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Argozelo colado à liderança

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Ter, 06/12/2016 - 15:54


O Argozelo venceu, no domingo, o Vimioso por 2-1 no dérbi concelhio da jornada 7 da Divisão de Honra da A.F.Bragança.
Um triunfo que mantém a formação de António Forneiro na liderança do campeonato a um ponto do Sendim, segundo classificado.

Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos da Terra Fria já acompanhou mais de 200 famílias

Esta iniciativa, resultado de uma parceria entre a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, as três Câmaras Municipais dos concelhos abrangidos e a Fundação Calouste Gulbenkian, tem contribuído para que um maior número de doentes com patologias crónicas, progressivas e incuráveis possam permanecer nos seus domicílios, durante o maior tempo possível, acompanhados por uma equipa multidisciplinar, disponível 24 horas por dia, que assegura uma assistência clínica especializada nas suas próprias casas.

“Três ás”, o sapateirinho

Ter, 06/12/2016 - 10:07


Olá familiazinha! Estamos chegados ao último mês do ano, o do Natal!
Hoje, dia 6 de Dezembro, é um dia muito especial para mim, pois é dia do santinho do meu nome, São Nicolau, que, em alguns países, simboliza o pai Natal, sendo este o dia da troca de prendas. Consultando o seringador sabemos que neste mês de Dezembro se deve semear cebola, couves, nabiças, rabanetes, espinafres, agriões.
O que se deve plantar: couves diversas (nomeadamente repolho e couve-flor); alhos e cebolas; macieiras e pereiras.
O que se deve colher ou apanhar: azeitonas, nozes, pinhões, dióspiro, limão, laranja, tangerina, maçãs, pêras, kiwis, romãs.
Outros trabalhos a não esquecer: preparam-se talhões e canteiros para as culturas próprias da época e também para as da próxima Primavera.
A terra tem de ficar bem afogada e sem terrões, incorporando-se nessa altura o estrume, que convém não estar completamente curtido, no caso de se tratar de canteiros destinados às culturas de Primavera.
O nosso tio dos três ás, Alexandre António Aleixo , o fadista de Além-do-Rio, aqui de Bragança, vai apresentar-se aos nossos leitores, ele que é o nosso sapateirinho e também poeta nas horas vagas.

 

