himalaias, tais criaturas julgam conhecerem-se bem e por isso mesmo pensam deter saberes e competências só por si suficientes para merecerem escolha debaixo de uma chuva de palmas e aplausos. E, no entanto, tal como os ídolos de pés de barro caso consigam alcandorar-se ao poder não tarda a enfileirarem ao lado do rei vai nu exibindo confrangedora vacuidade e incompetência.

Poderia dar-lhes de boa vontade, nomes e mais nomes, se o fizesse o leitor de imediato criticaria a lista, não por erro meu, sim porque tinha esquecido fulano, beltrano e sicrano tal é a fartura de exemplos, alguns deles autores de decisões cujo custo ao erário público é de muitos milhões, também peritos no fazer feio o bonito, destros no copianço do estilo bimbo tão do agrado de patos-bravos e seus mentores donos de canudos coloridos e cinzentos.

A escolha de quem nos vai governar a nível das autarquias não copiar a compra de melões, depois de abertos logo se vê a virtude, temos de aquilatar sobre as suas supostas intenções, não as vertidas nos manifestos eleitorais nos quais cabe tudo, sim ouvindo-o, sim obrigando-o a explicar tim-tim por tim-tim o seu conceito de cidade ou vila, a sua visão de futuro, realista, a exequibilidade das ideias por ele defendidas, a atitude em caso de desaire, fica na oposição ou desaparece, o seu futuro para lá do efémero por mais duradouro que seja.

Ao fim de quarenta anos de poder local não é lícito apregoar desdém relativamente a estas eleições de proximidade, podemos abster-nos, no entanto, a recusa de votar em coerência implica a renúncia todo e qualquer criticismo do governo municipal, a entrarmos na toca do silêncio imitando os eremitas no seio do deserto.

Eu não quero ser eremita, muito menos silencioso, eu quero usufruir dos deveres e direitos de cidadania, plenos, por tão claras e videntes razões seria estultícia deixar de escrutinar os interessados na assumpção de responsabilidades municipais, mais a mais num tempo de gritante incerteza a todos os níveis E o leitor? Vai manter-se na ociosidade política? Vai deixar ao cuidado dos outros o seu estatuto de cidadão. Vai demitir-se de si próprio? Deixo as interrogações no desejo de alertar quem lê para a responsabilidade que pesa nos seus ombros. Se um leitor reflectir sobre elas já fico satisfeito!