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Justiça Territorial

O distrito de Bragança, um território de excelência no contexto nacional, é como disse – e bem, o nosso presidente da Comunidade Intermunicipal “uma oportunidade e não um encargo para Portugal”. As políticas de valorização da coesão social e territorial, referidas na Moção apresentada ao 21.º Congresso por António Costa e a apresentar no âmbito da Unidade de Missão para o interior, terão que rumar ao encontro das nossas necessidades, das expetativas e da justiça territorial que Portugal anseia.
A Moção “Cumprir a alternativa, consolidar a Esperança” refere-se assim à justiça territorial: “os dados conhecidos sobre a distribuição dos fundos aprovados atestam que não está a ser cumprido o objetivo de promover a coesão territorial, o que significa que não foi devidamente acautelado o contributo deste instrumento financeiro para o desígnio europeu da convergência.”
Estes dados foram confirmados no primeiro diagnóstico com estatísticas das empresas de Trás-os-Montes apresentado pelo IPB, no passado dia 27 de maio, em Bragança, no fórum sobre "Empreendedorismo e Coesão Territorial", promovido pela Associação Empresarial NERBA. Foram debatidos os apoios e a execução de fundos comunitários, no âmbito do Portugal 2020. Uma das conclusões apresentadas, no plano da coesão territorial, foi a de que os sucessivos Quadros Comunitários de Apoio não permitiram corrigir as intensas assimetrias de desenvolvimento que existem na região Norte, ou mesmo desta face ao resto do país.
No atual quadro de políticas, na implementação do Portugal 2020, e apesar das grandes expetativas iniciais, os atuais dados de execução, tanto dos Programas Operacionais Nacionais como do Programa Regional, demostram uma preocupante assimetria na concentração de incentivos na Região Metropolitana do Porto e NUT limítrofes do litoral.
A aplicação do Programa Regional “Norte 2020” está a gerar profundos desequilíbrios internos na região Norte. As três CIMS do Interior - Terras de Trás-os-Montes, Alto Tâmega e Douro representam, no seu conjunto pouco mais do que 3% do total dos apoios aprovados até ao momento. No “Norte 2020” de um total de 376 mil milhões de euros de apoios, as três CIM conseguiram 12 mil milhões de euros.
Mais grave ainda porque este desequilíbrio mantém-se em outros Programas Nacionais, com particular incidência no COMPETE 2020. Neste programa, de um total global de apoios na ordem dos 430 mil milhões de euros, 2,5% foram para as CIM do interior, representando valores abaixo dos 11 mil milhões de euros. A área metropolitana do Porto arrecadou mais de 50% dos apoios da Região Norte.
Ao Governo compete, nas palavras do Presidente do Partido Socialista Carlos César em debate quinzenal na Assembleia da República: “desfazer o que foi mal feito, refazer o que foi destruído, e fazer o que é preciso fazer”.

Um artista que cospe no prato.

O artista José Cid não é, propriamente, um modelo de beleza, nem consta que o seja de virtudes.
Tal não o inibiu de lançar um chorrilho de impropérios sobre Trás-os-Montes, que alguém com maior arcaboiço intelectual classificou de Reino Maravilhoso, e sobre os transmontanos, que em toda a parte são tidos como honrados e trabalhadores.
José Cid sempre foi acolhido com a simpatia e a generosa hospitalidade que é timbre dos transmontanos. Diria mesmo que sempre que veio actuar a Trás-Montes levou o saco cheio de notas. Trata-se, portanto, de um artista que cospe no prato em que come.
Os danos que o artista José Cid, figura pública, causou a todo o Trás-os-Montes não são de menosprezar.
Por isso as suas palavras, tolas, foram de pronto justamente sancionadas com o cancelamento de contratos e rejeitadas por milhares de comentários desfavoráveis exarados nas redes sociais, muito embora muitos deles não sejam de aplaudir.
Estranhamente, até ao momento em que esta crónica é escrita, não se registaram reacções com a firmeza requerida dos mais influentes políticos regionais, designadamente dos deputados transmontanos.
Compreende-se que assim seja porque estes não representam a região mas os partidos que os designam, sendo que, para o poder político, estas polémicas são incómodas porque lhe interessa esconder as realidades que espelham a incompetência prevalecente.
José Cid, quer queira, quer não, não deixa de ser um lídimo representante da música e da cultura pimbas que o sistema instalado em Lisboa reserva para o interior em geral e Trás-os-Montes em particular. Que o diga o seu macaco que gosta de bananas.
Como não deixa de ser verdade que há nas aldeias transmontanas, milhares de idosos sem condições de vida e assistência médica condignas e que são forçados a morosas e custosas viagens para tratar de um dente que seja.
Como não deixa de ser verdade que há milhares de transmontanos que não podem dar-se ao luxo de bronzear o corpo nas praias, e por isso tisnam e enrugam o rosto no amanho das hortas. Não foram estes, porém, que se indignaram e mostraram os dentes no facebook.
Como também é verdade que existe uma muralha política, cultural e social a separar Trás-os-Montes do resto do País, e que os únicos empresários de espectáculos, que são os municípios e as comissões de festas, salvo raras excepções, por regra apenas contratam artistas pimbas como José Cid e quejandos.
Não se diga, porém, que é disso que o povo gosta, porque não é verdade. Já assisti a uma récita monumental de Carmina Burana, é de ópera que falo, ao ar livre, bem no coração de Trás-os-Montes, e que teve grandiosa e civilizada adesão popular.
José Cid limitou-se a cuspir no prato que uns tantos, de sua igualha, lhe servem.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Por Henrique Pedro

O urro da besta

Qua, 15/06/2016 - 17:39


Ao contrário de todas as prospectivas que, no fim do século passado, iam anunciando luminosos futuros, cada dia deste novo milénio traz-nos mais angústias e desânimos sobre a condição humana, apesar do generoso Francisco, que se desdobra em apelos e orações.

“Os citadinos têm um interesse de brincadeira pela província”

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Qua, 15/06/2016 - 11:52


J. Rentes de Carvalho, um dos mais reconhecidos autores portugueses da actualidade, divide os dias entre Estevais, Mogadouro, de onde os pais eram naturais e a Holanda, onde se radicou há 60 anos. Numa entrevista, ao Jornal Nordeste, o escritor fala do seu mais recente romance e da ligação a Trás-os-Montes. Rentes de Carvalho entende que os citadinos têm uma ideia romântica do mundo rural e considera que a falta de vocabulário está na origem da violência. O autor de 86 anos critica ainda a inexistência de um plano de desenvolvimento para o interior.