Cartas do meu moinho - O Moinho e a alcateia

Chamavam-lhe Moinho do Vesgo e logo me encantou no seu arruinado e no saber que ele, o anterior possidente, tinha dois viveres femininos: um, na ruína e outro, no povoado. De ambos houve posteridade, julgo que farta, e quase toda se foi em busca de melhores pátrias. Ele, pelo que dizem, manteve-se na indústria enquanto as pernas lho permitiram, satisfazendo o harém em todas as necessidades básicas, dividindo, muitas vezes, o indivisível. E manteve aquele olhar encruzado toda a vida, assustando a rapaziada imberbe com o olho fora-de-jogo, off side, enquanto o outro permanecia no óbvio.
A arquitetura residimo-la diferentemente: a pousada das bestas mantém-se, mas sem manjedouras agora; a zona onde então ele confecionava a prole é agora comedouro mais saciável, e na antiga zona da panificação, no período estival refastelo-me eu ou, então, na invernia, esquento as partes nas ardências do lar enquanto fantasio sílfides e ninfas pálidas na levada da presa… ou da pressa?
Da veterinária renasceu somente o canil, em alcateia irmã muito estimada, e que muito nos reclama de outras lides. Apreciem-na:
Os manos perros não se sabem estrangeiros, mas eu adivinho-os belgas de Malines, por causa da pronúncia e do sentido «ne me quittes pas»... É mais este temorzinho que se manifesta na ocupação da bagageira da viatura quando a encontram aberta e a adivinham de partida... E, também, a vontade de liderança do James, que não da mana Joana, me diz ser de homem nórdico, mesmo quando lhe assevero a inutilidade do esforço, a infantilidade da vontade, o custo da liderança... Mas esta vontade de domínio é quase doentia, até se sobrepõe à ditadura biológica do tudo cheirar, que atrás do nariz é que está o cão, como se sabe... Mas no James o olfato é um prolongamento da vontade de poder. Ainda bem que o não pus a estudar retórica...
O Farrusco é produto nacional: é o maior e mais forte, serrano pela paleta, mas que a Troica controla pois não é sensível à subtileza do seu pensamento, ao maneirismo da delicadeza do olhar e do debicar no pernil, ao sentir poético da natureza e ao gosto pela abstração no congeminar telúrico. É um poeta. Inicialmente, julguei-o até de comportamentos trocados... Mas não. Mostrou até certa lubricidade no esgar quando lhe falei da hipótese, muito vaga, de ida a brasileiras... Também o prova, de quando em vez, a paciência perdida com a marcação do malinense; e, então, as casacas ficam tricotadas por diálogos incongruentes urdidos entre caninos obstinados...
A Joana nunca a percebi. É mulher de vontades próprias e insondáveis que gere as situações como se estivesse de fora. É o sexo forte da manada, obviamente, que se manifesta em quereres pouco evidentes e vontade volúvel, sem cristalização na ideia e no comportamento. Por isso, deve ser por isso, que tem uma membrana do olho transparente quando devia ser negra, e assim parece ter ganho um ar de Sibila descrente no vaticínio, descrente em tudo que seja linear. Mas, mesmo assim, mantemos conversações prolongadas em palração articulada fora da linguística oficial. A palração é sempre da sua iniciativa, em canto mais noturno que diurno, muitas vezes depois da sinfonia uivada a que nos dedicamos em luares luminosos e convidativos. Nessas alturas alcança o estrelato e ri, ri, ri pra mim e pró mundo!
Que saudades eu tenho do teu choro e do teu rir, alma grande. Mas quiseste partir sem palavra deixar, e agora o canto do trio é mais chorado do que rido, e até a hora mudou. É, hoje, ao fim da noite e ainda na cama que nos descobrimos em tristeza e a carpir por ti. E tu nunca nos chegas…

 

Por João Manuel Neto Jacob

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - VILA REAL, José (Isaac) da Costa (1689 – 1730)

Filho de João da Costa, mercador e Isabel de Sá, nasceu em Bragança em 1689. Criança ainda, foi levado para Lisboa. Cedo foi introduzido no mundo dos negócios, com viagens e estadias por diferentes terras.
Em 1.2.1706, apresentou-se na inquisição a confessar que deixara a religião cristã e a abraçara o judaísmo, do que pedia perdão e misericórdia. Certamente que a apresentação ficou a dever-se à vaga de prisões que o santo ofício então lançou entre os seus familiares e amigos. (1).
Foi ouvido, admoestado e mandado embora, ficando seu processo aberto, nele se anotando denúncias que viessem a surgir, o que efetivamente aconteceu, nomeadamente com um estudante de filosofia que o retratou deste modo na inquisição de Lisboa:
- Há um ano, em casa de Salvador Mendes se achou (…) com um filho de João da Costa Vila Real, que há pouco deitou espada, terá 18 anos, alvo de rosto, trás cabeleira, sem ofício…
5 anos depois, em 9.11.1711, os inquisidores viram seu processo e as denúncias nele contidas e lançaram a sentença que foi lida em mesa no auto da fé de 18.11.1711 -  condenado em penas espirituais. Significativo que a data da sentença de José coincide com a prisão de seu irmão, da irmã mais nova e da sua prima Leonor da Costa. (2)
Se o retrato de José, “com 18 anos, usando cabeleira e sem ofício” era verdadeiro, então podemos dizer que ele cresceu muito e rápido se fez um “homem de negócio” capaz de arrematar o “assento da tropa na província de Trás-os-Montes” no ano de 1710 – 1711 – um contrato só acessível a grandes “assentistas”, capazes de fornecer géneros no formidável valor de mais de 125 contos de réis! Imaginem a capacidade deste homem de 21 anos que no espaço de um ano conseguiu fornecer às tropas estacionadas nos diferentes quartéis de Trás-os-Montes, (em tempo de guerra!)  os seguintes géneros:
- 10 701 alqueires de centeio; 39 496 arrobas de palha; 2 129 arrobas de poeiras da dita palha, vulgo: palha trilhada; 9 953 pães de munição; 590 alqueires de cevada; 25 alqueires de trigo; 160 alqueires de farinha e 100 alqueires de feno! (3)
Obviamente que estes fornecimentos eram confirmados pelos chefes militares e pagos depois pelos contadores oficiais da Fazenda Real. Algo de estranho terá acontecido com o escrivão da Contadoria João de Sousa Sotto Mayor, mandando Sua Majestade fazer uma devassa sobre os erros que cometeu.
Não sabemos que “erros” (ou “vigarices”?) foram aqueles. Facto é que o acerto final das contas daquele assento entre a Real Fazenda e o fornecedor José da Costa ficou “embaraçado” por largos anos e por 1722 terá mesmo originado a detenção de José Vila Real o confisco de papéis e bens seus, reclamando o Fisco cerca de 20 contos e ele tentando provar que era credor de mais de 30 contos de réis.
Entretanto o jovem assentista prosperava e tornava-se um dos grandes capitalistas do reino. E começava a internacionalizar os seus investimentos. Com efeito, em 1721 ele comprou ações do Banco de Inglaterra no montante de 4 000 libras. E em 1725, em resultado dos dividendos, tinha ali depositadas 15 000 libras. O seu representante na City era Fernando (Abraão) Dias Fernandes, originário de Freixo de Numão, que foi também o padrinho da circuncisão do pai de José da Costa Vila Real.
Em Bragança e em Lisboa sucediam-se vagas de prisões por parte do santo ofício e Costa Vila Real sentiria que o cerco se apertava em seu redor. Por isso foi preparando a fuga. E quis provar que não fugia por dívidas mas “pela quantidade de prisões sucedidas em Bragança e Trás-os-Montes, parentes e contraparentes de toda a minha família”. Para isso requereu certidões em todas as repartições financeiras do estado em como não tinha qualquer dívida a pagar. Foram 17 as certidões passadas, a partir de setembro de 1725, certamente a data em que começou a preparar a fuga. (4)
Não sabemos exatamente o dia mas terá sido entre 10 e 15 de Julho de 1726. Aproveitando a confusão provocada por um incêndio que deflagrou em Lisboa, José meteu-se num barco e abalou para Inglaterra com toda a sua família (17 pessoas), uma operação bem arrojada, num tempo em que a cidade estava pejada de espiões da inquisição.
A chegada a Londres causou estrondo. Em 26 de agosto seguinte o “Daily Journal” anunciava que Vial Real chegara a Londres com a formidável quantia de 300 000 libras e logo mandara distribuir 2 000 pelos judeus pobres da cidade, enquanto a inquisição de Lisboa decretava a sua prisão e lhe sequestrava os bens deixados em Portugal e a diplomacia portuguesa estudava hipóteses de extradição do fugitivo dizendo que ele entrara em Inglaterra sem “visto” oficial e pagamento das dívidas atrás referidas. (5)
De imediato ele entraria no círculo mais “snob” da elite judaica de Londres. E sendo solteiro, logo surgiram apelos a um casamento “rico e dotado”. Contava 38 anos quando casou, em 24.5.1727 (“Sivan 15th 5487” – assim consta na Ketubah), com uma sobrinha do poderoso comerciante de diamantes e pedras preciosas António Lopes Suasso, Catarina (Raquel) da Costa, a famosa Kitty, de 17 anos, a qual se estaria preparando para casar com o seu primo Philipe (Jacob) Mendes da Costa.
O prestígio de José cresceu ainda mais com a fundação da VillaReal School, uma escola para raparigas e a doação de 32 500 libras à sinagoga Bevis Marks onde Luís de Sá, irmão de seu cunhado  Alexandre (Abraão) de Morais desempenhava as funções de porteiro. (6)
Vida intensa a de José Vila Real, cedo se apagaria. Morando em College Hill, em 16.4.1730, fez testamento no qual deixava a importância de 100 000 libras à mulher e filhos. Faleceu em 27 de dezembro de 1730. A sua sepultura encontra-se no Mile End Cemetery.
Viúva e contando apenas 21 anos, Kitty, logo em 18 de janeiro seguinte, 3 semanas e 1 dia após a morte do marido, prometeu casamento a seu primo Philippe. E, em 27.2.1735, estando novamente viúva, casaria em terceiras núpcias com William Mellish. (7) E a 28 de Março seguinte, abandonaria o judaísmo, fazendo-se batizar na igreja de St. George´s Church, em Bloomsbury, acompanhada dos dois filhos dela e José da Costa Vila Real: Abraham e Sara, que então abandonaram os nomes judeus e adtaram os cristãos de William e Elizabeth.. A vivência em liberdade e o “cheiro” a um título honorífico inglês foram mais eficazes do que os tormentos da inquisição portuguesa. (8)

NOTAS
1-ANTT, inq. Lisboa, pº 1193, de Joseph da Costa Vila Real.
2-IDEM, pº 9990, Manuel (Jacob) da Costa Vila Real; pº 8158, Luísa de Sá; pº 8161, de Leonor da Costa.
3-IDEM, pº 8568, de José da Costa Vila Real.
4-O simples enunciado das repartições do estado onde ele tinha negócios e poderia ter alguma dívida, mostrará a grande diversidade empresarial deste homem. Por isso aqui deixamos a listagem dessas repartições: Conselho Ultramarino; Casa da Índia; Alfândega do Tabaco; Armazéns da Coroa e da Armada; Armazéns da Guiné e da Índia; Casa de Aveiro; Casa do Infantado; Casa de Bragança; Câmara de Lisboa; Junta do Tabaco; Casa da Rainha; Tribunal da Mesa da Consciência; Alfândega do Açúcar; Priorado do Crato; Executória Geral da Guerra; Junta dos 3 Estados; Repartição dos Contos do Reino.
5- A propósito veja-se esta correspondência de Londres para o secretário de estado Diogo Mendonça Corte Real em 9.1.1731:
- (…) A semana passada me veio um cristão-novo falar-me, chamado Isaac Fernandes Mendes, dizendo-me que sabia muito bem que José da Costa Vila Real, que se ausentou dessa corte, haverá 4 ou 5 anos, ficara devendo a V. Mag de que Deus guarde, somas de dinheiro, e que como ele é homem que diziam possuía grandes riquezas, podia pagar. Porém, que era necessário haver papéis que justificassem claramente a dívida para que, fazendo-lhe uma demanda, o podiam obrigar pela lei e não de outra sorte porque se ausentaria, e que seus fiadores vieram juntamente com ele, que são seu pai, tio e irmão, os quais suposto têm mudado os nomes, não importa para o caso.- Academia das Ciências de Lisboa, Série Vermelha, cod. 90, fl. 19.
6-Sobre este assunto são elucidativos os depoimentos de José Rodrigues Mendes, aliás, Moisés Mendes Pereira (ANTT, inq. Coimbra, pº 4939) e Francisco Ferreira Sanches Isidro (ANTT, inq. Lisboa, pº4727). Este disse nomeadamente: - A qual sinagoga (Bevis Marks) sustenta a muitas pessoas professores da dita lei, que são pobres, das muitas e copiosas esmolas que todos os dias lhe estão dando os que são ricos. E ouviu dizer que só o Vila Real dera de esmola 80 mil cruzados.
7-A vida aventurosa de Catarina da Costa deu origem a um romance publicado em 1934 por: LANDA, M. J. – Kitty Villa Real, the da Costas and Samson Gideon, Transactions of Jewish Historical Society of England, 13.
8-Na elaboração deste trabalho várias informações foram fornecidas pela Drª Carla Vieira, da Cátedra de Estudos Sefarditas, a quem agradecemos.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães